INFORMAÇÃO
ESPÍRITA
Sexo
e Consciência
4
Sexo e Obsessão
Sobre
o livro de Manoel Philomeno de Miranda
Eu
me encontrava na cidade de Santa Mônica, na Califórnia, no mês de
fevereiro de 2002. Estava na iminência de iniciar uma temporada de
atividades doutrinárias pelos Estados Unidos, começando pela
Costa Oeste, depois viajando ao Centro e encerrando as atividades
pela Costa Leste.
Era
um domingo pela manhã, mais ou menos às 9h. Apesar do inverno
rigoroso, a temperatura era amena. Nilson, que estava comigo, foi
levado por uma amiga para fazer uma visita de emergência e eu estava
no hotel a sós. Preparava-me para meditar a respeito de um
seminário que eu deveria iniciar às I4h na cidade de Anaheim,
uma cidade próxima que ficava mais ou menos a uma hora e meia do
local em que eu me hospedava.
Comecei
a orar, a criar um clima psíquico favorável, quando entrou um
Espírito muito amigo que vem escrevendo por meu intermédio desde
1970. Trata-se de Manoel Philomeno de Miranda, que se especializou
no estudo das obsessões e desobsessões. Na Terra, havia sido um
homem de parcos recursos intelectuais, embora muito lúcido. Ele se
dedicava à escrituração mercantil e era muito devotado às
experiências mediúnicas, nas quais se havia feito doutrinador das
entidades sofredoras que chegavam espontaneamente à sua
reunião, na sede da União Espírita Baiana.
Logo
que ele desencarnou, no começo dos anos 1940, ao despertar no Além,
interessou-se por estudar as consequências daquelas doutrinações,
particularmente de um alcoólico que ele atendera durante vários
anos, dialogando com seus obsessores sem conseguir êxito. A sua
preocupação era tentar encontrar nas regiões dolorosas do
mundo espiritual aquele indivíduo que num dos seus livros está sob
o pseudônimo de Ludgero. Ele terminou encontrando-o, depois de uma
longa pesquisa.
Philomeno
fez uma avaliação com o próprio paciente e com o seu obsessor (que
continuava no Além-túmulo) e decidiu estudar profundamente os
transtornos obsessivos. Esse estudo seria feito observando os fatos
de lá para cá. Enquanto estava encarnado ele os estudava daqui para
lá. Foi por isso que ele resolveu escrever uma série de livros, o
primeiro dos quais eu ofereci à Federação Espírita Brasileira e
chama--8c Nos Bastidores da Obsessão. Ao longo dos anos ele escreveu
diversos outros livros por meu intermédio.
Naquela
manhã, em Santa Mônica, ele me apareceu e me propôs a psicografia
de um livro desafiador para os padrões daquele momento. Disse-me
ele:
—
Divaldo, eu gostaria de escrever um
livro sobre um tema muito delicado, que é o sexo. Mas eu desejo
fazer uma abordagem muito abrangente em face das obsessões que
campeiam em torno das funções genésicas das criaturas humanas.
Tudo me diz que este e os anos porvindouros serão de muito
sofrimento nessa área, conforme já vem acontecendo, pois será
o momento de se desvelarem muitos cânceres na área sexual e crimes
da pedofilia. Por tudo isso, eu gostaria de consultá-lo, para saber
se você estaria disposto a fazer comigo esta viagem por um tema tão
vasto e profundo.
Eu
respondi que sim, que estava disposto. E ele completou:
— Mas
há um preço muito grave a pagar. Porque iremos envolver-nos
com questões muito delicadas, com problemas que possuem raízes
milenares na evolução histórica da humanidade. Você irá
enfrentar muitas lutas, que se traduzirão pela incompreensão dos
puritanos e pela agressão de alguns amigos, que ficarão
sensibilizados, pois um tema dessa natureza fere frontalmente a
hipocrisia. Nós iremos trabalhar com problemas de obsessões
sexuais. E esses obsessores irão desencadear contra você tremenda
campanha negativa e perturbadora.
Então,
eu lhe alvitrei:
— Mas
meu irmão, pior do que está não pode ficar! Na minha idade a
crítica de outras pessoas faz parte do meu caderno de aprendizagem.
E como o alimento. Campanha negativa é algo que toda pessoa pública
experimenta. Todo mundo que de alguma forma se destaca do meio comum
sofre pedradas. E se eu vier a sofrê-las por um nobre ideal, estará
tudo muito bem, porque somente me acontecerá o que eu devo e de que
necessitarei para melhorar espiritualmente.
Ele
sorriu, e arrematou:
— Na
teoria é muito bom! Mas quando vier a tempestade...
— Aí
o senhor me ajuda! Eu o ajudarei a escrever o que o senhor deseja. E
na hora em que eu for pagar o preço, o senhor me dará as moedas
da bondade e da compaixão para eu poder resgatar...
Eu
vi que ele não esperava a resposta. E acrescentou:
— Mas
será um cerco muito forte! Porque os Espíritos da perturbação
sexual são os mesmos que fomentam as guerras. Para você ter uma
ideia, os estudiosos do comportamento humano acreditam que Adolph
Hitler realizou a grande hecatombe por causa de conflitos sexuais.
Na raiz do seu ódio à criatura humana, havia um transtorno de
comportamento sexual que se originou na sua juventude.
Posteriormente, ele experimentou uma inibição provocada por
disfunção erétil. Daí ter vivido com Eva Brown em um tipo de
relação de fraternidade, e não de coabitação sexual. Então esse
indivíduo, estimulado por outros equivalentes do mundo astral
inferior, fez com que a humanidade perdesse aproximadamente quarenta
milhões de vidas, somente na Europa. Por isso eu desejo informá-lo
que essas Entidades são muito perversas e irão criar-lhe ciladas e
embaraços. (35)
Eu
sorri para o venerando Espírito e confirmei:
— Esses
Espíritos só irão causar-me as dificuldades que estiverem no meu
carma. Se eu não resgatar por um lado, serei induzido a fazê-lo por
outro. Se eu hei de ter um câncer, eu prefiro ser incompreendido.
