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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

OS FILHOS DA GUERRA


INFORMAÇÃO ESPÍRITA

EDUCAÇÃO

OS FILHOS DA GUERRA


Carlos Abranches


O lar, na Terra, ainda é o ponto de convergência do passado. Dentro dele (...) recebemos todos os serviços que o tempo nos impõe, habilitando-nos ao título de cidadãos do mundo.
Emmanuel*

*As mensagens de Emmanuel e de Meimei estão no livro Luz no Lar (Ed. FEB), nos capítulos 46 e 57, respectivamente


As mensagens de Emmanuel e de Meimei estão no livro Luz no Lar (Ed. FEB), nos capítulos 46 e 57, respectivamente


O ano de 1989. A região do Planeta é o Leste Europeu. O problema sociopolítico é o colapso do comunismo e o fim do império montado pela União Soviética. Neste cenário, a tragédia humana mora dentro dos corações de milhares de crianças, filhas de romenos, russos, poloneses...

Abandonadas pelos pais em orfanatos, elas cresceram em meio a disputas por uma mamadeira, jogadas dentro do berço por uma babá descomprometida com a educação emocional dos pequenos, ou desviando-se dos projéteis não explodidos de uma guerra sem nexo, caídos nas ruas de cidades semidestruídas.

Quase dez anos passados deste fato histórico, uma reportagem do The New York Times Magazine, reproduzida pelo Estado de São Paulo (14 de junho, 1998), de autoria de Margaret Talbot, traz à tona uma das mais impressionantes experiências realizadas por pais americanos junto a menores adotados no Leste Europeu, principalmente na Romênia e na Rússia. É o relato sobre os sofrimentos de mais de 18 mil crianças nascidas nessa região. Elas enfrentaram os horrores não só das guerras que nunca terminaram, mas também da falta de recursos econômicos, de vínculos afetivos reais e duradouros, de pais que fizessem algo mais do que gerá-las.

***

A mãe está sentada de braços cruzados, com um sorriso educado e constrangido no rosto. É um dia frio de fevereiro, em uma clínica nos arredores de Denver. Ela, dona-de-casa, fala sobre o filho adotado. Ele foi trazido da Romênia quando tinha 4 anos, em junho de 1991. A mãe havia morrido - disse aos pais americanos o agente de adoção daquele país - ou seu pai era alcoólatra, quase cego. Quando o pai biológico não os forçava a mendigar, tentava vendê-los a algum estrangeiro; se nada conseguia, deixava-os à mercê do abandono e da negligência.

Quando o casal decidiu fazer a adoção, estava consciente de que estaria assumindo toda a história emocional de um menino que, ainda que com um pouco de vida, já era herdeiro de intensa vivência de grandes perdas. Na verdade, os futuros pais e mães não esperavam que as coisas ficassem mais difíceis do que as imaginariam. O garoto era desajeitado, sofria com terrores noturnos, não suportava que sua mãe adotiva o tocasse e demonstrava dificuldade para criar laços afetivos duradouros.

Na contramão destas características, ele revelou-se uma criança não violenta e com capacidade para demonstrar ternura; adorava, por exemplo, segurar bebês. Na análise de tão grave quadro clínico, os especialistas definiram o problema por que passam essas crianças: desordem de vínculo, ou a incapacidade relativa de realizar vínculos afetivos, por graves carências vividas na primeira infância.

Os teóricos do comportamento chegaram a conclusões marcantes, com base não só no sofrimento enfrentado por esses filhos sem pais, mas igualmente por outros milhões de crianças espalhadas pelo mundo, em países ricos ou pobres, que passaram pelas mesmas situações.

Nosso desiderato, neste artigo, é buscar caminhos para uma compreensão dos fatos citados sob o prisma do estudo espírita. Algumas dessas análises já foram feitas por Espíritos de elevada condição, que traduziram, em seu textos, a compreensão da vida sob a ótica do Espiritismo. Façamos uma leitura comparada, para notar que a Doutrina Espírita sempre esteve sintonizada com o seu tempo histórico (quanto não caminhou à frente dele), restando ao homem descobrir esse manancial de valores e conceitos de grandeza incomensurável, à sua disposição para a efetiva ascensão espiritual.

***

Linda Mayes e Sally Provence, professoras de desenvolvimento infantil na Yale University, concluíram que “a continuidade do cuidado afetivo dado por uma pessoa ou um grupo origina o desenvolvimento das relações amorosas da criança”.

O psicanalista D. W. Wiinnicott escreveu que “sem ter alguém dedicado especificamente às suas necessidades, o bebê não consegue estabelecer uma relação eficiente com o mundo externo. Sem alguém para dar-lhe gratificações instintiva e satisfatória, o bebê não consegue descobrir o seu próprio corpo nem consegue desenvolver uma personalidade integrada”.

