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terça-feira, 18 de setembro de 2018

4 Sexo e Obsessão


INFORMAÇÃO ESPÍRITA

Sexo e Consciência


4 Sexo e Obsessão

Sobre o livro de Manoel Philomeno de Miranda

Eu me encontrava na cidade de Santa Mônica, na Califórnia, no mês de fevereiro de 2002. Estava na iminência de iniciar uma temporada de atividades doutrinárias pelos Estados Unidos, co­meçando pela Costa Oeste, depois viajando ao Centro e encerrando as atividades pela Costa Leste.

Era um domingo pela manhã, mais ou menos às 9h. Apesar do inverno rigoroso, a temperatura era amena. Nilson, que estava comigo, foi levado por uma amiga para fazer uma visita de emergência e eu estava no hotel a sós. Preparava-me para meditar a respeito de um semi­nário que eu deveria iniciar às I4h na cidade de Anaheim, uma cidade próxima que ficava mais ou menos a uma hora e meia do local em que eu me hospedava.

Comecei a orar, a criar um clima psíquico favorável, quando en­trou um Espírito muito amigo que vem escrevendo por meu intermédio desde 1970. Trata-se de Manoel Philomeno de Miranda, que se espe­cializou no estudo das obsessões e desobsessões. Na Terra, havia sido um homem de parcos recursos intelectuais, embora muito lúcido. Ele se dedicava à escrituração mercantil e era muito devotado às experiências mediúnicas, nas quais se havia feito doutrinador das entidades sofre­doras que chegavam espontaneamente à sua reunião, na sede da União Espírita Baiana.

Logo que ele desencarnou, no começo dos anos 1940, ao despertar no Além, interessou-se por estudar as consequências daquelas doutrina­ções, particularmente de um alcoólico que ele atendera durante vários anos, dialogando com seus obsessores sem conseguir êxito. A sua preo­cupação era tentar encontrar nas regiões dolorosas do mundo espiritual aquele indivíduo que num dos seus livros está sob o pseudônimo de Ludgero. Ele terminou encontrando-o, depois de uma longa pesquisa.

Philomeno fez uma avaliação com o próprio paciente e com o seu obsessor (que continuava no Além-túmulo) e decidiu estudar profun­damente os transtornos obsessivos. Esse estudo seria feito observando os fatos de lá para cá. Enquanto estava encarnado ele os estudava daqui para lá. Foi por isso que ele resolveu escrever uma série de livros, o primeiro dos quais eu ofereci à Federação Espírita Brasileira e chama--8c Nos Bastidores da Obsessão. Ao longo dos anos ele escreveu diversos outros livros por meu intermédio.

Naquela manhã, em Santa Mônica, ele me apareceu e me propôs a psicografia de um livro desafiador para os padrões daquele momento. Disse-me ele:

Divaldo, eu gostaria de escrever um livro sobre um tema mui­to delicado, que é o sexo. Mas eu desejo fazer uma abordagem muito abrangente em face das obsessões que campeiam em torno das funções genésicas das criaturas humanas. Tudo me diz que este e os anos porvindouros serão de muito sofrimento nessa área, conforme já vem acon­tecendo, pois será o momento de se desvelarem muitos cânceres na área sexual e crimes da pedofilia. Por tudo isso, eu gostaria de consultá-lo, para saber se você estaria disposto a fazer comigo esta viagem por um tema tão vasto e profundo.

Eu respondi que sim, que estava disposto. E ele completou:

Mas há um preço muito grave a pagar. Porque iremos envol­ver-nos com questões muito delicadas, com problemas que possuem raí­zes milenares na evolução histórica da humanidade. Você irá enfrentar muitas lutas, que se traduzirão pela incompreensão dos puritanos e pela agressão de alguns amigos, que ficarão sensibilizados, pois um tema dessa natureza fere frontalmente a hipocrisia. Nós iremos trabalhar com problemas de obsessões sexuais. E esses obsessores irão desencadear contra você tremenda campanha negativa e perturbadora.

Então, eu lhe alvitrei:

Mas meu irmão, pior do que está não pode ficar! Na minha idade a crítica de outras pessoas faz parte do meu caderno de aprendi­zagem. E como o alimento. Campanha negativa é algo que toda pessoa pública experimenta. Todo mundo que de alguma forma se destaca do meio comum sofre pedradas. E se eu vier a sofrê-las por um nobre ideal, estará tudo muito bem, porque somente me acontecerá o que eu devo e de que necessitarei para melhorar espiritualmente.

Ele sorriu, e arrematou:

Na teoria é muito bom! Mas quando vier a tempestade...

Aí o senhor me ajuda! Eu o ajudarei a escrever o que o senhor deseja. E na hora em que eu for pagar o preço, o senhor me dará as moe­das da bondade e da compaixão para eu poder resgatar...

Eu vi que ele não esperava a resposta. E acrescentou:

Mas será um cerco muito forte! Porque os Espíritos da per­turbação sexual são os mesmos que fomentam as guerras. Para você ter uma ideia, os estudiosos do comportamento humano acreditam que Adolph Hitler realizou a grande hecatombe por causa de conflitos se­xuais. Na raiz do seu ódio à criatura humana, havia um transtorno de comportamento sexual que se originou na sua juventude. Posteriormen­te, ele experimentou uma inibição provocada por disfunção erétil. Daí ter vivido com Eva Brown em um tipo de relação de fraternidade, e não de coabitação sexual. Então esse indivíduo, estimulado por outros equi­valentes do mundo astral inferior, fez com que a humanidade perdesse aproximadamente quarenta milhões de vidas, somente na Europa. Por isso eu desejo informá-lo que essas Entidades são muito perversas e irão criar-lhe ciladas e embaraços. (35)

Eu sorri para o venerando Espírito e confirmei:

Esses Espíritos só irão causar-me as dificuldades que estiverem no meu carma. Se eu não resgatar por um lado, serei induzido a fazê-lo por outro. Se eu hei de ter um câncer, eu prefiro ser incompreendido.