35-
As guerras, os desvarios do sexo e as ciladas arquitetadas contra os
trabalhadores do bem são temas discutidos no livro Transição
Planetária, cap. 16 (Programações Reencarnacionistas) e cap. 19
(Preparação Para o Armagedon Espiritual). Nota do organizador.
Se
eu hei de ficar mudo por causa de um problema na garganta, que é o
meu instrumento de ação, eu prefiro ser apedrejado. Se eu puder
optar, eu elejo os dramas morais, contanto, que eu tenha um pouco de
saúde tísica para continuar na tarefa.
— Está
bem, Divaldo!
— Mas
quando o senhor pretende começar a escrever esta obra?
— Agora
mesmo.
—
Também não precisava tanta pressa...
Como
eu carrego sempre o meu material numa pasta que possuo, eu tomei dos
papéis e lápis, sentei-me, e ele começou a escrever. Eram 9h10,
mais ou menos, quando eu entrei em transe. Às 13h, eu já havia
psicografado quatro capítulos.
À
medida que eu vou escrevendo, às vezes, vejo psiquicamente aquilo
que o Espírito está pensando. Porque enquanto o autor espiritual
vai elaborando as ideias, projeta-as no meu cérebro, que as
decodifica e por automatismo, escrevo. Era algo estarrecedor e ao
mesmo tempo muito bonito, o que podia acompanhar psiquicamente. Era a
imagem de um jovem padre adentrando-se em um educandário infantil.
Ele era muito benquisto, possuía aproximadamente 30 anos e
apresentava muito boa aparência. Quando se encontra em uma sala, uma
criança vem correndo, abraça-o e o chama pelo nome. Sensibilizado,
ele ergue-a nos traços e beija-a, ternamente. E sente um frêmito...
Então, diz à criança:
— Eu
estarei na outra sala dentro de alguns minutos. Siga para lá, que eu
tenho presentes para você.
Notei
que o psiquismo do padre ficou muito sombrio. Embora em saber o que
estava psicografando, eu acompanhava a história como um filme que se
projeta numa tela de grandes proporções.
O
padre Mauro foi para a sala, fechou as janelas e começou a baixar as
cortinas. A sala ficou numa agradável penumbra. Ele pôs uma musica
no aparelho de som e deixou a porta um pouco encostada. Nesse momento
o garoto, que deveria ter entre seis e oito anos, entrou na sala
sorrindo, e apresentou-se, entusiasmado:
— Eu
aqui estou! Mas onde está o meu presente? O padre desenrolou algumas
guloseimas e afirmou:
— Para
a sua idade o melhor presente é chocolate!
Após
esta afirmação, colocou o menino no colo e começou a acariciá-lo.
Mas ao perceber que a porta estava semicerrada, ele levantou-se,
cerrou-a por dentro e tirou a chave.
O
menino estava encantado... Não se dava conta do que estava
acontecendo.
Nesse
instante, eu vi chegar um Espírito que havia desencarnado com uma
idade entre cinquenta e cinco e sessenta anos. Era uma senhora
de sentimentos nobres, mas não era um Espírito sublime. Era um
Espírito bom. Eu a vi pedindo aos benfeitores espirituais que
salvassem o seu filho do crime que ele estava para perpetrar. Ela se
dirigia aos amigos espirituais nos seguintes termos:
— O
meu filho tem desencaminhado crianças. Ele tem o melhor campo
possível para atuar, pois que, nesta escola, ele faz a evangelização
e na igreja faz o catecismo. Infelizmente, ele dispõe de vítimas
inermes ao alcance das suas mãos. Já infelicitou várias crianças
e ultimamente está atormentado em relação e este menino,
planejando consumar o ato hediondo hoje.
Os
benfeitores espirituais, que ouviram a súplica daquela senhora
desencarnada, acorreram para ver o que estava acontecendo na sala.
Notaram que o jovem padre estava nos preâmbulos da carícia, sem que
a criança se apercebesse. Então os mentores se detiveram por um
instante, que durou entre três e cinco segundos, e naturalmente
encontraram uma solução.
Como
a diretora do colégio estava na área interna, um dos benfeitores
acercou-se-lhe, envolveu-a psiquicamente e falou-lhe: "Abra
aquela porta!". Ela olhou para a porta sem entender, qual ocorre
conosco quando recebemos intuições. Ao fixar seu olhar, achou
estranho que aquela porta estivesse fechada e as outras abertas. Teve
o ímpeto de bater, mas o mentor insistiu: "Não bata! Abra!".
Meio sem jeito, a diretora aproximou-se, chamou uma servente e
perguntou:
— Você
tem a chave daquela sala?
— Está
por dentro. - respondeu a funcionária.
— Então
traga a chave mestra! Vamos ver o que está acontecendo lá! -
concluiu a diretora, resoluta.
Apressada,
a servente pegou a chave, destrancou a porta e a escancarou, no
momento em que o padre começava a despir a criança. O sacerdote
gritou:
— Não
é o que você está pensando!
A
consciência de culpa é terrível! Ela sempre transfere para o outro
a responsabilidade do que está acontecendo de errado.
A
senhora ficou estupidificada! Tratava-se de uma dama muito católica
e com elevados princípios morais. Ela chamou o garoto e ordenou:
— Vá
lá pra fora!
Em
seguida olhou bem para o jovem sacerdote e arrematou:
—
Monstro! Para fora! Para fora,
imediatamente, antes que eu faça um escândalo!
Ele
se corrigiu, levantou-se e saiu correndo na direção da igreja.