Na mesma linha de análise, a psicóloga Mary Ainsworth chamou de base segura a presença de uma pessoa cujo amor seja confiável e para quem uma criança pode voltar-se em busca de seu reabastecimento emocional. Paradoxalmente - entende a psicóloga - “poder relaxar em relação à sua dependência é o primeiro passo na direção da independência”.

A convivência com crianças que, anos depois de adotadas, ainda viviam como que reagindo às experiências traumáticas pelas quais passaram nos orfanatos, reforçou argumentos defendidos por abordagens que analisam as relações de afeto, como a Teoria do Vínculo, por exemplo, desenvolvida por pesquisadores como o psiquiatra inglês John Bolby e o psicanalista francês René Spitz.

Em seus estudos, eles demonstraram o impacto que crianças sofrem quando são separadas de seus pais, por motivos variados, como o abandono ou negligência, a separação, a necessidade de sair em busca de emprego e de deixar o filho aos cuidados de uma babá ou em creches etc. Umas das mães adotivas, Thais Tepper, relatou, na reportagem, que se revoltou quando descobriu, só depois da adoção, os problemas de saúde de seu filho. Decorrido um ano depois que o trouxeram para casa, quando ele ainda não falava e fugia dela sempre que podia, é que Thais chegou à conclusão de que o amor é uma experiência que, para alguns, precisa ser aprendida. Foi aí que ela começou a estudar a Teoria do Vínculo.

Thais afirma que “essas crianças não têm apenas problemas psicológicos. Se você não tem uma mãe que senta e lê para você, vai acabar atrasado cognitivamente”.  Neste sentido, a privação de afeto acaba não permitindo que uma criança não se torne apta emocionalmente. Torna-se marcante e decisivo o fato de o bebê não ser alimentado quando precisa, não ouvir uma pessoa quando está começando a balbuciar, a fazer seus primeiros contatos com o mundo.

***

O Espiritismo entende a adoção como uma das mais belas vivências da alma na Terra. Dar a uma criança a oportunidade de viver em um lar estruturado, com chances de crescer através de uma convivência carinhosa com pais e irmãos, é abrir caminhos novos e altamente positivos para a redenção espiritual. É uma das formas de resgatar, com base no amor, antigos vínculos do passado e substituir velhas matrizes de ódio e vingança por novas bases de perdão, ternura e companheirismo.

Quando o “novo filho” é também um dos filhos da guerra, não só das que utilizam armas, mas igualmente das que se travam nas favelas da miséria socioeconômica de qualquer cidade, os pais ganham valiosos reforços em suas lutas particulares de crescimento espiritual. Não só marcantes conquistas no campo da afetividade são realizadas, mas também novos amigos espirituais se apresentam para partilhar com a família suas lutas em busca da ascese íntima: os inimigos do passado, que não resistem à mudança de seus devedores, e os benfeitores espirituais dos “adotados”, que estão, por si, lutando para a melhora definitiva de seus queridos do coração.

Os laços com os rebentos de sangue e os do coração passam a ser um só. Emmanuel afirma que o filho, sendo a materialização dos sonhos dos pais, é também a obra deles na Terra. Daí, a necessidade de recebê-lo como quem encontra a oportunidade mais santa de trabalho no mundo.

Reforçando a atitude de quem resolveu acalentar nos braços os filhos de outras mães como se fossem seus, a recomendação do Espírito Meimei é de notável beleza, quando relembra que, se os nossos pequeninos trazem nas feições a perfeição dos astros, somos incenssatemente chamados a estender as mãos compassivas aos enfermos que chegam à Terra como lírios contundidos pelo granizo do sofrimento.

Esses não são apenas os doentes do corpo ou da mente, mas também aqueles que se tornaram machucados da emoção, por causa do abandono de pais inscientes de suas responsabilidades.

Segundo Meimei*, “são aves cegas que não conhecem o próprio ninho, pássaros mutilados esmolando socorro em recantos sombrios da floresta do mundo!...”

Como que enviando uma mensagem amorosa aos corações dos pais americanos, que estão vivendo a experiência da adoção, ela escreve ainda que esses outros “são nossos outros filhos do coração, que volvem das existências passadas, mendigando entendimento e carinho, a fim de que se desfaçam dos débitos contraídos consigo mesmos...”

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Enquanto escrevemos estas páginas, imaginamos o que o conhecimento da realidade espiritual sob a lente do Espiritismo poderia fazer, em termos de renovação de ânimo e de coragem, no íntimo de tantos pais desesperançados.

De imediato, chega-nos ao coração a vontade de orar por eles, pedindo-lhes que, por enquanto, não aguardem dos filhos que vieram de um mundo familiar dilacerado respostas imediatas de reconhecimento emocional.

No desejo de confortá-los, repetimos as expressões de Meimei*, quando afirma que “cada vez que lhes ofertes a hora de assistência ou a migalha de serviço, o leito agasalhante ou a lata de leite, a peça de roupa ou a carícia do talco, perceberás que o júbilo do Bem Eterno te envolve a alma no perfume da gratidão e na melodia da bênção”.

FONTE: REFORMADOR, nº2109

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