A Fé Ativa construindo uma Nova Era 42
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa
A Figueira Estéril
(Vinícius, in Nas Pegadas do Mestre)
*Um homem tinha uma figueira plantada na sua vinha, e foi buscar fruto nela, e não o achou. Então, disse ao viticultor: há três anos que venho procurar fruto nesta figueira, e não o acho; corta-a; para que está ela ocupando a terra inutilmente? Respondeu-lhe o viticultor: senhor, deixa-a por mais este ano, até que eu cave em roda e lhe deite adubo; e, se der fruto, bem está; mas, se não, cortá-la-ás. (Evangelho)*
A verdade central da alegoria acima é a seguinte: ninguém deve inutilmente, ocupar lugar na sociedade.
Estamos na Terra, como as árvores, para produzir frutos. Em tal importa o motivo de nossa encarnação.
Cada indivíduo é uma célula do grande organismo chamado Humanidade; portanto, mister se faz que ele, semelhantemente às células do nosso corpo, desempenhe sua função. O parasitismo consiste em consumir, sem produzir. Todos consomem: todos têm obrigação de produzir. Aquele que foge ao cumprimento desse dever é indigno da coletividade de que faz parte.
Falamos, até aqui, de modo geral. Particularizemos. A que fruto se refere a parábola? Assim como as árvores produzem segundo sua espécie e natureza, assim o homem há-de produzir frutos distintos daqueles produzidos pelos seres de categoria inferior.
O animal, agindo no círculo estreito de seu gênero, limita-se à luta pela conservação própria. O homem, cujos horizontes se dilatam para muito além desse acanhado ambiente, há-de engendrar frutos mais preciosos. O animal vive de sensações; estas, uma vez satisfeitas, dão-lhe o pleno gozo da vida. O homem tem aspirações irrealizáveis neste mundo. Sua porfia, por isso mesmo, é grande e complexa. Nele palpita, além de uma inteligência e de uma vontade, um coração que vive de amor, e uma consciência que aspira à justiça.
O fruto, portanto, que o homem deve apresentar é a melhoria própria, é o aperfeiçoamento do seu caráter, é o desenvolvimento de todos os atributos e faculdades de seu Espírito, de modo que, ao sair deste orbe, se mostre aos olhos de sua consciência esse juiz impoluto melhor do que quando para aqui veio.
E não será, acaso, esse alvo da verdadeira religião? Que outro objetivo mais elevado poderá ela colimar?
Porque, pois, confundir e obscurecer o objetivo da fé, quando o incomparável Mestre no-lo mostra simples em sua estrutura, belo, esplendido e grandioso em suas consequências?
Particularmente à juventude, cumpre meditar no assunto desta parábola. A doutrina que dela ressalta nada tem de comum com a velha escola religiosa, cujos dogmas caducam e se desfazem ao sopro vigoroso do racionalismo contemporâneo.
A religião que ora ressurge das páginas do Evangelho não é a religião da velhice: é a religião forte e varonil dos moços. Tal é a natureza da fé que ela inspira. A figueira do apólogo evangélico era nova. Não se trata dum velho tronco cansado e exausto, mas de uma árvore viçosa e fresca, que nada ainda havia produzido, apesar de se achar em plena época de fertilidade. Isto quer dizer que Jesus apela para a mocidade, pois esse é o estágio de existência em que cumpre estabelecer as bases dum caráter são e íntegro.
O descaso por este apelo do Senhor demanda o emprego de adubos, e o revolvimento da terra em torno da figueira, para que gere figos; isto é, da incúria na obra de nossa evolução nas a dor, sob aspectos vários e multiformes.
Assim como a charrua rasga as entranhas da terra, cortando fundo, abrinando sulcos, revolvendo a superfície endurecida pela canícula, assim o sofrimento, abalando profundamente o íntimo de nosso ser, desperta a consciência adormecida, acorda a razão, afina os sentimentos.
Como a charrua e os adubos tornam produtiva a árvore estéril, a dor converte as almas frias e egoístas em corações generosos, fecundos em obras de amor.
*O Objetivo do espiritismo*
(Vinícius, in Em Torno do Mestre)
É pelo Evangelho que cumpre anunciar o Espiritismo. A igreja espírita há de ser a igreja cristã em sua simplicidade primitiva, em sua pureza, em sua verdade, tal como a estabeleceu Jesus e entenderam os apóstolos.
Paulo, o doutor das gentes, discorrendo sobre a missão de Jesus na Terra, disse: "Ninguém pode pôr outro fundamento, além daquele que já está posto, a saber: Jesus-Cristo."
No entanto, continua o converso de Damasco, conquanto seja um só o fundamento, muitas são as edificações levantadas sobre o mesmo; uns constroem obras de prata, outros, de ouro, outros, de pedras preciosas, outros, de madeira, de palha e até de feno. Tais obras, conclui ele, hão de ser provadas no fogo; aí, umas permanecerão, Outras serão desfeitas. Estas judiciosas considerações do iluminado apóstolo referem-se claramente às várias instituições que, através dos tempos, surgiram no cenário terreno, sob a égide do Cristianismo. Todas seriam erguidas sobre os mesmos alicerces, sobre as mesmas bases, porém, a despeito mesmo disso, nem todas permaneceriam, pois, no tempo da prova, na hora de serem submetidas ao fogo, as obras de madeira, de palha e de feno pereceriam. A época da prova chegou: são os dias que vimos atravessando.