O
livro Sexo e Obsessão se inicia com esse drama real, que se
desdobra em uma história narrada em mais de trezentas páginas.
Um
dos aspectos mais marcantes da obra é a descrição de uma região
espiritual profundamente infeliz, que Manoel Philomeno de Miranda
denomina como "A Cidade Perversa" (ou Pervertida). E uma
cidade espiritual de sexo que se encontra nas proximidades da
Terra. Nessa região pantanosa, que apresenta uma paisagem de
cavernas e vulcões extintos, aglomera-se uma verdadeira multidão de
mais de 1 milhão de Espíritos desencarnados, em uma orgia
irrefreável. Eu estive visitando essa cidade, pois, enquanto
psicografava o livro em questão, Philomeno de Miranda levou-me
para conhecer o local, numa das excursões do grupo de benfeitores
espirituais. Os seus habitantes realizam a cada entardecer um desfile
de carros alegóricos e de bacanais. O que mais me impressionou é
que os carros alegóricos possuem a forma de órgãos genitais
deformados e grotescos, conduzindo indivíduos que encarnam mitos e
personagens da prostituição, nas atitudes mais aberrantes de
deboche e de depreciação da função sexual.
Nessa
cidade, dedicada exclusivamente ao prazer da luxaria, encarnados
e desencanados mantêm relações sexuais, realizando seus desejos
apaixonados e vis. Conforme a questão n° 200 de O Livro dos
espíritos, o Espírito é, em si mesmo, assexuado, sendo-lhe a
anatomia uma contribuição para o fenômeno da procriação. Ao
desencarnar, no entanto, o Espírito mantém as suas tendências,
especialmente aquelas de natureza inferior, às quais se aferrou em
demasia, prosseguindo com as construções mentais que lhe eram
habituais. Como resultado, acreditam-se capazes de intercursos
sexuais nas regiões inferiores onde se encontrem, como efeito da
condensação das energias mentais viciosas no períspirito.
Frustrantes e perturbadoras, essas relações são degradantes e
afligentes, porquanto são mais mentais que físicas, dando lugar a
processos de loucura e de perversão...
A
questão do períspirito é muito sutil. Kardec faz uma análise
muito apropriada no item 47 do livro A Gênese.
Vamos
explicar melhor a tese.
Uma
pessoa que usava óculos na Terra, quando desencarna e pretende
comunicar-se mediunicamente, muitas vezes aparece aos médiuns com os
óculos que possuía, sem que, na realidade, necessite desse
instrumento. Ou se ela revelava um problema de movimentos,
claudicando de uma perna e se apoiando em um bastão, retorna com
essa característica para ser identificada. Mas quando sai do
ambiente de percepção dos médiuns e retorna ao espaço, assume uma
aparência neutra, uma espécie de idade mediana que é muito comum
ser retratada nos anjos do período barroco. Como esses Espíritos
elevados se apresentavam sem uma definição de gênero muito
acentuada, as pessoas portadoras de mediunidade detectavam essa
imagem corporal difusa e não sabiam reconhecer se eram seres de
aparência masculina ou feminina, o que gerou a famosa discussão
histórica sobre o sexo dos anjos.
Emmanuel,
guia espiritual de Chico Xavier, devido ao largo período em que
se colocou ao lado do seu médium, assimilou a energia da Terra de
tal forma que depois de muitos anos ele alterou o seu aspecto
fisionômico, parecendo ter envelhecido. Aquele senador romano jovem,
aparentando trinta ou trinta e cinco anos quando foi pintado por uma
médium, muitos anos depois se apresentava com o semblante marcado e
com rugas na face. O Espírito Meimei também sofreu o mesmo
processo. E uma médium paulista autêntica, em um chá
beneficente, retratou os dois benfeitores espirituais com essa nova
fisionomia. Chico Xavier confirmou a imagem captada pela
psicopictografia, conforme está em uma das edições do Anuário
Espírita, afirmando que aquela aparência envelhecida era uma
consequência do estado de intercâmbio mental com os habitantes da
Terra.
Aqueles
que desencarnaram em perturbação, transferem para o mundo
espiritual dores físicas, sentem a barba e as unhas crescerem, a
roupa rasgar-se, as feridas prolongarem-se, o que na verdade não são
estados perispirituais, são estados ideoplasmáticos. A mente
concentra-se em uma dada circunstância e desenvolve uma fixação
com reflexos no corpo perispiritual.
A
morte nos desveste apenas do corpo físico. Os hábitos e os vícios
que cultivamos prosseguem conosco após a desencarnação,
principalmente nas regiões espirituais inferiores, que estão
muito vinculadas ao mundo físico. O ser, que se tornou viciado em
sexo, buscará o convívio dos Espíritos semelhantes. Os dependentes
químicos do álcool irão sintonizar com os ambientes nos quais
poderão dar vazão aos seus desejos, experimentando os prazeres que
os agradam. À medida que o ser se depura, compreende que essa busca
é absolutamente dispensável, pois o Espírito, ao se despojar da
matéria, não possui mais as necessidades a ela inerentes.
Esses
são fenômenos ideoplásticos de fixação do indivíduo em seus
interesses.
Há
muitas décadas, eu tenho feito inúmeras viagens astrais em
desdobramentos conduzidos pelos bons Espíritos. Mas somente em
regiões inferiores eu testemunhei a prática sexual que
reproduz o contato intimo que os casais mantêm na Terra. São
lugares vinculados à promiscuidade e à prostituição que existem
no mundo físico, e onde seres encartados e desencarnados
intercambiam emoções e sensações. Esse comportamento não
existe em regiões habitadas por Espíritos equilibrados.
