CITAÇÕES SOBRE HOMOSSEXUALISMO
No século XIX, quando surgiu o Espiritismo, o homossexualismo não era uma questão em debate. Vivia-se ainda numa sociedade que reprimia o sexo e, portanto, o assunto não se apresentava na filosofia ou na ciência como um premente problema humano exigindo discussão. Por isso que não foi abordado exaustivamente por Kardec. Mesmo assim, no Livro dos Espíritos, nas questões 200, 201 e 202, somos informados que o espírito não tem sexo, podendo reencarnar ora como homem, ora como mulher, conforme suas necessidades de progresso. Mais tarde, em 1866, na Revista Espírita de janeiro, no primeiro artigo, Kardec volta ao assunto explicando "certas anomalias aparentes" pela reencarnação do Espírito em sexo diferente depois de "percorrer uma série de existências no mesmo sexo, o que faz que, durante muito tempo, possa conservar, no estado de Espírito, o caráter de homem ou de mulher, cuja marca nele ficou impressa". E reitera que "não existe diferença entre o homem e a mulher, senão no organismo material, ... porque não há duas espécies de almas".
Já no século XX, podemos apresentar, na bibliografia espírita, opiniões mais definidas.
André Luiz, pela psicografia de Francisco Cândido Xavier, mostra-se bastante aberto e tolerante em relação ao assunto. No livro "Evolução em dois mundos", de 1958, Segunda parte, cap. XII, encontramos: "Quanto à perda dos característicos sexuais, ... ocorrerá expontaneamente, quando as almas humanas tiverem assimilado todas as experiências necessárias à própria sublimação, rumando, ... para a situação angélica, em que o indivíduo deterá todas as qualidades nobres inerentes à masculinidade e à feminilidade..." E no livro "Sexo e destino", de 1963, cap. IX, podemos ler: "... que inúmeros espíritos reencarnam em condições inversivas, seja no domínio de lides expiatórias ou em obediência a tarefas específicas, ... homens e mulheres podem nascer homossexuais ou intersexos, ... que nos foros da Justiça Divina ... as personalidades humanas tachadas por anormais são consideradas tão carentes de proteção quanto as outras que desfrutam a existência garantidas pelas regalias da normalidade, segundo a opinião dos homens, observando-se que as faltas cometidas pelas pessoas de psiquismo julgado anormal são examinadas no mesmo critério aplicado às culpas de pessoas tidas por normais, notando-se ainda, que, em muitos casos, os desatinos das pessoas supostas normais são consideravelmente agravados, por menos justificáveis perante acomodações e primazias que usufruem, no clima estável da maioria ... e sobre preceitos e preconceitos vigente na Terra... os homens não podem efetivamente alterar, de chofre, as leis morais em que se regem, sob pena de precipitar a Humanidade na dissolução, ... no entanto, no mundo porvindouro os irmãos reencarnados, tanto em condições normais quanto em condições julgadas anormais, serão tratados em pé de igualdade, no mesmo nível de dignidade humana, reparando-se as injustiças assacadas, há séculos, ... porquanto a perseguição e a crueldade com que são batidos pela sociedade... lhes impedem ou dificultam a execução dos encargos que trazem à existência física, quando não fazem deles criaturas hipócritas, com necessidade de mentir..."
Emmanuel, mesmo médium, no livro "Vida e Sexo", "de 1971, cap. 21, partilha da mesma opinião.
Esse "mundo porvindouro", a que André Luiz se refere, é, sem dúvida, o nosso, uma vez que já se passaram 37 anos da publicação do livro e, hoje, vivemos num mundo onde o preconceito contra os homossexuais é encarado como uma anormalidade. As leis, cada vez mais, procuram garantir os direitos das minorias, permitindo que vivam suas vidas à sua maneira, sem os antigos prejuízos.
Mas, se os espíritos que escreveram através do Chico foram proféticos, o mesmo não se deu com um dos nossos maiores filósofos. J. Herculano Pires expressa, no livro "Vampirismo", de1980, Editora Paidéia, cap. II, as seguintes opiniões: "Impotentes ante os casos mais graves, como os de inversões e desvios sexuais, os psiquatras mais atualizados adotaram uma tática de persuação protelatória, considerando normais essas anormalidades. .. Os psiquiatras espíritas ... estão no dever indeclinável, profissional e consciencial, ... para o enfrentamento necessário desses meios de abastardamento da espécie ... Os psiquiatras ingênuos ... brincam hoje com fogo em seus consultórios ... alegando a impossibilidade de se caracterizar o que é normal e o que é anormal. Com isso pretendem declarar normais as anormalidades mais aviltantes. Mas a normalidade se define por si mesma no meio social. O sexo masculino define a personalidade normal do homem nas suas funções criadoras. O sexo feminino define a personalidade normal da mulher. Confundir alhos com bugalhos é tática de negociantes fraudulentos e inescrupulosos. Dizer a um adolescente que se sente dominado por impulsos negativos e procura livrar-se deles: "isso é normal, arranje um parceiro", é atirar o infeliz na roda viva de um futuro vergonhoso." Do mesmo autor, no livro "Mediunidade", Edicel, 1982, lemos: "A maioria dos casos do chamado homossexualismo adquirido, senão todos, provêm de atuação obsessiva de entidades animalescas, ..." "...também há casos ocorridos na... velhice, dependentes, ao que parece, de crises típicas desses períodos."... "Em todos esses casos o auxílio de práticas espíritas específicas dá sempre resultados."... "A Psiquiatria materialista, que desconhece os processos dinâmicos do espírito, pode considerar esses casos como irremediáveis e recorrer ao processo escuso de normalizar o anormal."
Os textos integrais, sem essas irritantes reticências, podem ser encontrados nos livros citados.
Essas opiniões seriam conflitantes ou complementares? Se conflitantes, qual seria a opinião mais kardecista? Todos nós reconhecemos a importância de Herculano Pires no movimento espírita. Mas, em pequenos mistérios nem sempre vale um grande filósofo. O objetivo do Espiritismo é o progresso do espírito; e progresso é aproximação constante da felicidade. Por isso, concordo com um amigo meu que cita Santo Agostinho: "Só é feliz quem possui o que deseja, desde que o desejado não seja inconveniente para si ou para outrem".
(Publicado no jornal "Abertura", de julho/2000)
João Alberto Vendrani Donha
Curitiba, Paraná
Abril 2001
Centro Espírita Luz Eterna - CELE
cele@cele.org.br.br
Curitiba, Paraná
Abril 2001
Centro Espírita Luz Eterna - CELE
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