Céu inferno_076_2a. parte cap. VII -
Espíritos Endurecidos - Agèle, nulidade sobre a Terra
TEXTO PARA ESTUDO
ANGÈLE, nulidade sobre a Terra (Bordéus,
1862)
Com este nome, um Espírito se apresentou
espontaneamente ao médium.
1. - Arrependei-vos das vossas faltas?
R. Não.
- P. Então por que me procurais?
R. Para experimentar.
P. Acaso não sois feliz?
R. Não.
- P. Sofreis?
R. Não.
P. Que vos falta, pois?
R. A paz.
Nota - Certos Espíritos só consideram
sofrimento o que lhes lembra as suas dores físicas, convindo, não obstante, ser
intolerável o seu estado moral.
2. - Como pode faltar-vos a paz na vida
espiritual?
R. Uma mágoa do passado.
P. A mágoa do passado é remorso; estareis,
pois, arrependida?
R. Não; temor do futuro é o que experimento.
P. Que temeis?
R. O desconhecido.
3. - Estais disposta a dizer-me o que
fizestes na última encarnação? Isso talvez me facilite a orientar-vos.
R. Nada.
4. - Qual a vossa posição social?
R. Mediana.
P. Fostes casada?
R. Sim; fui esposa e mãe.
P. E cumpristes zelosa os deveres
decorrentes desse duplo encargo?
R. Não; meu marido entediava-me, bem como
meus filhos.
5. - E de que modo preenchestes a
existência?
R. Divertindo-me em solteira e enfadando-me
como mulher.
P. Quais eram as vossas ocupações?
R. Nenhuma.
P. E quem cuidava da vossa casa?
R. A criada.
6. - Não será cabível atribuir a essa
inércia a causa dos vossos pesares e temores?
R. Talvez tenhais razão. Mas não basta
concordar.
P. Quereis reparar a inutilidade dessa
existência e auxiliar os Espíritos sofredores que nos cercam?
R. Como?
P. Ajudando-os a aperfeiçoarem-se pelos
vossos conselhos e pelas vossas preces.
R. Eu não sei orar.
P. Fá-lo-emos juntos e aprendereis. Sim?
R. Não.
P. Mas por quê?
R. Cansa.
Instruções do guia do médium
Damos-te instrução, facultando-te o
conhecimento prático dos diversos estados de sofrimento, bem como da situação
dos Espíritos condenados à expiação das próprias faltas.
Angèle era uma dessas criaturas sem
iniciativa, cuja existência é tão inútil a si como ao próximo. Amando apenas o
prazer, incapaz de procurar no estudo, no cumprimento dos deveres domésticos e
sociais as únicas satisfações do coração, que fazem o encanto da vida, porque
são de todas as épocas, ela não pôde empregar a juventude senão em distrações
frívolas; e quando deveres mais sérios se lhe impuseram, já o mundo se lhe
havia feito um vácuo, porque vazio também estava o seu coração. Sem faltas
graves, mas também sem méritos, ela fez a infelicidade do marido, comprometendo
pela sua incúria e desleixo o futuro dos próprios filhos.
Deturpou-lhes o coração e os sentimentos, já
por seu exemplo, já pelo abandono em que os deixou, entregues a fâmulos, que
ela nem sequer se dava ao trabalho de escolher. A sua existência foi improfícua
e, por isso mesmo, culposa, visto que o mal é oriundo da negligência do bem.
Ficai bem certos de que não basta abstervos de faltas: é preciso praticar as
virtudes que lhes são opostas.
Estudai os ensinamentos do Senhor;
meditai-os e compenetrai-vos de que eles, se vos fazem estacar na senda do mal,
também vos impõem voltar atrás, a fim de tomardes o caminho oposto que conduz
ao bem. O mal é a antítese do bem; logo, quem quiser evitar o primeiro deve
seguir o segundo, sem o qual a vida se torna nula, mortas as suas obras, e
Deus, nosso pai, não é o Deus dos mortos, mas dos vivos.
- P. Ser-me-á permitido saber qual teria
sido a penúltima existência de Angèle?
A última deveria ter sido conseqüência dela,
isto é, da penúltima.
- R. Ela viveu na indolência beatífica, na
inutilidade da vida monástica. Preguiçosa e egoísta por gosto, quis
experimentar
a vida doméstica, mas seu Espírito pouco
progrediu.
Sempre repeliu a voz íntima que lhe apontava
o perigo, e, como a propensão era suave, preferiu abandonar-se a ela, a fazer
um esforço para sustá-la em começo.
Hoje ainda compreende o perigo dessa
neutralidade, mas não se sente com forças para tentar o mínimo esforço. Orai
por ela, procurai despertá-la e fazer que seus olhos se abram à luz. É um
dever, e dever algum se despreza.
O homem foi criado para a atividade; a
atividade do Espírito é da sua própria essência; e a do corpo, uma necessidade.
Cumpri, portanto, as prescrições da
existência, como Espírito votado à paz eterna. A serviço do Espírito, o corpo
mais não é que máquina submetida à inteligência: trabalhai, cultivai, portanto,
a inteligência, para que dê salutar impulso ao instrumento que deve auxiliá-la
no cumprimento de sua missão. Não lhe concedais tréguas nem repouso, tendo em
mente que essa paz a que aspirais não vos será concedida senão pelo trabalho.
Assim, quanto mais protelardes este, tanto mais durará para vós a ansiedade de
espera.
Trabalhai, trabalhai incessantemente; cumpri
todos os deveres sem exceção, isto com zelo, com coragem, com perseverança.
A fé vos alentará. Todo aquele que
desempenha conscientemente o papel mais ingrato e vil da vossa sociedade, é cem
vezes mais elevado aos olhos do Onipotente do que aquele que, impondo esse
papel aos outros, despreza o seu.