Em
consequência, é exclusivamente na dimensão física que acontece o
fenômeno biológico da reencarnação, dentro dos padrões em que a
conhecemos. No mundo espiritual, os seres não possuem estrutura
natomofisiológica para praticar o sexo. O intercâmbio de
sentimentos é pautado no amor e na simpatia, que os preenche por
completo. Mas nas regiões inferiores, onde há predominância das
paixões, os Espíritos conservam uma diferenciação genital que
plasmam no períspirito, por não terem aprendido a utilizar as
potencialidades sexuais com equilíbrio.
A
médium D. Yvonne do Amaral Pereira, que se tornou célebre por
diversos livros psicografados, sobretudo a extraordinária obra
Memórias de um Suicida, narrou-me que, quando jovem foi levada
pelos seus mentores desencarnados para ver os desfiles de Carnaval em
regiões espirituais inferiores, nas quais ela testemunhava a
existência de carros alegóricos semelhantes aos que circulavam nas
grandes avenidas do Rio de Janeiro, durante as festividades de Momo.
Certa vez, exatamente na época carnavalesca, ela foi à Avenida Rio
Branco, na capital carioca, onde passavam inúmeros blocos de
Carnaval. A dedicada médium testemunhou cenas que lhe pareceram
profundamente chocantes, principalmente o exagero da nudez e as
máscaras de Carnaval, que traziam figuras estranhas e monstruosas. O
que mais impressionou D. Yvonne foi que as máscaras não lhe eram
desconhecidas, pois já havia visto aqueles adereços quando estava
em desdobramento espiritual, nas ocasiões em que os seus
mentores a levaram para visitar as regiões inferiores do mundo
Invisível. (36)
34-
A informação de que as máscaras carnavalescas da Terra são
reproduções de imagens do mundo espiritual inferior, também consta
no livro Nas Fronteiras da Loucura, cap. 6 (Lições Proveitosas)
Quando
Philomeno de Miranda me falou sobre a Cidade Perversa, ela já
havia sido detectada por Francisco Cândido Xavier em suas
experiências além do corpo físico. Eu desconhecia o fato, mas um
amigo me apresentou um artigo do escritor e cientista Hernani
Guimarães Andrade, no qual ele narra um diálogo entre Chico Xavier
e o grande orador espírita Newton Boechat. Nesse artigo, Chico
explica a Boechat que antes da revolução sexual ocorrida nas
décadas de 1960 e 1970 ele havia sido levado por Emmanuel para
conhecer uma cidade no Além onde os seus habitantes, profundamente
dominados pelas sensações primitivas e grotescas, realizavam orgias
inimagináveis para a mente humana, traduzidas em desfiles de
Carnaval que expunham a condição de grande torpeza espiritual
daquela comunidade. Chico denominava a região de Cidade Estranha. O
artigo foi colocado na íntegra como posfácio no livro de Philomeno.
Os
Espíritos habitantes dessa região, que se entregam à sensualidade
desde o tempo do imperador romano Tibério César e de Calígula,
estão, aos poucos, sendo trazidos à dimensão física pelo
mecanismo da reencarnação compulsória. Os guias da humanidade
assim procedem para dar-lhes uma última oportunidade de permanecerem
na Terra, rumando para o mundo de regeneração em que ela se
transformará. Nesse sentido, fascina-me o amor de Deus pelos Seus
filhos! A oportunidade que está sendo oferecida aos habitantes da
Cidade Perversa é para que eles não afirmem no futuro que foram
relegados a uma espécie de presídio e depois de certo tempo
foram expulsos de Terra sem a menor consideração.
Por
isso, a partir das décadas de 1960-70 eles passaram a renascer em
massa no solo do planeta. Como o fenômeno da hereditariedade pode
lhes proporcionar formas físicas harmoniosas, frequentemente os seus
corpos são muito belos, mas os Espíritos que os aninam são
grosseiros e ainda distantes do sentido de beleza transcendente,
preferindo viver do corpo e para o corpo, em vez de trabalharem pelo
seu enobrecimento e pelo desenvolvimento de suas potencialidades
espirituais.
Philomeno
ainda narra no livro referido — Sexo e Obsessão — que a música
apreciada por esses Espíritos possui uma espécie de propriedade
hipnotizante de baixo teor, que contribui para que entrem em estados
de êxtase perturbador. Afinal, a música influencia o ser humano em
todas as áreas.
A
música erudita e harmoniosa é uma emanação do Psiquismo Divino.
Ela acalma e produz um ritmo nas células que favorece a saúde.
Pesquisas científicas já demonstraram que, quando uma pessoa
medita, ela altera os seus padrões de funcionamento cerebral, o que
se evidencia com o uso de técnicas modernas de neuroimagem, que
registram alterações em áreas cerebrais relativas a certas
percepções e emoções, como decorrência do estado mental que o
indivíduo imprime a si mesmo. Algumas áreas são acionadas e outras
sofrem uma momentânea redução no seu funcionamento. O mesmo
raciocínio é válido para a influência que a música exerce sobre
o cérebro.
Existem
músicas hipnóticas de efeito positivo, como é o caso dos mantras
utilizados há milênios pelas tradições orientais. Mas algumas
religiões ocidentais também se valem de técnicas semelhantes.
Vemos, na Igreja Católica, a utilização das jaculatórias, que são
breves orações ou invocações que incluem em uma sequência
programada orações mais extensas. O terço é um instrumento que os
religiosos utilizam para favorecer a manutenção de um ritmo
nas orações. Essa ritmicidade específica funciona como um
verdadeiro mantra, levando ao êxtase. Na música tribal, que os
nossos antepassados cultivavam em seus rituais, existem expressões
sonoras que excitam e despertam inclusive a sensualidade.
No
rock metálico, temos padrões sonoros que incitam à violência,
pois geram no organismo grandes descargas de adrenalina produzidas
pelas glândulas suprarrenais, que são atiradas na corrente
sanguínea e o corpo não consegue eliminar rapidamente, causando
excitações prolongadas. Como a oferta de sexo é abundante e
pode ser encontrada em qualquer lugar, essa forte excitação induz o
indivíduo a manter relacionamentos que satisfazem o apelo
fisiológico a que foi submetido, satisfação que também se dá
por meio do consumo de substâncias psicoativas, levando o indivíduo
à dependência química.