35-  As guerras, os desvarios do sexo e as ciladas arquitetadas contra os trabalhadores do bem são temas discutidos no livro Transição Planetária, cap. 16 (Programações Reencarnacionistas) e cap. 19 (Preparação Para o Armagedon Espiritual). Nota do organizador.

Se eu hei de ficar mudo por causa de um problema na garganta, que é o meu instrumento de ação, eu prefiro ser apedrejado. Se eu puder optar, eu elejo os dramas morais, contanto, que eu tenha um pouco de saúde tísica para continuar na tarefa.

Está bem, Divaldo!

Mas quando o senhor pretende começar a escrever esta obra?

Agora mesmo.

Também não precisava tanta pressa...

Como eu carrego sempre o meu material numa pasta que possuo, eu tomei dos papéis e lápis, sentei-me, e ele começou a escrever. Eram 9h10, mais ou menos, quando eu entrei em transe. Às 13h, eu já havia psicografado quatro capítulos.

À medida que eu vou escrevendo, às vezes, vejo psiquicamente aquilo que o Espírito está pensando. Porque enquanto o autor espiritual vai elaborando as ideias, projeta-as no meu cérebro, que as decodifica e por automatismo, escrevo. Era algo estarrecedor e ao mesmo tempo muito bonito, o que podia acompanhar psiquicamente. Era a imagem de um jovem padre adentrando-se em um educandário infantil. Ele era muito benquisto, possuía aproximadamente 30 anos e apresentava muito boa aparência. Quando se encontra em uma sala, uma criança vem correndo, abraça-o e o chama pelo nome. Sensibilizado, ele ergue-a nos traços e beija-a, ternamente. E sente um frêmito... Então, diz à criança:

Eu estarei na outra sala dentro de alguns minutos. Siga para lá, que eu tenho presentes para você.

Notei que o psiquismo do padre ficou muito sombrio. Embora em saber o que estava psicografando, eu acompanhava a história como um filme que se projeta numa tela de grandes proporções.

O padre Mauro foi para a sala, fechou as janelas e começou a baixar as cortinas. A sala ficou numa agradável penumbra. Ele pôs uma musica no aparelho de som e deixou a porta um pouco encostada. Nesse momento o garoto, que deveria ter entre seis e oito anos, entrou na sala sorrindo, e apresentou-se, entusiasmado:

Eu aqui estou! Mas onde está o meu presente? O padre desenrolou algumas guloseimas e afirmou:

Para a sua idade o melhor presente é chocolate!

Após esta afirmação, colocou o menino no colo e começou a aca­riciá-lo. Mas ao perceber que a porta estava semicerrada, ele levantou-se, cerrou-a por dentro e tirou a chave.

O menino estava encantado... Não se dava conta do que estava acontecendo.

Nesse instante, eu vi chegar um Espírito que havia desencarnado com uma idade entre cinquenta e cinco e sessenta anos. Era uma se­nhora de sentimentos nobres, mas não era um Espírito sublime. Era um Espírito bom. Eu a vi pedindo aos benfeitores espirituais que salvassem o seu filho do crime que ele estava para perpetrar. Ela se dirigia aos ami­gos espirituais nos seguintes termos:

O meu filho tem desencaminhado crianças. Ele tem o melhor campo possível para atuar, pois que, nesta escola, ele faz a evangelização e na igreja faz o catecismo. Infelizmente, ele dispõe de vítimas inermes ao alcance das suas mãos. Já infelicitou várias crianças e ultimamente está atormentado em relação e este menino, planejando consumar o ato hediondo hoje.

Os benfeitores espirituais, que ouviram a súplica daquela senhora desencarnada, acorreram para ver o que estava acontecendo na sala. Notaram que o jovem padre estava nos preâmbulos da carícia, sem que a criança se apercebesse. Então os mentores se detiveram por um instan­te, que durou entre três e cinco segundos, e naturalmente encontraram uma solução.

Como a diretora do colégio estava na área interna, um dos benfei­tores acercou-se-lhe, envolveu-a psiquicamente e falou-lhe: "Abra aquela porta!". Ela olhou para a porta sem entender, qual ocorre conosco quan­do recebemos intuições. Ao fixar seu olhar, achou estranho que aquela porta estivesse fechada e as outras abertas. Teve o ímpeto de bater, mas o mentor insistiu: "Não bata! Abra!". Meio sem jeito, a diretora aproxi­mou-se, chamou uma servente e perguntou:

Você tem a chave daquela sala?

Está por dentro. - respondeu a funcionária.

Então traga a chave mestra! Vamos ver o que está acontecendo lá! - concluiu a diretora, resoluta.

Apressada, a servente pegou a chave, destrancou a porta e a es­cancarou, no momento em que o padre começava a despir a criança. O sacerdote gritou:

Não é o que você está pensando!

A consciência de culpa é terrível! Ela sempre transfere para o outro a responsabilidade do que está acontecendo de errado.

A senhora ficou estupidificada! Tratava-se de uma dama muito ca­tólica e com elevados princípios morais. Ela chamou o garoto e ordenou:

Vá lá pra fora!

Em seguida olhou bem para o jovem sacerdote e arrematou:

Monstro! Para fora! Para fora, imediatamente, antes que eu faça um escândalo!

Ele se corrigiu, levantou-se e saiu correndo na direção da igreja.