Tudo é degrau que dá acesso ao céu: não
quebreis a lápide sob os pés e contai com o concurso de amigos que vos estendem
a mão, sustentáculos que são dos que vão haurir suas forças na crença do
Senhor.
Monod.
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1 .Por que o trabalho é tão importante ao
espírito?
2.Em que consiste a Lei do Trabalho?
Consulta recomendada: Livro dos Espíritos,
parte 3 - Das Leis Morais
Conclusão:
1. Em se tratando do espírito encarnado ou
desencarnado, a Lei funciona de igual modo, o que muda é o relativo ao corpo
físico quando somos novamente apenas espíritos, ou seja, a ociosidade, tanto
aqui na Terra, como na espirtualidade, é contrária à Lei de Deus:
"O trabalho é lei da Natureza, por isso
mesmo que constitui uma necessidade, e a civilização obriga o homem a trabalhar
mais, porque lhe aumenta as necessidades e os gozos." (O Livro dos
Espíritos, Allan Kardec, questão 674.)
"Com efeito, o homem tem por missão
trabalhar pela melhoria material do planeta. Cabe-lhe desobstruí-lo, saneá-lo,
dispô-lo para receber um dia toda a população que a sua extensão comporta. Para
alimentar essa população que cresce incessantemente, preciso se faz aumentar a
produção. Se a produção de um país é insuficiente, será necessário buscá-la
fora. Por isso mesmo, as relações entre os povos constituem uma necessidade. A
fim de mais as facilitar, cumpre sejam destruídos os obstáculos materiais que
os separam e tornadas mais rápidas as comunicações. Para trabalhos que são obra
dos séculos, teve o homem de extrair os materiais até das entranhas da terra;
procurou na Ciência os meios de os executar com maior segurança e rapidez. Mas,
para os levar a efeito, precisa de recursos: a necessidade fê-lo criar a
riqueza, como o fez descobrir a Ciência. A atividade que esses mesmos trabalhos
impõem lhe amplia e desenvolve a inteligência, e essa inteligência que se
concentra, primeiro, na satisfação das necessidades materiais, o ajudará mais
tarde a compreender as grandes verdades morais. Sendo a riqueza o meio
primordial de execução, sem ela não mais grandes trabalhos, nem atividade, nem
estimulante, nem pesquisas. Com razão, pois, é a riqueza considerada elemento
de progresso." (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec, cap. XVI,
item 7.)
2. DA LEI DO TRABALHO
A necessidade do trabalho é lei da natureza,
isto é, é intrínseco no homem ter que trabalhar, para desenvolver o seu
potencial intelectual e moral. Tanto é trabalho o do corpo quanto o da
inteligência e, como resultado, temos uma aplicação moral desse trabalho,
revertendo para o próprio indivíduo e para aqueles que o cercam, aumentando o
seu patrimônio material e espiritual, do qual deve usufruir para a sua
felicidade.
Enquanto o trabalho animal é puramente
instintivo e condicionado, o do homem é racional e criativo, permitindo-lhe
desenvolver os seus potenciais divinos, pois não visa apenas a conservação do
corpo e os bens materiais. O homem evoluído faz do trabalho um meio para
atingir os seus fins espirituais de socialização.
O trabalho existe em função das necessidades
que, quanto menos materiais forem mais, inclinam o homem para um trabalho menos
penoso sob o ponto de vista físico. As necessidades materiais exigem um
trabalho material, as espirituais um espiritual.
Quanto mais meios o homem possui para a sua
manutenção e sustento mais obrigação moral tem de ser útil aos semelhantes,
pois usar o que possui só para o seu gozo, caracteriza-o como egoísta e
involuído. A posse de bens que extrapolem as suas necessidades obriga-o a ser
útil aos semelhantes, sob pena de converter-se num entrave para o progresso
moral e social do meio e da sociedade em que vive, podendo, de futuro,
encontrar-se impossibilitado de desenvolver uma função voluntariamente
desprezada, tendo que viver às expensas do trabalho alheio, sofrendo o peso dos
limites que ele mesmo procurou.
Na sociedade atual, o trabalho dos pais a
favor dos filhos (de uma maneira geral de uma geração anterior para uma
sucessora) deve receber, como recíproca, uma ação de ajuda mútua, estabelecendo
uma cadeia natural de trocas, que estabilize a sociedade. O mais velho ajudando
a criança a ser adulta; esta, alcançando a maturidade e o seu mais alto
potencial produtivo, deverá ajudar e amparar os que por ela tanto fizeram, e
voltar-se também para as novas gerações, que precisam de ajuda e exemplos, e
assim sucessivamente.
LIMITE DO TRABALHO – REPOUSO
O repouso, além de ter um papel na reparação
das energias físicas, também serve como elemento importante na indução do
espírito a procurar a liberdade da inteligência, alcançando a vertente da
criatividade, fugindo, assim, do estreito anel das condições reflexas e
limitantes de um trabalho rotineiro.
O limite do trabalho é o das forças e todo o
abuso que se cometa será considerado suicídio indireto, se for autonomamente
imposto pelo próprio interessado, ou escravidão vil, se da responsabilidade de
um terceiro. Tanto uma como a outra atitude configuram uma transgressão da lei
de Deus.
Num meio social que leva em conta a lei de
produção e consumo uma faixa etária nova é responsável pelo trabalho que
assegura o bem-estar dos mais velhos, que já não podem produzir, mas que têm o
direito de viver e gozar dignamente a sua velhice, e também é responsável pela
educação dos mais novos, que se prepararam para contribuir a favor da sociedade
e do mundo. Por isso é que a lei da reprodução é importante na anutenção deste
fluxo interminável, do qual são geradas as sociedades e a própria humanidade.
(fonte: Portal do espírito)
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