Natal e Espiritismo
Sérgio
Biagi Gregório
SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Conceito. 3. Histórico. 4.
Nascimento de Jesus: 4.1. A Manjedoura; 4.2. Anúncio Profético; 4.3. Uma Nova
Luz. 5. A Simbologia do Natal: 5.1. Papai Noel; 5.2. O Espírito do Natal; 5.3. Numa
Véspera de Natal. 6. A Mensagem do Cristo através do Espiritismo: 6.1. Um
Conquistador Diferente; 6.2. O Espiritismo como Revivescência do Cristianismo;
6.3. Festa de Natal para os Espíritas. 7. Conclusão. 8. Bibliografia
Consultada.
1.
INTRODUÇÃO
De onde
vem o termo Natal? Por que 25 de dezembro? Desde quando se comemora nesta data?
Qual o espírito do Natal? Qual o significado dos presentes, das árvores e do
Papai Noel? Tencionamos desenvolver este assunto analisando o nascimento de
Cristo, o espírito natalício e os subsídios oferecidos pelo Espiritismo, para
uma melhor interpretação da sua simbologia.
2.
CONCEITO
Natal - Do latim natale significa nascimento. Dia
em que se comemora o nascimento de Cristo (25 de dezembro).
3.
HISTÓRICO
As
Igrejas orientais, desde o século IV, celebravam a Epifania (“aparição” ou
“manifestação”), em 6 de janeiro, cujo simbolismo referia-se ao mistério da
vinda ao mundo do Verbo Divino feito homem. Em Roma, desde o tempo do Imperador
Aureliano (274), o dia 25 de dezembro (solstício de Inverno, no calendário
Juliano) era consagrado ao Natalis Solis Invicti, festa mitríaca do
“renascimento” do Sol. A Igreja romana não tardou em contrapor-lhe a festa
cristã do Natale de Cristo, o verdadeiro “sol de justiça”. Esta festa
pronto se estendeu por todo o Ocidente, não tardando também em ser adotada por
todas as igrejas orientais. (Enciclopédia luso-Brasileira de Cultura)
O
nascimento de Cristo sempre esteve envolvido em controvérsias. Para uns, seria
1.º de janeiro; para outros, 6 de janeiro, 25 de março e 20 de maio. Pelas
observações dos chineses, o Natal seria em março, que foi quando um cometa, tal
qual a estrela de Belém, reluziu na noite asiática no ano 5 d.C. Como data
festiva, é um arranjo inventado pela Igreja e enriquecida através dos tempos
pela incorporação de hábitos e costumes de várias culturas: a árvore natalina é
contribuição alemã (século VIII); o Papai Noel (vulgo São Nicolau) nasceu na
Turquia (século IV); os cartões de natal surgiram na Inglaterra, em meados do século
XIX. (Estado de São Paulo, p. D3)
4.
NASCIMENTO DE JESUS
4.1. A
MANJEDOURA
Conta-se
que Jesus nascera numa manjedoura, rodeado de animais. Um monge diz que isso
não é verdade, pois como a casa de José era pequena para abrigar toda a sua
família, o novo rebento deu-se no estábulo. Em termos simbólicos, a manjedoura
revela o caráter humilde e simples daquele que seria o maior revolucionário de
todos os tempos, sem que precisasse escrever uma única palavra. Os exemplos de
sua simplicidade devem nortear os nossos passos nos dias que correm. De nada
adianta dizermo-nos adeptos de Cristo e agirmos de modo contrário aos seus
ensinamentos.
4.2.
ANÚNCIO PROFÉTICO
O
nascimento de Jesus fora anunciado pelos profetas da antiguidade, nos seguintes
termos: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado
pelo nome de Emanuel (que quer dizer: Deus convosco)”. Na época predita veio ao
mundo o arauto, o Salvador, aquele que tiraria os “pecados” do mundo. Os
judeus, contudo, não entenderam a grande mensagem do Salvador: esperavam-no na
condição de rei, de governador. Ele, porém, dizia ser rei, mas não deste mundo.
Enaltecendo a continuidade desta vida, vislumbrava-nos a expectativa da vida
futura, muito mais proveitosa e sem as dificuldades materiais da vida presente.