Isso
tudo é para termos uma ideia da paisagem de um núcleo de obsessores
que se alimentam do psiquismo de criaturas da Terra atormentadas
pelo sexo. Essas criaturas, que somos alguns de nós, oferecem o seu
plasma psíquico aos Espíritos vampirizadores. São aqueles
indivíduos que, quando se vão deitar para dormir, começam a
mentalizar imagens não realizadas de prazeres alucinantes. São
aqueles que se permitem mentalmente as fantasias eróticas e
sonham que estão frequentando verdadeiros bordéis. Na verdade, eles
estão vivenciando a concretização dos seus sonhos, pois estão
frequentando aquela região infeliz, cujas imagens o cérebro
registra como sonhos lúbricos e perturbadores.
O
padre Mauro foi levado à presença de uma personagem que
administrava determinada área da cidade que, como dissemos, possui
mais de 1 milhão de habitantes. A personagem em questão era o
antigo Marquês de Sade, que eu acredito ser a reencarnação de
Calígula, o imperador romano. Naquela região de sombras, fundada há
quase 1900 anos, encontravam-se também outros personagens da
decadência do Império Romano, como Domício Nero, Messalina...
Como
nos recordamos, o Marquês de Sade morreu louco, com delírios, em um
sanatório-presídio dirigido por uma entidade religiosa que possuía
direitos civis sobre ele. Sua morte foi hedionda, pois ele ficou
absolutamente dementado, fazendo esculturas e escrevendo
imoralidades nas paredes com seus próprios dejetos. Ao
desencarnar, o Marquês foi habitar aquela região de torpezas,
tornando-se uma das personalidades centrais da cidade, graças à
sua sagacidade. E o padre Mauro era um de seus asseclas.
No
desenvolvimento da história, os amigos espirituais trabalharão
para atender ao pedido daquela mãe, salvando o filho de
comprometimentos mais graves. É uma linda intervenção
realizada pelas entidades superiores, que merece profunda reflexão.
Em determinado momento, instruções de Mais Alto chegam até aquele
campo para que o padre Mauro e o Marquês sejam libertados. E os
benfeitores escolhem uma Casa Espírita, aqui, na Terra, que seria
utilizada para essa finalidade, o que nos mostra que devemos
valorizar e respeitar as nossas instituições, apesar da moda que se
espalha por aí...
O
Centro Espírita não é um clube, um lugar de folguedos ou de
recreação! É um lugar de intercâmbio com o mundo espiritual. E
uma oficina de iluminação, uma escola de educação e um hospital
de almas. E em recintos assim não poderemos ter conduta reprochável
nem exibir o ego, nosso narcisismo, nossas pequenas paixões, nossas
irregularidades... Porque necessitamos de luz, mas os bons
Espíritos necessitam de nossa energia animal para cuidar dos
Espíritos animalizados, aqueles que estão em faixas muito
inferiores em relação à nossa psicosfera. Dizendo de outra
forma, os mentores utilizam nossa energia fisiopsíquica para
realizar intervenções em benefício de seres que desencarnaram, mas
ainda se encontram impregnados pelas sensações da matéria densa.
Ao
eleger a referida Casa Espírita, os amigos espirituais consultaram
o Espírito mentor da instituição, que é uma senhora, e indagaram
se ela estaria disposta a contribuir em favor daquele trabalho. Ela
anuiu e ofereceu os seus médiuns para o trabalho de socorro
espiritual àqueles obsessores, pois para libertar o padre Mauro
havia injunções coletivas implicadas naquela trama. Ao atender o
sacerdote os benfeitores teriam que atender também os Espíritos
perversos e o Marquês de Sade.
Eu
acompanhei uma grande parre dessas negociações e deslumbrei--me com
a sabedoria do mundo espiritual. Impressionaram-me as técnicas para
atrair os Espíritos profundamente asselvajados, a fim de que eles
tivessem acesso àquela comunidade onde o ex-Marquês seria tratado.
Como
parte do processo de atendimento espiritual foi programada uma
reunião mediúnica no mundo espiritual, em que alguns médiuns
foram desdobrados e auxiliaram os mentores, trabalhando além do
corpo físico. (37) Eu tive a oportunidade de presenciar essa
reunião, da qual participaram vários Espíritos envolvidos na
tragédia protagonizada pelo padre Mauro e pelo ex-Marquês.
37-
Toda a obra de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo,
está repleta de descrições a respeito desse tipo de reuniões.
Nota do organizador.
Durante
essa atividade socorrista, em determinado momento, ouviu-se uma
música portadora de beleza celestial! Uma voz cantava a Berceuse, de
Brahms, enquanto chegava ao recinto um cortejo de Espíritos
nobres: uma senhora, um religioso e outras entidades. Tratava-se de
Marie-Eléonore, a mãe do Marquês de Sade, que entoava a canção
de ninar com a qual embalava o Marquês em seus braços quando ele
era criança. Ela estava acompanhada do abade Amblet, que era de
Notre Dame e tornou-se o preceptor cultural e religioso do futuro
Marquês. O encontro com a sua mãezinha produziu uma profunda
transformação no infeliz obsessor.
Essa
reunião espiritual, que foi de uma beleza inolvidável, aconteceu
no mês de março do ano de 2002.
O
livro se encerra com o padre Mauro totalmente modificado. Ele foi
transferido para o Brasil Central e hoje dirige um Lar de crianças,
onde, um dia, os seus inimigos que, no passado, foram suas vítimas,
estarão hospedados em um corpo despedaçado e doente para que o
sacerdote sublime os sentimentos...
