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terça-feira, 25 de novembro de 2008

A GÊNESE OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES

OS MILAGRES E AS PREDIÇÕES

DEUS

A PROVIDÊNCIA

             A providência á a solicitude de Deus para com as suas criaturas. Ele está em toda parte, tudo vê e tudo preside, mesmo às coisas mais mínimas. É nisto que consiste a ação providencial.

             Como pode Deus, tão grande, tão poderoso, tão superior a tudo, imiscuir-se em pormenores ínfimos, preocupar-se com os menores atos e os menores pensamentos de cada indivíduo? Esta interrogação que a si mesmo dirige o incrédulo, concluindo por dizer que, admitida a existência de Deus, só se pode admitir, quanto à sua ação, que ela se exerça sobre as leis gerais do Universo; que este funcione de toda a eternidade em virtude dessas leis, às quais toda criatura se acha submetida na esfera de suas atividades, sem que seja necessária a intervenção incessante da Providência.

             Os homens, no estado de inferioridade em que se encontram, só com muita dificuldade podem compreender que Deus seja infinito. Vendo-se limitados e circunscritos, eles o imaginam também limitado e circunscrito. Imaginando-o circunscrito, figuram-no quais eles são, à imagem e semelhança deles. Os quadros em que o vemos com traços humanos, muito contribuem para manter esse erro no espírito das massas, que nele adoram mais a forma que o pensamento. Para a maioria Deus é um soberano poderoso, sentado num trono inacessível e perdido na imensidade dos céus. Como suas faculdades e percepções são restritas, os homens não compreendem que Deus possa e se digne de intervir diretamente nas pequeninas coisas.

             Impotente para compreender a essência mesma da Divindade, o homem não pode fazer dela mais que uma idéia aproximativa , mediante comparações necessariamente muito imperfeitas, mas que, ao menos, servem para lhe mostrar a possibilidade daquilo que, à primeira vista , lhe parece impossível.

             Suponhamos, apenas para efeito de comparação, um fluido bastante sutil para penetrar todos os corpos. Sendo ininteligente, esse fluido atua mecanicamente, por meio tão só das forças materiais. Se, porem, supusermos esse fluido dotado de inteligência, de faculdades perceptivas e sensitivas, ele já não atuará às cegas, mas com discernimento, com vontade, com liberdade: verá, ouvirá e sentirá.

             Ainda por suposição, quer seja assim ou não, no que concerne ao pensamento de Deus, isto é, quer o pensamento de Deus atue diretamente, quer por intermédio de um fluido, para facilitarmos a compreensão à nossa inteligência, figuremo-lo sob a forma concreta de um fluido inteligente que enche o universo infinito e penetra todas as partes da criação: a Natureza inteira mergulhada no fluido divino. Ora, em virtude do princípio de que as partes de um todo são da mesma natureza e têm as mesmas propriedades que ele, cada átomo desse fluido (apenas por força de expressão), possuindo o pensamento, ou seja, os atributos essenciais da Divindade e estando o mesmo fluido em toda parte, tudo está submetido à sua ação inteligente, à sua previdência, à sua solicitude. Nenhum ser haverá, por mais ínfimo que o suponhamos, que não esteja saturado dele. Assim encontramo-nos constantemente em presença da Divindade; nenhuma de nossas ações lhe podemos ocultar; o nosso pensamento está em contato ininterrupto com o seu pensamento, havendo pois razão de dizer-se que Deus vê os profundos refolhos de nosso coração. Estamos nele como ele está em nós, segundo a palavra do Cristo.

             Longe desse raciocínio a idéia de materializar Deus. A imagem de um fluido inteligente universal evidentemente não passa de um comparação apropriada a dar de Deus uma idéia mais exata do que os quadros em que o apresentam debaixo de uma figura humana. destina-se ela a fazer compreensível a possibilidade que Deus tem de estar em toda parte e de se ocupar com todas as coisas.

             Ainda no campo das hipóteses, podemos exemplificar o homem como sendo um mundo pequenino que tem como diretor o Espírito e como dirigido o corpo. Nesse universo, o corpo representará uma criação cujo Deus seria o Espírito (compreenda-se que se trata de uma simples analogia e não de identidade). Os membros desse corpo, os diferentes órgãos que o compõem, os músculos, os nervos, as articulações são outras tantas individualidades, se assim se pode dizer, localizadas em pontos especiais do referido corpo. Pois bem. Não se pode supor que se possam produzir movimentos, ou uma impressão em qualquer lugar, sem que o Espírito tenha consciência de que isso ocorra e ainda que as sensações ocorram em diversos lugares, simultaneamente, o Espírito as sente todas, analisa e atribui a cada uma delas uma causa determinante e o ponto em que se produziu.

             Assim, por analogia, idêntico fenômeno ocorre entre Deus e a criação. Deus está em toda parte, na Natureza, como o Espírito está em toda parte no corpo. Todos os elementos da criação estão em relação constante com ele, como no corpo humano todas as células estão em contacto imediato com o ser espiritual. Não há, portanto, razão para que fenômenos da mesma ordem não se produzam num e noutro caso, de maneira idêntica.

             "Um membro se agita: o Espírito o sente; uma criatura pensa: Deus o sabe".

             "Daí se pode igualmente deduzir a solidariedade da matéria e da inteligência, a solidariedade entre si de todos os seres de um mundo, a de todos os mundos e por fim, de todas as criações do Criador".

             Pode-se, pois dizer que compreendemos o efeito: já é muito. Do efeito remontamos à causa e julgamos da sua grandeza pela do efeito. Escapa-nos, porém a essência íntima , coma a da causa de uma imensidade de fenômenos.

             Ainda se pode admitir, para o princípio da soberana inteligência um centro de ação, um foco a irradiar incessantemente, inundando o Universo com seus eflúvios, com o Som com a sua luz . Mas onde esse foco? É o que ninguém pode dizer. Provavelmente não se acha fixado em determinado ponto, como o não está em sua ação, sendo também provável que percorra constantemente as regiões do espaço sem-fim. Enchendo Deus o Universo, poder-se-ia ainda admitir, a título de hipótese, que esse foco não precisa transportar-se, por se formar em todas as partes onde a soberana vontade julga conveniente que ele se produza, donde pode dizer-se que está em toda parte e em parte alguma.

             Diante desses problemas insondáveis, cumpre que nossa razão se humilhe. Deus existe: disso não podemos duvidar. É infinitamente justo e bom: essa a sua essência. A tudo se estende a sua solicitude: compreendemo-lo. Só o nosso bem, portanto, pode ele querer, donde se segue que devemos confiar nele: é o essencial. Quanto ao mais, esperemos que nos tenhamos tornado dignos de o compreender!

Denizart Castaldeli
Setembro / 2003

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