4.3. UMA
NOVA LUZ
O
nascimento de Jesus coincide com a percepção de uma nova luz para a humanidade
sofredora. Os ensinamentos de Jesus devem servir para transformar não apenas um
homem, mas toda a Humanidade. Numa simples visão de conjunto, observamos o que
era planeta antes e no que se transformou depois de sua vinda. O Espírito
Emmanuel, em Roteiro, diz-nos que antes de Cristo, a educação
demorava-se em lamentável pobreza, o cativeiro era consagrado por lei, a mulher
aviltada qual alimária, os pais podiam vender os filhos etc. Com Jesus,
entretanto, começa uma era nova para o sentimento. Iluminados pela Divina
influência, os discípulos do Mestre consagram-se ao serviço dos semelhantes;
Simão Pedro e os companheiros dedicam-se aos doentes e infortunados;
instituem-se casas de socorro para os necessitados e escolas de evangelização
para o espírito popular etc. (Xavier, 1980, cap. 21)
5. A
SIMBOLOGIA DO NATAL
5.1.
PAPAI NOEL
Papai
Noel, símbolo do Natal, é usado pelos comerciantes, a fim de incrementar as
vendas dos seus produtos no final de cada ano. O espírito do natal, segundo a
propaganda, está relacionado com a fartura da mesa, a quantidade de brinquedos
e outros produtos que o consumidor possa ter em seu lar. À semelhança dos reflexos
condicionados, estudados por Pavlov, há repetição, intensidade e clareza
dos estímulos à compra, dando-nos a entender que estamos comemorando o
renascimento de Cristo. Se não prestarmos atenção, cairemos na armadilha do
consumismo exacerbado, dificultando a meditação e a reflexão durante esta data
tão especial para a Humanidade.
5.2. O
ESPÍRITO DO NATAL
O
espírito do Natal deve ser entendido como a revivescência dos ensinos de Cristo
em cada uma de nossas ações. Não há necessidade de esperarmos o ano todo para
comemorá-lo. Se em nosso dia-a-dia estivermos estendendo simpatia para com
todos e distribuindo os excessos de que somos portadores, estaremos aplicando
eficazmente a “Boa-Nova” trazida pelo mestre Jesus. “Não se pode servir a Deus
e a Mamon”. A perfeição moral exige distinção entre espírito e matéria. A
riqueza existe para auxiliar o homem no seu aperfeiçoamento espiritual. Se lhe
dermos demasiado valor, poderemos obscurecer nossa iluminação interior. Útil se
torna, assim, conscientizarmo-nos de que somos usufrutuários e não
proprietários dos bens terrenos.
5.3. NUMA
VÉSPERA DE NATAL
Conta-nos
o Espírito Irmão X que Emiliano Jardim, cujas noções materialistas
estragavam-lhe os pensamentos, viera a sofrer uma dor de paternidade, ao ver o
seu filho arrebatado pela morte. Abatido pela dor, começa a se interessar pelo
Catolicismo. Porém, repelia veemente todos os que pensavam de forma diferente a
respeito do Cristo. Do Catolicismo passa para o Protestantismo, mas sem que o
Mestre penetrasse no seu interior. Depois de longa luta, Emiliano sente-se
insatisfeito e ingressa nos arraiais espiritistas. Emiliano, como acontece à
maioria dos crentes, vislumbra a verdade dos ensinamentos de Jesus, anseia por
vê-lo nos outros homens, antes de senti-lo em si mesmo.
Com o
passar do tempo, teve outros revezes.
Numa
véspera de Natal, em que o ambiente festivo lhe falava da ventura destruída do
coração, Emiliano quis por termo à própria vida.
Na hora
amargurada em que o mísero se dispunha a agravar as próprias angústias, uma voz
se fez ouvir no recôndito de seu espírito:
“—
Emiliano, há quanto tempo eu buscava encontrar-te; mas sempre me chamavas
através dos outros, sem jamais me procurar em ti mesmo! Dá-me tua dor, reclina
a cabeça cansada sobre o meu coração!... Muitas vezes, o meu poder opera na
fraqueza humana. Raramente meus discípulos gozam o encontro divino, fora das
câmeras do sofrimento. Quase sempre é necessário que percam tudo, a fim de me
acharem em si mesmos”.
Emiliano
estava inebriado. E a voz continuou:
“— Volta
ao esforço diário e não esqueças que estarei com os meus discípulos sinceros
até ao fim dos séculos! Acaso poderias admitir que permaneço em beatitude
inerte, quando meus amigos se dilaceram pela vitória de minha causa? Não posso
estacionar em vãs disputas, nem nas estéreis lamentações, porque necessitamos
cuidar do amoroso esclarecimento das almas. É por isso que estou, mais
freqüentemente, onde estejam os corações quebrantados e os que já tenham
compreendido a grandeza do espírito de serviço. Não te rebeles contra o
sofrimento que purifica, aprende a deixar os bonecos a quantos ainda não
puderam atravessar as fronteiras da infância. Não analises nunca, sem amar.
