**INFORMAÇÃO ESPÍRITA**
Eixo Temático: A Busca da Felicidade
Resignação da adversidade
(Léon Denis – livro: Depois da Morte, cap. 50)
Para apreciar os bens e os males da existência, para saber
em que consiste a verdadeira desgraça, em que consiste a felicidade, é
necessário nos elevarmos acima do círculo acanhado da vida terrena. O
conhecimento do futuro e da sorte que nos aguarda permite medir as
consequências dos nossos atos e sua influência sobre os tempos vindouros.
Observada sob este ponto de vista, a desgraça, para o ser
humano, já não é mais o sofrimento, a perda dos entes que lhe são caros, as
privações, a miséria; a desgraça será então tudo o que manchar, tudo o que
aniquilar o adiantamento, tudo o que lhe for um obstáculo. A desgraça, para aquele
que só observar os tempos presentes, pode ser a pobreza, as enfermidades, a
moléstia. Para o Espírito que paira no alto, ela será o amor do prazer, o
orgulho, a vida inútil e culposa. Não se pode julgar uma coisa sem se ver tudo
o que dela decorre, e eis por que ninguém pode compreender a vida sem conhecer
o seu alvo e as leis morais. As provações, purificando a alma, preparam sua
ascensão e felicidade; no entanto, as alegrias deste mundo, as riquezas, as
paixões entibiamna e atiram-na para uma outra vida de amargas decepções. Assim,
aquele que é oprimido pela adversidade pode esperar e erguer um olhar confiante
para o céu; desde que resgata a sua dívida, conquista a liberdade; porém, esse
que se compraz na sensualidade constrói a sua própria prisão, acumula novas
responsabilidades que pesarão extraordinariamente sobre as suas vidas futuras.
A dor, sob suas múltiplas formas, é o remédio supremo para
as imperfeições, para as enfermidades da alma. Sem ela não é possível a cura.
Assim como as moléstias orgânicas são muitas vezes resultantes dos nossos
excessos, assim também as provas morais que nos atingem são consequentes das
nossas faltas passadas. Cedo ou tarde, essas faltas recairão sobre nós com suas
deduções lógicas. É a lei de justiça, de equilíbrio moral. Saibamos aceitar os
seus efeitos como se fossem remédios amargos, operações dolorosas que devem
restituir a saúde, a agilidade ao nosso corpo.
Embora sejamos acabrunhados pelos desgostos, pelas
humilhações e pela ruína, devemos sempre suportá-los com paciência. O lavrador
rasga o seio da terra para daí fazer brotar a messe dourada.
Assim a nossa alma, depois de desbastada, também se
tornará exuberante em frutos morais.
Pela ação da dor, larga tudo o que é impuro e mau, todos
os apetites grosseiros, vícios e paixões, tudo o que vem da terra e deve para
ela voltar. A adversidade é uma grande escola, um campo fértil em
transformações. Sob seu influxo, as paixões más convertem-se pouco a pouco em paixões
generosas, em amor do bem. Nada fica perdido. Mas, essa transformação é lenta e
dificultosa, pois só pode ser operada pelo sofrimento, pela luta constante
contra o mal, pelo nosso próprio sacrifício. Graças a estes, a alma adquire a
experiência e a sabedoria. Os seus frutos verdes e amargos convertem-se, sob a
ação regeneradora da prova, sob os raios do Sol divino, em frutos doces,
aromáticos, amadurecidos, que devem ser colhidos em mundos superiores.
Livres em nossas ações, isentos de males, de cuidados,
deixar-nos-íamos impulsionar pelo sopro das paixões, deixar-nos-íamos arrebatar
pelo temperamento. Longe de trabalharmos pela nossa melhoria, nada mais
faríamos do que amontoar faltas novas sobre as faltas passadas; no entanto,
comprimidos pelo sofrimento, em existências humildes,
habituamo-nos à paciência, ao raciocínio, adquirimos essa calma de pensamento
indispensável àquele que quiser ouvir a voz da razão.
É no crisol da dor que se depuram as grandes almas. Às
vezes, sob nossa vista, anjos de bondade vêm tragar o cálice de amargura, como
exemplificação aos que são assustados pelos tormentos da paixão. A prova é uma
reparação necessária, aceita com conhecimento de causa por muitos
dentre nós. Oxalá assim pensemos nos momentos de desânimo,
e que o espetáculo dos males suportados com essas grandes resignações nos dê a
força de conservarmo-nos fiéis aos nossos próprios compromissos, às resoluções
viris que tomamos antes de encarnar.
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