Céu inferno_040_2ª
parte cap. II - Espíritos Felizes - Maurice Goutran
TEXTO PARA ESTUDO
Foi filho único, falecido com dezoito anos,
de uma afecção do pulmão. Inteligência rara, razão precoce, grande amor aos
estudos, caráter doce, amante e simpático, ele possuía todas as qualidades que
dão as mais legítimas esperanças de um brilhante futuro. Seus estudos terminaram
cedo com o maior sucesso, e ele trabalhava na Escola politécnica. Para seus
pais, sua morte foi a causa de uma dessas dores que deixam traços profundos, e
tanto mais penosas quanto tenham sempre sido de uma santa delicadeza, atribuíam
seu fim prematuro ao trabalho para o qual o impeliram, e se repreendiam:
"A que serve-lhe agora tudo o que aprendeu? Melhor fora que tivesse
permanecido ignorante, porque disso não necessitaria para viver e, sem dúvida,
estaria ainda entre nós, consolaria a nossa velhice". Se conhecessem o
Espiritismo, sem dúvida raciocinariam de outro modo. Mais tarde, aí encontraram
a verdadeira consolação. A comunicação seguinte foi dada pelo filho a um de
seus amigos, alguns meses depois de sua morte:
P. Meu caro Maurice, a terna afeição que
tínheis por vossos pais faz com que eu não duvide do vosso desejo de levantar a
sua coragem, se isso está no vosso poder. O desgosto, eu diria o desespero em
que a vossa morte os mergulhou, altera visivelmente sua saúde e lhes faz se
desgostarem da vida. Algumas boas palavras vossas, sem dúvida, poderão fazer
renascer neles a esperança.
R. Meu velho amigo, esperava com impaciência
a oportunidade que me ofereceis para me comunicar. A dor dos meus pais me
aflige, porém ela se acalmará quando tiverem a certeza de que não estou perdido
para eles; é em convencê-los dessa verdade que deveis vos interessar, e a isso
chegareis certamente. Era necessário esse acontecimento para levá-los a uma
crença que fará a sua felicidade, porque ela lhes impedirá de murmurarem contra
os decretos da Providência. Meu pai era muito cético a respeito da vida futura;
Deus permitiu que tivesse essa aflição para tirá-lo do seu erro.
Nós nos reencontraremos aqui, neste mundo
onde não mais se conhecem os desgostos da vida, e onde os precedi; mas
dizei-lhes bem que a satisfação de ali me reverem lhes será recusada como
punição por sua falta de confiança na Bondade de Deus. Ser-me-ia mesmo
interditado, daqui até lá, comunicar-me com eles enquanto estiverem ainda na
Terra. O desespero é uma revolta contra a vontade do Todo-Poderoso, e que
sempre é punida pelo prolongamento da causa que levou a esse desespero, até que
se esteja submisso. O desespero é um verdadeiro suicídio, porque mina as forças
do corpo, e aquele que abrevia seus dias com o pensamento de escapar mais cedo
às opressões da dor, prepara para si as decepções mais cruéis; ao contrário, é
manter as forças do corpo para que é necessário trabalhar para suportar, mais
facilmente, o peso das provas.
Meus bons pais, é a vós que me dirijo. Desde
que deixei o meu despojo mortal, não deixei de estar junto a vós, e mais do que
estava quando vivia na Terra. Consolai-vos porque não estou morto; estou mais
vivo do que vós; só meu corpo morreu, mas meu Espírito vive sempre. Ele está
livre, feliz, doravante ao abrigo das doenças, das enfermidades e da dor. Em
lugar de vos afligir, regozijai-vos por me saberem num meio isento de cuidados
e de receios, onde o coração é arrebatado por uma alegria pura e sem mescla.
Meus amigos, não lastimeis aqueles que morrem
prematuramente; é uma graça que Deus lhes concede, poupando-lhes as tribulações
da vida. Minha existência, dessa vez, não deveria prolongar-se por mais tempo
na Terra; eu tinha adquirido o que aí deveria adquirir, a fim de preparar-me
para cumprir, mais tarde, uma missão mais importante. Se tivesse vivido por
longos anos, sabeis a quais perigos, a quais seduções estaria exposto? Sabeis
que se, não estando ainda bastante forte para resistir, houvesse sucumbido,
isso poderia ser para mim um atraso de vários séculos? Por que lamentais o que
me é vantajoso? Uma dor inconsolável, neste caso, acusaria uma falta de fé e
não poderia ser ligitimada senão pela crença do nada. Sim, são para se lamentar
aqueles que têm essa crença desesperante, porque para eles não há consolação
possível; os seres queridos estão perdidos sem retorno; a tumba levou-lhes a
última esperança!
