*OS ESPÍRITOS PROTETORES — AMIGOS INVISÍVEIS*
Teremos realmente amigos invisíveis, que nos seguem na vida terrena com a ternura
e a dedicação de verdadeiros anjos da guarda, segundo ensina a Doutrina Espírita? Para
responder a esta pergunta, devemos lembrar, primeiramente, que a existência dessas
entidades benignas não foi inventada pelo Espiritismo. Desde as aulas de catecismo, nas
igrejas católicas, ouvimos falar nos anjos da guarda, e na maioria das grandes religiões
universais encontramos essa teoria, sob diferente formas, mas sempre idêntica no conteúdo.
Nas religiões clássicas, do mundo greco-romano, eram os deuses mitológicos que
velavam pelas criaturas. Nas chamadas religiões orientais, que no fim dos tempos
invadiram o Império Romano, e entre elas o Cristianismo, a teoria dos anjos guardiões
estava presente. E tanto na Mesopotâmia quanto na China ou na Índia antiga, na Grécia
arcaica ou na Roma camponesa, que antecederam o mundo clássico, assim como na
Palestina e entre os povos selvagens da América, da Ásia, da África e de todo o mundo, o
culto dos ancestrais sempre existiu. Os manes, penates e deuses lares, ou deuses familiares,
dos romanos e dos egípcios, dos babilônios e dos assírios, dos fenícios e dos cananitas, dos
judeus e dos macedônios, nada mais eram do que espíritos amigos, que velavam pelas
pessoas e pelas famílias.
Por toda parte e em todas as épocas, no mundo inteiro, a investigação histórica e a
pesquisa antropológica nos mostram a existência invariável dessa crença nos espíritos
protetores. Entre os povos selvagens e no seio das maiores e mais esplendentes civilizações,
ela se faz sentir como uma espécie de convicção universal, de intuição natural, que o
homem carrega consigo em todas as latitudes do globo. Sócrates, na Grécia, e Joana D’Arc,
na França, ouviam as vozes amigas dos seus protetores. Descartes, o filósofo que se
considerou inspirado pelo Espírito da Verdade, também tinha o seu protetor. A existência
dos amigos invisíveis é uma realidade incontestável. Mesmo que a consideremos como
simples crença, é impressionante o fato de a encontrarmos em toda parte e em todos os
graus de cultura.
O Espiritismo é a primeira doutrina que não apenas afirma a existência dos espíritos
protetores, mas também procura demonstrá-la e ao mesmo tempo explicá-la à luz da razão.
Para os espíritas, essa existência não constitui uma crença, mas uma certeza, comprovada
pela experiência. Essa posição espírita diante do problema dos amigos invisíveis é
confirmada pela de outras doutrinas espirituais, como a Teosofia, que surgiu pouco depois
da doutrina espírita e estuda com profundidade o problema dos “auxiliares invisíveis”.
É curioso que as demais doutrinas recusem o meio natural de comprovação da
existência dos amigos invisíveis, que é a mediunidade. A própria doutrina teosófica, que em
muitos pontos se aproxima da espírita, admite a prova mediúnica, mas ao mesmo tempo
evita empregá-la. Isso porque há velhos preconceitos, formulados pelas antigas ordens
ocultistas, que consideram a mediunidade perigosa, em vez de considerarem os benefícios
que ela produz e tem produzido em todos os tempos. O Espiritismo estudou profundamente
a mediunidade e nada tem a temer da sua utilização. Pelo contrário, só tem a se beneficiar
com ela, beneficiando ao mesmo tempo o mundo.
Através da mediunidade, a teoria espírita dos espíritos protetores foi dada a Kardec,
segundo a podemos ler em “O Livro dos Espíritos”, no capítulo nono da primeira parte. E ainda através da mediunidade, essa teoria consoladora e bela vem se confirmando, em todo
o mundo, e ao mesmo tempo se enriquecendo com episódios maravilhosos, nos quais a
verdade das relações espirituais entre os homens e seus amigos invisíveis transparece cada
vez mais. Procuremos estudar essa teoria, examinando-a em seus vários aspectos. Mais do
que nunca, o mundo angustiado de hoje necessita desse esclarecimento e desse conforto,
que a teoria dos espíritos protetores nos oferece, com a garantia de sua veracidade, pela
prova dos fatos mediúnicos. Continuaremos a tratar do assunto, nos próximos números
dessa revista.
*José Herculano Pires, (sob o pseudônimo de Irmão Saulo),
Especial para revista E.V.*
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