O livro Sexo e Obsessão se inicia com esse drama real, que se des­dobra em uma história narrada em mais de trezentas páginas.

Um dos aspectos mais marcantes da obra é a descrição de uma região espiritual profundamente infeliz, que Manoel Philomeno de Mi­randa denomina como "A Cidade Perversa" (ou Pervertida). E uma ci­dade espiritual de sexo que se encontra nas proximidades da Terra. Nes­sa região pantanosa, que apresenta uma paisagem de cavernas e vulcões extintos, aglomera-se uma verdadeira multidão de mais de 1 milhão de Espíritos desencarnados, em uma orgia irrefreável. Eu estive visitando essa cidade, pois, enquanto psicografava o livro em questão, Philome­no de Miranda levou-me para conhecer o local, numa das excursões do grupo de benfeitores espirituais. Os seus habitantes realizam a cada entardecer um desfile de carros alegóricos e de bacanais. O que mais me impressionou é que os carros alegóricos possuem a forma de órgãos genitais deformados e grotescos, conduzindo indivíduos que encarnam mitos e personagens da prostituição, nas atitudes mais aberrantes de deboche e de depreciação da função sexual.

Nessa cidade, dedicada exclusivamente ao prazer da luxaria, en­carnados e desencanados mantêm relações sexuais, realizando seus de­sejos apaixonados e vis. Conforme a questão n° 200 de O Livro dos espíritos, o Espírito é, em si mesmo, assexuado, sendo-lhe a anatomia uma contribuição para o fenômeno da procriação. Ao desencarnar, no entanto, o Espírito mantém as suas tendências, especialmente aquelas de natureza inferior, às quais se aferrou em demasia, prosseguindo com as construções mentais que lhe eram habituais. Como resultado, acre­ditam-se capazes de intercursos sexuais nas regiões inferiores onde se encontrem, como efeito da condensação das energias mentais viciosas no períspirito. Frustrantes e perturbadoras, essas relações são degradan­tes e afligentes, porquanto são mais mentais que físicas, dando lugar a processos de loucura e de perversão...

A questão do períspirito é muito sutil. Kardec faz uma análise muito apropriada no item 47 do livro A Gênese.

Vamos explicar melhor a tese.

Uma pessoa que usava óculos na Terra, quando desencarna e pre­tende comunicar-se mediunicamente, muitas vezes aparece aos médiuns com os óculos que possuía, sem que, na realidade, necessite desse ins­trumento. Ou se ela revelava um problema de movimentos, claudicando de uma perna e se apoiando em um bastão, retorna com essa caracte­rística para ser identificada. Mas quando sai do ambiente de percepção dos médiuns e retorna ao espaço, assume uma aparência neutra, uma espécie de idade mediana que é muito comum ser retratada nos anjos do período barroco. Como esses Espíritos elevados se apresentavam sem uma definição de gênero muito acentuada, as pessoas portadoras de mediunidade detectavam essa imagem corporal difusa e não sabiam re­conhecer se eram seres de aparência masculina ou feminina, o que gerou a famosa discussão histórica sobre o sexo dos anjos.

Emmanuel, guia espiritual de Chico Xavier, devido ao largo pe­ríodo em que se colocou ao lado do seu médium, assimilou a energia da Terra de tal forma que depois de muitos anos ele alterou o seu aspecto fisionômico, parecendo ter envelhecido. Aquele senador romano jovem, aparentando trinta ou trinta e cinco anos quando foi pintado por uma médium, muitos anos depois se apresentava com o semblante marcado e com rugas na face. O Espírito Meimei também sofreu o mesmo proces­so. E uma médium paulista autêntica, em um chá beneficente, retratou os dois benfeitores espirituais com essa nova fisionomia. Chico Xavier confirmou a imagem captada pela psicopictografia, conforme está em uma das edições do Anuário Espírita, afirmando que aquela aparên­cia envelhecida era uma consequência do estado de intercâmbio mental com os habitantes da Terra.

Aqueles que desencarnaram em perturbação, transferem para o mundo espiritual dores físicas, sentem a barba e as unhas crescerem, a roupa rasgar-se, as feridas prolongarem-se, o que na verdade não são es­tados perispirituais, são estados ideoplasmáticos. A mente concentra-se em uma dada circunstância e desenvolve uma fixação com reflexos no corpo perispiritual.

A morte nos desveste apenas do corpo físico. Os hábitos e os vícios que cultivamos prosseguem conosco após a desencarnação, principal­mente nas regiões espirituais inferiores, que estão muito vinculadas ao mundo físico. O ser, que se tornou viciado em sexo, buscará o convívio dos Espíritos semelhantes. Os dependentes químicos do álcool irão sin­tonizar com os ambientes nos quais poderão dar vazão aos seus desejos, experimentando os prazeres que os agradam. À medida que o ser se depura, compreende que essa busca é absolutamente dispensável, pois o Espírito, ao se despojar da matéria, não possui mais as necessidades a ela inerentes.

Esses são fenômenos ideoplásticos de fixação do indivíduo em seus interesses.

Há muitas décadas, eu tenho feito inúmeras viagens astrais em desdobramentos conduzidos pelos bons Espíritos. Mas somente em re­giões inferiores eu testemunhei a prática sexual que reproduz o contato intimo que os casais mantêm na Terra. São lugares vinculados à promiscuidade e à prostituição que existem no mundo físico, e onde seres encar­tados e desencarnados intercambiam emoções e sensações. Esse com­portamento não existe em regiões habitadas por Espíritos equilibrados.