Lembra-te de que quando criticares teu irmão, também eu sou criticado. Ainda
não terminei minha obra terrestre, Emiliano! Ajuda-me, compreendendo a grandeza
do seu objetivo e entendendo a fragilidade dos teus irmãos”. (Xavier, 1982, p.
40)
6. A
MENSAGEM DO CRISTO ATRAVÉS DO ESPIRITISMO
6.1. UM
CONQUISTADOR DIFERENTE
A
história está repleta de conquistadores: Sesóstris, em seu carro triunfal,
pisando escravos e vencidos, em nome do Egito sábio; Nabucodonosor, arrasando
Nínive e atacando Jerusalém; Alexandre, à maneira de privilegiado, passa
esmagando cidades e multidões; Napoleão Bonaparte, atacando os povos vizinhos.
A maioria desses homens fizeram as suas conquistas à custa de punhal e veneno,
perseguição e força, usando exército e prisões, assassínio e tortura.
“Tu,
entretanto, perdoando e amando, levantando e curando, modificaste a obra de
todos os déspotas e legisladores que procediam do Egito e da Assíria, da Judéia
e da Fenícia, da Grécia e de Roma, renovando o mundo inteiro. Não mobilizaste
soldados, mas ensinaste a um punhado de homens valorosos a luminosa ciência do
sacrifício e do amor. Não argumentaste com os reis e com os filósofos;
entretanto, conversaste fraternalmente com algumas crianças e mulheres
humildes, semeando a compreensão superior da vida no coração popular”. (Xavier,
1978, cap. 49, p. 261)
6.2. O
ESPIRITISMO COMO REVIVESCÊNCIA DO CRISTIANISMO
De acordo
com os princípios doutrinários do Espiritismo, Jesus foi o personificador da
segunda revelação da lei de deus, pois a primeira viera com Moisés, no monte
Sinai, onde recebera a tábua dos Dez Mandamentos. Como Moisés misturou a lei
humana com a lei divina, Jesus veio para retificar o que de errado havia, como
é o caso de transformar a lei do “olho por olho” e a do “dente por dente” na
lei do amor e do perdão. A sua pregação da boa nova veio ensinar ao homem a lei
de causa e efeito e da justiça divina, quer seja nesta ou na outra vida, ou
seja, a vida futura. Allan Kardec, com o auxílio dos Espíritos
superiores, deu continuidade a esta grande obra de elucidação dos
caminhos da evolução.
6.3.
FESTA DE NATAL PARA OS ESPÍRITAS
Na noite
em que o mundo cristão festeja a Natividade do Menino Jesus, os espíritas devem
se lembrar de comemorar o nascimento da Doutrina Espírita, entendida como a
terceira revelação, um novo marco no desenvolvimento espiritual da humanidade,
em que todos os problemas, todas as dúvidas, todas as dores serão explicadas à
luz da razão e do bom senso. Dentro deste contexto, a lei da reencarnação é um
dos princípios fundamentais para o perfeito entendimento do sofrimento e da
dor. De acordo com a reencarnação ou a diversidade das vidas sucessivas, temos
condições de melhor vislumbrar o nosso futuro, que nada mais é do que uma
continuidade daquilo que estivermos fazendo nesta vida. Optando pela prática do
bem, teremos uma vida futura feliz; escolhendo o mal, teremos que sofrer as
suas conseqüências, no sentido de nos adaptarmos à lei do progresso, que é
inexorável.
7.
CONCLUSÃO
Jesus,
através de seus emissários, está sempre falando conosco, no sentido de nos
incentivar a amar cada vez mais o nosso próximo, independentemente de como este
esteja nos tratando. Pergunta-se: que vantagem há em amarmos os que nos amam?
8.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
ENCICLOPÉDIA
LUSO-BRASILEIRA DE CULTURA. Lisboa: Verbo, [s. d. p.]
ESTADO DE
SÃO PAULO. 21/12/1996
XAVIER,
F. C. Roteiro, pelo Espírito Emmanuel. 5. ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980.
XAVIER,
F. C. Reportagens de Além-Túmulo, pelo Espírito Irmão X. 6. ed., Rio de
Janeiro: FEB, 1982.
XAVIER,
F. C. Pontos e Contos, pelo Espírito Irmão X. 4. ed., Rio de Janeiro:
FEB, 1978.
São
Paulo, dezembro de 1999.
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