A invenção da
imprensa no Século XVI propiciou a veiculação de uma grande quantidade de
conhecimentos que até então estava adormecida. Vem à luz os escritos dos
pensadores Antigos e os da Idade Média. Esse volume de informações torna o
mundo incerto e confuso. Nesta fase crítica em que o Ser, o Mundo e o Cosmo se
desagregam, a Filosofia volta-se para o homem. P. Chacon apoia-se na fé para
salvá-lo; Francis Bacon no empirismo; Montaigne no desespero; a Escolástica no
silogismo aristotélico.
René Descartes
(1596-1650) surge dentro desse contexto histórico. O termo cartesianismo vem
dele e significa não só o método pelo qual buscava os conhecimentos, como
também os seus seguidores. As soluções propostas pelos pensadores da
Escolástica, por francis Bacon e por Montaigne não resolviam o problema íntimo
do indivíduo. Descartes rompe esse quadro, faz tábua rasa e propõe o seu
método.
As regras do
seu método são publicados no livro intitulado Discurso do Método, em 1637, considerado pelos críticos como uma
autobiografia espiritual do autor. O tiítulo original era: O Discurso do Método para bem conduzir a razão e procurar a verdade nas
ciências, mais a Dióptrica, os Meteoros e a Geometria que são os Ensaios deste
método. Suas quatro célebres regras explicitam-nos a maneira de se adquirir
a certeza da verdade. Parte da dúvida metódica e dos princípios incondicionados
da matemática. Suas teses influenciaram a maioria dos pensadores filosóficos
posteriores.
Allan Kardec
no livro A Gênese afirma que se o
Espiritismo tivesse vindo antes do desenvolvimento das Ciências, ele teria
abortado. Francis Bacon enfatiza o empirismo e descartes a razão. Os cientistas
associam experimentação e razão e constroem o método teórico-experimental. O
Espiritismo procede da mesma forma que as ciências naturais, isto é, utiliza-se
do método teórico-experimental, porém substitui a percepção sensorial pela
percepção extra-sensorial - a mediunidade.
O método
cartesiano pode ser vislumbrado nas entrelinhas da Doutrina Espírita. Allan
Kardec, em várias passagens da Codificação, fala-nos que devemos colocar tudo
sobre o crivo da razão; que é preferível rejeitar nove verdades a aceitar uma
única verdade como falsidade; que a fé inabalável somente é aquela que consegue
enfrentar a razão face a face em todas as épocas da humanidade.
Esse estudo do
cartesianismo serve não só para nos chamar a atenção sobre o tema, como também
o de sugerir o desenvolvimento e aprofundamento do mesmo. Se assim o fizermos,
vamos encontrando o verdadeiro encadeamento das idéias e uma explicação
racional da síntese filosófica elaborada por Allan Kardec.
Fonte de Consulta
KOYRE,
A. Considerações sobre Descartes. São
Paulo, Editora Presença, 1980.
PIRES,
J. H. O Espírito e o Tempo - Introdução
Antropológica do Espiritismo. 3. Ed., São Paulo, Edicel, 1979.
KARDEC,
A. O Livro dos Espíritos. São Paulo,
FEESP, 1972.
Janeiro/1993
* Publicado no “Jornal
Espírita”, maio 95, pág. 7
ARTIGOS DE SÉRGIO BIAGI
GREGÓRIO
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