Em consequência, é exclusivamente na dimensão física que acontece o fenômeno biológico da reencarnação, dentro dos padrões em que a conhecemos. No mundo espiritual, os seres não possuem estrutura natomofisiológica para praticar o sexo. O intercâmbio de sentimentos é pautado no amor e na simpatia, que os preenche por completo. Mas nas regiões inferiores, onde há predominância das paixões, os Espíritos conservam uma diferenciação genital que plasmam no períspirito, por não terem aprendido a utilizar as potencialidades sexuais com equilíbrio.

A médium D. Yvonne do Amaral Pereira, que se tornou célebre por diversos livros psicografados, sobretudo a extraordinária obra Me­mórias de um Suicida, narrou-me que, quando jovem foi levada pelos seus mentores desencarnados para ver os desfiles de Carnaval em regiões espirituais inferiores, nas quais ela testemunhava a existência de carros alegóricos semelhantes aos que circulavam nas grandes avenidas do Rio de Janeiro, durante as festividades de Momo. Certa vez, exatamente na época carnavalesca, ela foi à Avenida Rio Branco, na capital carioca, onde passavam inúmeros blocos de Carnaval. A dedicada médium tes­temunhou cenas que lhe pareceram profundamente chocantes, princi­palmente o exagero da nudez e as máscaras de Carnaval, que traziam figuras estranhas e monstruosas. O que mais impressionou D. Yvonne foi que as máscaras não lhe eram desconhecidas, pois já havia visto aqueles adereços quando estava em desdobramento espiritual, nas oca­siões em que os seus mentores a levaram para visitar as regiões inferiores do mundo Invisível. (36)

34- A informação de que as máscaras carnavalescas da Terra são reproduções de imagens do mundo espiritual inferior, também consta no livro Nas Fronteiras da Loucura, cap. 6 (Lições Proveitosas)

Quando Philomeno de Miranda me falou sobre a Cidade Perver­sa, ela já havia sido detectada por Francisco Cândido Xavier em suas experiências além do corpo físico. Eu desconhecia o fato, mas um ami­go me apresentou um artigo do escritor e cientista Hernani Guimarães Andrade, no qual ele narra um diálogo entre Chico Xavier e o grande orador espírita Newton Boechat. Nesse artigo, Chico explica a Boechat que antes da revolução sexual ocorrida nas décadas de 1960 e 1970 ele havia sido levado por Emmanuel para conhecer uma cidade no Além onde os seus habitantes, profundamente dominados pelas sensações primitivas e grotescas, realizavam orgias inimagináveis para a mente humana, traduzidas em desfiles de Carnaval que expunham a condição de grande torpeza espiritual daquela comunidade. Chico denominava a região de Cidade Estranha. O artigo foi colocado na íntegra como posfácio no livro de Philomeno.

Os Espíritos habitantes dessa região, que se entregam à sensualidade desde o tempo do imperador romano Tibério César e de Calígula, estão, aos poucos, sendo trazidos à dimensão física pelo mecanismo da reen­carnação compulsória. Os guias da humanidade assim procedem para dar-lhes uma última oportunidade de permanecerem na Terra, rumando para o mundo de regeneração em que ela se transformará. Nesse sentido, fascina-me o amor de Deus pelos Seus filhos! A oportunidade que está sendo oferecida aos habitantes da Cidade Perversa é para que eles não afirmem no futuro que foram relegados a uma espécie de presídio e de­pois de certo tempo foram expulsos de Terra sem a menor consideração.

Por isso, a partir das décadas de 1960-70 eles passaram a renascer em massa no solo do planeta. Como o fenômeno da hereditariedade pode lhes proporcionar formas físicas harmoniosas, frequentemente os seus corpos são muito belos, mas os Espíritos que os aninam são gros­seiros e ainda distantes do sentido de beleza transcendente, preferindo viver do corpo e para o corpo, em vez de trabalharem pelo seu enobrecimento e pelo desenvolvimento de suas potencialidades espirituais.

Philomeno ainda narra no livro referido — Sexo e Obsessão — que a música apreciada por esses Espíritos possui uma espécie de propriedade hipnotizante de baixo teor, que contribui para que entrem em estados de êxtase perturbador. Afinal, a música influencia o ser humano em todas as áreas.

A música erudita e harmoniosa é uma emanação do Psiquismo Divino. Ela acalma e produz um ritmo nas células que favorece a saúde. Pesquisas científicas já demonstraram que, quando uma pessoa medita, ela altera os seus padrões de funcionamento cerebral, o que se evidencia com o uso de técnicas modernas de neuroimagem, que registram alte­rações em áreas cerebrais relativas a certas percepções e emoções, como decorrência do estado mental que o indivíduo imprime a si mesmo. Algumas áreas são acionadas e outras sofrem uma momentânea redução no seu funcionamento. O mesmo raciocínio é válido para a influência que a música exerce sobre o cérebro.

Existem músicas hipnóticas de efeito positivo, como é o caso dos mantras utilizados há milênios pelas tradições orientais. Mas algumas religiões ocidentais também se valem de técnicas semelhantes. Vemos, na Igreja Católica, a utilização das jaculatórias, que são breves orações ou invocações que incluem em uma sequência programada orações mais extensas. O terço é um instrumento que os religiosos utilizam para favo­recer a manutenção de um ritmo nas orações. Essa ritmicidade específi­ca funciona como um verdadeiro mantra, levando ao êxtase. Na música tribal, que os nossos antepassados cultivavam em seus rituais, existem expressões sonoras que excitam e despertam inclusive a sensualidade.

No rock metálico, temos padrões sonoros que incitam à violência, pois geram no organismo grandes descargas de adrenalina produzidas pelas glândulas suprarrenais, que são atiradas na corrente sanguínea e o corpo não consegue eliminar rapidamente, causando excitações pro­longadas. Como a oferta de sexo é abundante e pode ser encontrada em qualquer lugar, essa forte excitação induz o indivíduo a manter relacio­namentos que satisfazem o apelo fisiológico a que foi submetido, satisfa­ção que também se dá por meio do consumo de substâncias psicoativas, levando o indivíduo à dependência química.

Isso tudo é para termos uma ideia da paisagem de um núcleo de obsessores que se alimentam do psiquismo de criaturas da Terra ator­mentadas pelo sexo. Essas criaturas, que somos alguns de nós, oferecem o seu plasma psíquico aos Espíritos vampirizadores. São aqueles indi­víduos que, quando se vão deitar para dormir, começam a mentalizar imagens não realizadas de prazeres alucinantes. São aqueles que se per­mitem mentalmente as fantasias eróticas e sonham que estão frequentando verdadeiros bordéis. Na verdade, eles estão vivenciando a concre­tização dos seus sonhos, pois estão frequentando aquela região infeliz, cujas imagens o cérebro registra como sonhos lúbricos e perturbadores.

O padre Mauro foi levado à presença de uma personagem que administrava determinada área da cidade que, como dissemos, possui mais de 1 milhão de habitantes. A personagem em questão era o anti­go Marquês de Sade, que eu acredito ser a reencarnação de Calígula, o imperador romano. Naquela região de sombras, fundada há quase 1900 anos, encontravam-se também outros personagens da decadência do Império Romano, como Domício Nero, Messalina...

Como nos recordamos, o Marquês de Sade morreu louco, com delírios, em um sanatório-presídio dirigido por uma entidade religiosa que possuía direitos civis sobre ele. Sua morte foi hedionda, pois ele ficou absolutamente dementado, fazendo esculturas e escrevendo imo­ralidades nas paredes com seus próprios dejetos. Ao desencarnar, o Mar­quês foi habitar aquela região de torpezas, tornando-se uma das perso­nalidades centrais da cidade, graças à sua sagacidade. E o padre Mauro era um de seus asseclas.

No desenvolvimento da história, os amigos espirituais trabalha­rão para atender ao pedido daquela mãe, salvando o filho de comprome­timentos mais graves. É uma linda intervenção realizada pelas entidades superiores, que merece profunda reflexão. Em determinado momento, instruções de Mais Alto chegam até aquele campo para que o padre Mauro e o Marquês sejam libertados. E os benfeitores escolhem uma Casa Espírita, aqui, na Terra, que seria utilizada para essa finalidade, o que nos mostra que devemos valorizar e respeitar as nossas instituições, apesar da moda que se espalha por aí...

O Centro Espírita não é um clube, um lugar de folguedos ou de recreação! É um lugar de intercâmbio com o mundo espiritual. E uma oficina de iluminação, uma escola de educação e um hospital de almas. E em recintos assim não poderemos ter conduta reprochável nem exibir o ego, nosso narcisismo, nossas pequenas paixões, nossas irregularida­des... Porque necessitamos de luz, mas os bons Espíritos necessitam de nossa energia animal para cuidar dos Espíritos animalizados, aqueles que estão em faixas muito inferiores em relação à nossa psicosfera. Di­zendo de outra forma, os mentores utilizam nossa energia fisiopsíquica para realizar intervenções em benefício de seres que desencarnaram, mas ainda se encontram impregnados pelas sensações da matéria densa.

Ao eleger a referida Casa Espírita, os amigos espirituais consulta­ram o Espírito mentor da instituição, que é uma senhora, e indagaram se ela estaria disposta a contribuir em favor daquele trabalho. Ela anuiu e ofereceu os seus médiuns para o trabalho de socorro espiritual àqueles obsessores, pois para libertar o padre Mauro havia injunções coletivas implicadas naquela trama. Ao atender o sacerdote os benfeitores teriam que atender também os Espíritos perversos e o Marquês de Sade.

Eu acompanhei uma grande parre dessas negociações e deslumbrei--me com a sabedoria do mundo espiritual. Impressionaram-me as técnicas para atrair os Espíritos profundamente asselvajados, a fim de que eles tivessem acesso àquela comunidade onde o ex-Marquês seria tratado.

Como parte do processo de atendimento espiritual foi programa­da uma reunião mediúnica no mundo espiritual, em que alguns mé­diuns foram desdobrados e auxiliaram os mentores, trabalhando além do corpo físico. (37) Eu tive a oportunidade de presenciar essa reunião, da qual participaram vários Espíritos envolvidos na tragédia protagonizada pelo padre Mauro e pelo ex-Marquês.

37- Toda a obra de Manoel Philomeno de Miranda, psicografada por Divaldo, está repleta de descrições a respeito desse tipo de reuniões. Nota do organizador.

Durante essa atividade socorrista, em determinado momento, ou­viu-se uma música portadora de beleza celestial! Uma voz cantava a Berceuse, de Brahms, enquanto chegava ao recinto um cortejo de Espí­ritos nobres: uma senhora, um religioso e outras entidades. Tratava-se de Marie-Eléonore, a mãe do Marquês de Sade, que entoava a canção de ninar com a qual embalava o Marquês em seus braços quando ele era criança. Ela estava acompanhada do abade Amblet, que era de Notre Dame e tornou-se o preceptor cultural e religioso do futuro Marquês. O encontro com a sua mãezinha produziu uma profunda transformação no infeliz obsessor.

Essa reunião espiritual, que foi de uma beleza inolvidável, aconte­ceu no mês de março do ano de 2002.

O livro se encerra com o padre Mauro totalmente modificado. Ele foi transferido para o Brasil Central e hoje dirige um Lar de crian­ças, onde, um dia, os seus inimigos que, no passado, foram suas vítimas, estarão hospedados em um corpo despedaçado e doente para que o sacer­dote sublime os sentimentos...