P. Vossa morte foi dolorosa?
R. Não, meu amigo, não sofri senão antes de
morrer com a moléstia que me arrebatou, mas esse sofrimento diminuía à medida
que o último momento se aproximava; depois, uma luz, e dormi sem pensar na
morte. Sonhei um sonho delicioso! Sonhava que estava curado, não sofria mais,
respirava a plenos pulmões, e com volúpia, um ar embalsamado e fortificante;
era transportado, através do espaço, por uma força desconhecida; uma luz
brilhante resplandecia ao meu redor; mas sem cansar a minha visão. Vi meu avô;
ele não tinha mais o rosto descarnado, mas um ar de frescor e de juventude;
estendeu-me os braços e apertou-me com efusão sobre seu coração. Uma multidão
de outras pessoas, com semblantes risonhos, acompanhava-o; todos me acolhiam
com bondade e benevolência; parecia-me reconhecê-las, estava feliz por
revê-las, e todos juntos trocamos palavras e testemunhos de amizade. O que eu
acreditava ser um sonho era a realidade; não mais deveria despertar na Terra:
eu estava desperto no mundo dos Espíritos.
P. A vossa moléstia fora causada pela vossa
muito grande assiduidade ao trabalho?
R. Não, disso estejais bem persuadidos. O
tempo que deveria viver na Terra estava marcado, e nada poderia aí deter-me por
mais tempo. Meu Espírito, nesses momentos de desligamento, sabia-o bem, e
estava feliz pensando na sua próxima libertação. Mas o tempo que aí passei não
foi sem proveito, e hoje me felicito por não tê-lo perdido. Os estudos sérios
que fiz fortificaram a minha alma e aumentaram os meus conhecimentos; foi outro
tanto de educação, e se não pude aplicá-los na minha curta permanência entre
vós, aplicá-los-ei mais tarde com mais fruto.
Adeus, caro amigo, vou para junto de meus
pais, dispô-los para receberem essa comunicação.
MAURICE
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1. Os pais de Maurice diziam que seria melhor
o filho não ter aprendido nada e vivido por mais tempo entre eles, já que o
estudo de nada lhe adiantaria, pois morrera. Por que o texto afirma que, se
eles conhecessem o Espiritismo, eles não pensariam dessa maneira?
2. Por que foi necessário o desencarne
prematuro de Maurice?
3. Segundo Maurice, o que seria o desespero?
4. A morte prematura deve ser vista como uma
desgraça? Comente.
5. Alguma dúvida ou comentário sobre o tema
em estudo?
CONCLUSÃO
1. Os estudos sérios que fazemos fortificam a
nossa alma e aumentam nossos conhecimentos. Se não pudermos aplicar esses
conhecimentos nessa vida, os aplicaremos mais tarde com mais resultados.
2. Para que os pais de Maurice fossem levados
a uma crença que faria sua felicidade, porque lhes impediria de murmurarem
contra a Providência Divina. O pai de Maurice era muito cético, e Deus permitiu
que tivesse essa aflição para tirá-lo de seu erro.
3. O desespero é uma revolta contra a vontade
do Todo-Poderoso, e que sempre é punida pelo prolongamento da causa que levou a
esse desespero, até que se esteja submisso. O desespero é um verdadeiro
suicídio, porque mina as forças do corpo, e aquele que abrevia seus dias com o
pensamento de escapar mais cedo às opressões da dor, prepara para si as
decepções mais cruéis; ao contrário, é manter as forças do corpo para que é
necessário trabalhar para suportar, mais facilmente, o peso das provas.
4. Deve ser vista como uma graça que Deus
concede, poupando as tribulações da vida. Se a pessoa vivesse por longos anos,
a quais perigos e seduções estaria exposta? Se ainda não estivesse bastante
forte para resistir, teria sucumbido e isso seria um atraso de séculos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário