A Doutrina Espírita e o desafio da reforma interior
Autor: Cleto Brutes
O contato com os ensinamentos da Doutrina Espírita, cedo ou tarde, despertará a necessidade da reforma interior. Mas, o que normalmente ocorre é que o processo de reconstrução interior não evolui mesmo após a tomada de consciência das ações, valores, sentimentos e crenças que precisam ser reformulados. Muitos, ao sentirem-se impotentes diante das próprias fraquezas, permanecem estacionados. Outros, inclusive, relatam que, ao terem uma piora no contexto das suas aflições, abandonam a Doutrina Espírita, ignorando que, para o êxito do reajuste interno, será necessário disciplina e perseverança.
Supondo-se que alguém resolva reformar a casa e continuar morando nela, num primeiro momento, a desordem será inevitável. São os móveis fora de lugar e o material de construção que provavelmente vai empoeirar as instalações. Mas, aos poucos, as coisas vão retornando para os seus devidos lugares e, terminada a reforma, a harmonia doméstica retorna.
Os ensinos da Doutrina Espírita vão proporcionar essa aparente e momentânea instabilidade interior. E é natural que, num primeiro momento, haja desarmonia. É o choque de posturas, valores e conceitos novos com os valores antigos, muitas vezes arraigados por séculos afora. Se não é fácil modificar hábitos adquiridos nesta encarnação, imagine-se então a dificuldade para se mudar padrões de comportamentos e sentimentos vivenciados, muitas vezes, durante séculos. Hoje cada um é o resultado de tudo o que construiu como espírito imortal. Mesmo que todas as experiências vividas não se situem a nível consciente, elas interferem decisivamente no momento presente.
É evidente que a lição espírita conduz ao rompimento com velhos paradigmas e à adoção de ações que, mesmo inconscientemente, muitos não estão dispostos a se submeter. Somente essas circunstâncias já geram contrariedades, dúvidas e aflições, muito normais quando se inicia um empreendimento novo. Por isso, não se pode culpar a Doutrina Espírita, nem as circunstâncias que parecem ser desfavoráveis.
O processo evolutivo para o espírito, assim como a morte biológica, está entre os determinismos Divinos. Não ocorrendo espontaneamente, cada um atrairá para si as experiências necessárias para esse despertamento, normalmente através do sofrimento. Comumente, diz-se que há apenas dois caminhos para a evolução: o do amor ou o da dor, a opção é individual.
Facilmente se concluirá que é melhor sujeitar-se aos desafios que a mudança proporciona do que aguardar que as Leis da Vida, com seus mecanismos, pacientemente, propiciem os resgates ou que a morte, que poderá acontecer a qualquer momento, traga as inevitáveis surpresas para aquele que chega ao Mundo Espiritual. Sem considerar, ainda, os conflitos e decepções que advirão para quantos que não souberam aproveitar a encarnação, oportunidade que Deus oferece para cada um redimir-se perante a consciência e aliviar as dores da alma.
A reforma íntima, através do autoconhecimento, da meditação, do estudo, da oração e das boas ações, é tarefa inadiável. Será um processo longo e gradativo, sem pressa, mas com constância, persistência e sem aflições, caso os erros antigos tornem a se repetir, pois o erro faz parte do aprendizado. Talvez, de início, só se consiga identificar os equívocos (que já é um passo significativo, pois quantos ainda não se deram conta disso?), para em uma segunda etapa corrigi-los.
É evidente que a caminhada espiritual não se concretizará sem lutas.
A cada nova atividade assumida, novos obstáculos surgem. Todavia, quanto maior o progresso, maior o amadurecimento e os obstáculos, embora crescentes, serão vencidos com naturalidade. O desafio de um aluno das séries iniciais é o mesmo daquele que já está cursando a universidade. As dificuldades são as mesmas, só que em dimensões diferentes. Assim é na evolução espiritual. Os grandes missionários superam desafios que a maioria ainda não consegue transpor. Assim como eles já anelaram os recursos necessários, cada um, a seu tempo e na medida dos seus esforços, também atingirá essa condição.
É importante ter-se consciência de que quanto maior o progresso, mais próximo da perfeição se estará e quem atinge esse estágio já está acima das dores humanas. Sendo assim, é preferível enfrentar o aumento da responsabilidade que resulta da busca das verdades eternas a permanecer na ignorância.
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