Ressonâncias do aprendizado

Nessa área das obsessões sexuais eu já ouvi falar de quase tudo. Mas assim que eu terminei de psicografar o livro, tive uma experiência marcante no atendimento fraterno. Uma senhora procurou-me para falar de um transtorno sexual que estava estreitamente relacionado ao conteúdo do livro. E vale ressaltar que ninguém sabia sobre as minhas experiências mediúnicas em torno da história do padre Mauro, pois eu só comentei sobre elas depois que o livro foi publicado. A senhora, então, confessou-me:

Senhor Divaldo, eu sou uma atormentada!

Todos nós somos atormentados, minha irmã!

Mas eu sou diferente. Eu sou casada e sou mãe.

Nessa hora, levantei a cabeça e olhei-a, detectando que no seu psiquismo havia uma enorme quantidade de Espíritos deformados. Com essa visão surpreendente eu me assustei! Era a primeira vez que eu via uma cena como aquela na sala que eu reservo para o atendimento fra­terno, onde existe um campo vibratório muito especial. Os mentores permitiram a entrada dos obsessores porque se eles fossem retirados su­bitamente do campo psíquico daquela senhora ela enlouqueceria. Esta­vam tão cristalizados e interdependentes que os benfeitores não podiam afastá-los abruptamente, senão, aos poucos. E a consulente me fez a seguinte declaração:

Sabe qual é o meu drama, senhor Divaldo? E que em matéria de sexo eu já fiz de tudo! E agora eu estou com a ideia fixa de fazer sexo com animais...

Eu sempre tenho muito bom controle nessas ocasiões. Por isso, procurei não demonstrar surpresa. Entretanto, fiquei profundamente chocado! E logo procurei tirar da mente a informação para não me im­pregnar de pensamentos não recomendáveis, pois a imaginação começa a lazer várias indagações...

Pelas leituras que já fiz, tomei conhecimento de que existem lu­gares onde animais amestrados (macacos, cães e outros) são utilizados por pessoas zoófilas, tanto homens quanto mulheres. Contudo, no meu inconsciente eu não podia acreditar no que os livros descreviam. Era-me tão violenta a informação que eu não tinha dimensão para entender.

Tentei concentrar-me no drama da senhora e respondi-lhe:

Mas a senhora terá que reagir! A senhora está sob uma indução muito perversa.

Quando eu pronunciei estas palavras me adveio uma grande angústia. Porque é tão chocante a situação que, por mais que tentemos agir com naturalidade, uma situação como essa nos colhe quase sempre de surpresa. E foi a primeira vez que eu me deparei com um drama deste porte. Eu levantei-me e falei-lhe:

Aqui, no atendimento fraterno, eu não aplico passes. Mas como tudo tem seu momento, hoje eu irei fazê-lo.

Chamei um casal amigo (porque eu atendo com a porta da sala aberta), pedi que os amigos sentassem e orassem para que eu pudesse aplicar o passe. E assim o fiz. Logo após, conversamos por mais de uma hora, pois ela estava a ponto de suicidar-se. E daquele choque inicial, passei a sentir uma profunda compaixão, dispondo-me a orar em seu favor sempre que possível.

Pedi-lhe que voltasse outras vezes. Não mais para abordar o tema, porque há assuntos que só se discutem uma vez, para não cairmos na vul­garidade. Completei o encontro, fornecendo-lhe a seguinte orientação:

Já que a mente não pode ficar sem pensar, toda vez que lhe vier essa ideia negativa substitua por outra saudável. E passe e pensar nesta ideia-desvio. Em breve, a ideia-desvio será a ideia central e vice-versa. É uma técnica psicológica para cultivarmos os bons pensamentos. Não é necessário crer. Basta criar o hábito que a repetição irá transformá-lo em uma segunda natureza, um automatismo psicológico. Sempre que a idéia negativa surgir, ore, leia uma página agradável, mude de pensa­mento até que ela se dilua por falta de receptividade mental.

Sempre que a senhora retornava, dava-me o testemunho de que estava mais livre daqueles clichês mentais, já que eu lhe havia ensinado as técnicas para isso.

Muitas pessoas dizem-me que, quando vão orar, são perturbadas por clichês mentais de atos sexuais que praticaram com seus parceiros. E normal, pois essas imagens estão no arquivo do inconsciente. Que fa­zer? Educar-se mentalmente. Eu costumo dizer a essas pessoas: "Nessas ocasiões, quando vier a lembrança de um ato sexual, especialmente se for perturbador, pare a prece, dê campo ao pensamento por alguns segundos e depois retorne à oração. Porque toda vez que recalcamos uma ideia ela fica no arquivo e retorna com mais intensidade.

E como uma porta com uma mola fixada na parte de trás. Na razão direta que nós comprimimos a mola, ela reage. Então, a única maneira de obter o êxito é desligar a mola para que a porta nos atenda".

Quando damos campo, por alguns segundos que sejam, a uma ideia perturbadora que nos toma de assalto durante a prece, isto serve para que possamos digeri-la, para em seguida continuarmos no cultivo da oração. E se a ideia tentar nos invadir outra vez, não devemos mais ceder, porque isso configura um vício mental, quando não se está acos­tumado a emoções superiores. Muitos indivíduos se comprazem com certas ideias inferiores, mas não as praticam por medo, timidez ou fal­ta de oportunidade. E por isso as praticam no mundo mental ou no mundo espiritual, quando vão dormir. Acalentam pensamentos absur­dos naqueles instantes que precedem o sono, sendo depois atraídos para regiões equivalentes, o que nos remete ao princípio de que a oração deve ter prevalência nos momentos que antecedem o desprendimento parcial.

A partir do dia em que eu tive aquela experiência de zoofilia no atendimento fraterno, os Espíritos trouxeram-me ao conhecimento muitas aberrações, que estavam ocultas em pessoas de rostinhos lindos e aparentemente equilibradas.

É impressionante como conduzimos tantos escombros dentro de nós! Por isso, devemos amar a todos, indistintamente, sem traçar regras de ética e de moral para quem quer que seja, tomados sempre de com­paixão e de fraternidade, exigindo-nos o melhor, e a todos concedendo o que lhes aprouver, sem interferirmos no destino de ninguém. Se nos pedirem auxílio, ofereçamos. Se não nos pedirem, cada um é responsá­vel pelos seus atos.

Depois que publicamos o livro Sexo e Obsessão, em setembro de 2002, os Espíritos me sugeriram que saísse a realizar seminários sobre o tema, que mal cuidado fica escabroso e bem tratado fica sublime.

Em torno do sexo, antes de decisões perturbadoras e de atitudes grotescas, não nos esqueçamos da reflexão. Antes de assumirmos deter­minados compromissos em qualquer área, particularmente na sexual, meditemos e nos lembremos de que tudo tem um preço. Se a nossa atitude for nobre e o meio for ilícito, ela perde a dignidade. Se o meio 'or nobre, mas a finalidade for indigna, a nossa atitude não se justifica.

Então devemos pensar antes, pois chegará o momento de respondermos pelos nossos atos.

Cilada obsessiva

"Dize-me o que pensas e eu te direi com quem estás". Dize-me o que anelas e eu te direi quem está ao teu lado. Conforme pensarmos, produ­zimos uma ressonância equivalente. Conforme agirmos, teremos uma reposta. Como consequência, as nossas elucubrações, desejos e aspira­ções inferiores atraem Espíritos inferiores, que se tornarão comensais da nossa vida e passarão a participar da nossa realidade psíquica, influindo no nosso comportamento, no nosso equilíbrio, na nossa saúde e na nos­sa necessidade de paz.

Muitas pessoas perturbam os Espíritos desencarnados. Parceiras saudosas da convivência dos seus respectivos companheiros acalentam certas lembranças e permanecem recordando os momentos da sensação sexual, atraindo-os, embora desencarnados, que sendo também sensuais e estando encharcados de energia física, mantêm com as mesmas o conúbio sexual conforme o faziam antes. E a própria parceira oferece o ectoplasma para que o Espírito a utilize, enquanto ela se compraz em de­lírios mentais e revive as recordações. Inicialmente ela passa a revivê-las no plano mental. Depois também experimentará as reações correspon­dentes no plano orgânico.(38)

As obsessões sexuais são das mais difíceis de recuperação, por­que o Espírito furta o plasma psíquico do encarnado, dele utilizando-se. Uma das energias mais poderosas na criatura humana é a de natureza sexual. Por isso, deveremos erguê-la, sublimá-la, transformá-la em ele­mento de força, em vez de gastá-la desordenada, sensual e vulgarmente nos apetites insaciáveis...

Há muitos anos, eu fui realizar uma palestra numa cidade que sempre visito. Na ocasião eu me hospedei numa residência onde havia várias filhas e filhos, porém com predominância feminina. Entre as fi­lhas havia duas que eram casadas.

38-  A interferência, negativa de um cônjuge desencarnado sobre outro encarnado pode ser estudada no livro Painéis da Obsessão, cap. 15 (Trama do Ódio). Nota do organizador.

Era uma casa rica e ampla. Quando a família estava reunida para me receber, eu notei um distúrbio na filha mais velha. Ela revelava an­siedade e insatisfação. Em meio àquele desequilíbrio, eu percebi que a sua aura estava muito densa e escurecida. E pelo tom sombrio eu inter­pretei qual era o seu problema. Mesmo sem ter-me dito nada eu pude ter um vislumbre do drama de esposa que ela estava vivendo. Mas como eu tinha compromisso doutrinário, fui à tarefa que me cabia. Quando retornei, após um lanche leve, deitei-me e adormeci.

Em certa hora da noite ouvi um som à porta e acordei assustado. Uma voz enunciava meu nome num balbucio:

Divaldo! Divaldo! Ajude-me! Abra a porta!

Eu levantei-me, vesti paletó do pijama (pois fazia muito calor) e fui abrir a porta. Quando pus a mão na maçaneta da porta para des­trancá-la, eu vi a mão de Joanna de Angelis, muito alva, sobre a minha, em tentativa de impedir-me de abrir a porta. Ela, então, falou-me:

Não abra a porta! E fale muito alto! Eu então respondi:

Um momento! Eu estou vestindo-me. E a voz solicitava baixinho:

Abra a porta! Eu prosseguia:

Um momento! Estou vestindo-me. Vá chamar sua mãe, Dona fulana!

Enquanto estávamos nesse impasse eu ouvi um "clique" da luz da sala e o som característico de um golpe. Abri a porta rapidamente. Era o pai da senhora, que estava de vigília, e, ao acercar-se, violentamente leu-lhe um soco na face. Eu olhei para aquela cena, sem entender nada, tomei a frente e indaguei:

Mas o que é isso?!

Ela me dirigiu um olhar de súplica que eu nunca irei esquecer! Aquele olhar de profunda tristeza, pedindo-me socorro. Eu segurei o pai e insisti:

Mas o que é isso?!

Ele respondeu-me:

Minha filha é uma meretriz! O marido está deitado lá na frente e ela veio aqui perturbar você. Não podemos ter um hóspede em casa...

