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sexta-feira, 14 de setembro de 2018

EDUCAÇÃO - O APRENDIZADO DA VIDA


INFORMAÇÃO ESPÍRITA

CONVERSA BREVE


EDUCAÇÃO

EDUCAÇÃO - O APRENDIZADO DA VIDA

Hermínio C. Miranda

Voltemos, à ligeira retrospectiva na História da Educação. Vimos que alguns pensadores do segundo e terceiro séculos aceitaram a contribuição da cultura geral ao melhor entendimento da fé. Mais do que isso, entendiam mesmo que era pelos caminhos da cultura que o cristão chegaria àquele entendimento. Tais posturas não eram unânimes, pois havia discordâncias. É certo, porém, que dessa época em diante os modelos educacionais em vigor passaram a ser bastante influenciados pelo pensamento religioso, quando não dominados pela Igreja, situação que se prolongaria pelos séculos afora. Aí pela fase final da Idade Média o currículo escolar abrangia as chamadas sete artes liberais e a filosofia, suplementado pelo estudo- dogmático da doutrina católica. A Teologia não alcançara ainda o status de um sistema filosófico orgânico.

As sete artes liberais dividiam-se em dois grupos: o Trivium (gramática, dialética e retórica) e o Quadrivium, espécie de curso superior, onde se ensinava geometria, aritmética, música e astronomia. Ou melhor, o que então era conhecido com esses nomes. Foi somente a partir do século XI, depois de agitada fase de invasões e da turbulência política e social, que a Europa conseguiu estabilidade suficiente para novo impulso educacional. Abelardo (1079-1142) tentou racionalizar a fé, deixando importante contribuição à escolástica, enquanto S. Tomás de Aquino (1225-1274) ordenou a doutrina da Igreja segundo moldes aristotélicos.

O escolasticismo acabou exercendo influência positiva na fundação das primeiras universidades européias, mas os modelos educacionais continuavam limitados e um tanto rígidos. O bacharelado e o mestrado em “artes” constituíam precondição de acesso a estudos mais nobres, assim considerados, a Teologia, a Medicina e as leis. Na Filosofia e na chave das ciências físicas dominava absoluto o pensamento de Aristóteles. Em Medicina, Galeno e Hipócrates. Seguiu-se novo período de decadência cultural que somente iria receber impulsos renovadores com a Reforma Protestante. É que entenderam os reformadores que chegara o momento de retomar a cultura clássica, a fim de que o cristão pudesse entender e, por conseguinte, melhor praticar, a doutrina de sua escolha. Após veemente controvérsia entre os primeiros protestantes e os humanistas, liderados, respectivamente, por Lutero de um lado e por Erasmo de outro, coube a Philipp Melanchthon (1.497-1560), humanista e protestante, promover a conciliação das duas correntes. Sob sua influência direta ou indireta, as Universidades foram reorganizadas e algumas criadas. Os modelos educacionais então implementados prevaleceriam durante dois séculos e, em alguns casos, até mais do que isso. Assim, alternando períodos de decadência com momentos de retomada, os processos educacionais continuaram a sofrer as influências dos tempos e dos pensadores.

O próximo grande nome na História da Educação foi o de Jean Jacques Rousseau, que com a sua obra EMILE produziu importante documento, a despeito de suas óbvias limitações. Entendia Rousseau que o Ser humano é intrinsecamente bom e que, deixado aos seus próprios recursos, alcançaria fatalmente a felicidade, o que é, no mínimo, uma visão superotimista e irreal da natureza humana. O grande educador, cujo vulto se destaca a seguir, é o de Pestalozzi (1746-1827), figura de particular interesse para os espíritas, pois foi na sua famosa escola de Yverdon, na Suíça, que Hippolyte-Léon Denizard Rivail — o futuro Allan Kardec — passou alguns anos decisivos da sua formação cultural e humanística. — Os alunos gozavam de grande liberdade — escreveu Roger de Guimps, que ali estudou de 1808 a 1817 — as portas do castelo permaneciam abertas o dia todo, e sem porteiros. Podia-se sair e entrar a qualquer hora, como em toda casa de uma família prevaleciam disso. Eles tinham, em geral, dez horas de aula por dia, das seis da manhã às oito da noite, mas cada lição só durava uma hora e era seguida de pequeno intervalo, durante o qual ordinariamente se trocava de sala. Por outro lado, algumas dessas lições consistiam em ginástica ou em trabalhos manuais, como cartonagem e jardinagem. A última hora da jornada escolar, das sete às oito da noite, era dedicada ao trabalho livre; as crianças diziam: On travaille pour soi, e elas podiam, a seu belprazer, ocupar-se de desenho ou de geografia, escrever a seus pais ou por em dia seus deveres. (“Allan Kardec”, Zêus Wantuil e Francisco Thiesen, Ed. FEB.) Por tudo isso diria Kardec anos mais tarde que “o programa de toda uma ordem social só realizaria o mais absoluto progresso da Humanidade, se os princípios que eles exprimem pudessem receber integral aplicação”. Achava o grande educador suíço que “o amor é o eterno fundamento da educação”, princípio esse que ele traduziu em ação, assumindo a responsabilidade de dar abrigo e instrução a crianças carentes e abandonadas, às vezes sob as mais adversas condições, pois não dispunham de recursos próprios. Em sua obra LEONARDO E GERTRUDES, em quatro volumes, expôs suas idéias acerca dos problemas humanos de sempre, pregando uma reforma social, moral e política. Em COMO GERTURDES ENSINA SEUS FILHOS, publicada em 1801, concentrou-se no problema específico da educação, que deveria ser ministrada a partir de dois princípios básicos:

