CONVERSÃO E ESPIRITISMO
A palavra
conversão, segundo a communis opinio, é termo e conceito com caráter
predominantemente (embora não exclusivamente) religioso, sobretudo cristão. Na
verdade, o termo “con-versão” tem sua origem na filosofia platônica, especificamente
no livro VII da República, indicando
os seus pressupostos de modo preciso. Para Platão, a “conversão” (periagoghe), no sentido original, é a
essência da educação. É um volver ou faze girar “toda a alma” para a luz da
idéia do bem, que é a origem de tudo.
O
deslocamento da palavra para a experiência cristã da fé processa-se com base no
platonismo dos antigos cristãos. A partir daí, tomou corpo e, através do uso
constante, acabou por ser agregado à sua terminologia. A conversão dogmática se
faz através do proselitismo, que é alcançar um número sempre crescente de
participantes. Prometendo a salvação, coloca em prática os diversos dogmas, os
sacramentos e os rituais, no sentido de livrar o crente do pecado do mundo e
inseri-lo nas bem-aventuranças, apregoadas por Jesus Cristo.
Allan Kardec,
o codificador do Espiritismo, combate sistematicamente o proselitismo, pois
advoga a liberdade de culto para toda e qualquer pessoa. O Espírito Emmanuel
assim se expressa “os agrupamentos religiosos no mundo permanecem, quase
sempre, preocupados pelas conversões alheias. Os crentes mais entusiastas
anseiam por transformar as concepções dos amigos. Em vista disso, em toda a
parte somos defrontados por irmãos aflitos pela dilatação do proselitismo em
seus círculos de estudo”. Lembremo-nos de que o Espiritismo não é uma questão
de números, mas de essência.
Se o
Espiritismo não é uma questão de números, como entender a conversão?
Primeiramente, o neófito defronta-se com a necessidade de atender aos anseios
de sua alma imortal, anseios estes que não foram devidamente solucionados por
outras filosofias ou credos religiosos. Depois, a conversão se processa através
de volver-se constante para dentro de si mesmo, à semelhança do que fazia Santo
Agostinho, em que toda a noite passava em revista o seu dia para verificar como
foram os seus pensamentos, palavras e atos.
O espiritista
sincero é aquele que procura identificar-se com a lei natural, expressando-se
de acordo com a idéia do bem, que é resumida por Jesus nos seguintes termos:
“Fazer aos outros o que gostaria que nos fosse feito”. A identificação
pressupõe renovação de atitudes mentais, no sentido de combater o pessimismo
crônico, a fadiga, a ociosidade, as reclamações, o egoísmo e o orgulho. Apesar
das dificuldades inerentes ao processo de evolução da sua alma, ele espera
sempre um novo amanhã, cheio de paz, harmonia e serenidade.
Convertamo-nos
amorosamente ao reino de Deus. Não esperemos que os acicates da vida nos
obriguem a isso. Acione a nossa boa vontade a cada manhã, e deixemos tudo o
mais por conta da Divina Providência.
ARTIGOS DE SÉRGIO BIAGI
GREGÓRIO
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