Ressonâncias
do aprendizado
Nessa
área das obsessões sexuais eu já ouvi falar de quase tudo. Mas
assim que eu terminei de psicografar o livro, tive uma experiência marcante no atendimento fraterno. Uma senhora procurou-me para falar
de um transtorno sexual que estava estreitamente relacionado ao
conteúdo do livro. E vale ressaltar que ninguém sabia sobre as
minhas experiências mediúnicas em torno da história do padre
Mauro, pois eu só comentei sobre elas depois que o livro foi
publicado. A senhora, então, confessou-me:
—
Senhor Divaldo, eu sou uma
atormentada!
— Todos
nós somos atormentados, minha irmã!
— Mas
eu sou diferente. Eu sou casada e sou mãe.
Nessa
hora, levantei a cabeça e olhei-a, detectando que no seu psiquismo
havia uma enorme quantidade de Espíritos deformados. Com essa visão
surpreendente eu me assustei! Era a primeira vez que eu via uma cena
como aquela na sala que eu reservo para o atendimento fraterno,
onde existe um campo vibratório muito especial. Os mentores
permitiram a entrada dos obsessores porque se eles fossem retirados
subitamente do campo psíquico daquela senhora ela
enlouqueceria. Estavam tão cristalizados e interdependentes que
os benfeitores não podiam afastá-los abruptamente, senão, aos
poucos. E a consulente me fez a seguinte declaração:
— Sabe
qual é o meu drama, senhor Divaldo? E que em matéria de sexo eu já
fiz de tudo! E agora eu estou com a ideia fixa de fazer sexo com
animais...
Eu
sempre tenho muito bom controle nessas ocasiões. Por isso, procurei
não demonstrar surpresa. Entretanto, fiquei profundamente chocado! E
logo procurei tirar da mente a informação para não me impregnar
de pensamentos não recomendáveis, pois a imaginação começa a
lazer várias indagações...
Pelas
leituras que já fiz, tomei conhecimento de que existem lugares
onde animais amestrados (macacos, cães e outros) são utilizados por
pessoas zoófilas, tanto homens quanto mulheres. Contudo, no meu
inconsciente eu não podia acreditar no que os livros descreviam.
Era-me tão violenta a informação que eu não tinha dimensão para
entender.
Tentei
concentrar-me no drama da senhora e respondi-lhe:
— Mas
a senhora terá que reagir! A senhora está sob uma indução muito
perversa.
Quando
eu pronunciei estas palavras me adveio uma grande angústia.
Porque é tão chocante a situação que, por mais que tentemos agir
com naturalidade, uma situação como essa nos colhe quase sempre de
surpresa. E foi a primeira vez que eu me deparei com um drama deste
porte. Eu levantei-me e falei-lhe:
— Aqui,
no atendimento fraterno, eu não aplico passes. Mas como tudo tem seu
momento, hoje eu irei fazê-lo.
Chamei
um casal amigo (porque eu atendo com a porta da sala aberta), pedi
que os amigos sentassem e orassem para que eu pudesse aplicar o
passe. E assim o fiz. Logo após, conversamos por mais de uma hora,
pois ela estava a ponto de suicidar-se. E daquele choque inicial,
passei a sentir uma profunda compaixão, dispondo-me a orar em seu
favor sempre que possível.
Pedi-lhe
que voltasse outras vezes. Não mais para abordar o tema, porque há
assuntos que só se discutem uma vez, para não cairmos na
vulgaridade. Completei o encontro, fornecendo-lhe a seguinte
orientação:
— Já
que a mente não pode ficar sem pensar, toda vez que lhe vier essa
ideia negativa substitua por outra saudável. E passe e pensar nesta
ideia-desvio. Em breve, a ideia-desvio será a ideia central e
vice-versa. É uma técnica psicológica para cultivarmos os bons
pensamentos. Não é necessário crer. Basta criar o hábito que a
repetição irá transformá-lo em uma segunda natureza, um
automatismo psicológico. Sempre que a idéia negativa surgir, ore,
leia uma página agradável, mude de pensamento até que ela se
dilua por falta de receptividade mental.
Sempre
que a senhora retornava, dava-me o testemunho de que estava mais
livre daqueles clichês mentais, já que eu lhe havia ensinado as
técnicas para isso.
Muitas
pessoas dizem-me que, quando vão orar, são perturbadas por clichês
mentais de atos sexuais que praticaram com seus parceiros. E normal,
pois essas imagens estão no arquivo do inconsciente. Que fazer?
Educar-se mentalmente. Eu costumo dizer a essas pessoas: "Nessas
ocasiões, quando vier a lembrança de um ato sexual, especialmente
se for perturbador, pare a prece, dê campo ao pensamento por alguns
segundos e depois retorne à oração. Porque toda vez que recalcamos
uma ideia ela fica no arquivo e retorna com mais intensidade.
E
como uma porta com uma mola fixada na parte de trás. Na razão
direta que nós comprimimos a mola, ela reage. Então, a única
maneira de obter o êxito é desligar a mola para que a porta nos
atenda".
Quando
damos campo, por alguns segundos que sejam, a uma ideia perturbadora
que nos toma de assalto durante a prece, isto serve para que possamos
digeri-la, para em seguida continuarmos no cultivo da oração. E se
a ideia tentar nos invadir outra vez, não devemos mais ceder, porque
isso configura um vício mental, quando não se está acostumado
a emoções superiores. Muitos indivíduos se comprazem com certas
ideias inferiores, mas não as praticam por medo, timidez ou falta
de oportunidade. E por isso as praticam no mundo mental ou no mundo
espiritual, quando vão dormir. Acalentam pensamentos absurdos
naqueles instantes que precedem o sono, sendo depois atraídos para
regiões equivalentes, o que nos remete ao princípio de que a oração
deve ter prevalência nos momentos que antecedem o desprendimento
parcial.