1) o de que o pensamento preciso e claro depende de observação atenta de objetos reais;

2) o de que palavras e idéias, portanto, só fazem sentido quando relacionadas com coisas concretas. Preconizava, portanto, um estudo prático e objetivo, voltado para a realidade dos fatos. Por isso o currículo do Instituto de Yverdon dava ênfase especial às práticas de desenho, composição, canto, exercícios físicos, declamação (mais em grupo do que individual), modelagem, colecionamento, traçado de mapas e excursões pelo campo. Aspecto de particular relevo nas inúmeras idéias que seu pioneirismo pôs em prática foi o da instrução graduada segundo a capacidade do aluno, cujo potencial era desenvolvido em grupamentos afins. De certo modo, esse conceito seria retomado mais tarde por Lewis Madison Terman (1877 — 1956), nos Estados Unidos, psicólogo especializado em testes de inteligência. Terman desenvolveu técnicas próprias e criou a expressão QI (Quociente de Inteligência). A aplicação de seus testes ia revelando inteligências acima da média (100) que, a seu ver, mereciam e precisavam de tratamento educacional diferenciado, a fim de poderem desenvolver todo o seu potencial.

Terman considerava da maior importância para a sociedade identificar, tão cedo quanto possível, crianças bem dotadas, a fim de encaminhá-las para melhores oportunidades de educação. Em 1921 selecionou 1500 crianças com QI superiores a 140 — 0,5% da população — e acompanhou o desenvolvimento intelectual do grupo durante os restantes 35 anos de sua existência. Suas conclusões merecem respeito: tornou-se evidente que as crianças talentosas apresentavam uma tendência a serem mais saudáveis e emocionalmente mais estáveis do que a criança média, e que a capacidade intelectual confirmava-se na idade adulta. O Espiritismo não se  surpreende com tais conclusões. As crianças são Espíritos reencarnados e trazem, obviamente, uma experiência subjacente de inúmeras vidas. Aqueles que se devotaram com maior assiduidade e esforço ao trabalho intelectual em vidas anteriores reencarnam-se com mais robusta estrutura mental, a não ser que renasçam com o cérebro físico danificado em razão de compromissos cármicos ainda em aberto. Espíritos de elevada condição intelectual, como Einstein, Descartes, Beethoven ou Leibnitz, para citar um mínimo, em qualquer nova experiência na carne, virão indubitavelmente dotados de cérebros portentosos pois trazem tais conquistas já consolidadas no veículo primário do Espírito imortal (o perispírito) que irá servir de organizador biológico ao veículo secundário (o corpo físico). A idéia básica de Terman desdobrou-se e frutificou. O ensino foi (e continua sendo) ministrado nas escolas comuns ao estudante de mediana capacidade, como se a turma fosse intelectualmente homogênea, o que somente poderia ocorrer se houvesse uma seleção prévia.Sem esse cuida do preliminar, os grupos estudantis contêm sempre uma taxa mais ou menos previsível, tanto de crianças com variada gradação de deficiências intelectuais, como excepcionalmente bem dotadas. Na verdade, o conceito de excepcionalidade tanto se aplica à faixa inferior do QI quanto à faixa superior. Há três grupos distintos, portanto, no universo escolar 1) aqueles que apresentam deficiências intelectuais, 2) os que se situam na faixa média, certamente a maioria e 3) os que se posicionam na faixa elevada, para a qual Terman encontrou um índice de 0,5% da população como vimos há pouco. Tais grupos, obviamente, apresentam-se com necessidades diferentes e precisam de tratamento diferenciado. Numa classe heterogênea, com o ensino ministrado em padrões medianos, a criança deficiente não tem condições de acompanhar a turma, ao passo que a criança bem dotada acaba perdendo o interesse pelas matérias lecionadas e pelo estudo em geral, que não lhe oferece condições de desafio e espaço para a sua criatividade e exercício de sua inteligência. Com isto, muitos jovens bem dotados deixam de realizar todo o potencial de que dispõem por pura falta de estímulo intelectual. Ao que se observa, Pestalozzi foi o primeiro educador a identificar o problema e a tomar as medidas correspondentes para tirar melhor partido das diversas técnicas educacionais.

Atualmente existem escolas inteiramente dedicadas ao ensino dos bem dotados, tanto quanto escolas especializadas na educação de crianças da faixa excepcional deficiente.

Isto não quer dizer que estes últimos sejam Espíritos retardados ou mais primitivos.

Podem até ser altamente intelectualizados e inteligentes aprisionados em corpos físicos que lhes inibem o exercício de todo o potencial de suas mentes. Razões de ordem cármica estão aí em operação e, se for possível mergulhar no passado de cada um, vamos certamente descobrir as causas que acarretaram tão dramáticos efeitos. Alguém que tenha, por exemplo, abusado do seu poder mental para dominar, corromper e ludibriar o próximo, há de contar com uma ou mais existências em que venha mentalmente inibido em corpo físico dotado de cérebro deficiente. Essa é a lição que nos proporciona a realidade hoje inquestionável da reencarnação. Não que tais situações sejam punitivas ou de castigo, mas sim de reajuste, oportunidade de recuperação e progresso concedida repetidamente ao Espírito para refazer aquilo que não fez bem feito no passado, ou seja: são oportunidades de reeducação. Que outra maneira teriam as Leis Divinas de trazê-lo de volta ao caminho reto, se, de um lado, não lhe é possível desfazer o erro cometido e, de outro, a própria consciência exige reparação da harmonia perturbada pelo desatino?

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