Ele usou expressões muito vis para referir-se à filha. E a única for­ma que eu encontrei para minorar o drama foi tentar defender a moça. Daí, eu elucidei o pai.

O senhor está enganado! O senhor me respeite! A sua menina está doente e havia-me pedido socorro. Eu é que me esqueci da solicita­ção, porque estava muito cansado.

Voltei-me para a senhora e perguntei-lhe:

Você veio pedir que eu lhe aplicasse um passe, minha filha?

Vim... - respondeu ela, vencida pela humilhação.

Mas, minha filha, por que não chamou a sua mãe? - indaguei.

Eu fiquei com pena de acordar mamãe...

Venha! Eu vou aplicar-lhe o solicitado passe.

Dei-lhe a mão, olhei para o pai em tom de reprimenda e ele per­deu um pouco a pose, ficando meio sem jeito. Propus-lhe de imediato:

Vá chamar sua esposa, por favor! Sua filha está muito doente. Ela me confidenciou seus problemas e me pediu ajuda. Mas eu, negli­gentemente, não a atendi. Vamos orar e ler o Evangelho...

Trouxe-a ao quarto e vieram também a mãe, o pai e o marido, que acabava de acordar. Ela tremia muito, expressando sua angústia. Ao iniciar a leitura do texto evangélico, passei a ver o obsessor. Era um Es­pírito de baixo calibre moral que a vampirizava. Ela era uma obsidiada da área sexual. O Espírito sugava-lhe o plasma psíquico e ela se frustrava toda vez que se entregava ao ato sexual com o esposo. Era uma volúpia semelhante ao vício alcoólico. Quanto mais se entregava, pior ficava. Ela havia perdido a dignidade perante si mesma e odiava-se, pois o Es­pírito desejava que ela se matasse ou que fosse assassinada pelo marido. Tratava-se de um drama do passado reencarnatório.

Assim, fizemos uma leitura evangélica, magnetizamos água e eu lhe apliquei um passe demorado. Supliquei ajuda a Jesus com muita ternura. Ao mesmo tempo, pedi a Joanna, que em suas encarnações corno freira havia lidado tanto com mulheres equivocadas, para que ela atendesse aquela pobre moça de vinte e seis anos, mas que tinha uma idade de dor de oitenta anos.

Quando terminei de aplicar-lhe o passe, ela deu um grito e cho­rando, explicou:

Mamãe! Saiu algo de mim, mamãe! E abraçou a mãe, que também chorava...

O marido sabia que ela era doente. Mas a amava tanto que disfar­çava o conhecimento.

Como há beleza no amor! Como o sexo fica um tanto despresti­giado diante do amor!

Ela voltou-se para o marido e comentou, desolada:

Você não sabe o que eu sou! Ele respondeu:


Sei, sim! Você é a mãe dos meus filhos! Tudo o mais que você faça não me importa! Você sempre me respeitou e me amou. O resto não é importante!

Em seguida, ela dirigiu-se ao pai e suplicou:

Perdoe-me, papai! Você tinha razão. Eu não pedi passe ne­nhum. Você sabe o que eu desejava fazer. Perdoe-me, papai!

Daí, eu vi aquele homem amargurado dobrar-se e chorar sobre a filha. Todos nós choramos também. Depois, fomos todos deitar-nos e, pela manhã, ela me expressou:

Ah, Divaldo! Renasci! Nunca mais!

E até hoje somos amigos. Ela é avó, educou a força negativa e canalizou os excessos para aplicar passes, revelando uma bela mediuni­dade curativa. Seus pais já estão no Além, sendo que sua mãezinha, que era uma boa médium, é uma das Entidades que a assessoram. Sempre que eu vou à sua cidade, hospedo-me em sua casa. (39)

Esta é uma face da questão. Mas há outra face.

39- Outro caso de obsessão sexual sobre uma médium pode ser estudado no livro Trilhas Ia libertação, capítulos 9 (Terapia Desobsessiva), 12 (Ensinamentos Preciosos), 13 (O caso Raulinda), 20 (Ocorrência Crave), 25 (Noite de Angústias) e 28 (O Enfrentamento). Nota do organizador.

Vamos supor que eu houvesse aberto a porta, que ela entrasse, mas não que houvesse ocorrido nada. O pai, que estava à espreita, iria imaginar que nós havíamos combinado. Armava-se, então, um escândalo. E até explicarmos que éramos inocentes, quem acreditaria? E como os escândalos em nosso Movimento Espírita tomam corpo com muita fa­cilidade, o fato correria o mundo e seríamos vítimas de uma cilada obsessiva. Este fato serve para nós, espírita, vermos como somos vigiados e não damos a devida importância.

Vemos, frequentemente, em nosso Movimento, muita leviandade e maledicência. Como nos apraz dizermos coisas que não podemos provar! Como nos agrada supor coisas e darmos uma tinta de realidade!

Vamos imaginar, por outro lado, que eu tivesse algum tormento e me aproveitasse de uma pobre moça doente que eu deveria amar como irmã. Vamos supor que eu fosse uma dessas pessoas que pregam e não praticam (sem qualquer censura de minha parte). São pessoas que se utilizam dessas brechas e justificam-se:

Eu não procuro, mas quando me aparece eu aproveiro! Eu apenas não perco a oportunidade.

Ao ouvir esse tipo de declaração, surpreendo-me com a imprudência e o desgaste dos valores éticos que tipificam esses indivíduos. Se eu agisse assim estaria traindo a Causa que abracei.

Então vigiemos e amemo-nos. E a melhor maneira de amar é preservar a prática sexual com responsabilidade e compromisso afetivo, que significa um ato insofismável de autorrespeito.

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