CAPÍTULO 19 = JESUS E INGRATIDÃO
Os sentimentos de amor, justiça, caridade e gratidão são inerentes à
natureza humana, herdeira natural do bom, do nobre, do belo. Todavia, porque ainda
se demora em crescimento de valores, mais vinculada atavicamente aos instintos
primitivos, não se manifestam essas qualidades, que devem ser cultivadas com
esforço até que se expressem por automatismos defluentes da sua elevação
interior.
Em razão disso, são mais comuns as manifestações agressivas, as rebeldias,
as ingratidões que aturdem, mantendo um clima mental e emocional belicoso entre
os homens.
A ingratidão, que é desapreço, apresenta-se como grave imperfeição
da alma, que deve ser corrigida.
O ingrato é enfermo que se combure nas chamas do orgulho mal dissimulado,
da insatisfação perversa. A si todos os direitos e méritos se atribui, negando
ao benfeitor a mínima consideração, nenhum reconhecimento.
Olvidando-se, rapidamente, do bem que lhe foi dispensado,
silencia-o, mesmo quando não pensa que o recebido não passou de um dever para
com ele, insuficiente para o seu grau de importância.
A ingratidão é chaga moral purulenta no indivíduo, que debilita o organismo
social onde se encontra.
Assim, os ingratos são numerosos, sempre soberbos, e
auto-suficientes, em dependência mórbida, porém, dos sacrifícios dos outros.
*
Jesus sempre admoestava os ingratos que lhe cruzavam o caminho.
Nunca lhe faltaram no ministério estes infelizes.
No admirável fenômeno de cura orgânica dos dez leprosos,
patenteiam-se a ingratidão dos beneficiados e a interrogação do Mestre, diante
daquele que havia retornado para agradecer: “Onde estão os outros? Não foram
dez os curados?”
Nove se haviam ido, apressados, para o gozo e a algaravia,
recuperados por fora, sem liberação da doença interna, que desapareceria
somente a partir do momento em que fossem agradecer, modificando-se psicológica
e moralmente.
Na tragédia do Calvário, não se encontrava presente nenhum dos que foram
beneficiados pelas Suas mãos, e estes haviam sido muitos.
Ele iluminara olhos apagados; abrira ouvidos moucos; ofertara som
aos lábios silenciosos; equilíbrio a mentes tresvariadas; movimentos a membros mortos;
vida a catalépticos; recuperação orgânica a portadores de males inumeráveis e,
no entanto, ficou esquecido por todos eles. Não obstante o bem que receberam,
fugindo do reconhecimento, os ingratos viram-se diante de si mesmos, das
consciências molestadas pelos remorsos, tornando a enfermar e morrendo, pois
que deste fenômeno biológico ninguém escapa.
*
O Mestre conhecia as debilidades morais do homem e sempre se preocupava
em alcançá-las, a fim de que as pretendidas curas alcançassem as matrizes das
doenças, onde as mesmas se originam, erradicando-as, de modo que não voltassem
a produzir miasmas e males perturbadores.
A Sua era uma constante proposta de renovação de metas, de atitudes,
de pensamentos.
Sendo o exemplo máximo, pedia que O vissem, isto é, que Lhe tomassem
a conduta de desapego das paixões cáusticas e cuidassem de uma só coisa necessária,
que é o “reino de Deus” embutido no coração.
Na busca do mais importante, o seu encontro elimina o secundário,
que deixa de ter valor, para ceder lugar ao essencial, que é o necessário.
Os homens, porém, na superficialidade dos seus interesses, anelam apenas
pelo imediato, que lhes satisfaz num momento, deixando-os ansiosos outra vez.
Por imaturidade espiritual, ceifam a árvore de onde retiram os
frutos de hoje, acreditando, com ingenuidade, que não terão fome amanhã. E
quando esta se apresenta novamente, não têm onde recolher o alimento.
Assim agem os ingratos.
Toldam a água da fonte que os dessedentou; queimam o trigal que lhes
deu o pão; cortam a planta frutífera que os alimentou; afastam o amigo generoso
que os socorreu.
Em contrapartida, vivem a sós, amesquinhados, em si mesmos por conhecerem
o íntimo.
Desconfiados, neurotizam-se; arbitrários, são desamados; soberbos, passam
ignorados.
*
Não te preocupes com os ingratos dos teus caminhos de amor.
Prossegue, ofertando luz, sem te inquietares com a teimosia da
treva.
Onde acendas uma lâmpada, a claridade aí derramará dádivas.
Os teus beneficiários que te abandonaram, esqueceram ou se voltaram contra
ti, aprenderão com a vida e compreenderão, mais tarde, o que fizeram.
Recordarão das tuas atitudes e buscarão passar adiante o que de ti receberam.
Não é, portanto, importante, o tratamento que te dêem em
retribuição, mas sim, o que prossigas fazendo por eles.
JESUS E ATUALIDADE
DIVALDO PEREIRA FRANCO
DITADO PELO ESPÍRITO JOANNA DE ÂNGELIS
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