EVANGELHO ESSENCIAL 6c
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
5 -
BEM-AVENTURADOS OS AFLITOS
Esquecimento
do passado
Havendo Deus
entendido de lançar um véu sobre o passado, é que há nisso vantagem. A
lembrança traria gravíssimos inconvenientes.
Poderia, em certos
casos, humilhar-lhe singularmente, ou, então, exaltar-lhe o orgulho e, impedir
o seu livre-arbítrio. Em todas as circunstâncias, acarretaria inevitável
perturbação nas relações sociais.
* * *
Frequentemente o
Espírito renasce no mesmo meio em que já viveu, estabelecendo de novo relações
com as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes haja feito. Se
reconhecesse nelas a quem odiara, talvez o ódio despertaria outra vez no seu
íntimo. De todo modo, ele se sentiria humilhado em presença daquelas a quem houvesse
ofendido.
* * *
Para seu
aperfeiçoamento, Deus lhe dá o que necessita e basta: a voz da consciência e as
tendências instintivas. Priva-lhe do que seria prejudicial.
* * *
Ao nascer, traz o
homem consigo o que adquiriu, nasce qual se fez;
* * *
Em cada existência,
tem um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi antes: se esta
sendo punido é que praticou o mal.
* * *
Suas atuais
tendências más indicam o que lhe resta corrigir em si próprio e é nisso que
deve concentrar toda a sua atenção. Daquilo de que se haja corrigido
completamente, nenhum traço mais conservará.
As boas resoluções
que tomou são a voz da consciência, advertindo-o do que é bem e do que é mal e
dando-lhe forças para resistir às tentações.
* * *
O esquecimento ocorre
apenas durante a vida corpórea. Voltando à vida espiritual, readquire o
Espírito a lembrança do passado; nada mais há do que uma interrupção
temporária, semelhante à que se dá na vida terrestre durante o sono, a qual não
impede de que, no dia seguinte, nos recordemos do que tenhamos feito na véspera
e nos dias anteriores.
* * *
E não é somente após
a morte que o Espírito recobra a lembrança do passado. Pode dizer-se que jamais
a perde, pois que mesmo encarnado, adormecido o corpo, ocasião em que goza de
certa liberdade, o Espírito tem consciência de seus atos anteriores; sabe por
que sofre e que sofre com justiça. A lembrança unicamente se apaga no curso da
vida exterior, da vida de relação social.
* * *
Motivos
de Resignação
Deve o homem
considerar-se feliz por sofrer, visto que as dores deste mundo são o pagamento
da dívida que as suas passadas faltas lhe fizeram contrair; suportadas
pacientemente na Terra, essas dores lhe pouparão séculos de sofrimentos na vida
futura. Deve sentir-se feliz por Deus reduzir a sua dívida, permitindo que a
pague agora, o que lhe garantirá a tranquilidade no futuro. São felizes porque
se quitam e porque, depois de se haverem quitado, estarão livres. Este é o
sentido das palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados."
* * *
Se o homem, ao
quitar-se de um lado, endivida-se de outro, jamais poderá alcançar a sua
libertação. A cada nova falta aumenta a dívida, porque nenhuma há, que não
acarrete forçosa e inevitavelmente uma punição. Se não for hoje, será amanhã;
se não for na vida atual, será noutra.
* * *
Se lamentarmos as
aflições, se não as aceitarmos com resignação e como algo que devemos ter
merecido, se acusarmos a Deus de ser injusto, nova dívida contraímos, que nos
faz perder o fruto que devíamos colher do sofrimento, e por isso teremos de
recomeçar.
* * *
O homem pode suavizar
ou aumentar a amargura de suas provas, conforme o modo pelo qual encare a vida
terrena.
* * *
Tanto mais sofre ele,
quanto mais longa lhe parece a duração do sofrimento. Aquele que a encara pelo
prisma da vida espiritual apanha, num golpe de vista, a vida corpórea. Ele a vê
como um ponto no infinito, compreende-lhe o quanto é breve e reconhece que esse
difícil momento logo terá passado. A certeza de um futuro próximo mais feliz o
sustenta e anima e, longe de se queixar, agradece ao Céu as dores que o fazem
avançar.
* * *
Da maneira de
considerar a vida, resulta ser diminuída a importância das coisas deste mundo,
e sente-se compelido o homem a moderar seus desejos, a contentar-se com a sua
posição, sem invejar a dos outros, a receber suavizada a impressão dos reveses
e das decepções que experimente. Daí tira ele uma calma e uma resignação tão
úteis à saúde do corpo quanto à da alma, ao passo que, com a inveja, o ciúme e
a ambição voluntariamente se condena à tortura e aumenta as misérias e as
angústias da sua curta existência.
O
suicídio e a loucura
A calma e a
resignação extraídas da maneira de se considerar a vida terrestre e da
confiança no futuro dão ao espírito uma serenidade que é o melhor preservativo
contra a loucura e o suicídio.
* * *
A maioria dos casos
de loucura se deve à emoção produzida pelas contrariedades da vida que o homem
não tem forças de suportar.
Encarando as coisas
deste mundo da maneira pela qual o Espiritismo faz que ele as considere, o
homem recebe com serenidade, sem tristezas, as amarguras e as decepções que o
houveram desesperado noutras circunstâncias, essa força o coloca acima dos
acontecimentos, lhe preserva de abalos a razão, os quais, se não fora isso, o perturbariam.
* * *
O mesmo ocorre com o
suicídio. Postos de lado os que se dão em estado de embriaguez e de loucura,
aos quais se pode chamar de inconscientes, é certo que tem ele sempre por causa
um descontentamento, quaisquer que sejam os motivos particulares que lhe
apontem.
* * *
Aquele que está certo
de que só é infeliz por um dia e que melhores serão os dias que hão de vir,
enche-se facilmente de paciência. Só se desespera quando nenhum fim vê para os
seus sofrimentos. E o que é a vida humana com relação à eternidade senão bem
menos que um dia?
* * *
Para o que não crê na
eternidade e julga que com a vida tudo se acaba, quando os infortúnios e as
aflições o oprimem, unicamente na morte vê uma solução para as suas amarguras.
Nada esperando, acha muito natural, muito lógico abreviar pelo suicídio as suas
misérias.
* * *
A incredulidade, a
simples dúvida sobre o futuro, as ideias materialistas são os maiores
incentivadores ao suicídio; ocasionando a covardia moral.
* * *
A propagação das
doutrinas materialistas é o veneno que introduz a ideia do suicídio na maioria
dos que se suicidam, e os que se constituem divulgadores de semelhantes
doutrinas assumem tremenda responsabilidade.
* * *
Com o Espiritismo,
tornada impossível a dúvida, muda o aspecto da vida. O crente sabe que a
existência se prolonga indefinidamente para lá do túmulo, mas em condições
muito diversas; donde a paciência e a resignação o afastam muito naturalmente
de pensar no suicídio; resultando a coragem moral.
* * *
O Espiritismo ainda
produz outro resultado igualmente positivo e talvez mais decisivo. Apresenta os
próprios suicidas a informar-nos da situação infeliz em que se encontram e a
provar que ninguém viola impunemente a lei de Deus, a qual proíbe ao homem
encurtar a sua vida.
* * *
Entre os suicidas,
alguns há cujos sofrimentos, nem por serem temporários e não eternos, não são
menos terríveis e de natureza a fazer refletir os que porventura pensam em
daqui sair, antes que Deus o haja ordenado.
* * *
O espírita tem vários
motivos a contrapor à ideia do suicídio: a certeza de uma vida futura,
em que, sabe-o ele, será muito mais feliz, quanto mais confiante e
resignado haja sido na Terra:
* * *
Abreviando seus dias
chega a resultado oposto ao que esperava; que se liberta de um mal, para incorrer
num mal pior, mais longo e mais terrível; que se engana, imaginando que
matando-se vai mais depressa para o céu;
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O suicídio é um
obstáculo a que no mundo espiritual ele se reúna aos que foram objeto de suas
afeições e aos quais esperava encontrar; donde a consequência de que o
suicídio, só lhe trazendo decepções, é contrário aos seus próprios desejos.
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