A
partir do dia em que eu tive aquela experiência de zoofilia no
atendimento fraterno, os Espíritos trouxeram-me ao conhecimento
muitas aberrações, que estavam ocultas em pessoas de rostinhos
lindos e aparentemente equilibradas.
É
impressionante como conduzimos tantos escombros dentro de nós! Por
isso, devemos amar a todos, indistintamente, sem traçar regras de
ética e de moral para quem quer que seja, tomados sempre de
compaixão e de fraternidade, exigindo-nos o melhor, e a todos
concedendo o que lhes aprouver, sem interferirmos no destino de
ninguém. Se nos pedirem auxílio, ofereçamos. Se não nos pedirem,
cada um é responsável pelos seus atos.
Depois
que publicamos o livro Sexo e Obsessão, em setembro de 2002, os
Espíritos me sugeriram que saísse a realizar seminários sobre o
tema, que mal cuidado fica escabroso e bem tratado fica sublime.
Em
torno do sexo, antes de decisões perturbadoras e de atitudes
grotescas, não nos esqueçamos da reflexão. Antes de assumirmos
determinados compromissos em qualquer área, particularmente na
sexual, meditemos e nos lembremos de que tudo tem um preço. Se a
nossa atitude for nobre e o meio for ilícito, ela perde a dignidade.
Se o meio 'or nobre, mas a finalidade for indigna, a nossa atitude
não se justifica.
Então
devemos pensar antes, pois chegará o momento de respondermos pelos
nossos atos.
Cilada
obsessiva
"Dize-me
o que pensas e eu te direi com quem estás". Dize-me o que
anelas e eu te direi quem está ao teu lado. Conforme pensarmos,
produzimos uma ressonância equivalente. Conforme agirmos,
teremos uma reposta. Como consequência, as nossas elucubrações,
desejos e aspirações inferiores atraem Espíritos inferiores,
que se tornarão comensais da nossa vida e passarão a participar da
nossa realidade psíquica, influindo no nosso comportamento, no nosso
equilíbrio, na nossa saúde e na nossa necessidade de paz.
Muitas
pessoas perturbam os Espíritos desencarnados. Parceiras saudosas da
convivência dos seus respectivos companheiros acalentam certas
lembranças e permanecem recordando os momentos da sensação sexual,
atraindo-os, embora desencarnados, que sendo também sensuais e
estando encharcados de energia física, mantêm com as mesmas o
conúbio sexual conforme o faziam antes. E a própria parceira
oferece o ectoplasma para que o Espírito a utilize, enquanto ela se
compraz em delírios mentais e revive as recordações.
Inicialmente ela passa a revivê-las no plano mental. Depois também
experimentará as reações correspondentes no plano
orgânico.(38)
As
obsessões sexuais são das mais difíceis de recuperação, porque
o Espírito furta o plasma psíquico do encarnado, dele
utilizando-se. Uma das energias mais poderosas na criatura humana é
a de natureza sexual. Por isso, deveremos erguê-la, sublimá-la,
transformá-la em elemento de força, em vez de gastá-la
desordenada, sensual e vulgarmente nos apetites insaciáveis...
Há
muitos anos, eu fui realizar uma palestra numa cidade que sempre
visito. Na ocasião eu me hospedei numa residência onde havia várias
filhas e filhos, porém com predominância feminina. Entre as filhas
havia duas que eram casadas.
38-
A interferência, negativa de um cônjuge desencarnado sobre outro
encarnado pode ser estudada no livro Painéis da Obsessão, cap. 15
(Trama do Ódio). Nota do organizador.
Era
uma casa rica e ampla. Quando a família estava reunida para me
receber, eu notei um distúrbio na filha mais velha. Ela revelava
ansiedade e insatisfação. Em meio àquele desequilíbrio, eu
percebi que a sua aura estava muito densa e escurecida. E pelo tom
sombrio eu interpretei qual era o seu problema. Mesmo sem ter-me
dito nada eu pude ter um vislumbre do drama de esposa que ela estava
vivendo. Mas como eu tinha compromisso doutrinário, fui à tarefa
que me cabia. Quando retornei, após um lanche leve, deitei-me e
adormeci.
Em
certa hora da noite ouvi um som à porta e acordei assustado. Uma voz
enunciava meu nome num balbucio:
—
Divaldo! Divaldo! Ajude-me! Abra a
porta!
Eu
levantei-me, vesti paletó do pijama (pois fazia muito calor) e fui
abrir a porta. Quando pus a mão na maçaneta da porta para
destrancá-la, eu vi a mão de Joanna de Angelis, muito alva,
sobre a minha, em tentativa de impedir-me de abrir a porta. Ela,
então, falou-me:
— Não
abra a porta! E fale muito alto! Eu então respondi:
— Um
momento! Eu estou vestindo-me. E a voz solicitava baixinho:
— Abra
a porta! Eu prosseguia:
— Um
momento! Estou vestindo-me. Vá chamar sua mãe, Dona fulana!
Enquanto
estávamos nesse impasse eu ouvi um "clique" da luz da sala
e o som característico de um golpe. Abri a porta rapidamente. Era o
pai da senhora, que estava de vigília, e, ao acercar-se,
violentamente leu-lhe um soco na face. Eu olhei para aquela cena, sem
entender nada, tomei a frente e indaguei:
— Mas
o que é isso?!
Ela
me dirigiu um olhar de súplica que eu nunca irei esquecer! Aquele
olhar de profunda tristeza, pedindo-me
socorro. Eu segurei o pai e insisti:
— Mas
o que é isso?!
Ele
respondeu-me:
— Minha
filha é uma meretriz! O marido está deitado lá na frente e ela
veio aqui perturbar você. Não podemos ter um hóspede em casa...