Ao Espiritismo cabe a gloriosa tarefa de restaurar o Cristianismo, levantando uma obra imperecível. Cumpre que uma edificação sólida e inabalável seja construída sobre o fundamento santo, sobre aquela base imutável, que há vinte séculos foi lançada sobre a rocha inamovível, contra a qual não prevaleceriam as portas do Hades.
A derrocada dos credos dogmáticos, dessas construções de palha e feno, acha-se patente para os que têm olhos de ver. A sociedade atual se debate num verdadeiro caos, após a terrível guerra mundial que ensopou a Terra de sangue e de lágrimas. As hordas bárbaras dos vândalos e dos hunos estão em atividade, pois outra coisa não são essa dissolução de costumes, essa corrupção de caracteres, essa selvageria e impudência com que se buscam prazeres e se ostentam vícios.
A fé convencional e os credos oficializados mostram-se impotentes para conter a onda invasora das paixões indômitas. Não resistiram à prova de fogo predita por Paulo. Um egoísmo feroz, brutal, nunca visto, campeia infrene, verificando-se o cumprimento das palavras de Daniel: "A abominação que causa desolação, atingindo até as coisas santas."
E' tempo, portanto, de pensarmos seriamente no desempenho do mister que o céu confia aos adeptos do Espiritismo: levantar, sobre os escombros dos templos desfeitos pelo fogo da prova, o templo vivo da fé, dessa fé que consola, regenera, purifica e salva.
Ergamos todos, cooperando cada um com o seu contingente, por mais modesto que seja, a igreja rediviva de Jesus-Cristo, a igreja sem dogmas, sem liturgia, sem casta sacerdotal; essa igreja que se levanta no interior do homem, que tem seu altar nos corações, que exerce influência incoercível nos hábitos e nos costumes, reformando e consolidando os caracteres; essa igreja poderosa, forte, contra cuja fortaleza não prevalecerão as potências do mal; essa igreja que é luz, que é amor, que é paz, que é bênção e consolação, porque é o reino de Deus, dominando nos o Espírito.
*A Unidade da fé*
(Vinícius, in Em Torno do Mestre)
Apreciando a convicção e a firmeza com que um certo centurião romano lhe solicitara a cura de sua ordenança, disse Jesus: Em verdade afirmo que nem mesmo em Israel encontrei tamanha fé. E, digo mais: muitos virão do Oriente e do Ocidente, e hão-de sentar-se com Abraão, Isaac e Jacob no reino dos céus; e certos filhos do reino serão excluídos.
Ao leproso samaritano que se prosternara aos seus pés, agradecendo-lhe a graça recebida, disse Jesus: Ergue-te e vai; a tua fé te salvou.
Os amigos do judeu paralítico, interessados em sua cura, não podendo penetrar na casa onde se achava o divino Esculápio do corpo e da alma, alçaram o leito do enfermo ao telhado e, dali, o arriaram por meio de cordas. Reza o Evangelho que Jesus, vendo a fé daqueles indivíduos, dissera ao paralítico: Tem bom ânimo, teus pecados são perdoados. Levanta-te e anda.
Como se denomina essa fé que o Mestre testificou nas três personagens supra citadas? E' a fé inominada, por isso que a verificamos no judeu, no samaritano e no estrangeiro, considerando ainda que neste último aquela virtude se apresentou com tal ardor como jamais Jesus encontrara em Israel.
Assim, em verdade, é a fé: a mesma virtude onde quer que se manifeste. Não há duas porém uma só fé.
Pode variar em grau ou intensidade como a luz, mas sempre será a mesma virtude, como a luz é invariavelmente luz em toda a parte.
Por essa razão a fé dispensa qualquer apêndice ou qualificação que se lhe queira adicionar.
Esta ou aquela denominação dada à fé importa em desnaturá-la, precisamente porque seu característico é a catolicidade, que quer dizer universalidade.
Enclausurar a fé nos redutos de certos e determinados credos religiosos, é absurda pretensão, porque aquela virtude é força, é potência incoercível que se não submete a nenhuma espécie de restrição. Dar-lhe este ou aquele título é outra estultícia, visto com é única, dispensando, por isso, qualquer rubrica.
Rotulam-se as garrafas de vinho, porque vinho há de vários paladares e de muitas qualidades.
Rotulam-se igualmente as peças de morim, pois fabrica-se esse tecido mais grosso ou mais fino, cru ou alvejado, com maior ou menor metragem, estreito, largo e enfestado. Daí a necessidade de distinguir-se tanto o vinho quanto o morim pelos nomes de batismo que lhes dão os fabricantes.
Não se deve fazer o mesmo com a fé: ela é una, indivisível, inconfundível, universal.
Quando se convencerão desta verdade as múltiplas igrejas e religiões esparsas pela face de nosso orbe?
Quando se inteirarão desse ensinamento de Jesus as seitas dogmáticas que militam sob o pálio do Cristianismo?
Quando estas e aquelas se compenetrarem deste fato, conjugarão certamente os seus melhores esforços no sentido de combaterem o vício e o crime, a hipocrisia e o materialismo, a violência, a guerra, a corrupção e a enfermidade flagelos estes que infelicitam e degradam a Humanidade, como efeitos e heranças do pecado que todos eles são.
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