Ele
usou expressões muito vis para referir-se à filha. E a única
forma que eu encontrei para minorar o drama foi tentar defender
a moça. Daí, eu elucidei o pai.
— O
senhor está enganado! O senhor me respeite! A sua menina está
doente e havia-me pedido socorro. Eu é que me esqueci da
solicitação, porque estava muito cansado.
Voltei-me
para a senhora e perguntei-lhe:
— Você
veio pedir que eu lhe aplicasse um passe, minha filha?
—
Vim... - respondeu ela, vencida pela
humilhação.
— Mas,
minha filha, por que não chamou a sua mãe? - indaguei.
— Eu
fiquei com pena de acordar mamãe...
—
Venha! Eu vou aplicar-lhe o solicitado
passe.
Dei-lhe
a mão, olhei para o pai em tom de reprimenda e ele perdeu um
pouco a pose, ficando meio sem jeito. Propus-lhe de imediato:
— Vá
chamar sua esposa, por favor! Sua filha está muito doente. Ela me
confidenciou seus problemas e me pediu ajuda. Mas eu,
negligentemente, não a atendi. Vamos orar e ler o Evangelho...
Trouxe-a
ao quarto e vieram também a mãe, o pai e o marido, que acabava de
acordar. Ela tremia muito, expressando sua angústia. Ao iniciar a
leitura do texto evangélico, passei a ver o obsessor. Era um
Espírito de baixo calibre moral que a vampirizava. Ela era uma
obsidiada da área sexual. O Espírito sugava-lhe o plasma psíquico
e ela se frustrava toda vez que se entregava ao ato sexual com o
esposo. Era uma volúpia semelhante ao vício alcoólico. Quanto mais
se entregava, pior ficava. Ela havia perdido a dignidade perante si
mesma e odiava-se, pois o Espírito desejava que ela se matasse
ou que fosse assassinada pelo marido. Tratava-se de um drama do
passado reencarnatório.
Assim,
fizemos uma leitura evangélica, magnetizamos água e eu lhe apliquei
um passe demorado. Supliquei ajuda a Jesus com muita ternura. Ao
mesmo tempo, pedi a Joanna, que em suas encarnações corno freira
havia lidado tanto com mulheres equivocadas, para que ela atendesse
aquela pobre moça de vinte e seis anos, mas que tinha uma idade de
dor de oitenta anos.
Quando
terminei de aplicar-lhe o passe, ela deu um grito e chorando,
explicou:
—
Mamãe! Saiu algo de mim, mamãe! E
abraçou a mãe, que também chorava...
O
marido sabia que ela era doente. Mas a amava tanto que disfarçava
o conhecimento.
Como
há beleza no amor! Como o sexo fica um tanto desprestigiado
diante do amor!
Ela
voltou-se para o marido e comentou, desolada:
— Você
não sabe o que eu sou! Ele respondeu:
— Sei,
sim! Você é a mãe dos meus filhos! Tudo o mais que você faça não
me importa! Você sempre me respeitou e me amou. O resto não é
importante!
Em
seguida, ela dirigiu-se ao pai e suplicou:
—
Perdoe-me, papai! Você tinha razão.
Eu não pedi passe nenhum. Você sabe o que eu desejava fazer.
Perdoe-me, papai!
Daí,
eu vi aquele homem amargurado dobrar-se e chorar sobre a filha. Todos
nós choramos também. Depois, fomos todos deitar-nos e, pela manhã,
ela me expressou:
— Ah,
Divaldo! Renasci! Nunca mais!
E
até hoje somos amigos. Ela é avó, educou a força negativa e
canalizou os excessos para aplicar passes, revelando uma bela
mediunidade curativa. Seus pais já estão no Além, sendo que
sua mãezinha, que era uma boa médium, é uma das Entidades que a
assessoram. Sempre que eu vou à sua cidade, hospedo-me em sua casa.
(39)
Esta
é uma face da questão. Mas há outra face.
39-
Outro caso de obsessão sexual sobre uma médium pode ser estudado no
livro Trilhas Ia libertação, capítulos 9 (Terapia Desobsessiva),
12 (Ensinamentos Preciosos), 13 (O caso Raulinda), 20 (Ocorrência
Crave), 25 (Noite de Angústias) e 28 (O Enfrentamento). Nota do
organizador.
Vamos
supor que eu houvesse aberto a porta, que ela entrasse, mas não que
houvesse ocorrido nada. O pai, que estava à espreita, iria imaginar que nós havíamos combinado. Armava-se, então, um escândalo. E até
explicarmos que éramos inocentes, quem acreditaria? E como os
escândalos em nosso Movimento Espírita tomam corpo com muita
facilidade, o fato correria o mundo e seríamos vítimas de uma
cilada obsessiva. Este fato serve para nós, espírita, vermos
como somos vigiados e não damos a devida importância.
Vemos,
frequentemente, em nosso Movimento, muita leviandade e
maledicência. Como nos apraz dizermos coisas que não podemos
provar! Como nos agrada supor coisas e darmos uma tinta de realidade!
Vamos
imaginar, por outro lado, que eu tivesse algum tormento e me
aproveitasse de uma pobre moça doente que eu deveria amar como irmã.
Vamos supor que eu fosse uma dessas pessoas que pregam e não
praticam (sem qualquer censura de minha parte). São pessoas que se
utilizam dessas brechas e justificam-se:
— Eu
não procuro, mas quando me aparece eu aproveiro! Eu apenas não
perco a oportunidade.
Ao
ouvir esse tipo de declaração, surpreendo-me com a imprudência e o desgaste dos valores éticos que tipificam esses indivíduos. Se
eu agisse assim estaria traindo a Causa que abracei.
Então
vigiemos e amemo-nos. E a melhor maneira de amar é preservar a
prática sexual com responsabilidade e compromisso afetivo, que
significa um ato insofismável de autorrespeito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário