Céu inferno_081_2ª parte cap. VIII - Expiações
terrestres- Szymel Alizgol
Este não passou de um pobre israelita de
Vilna, falecido em maio de 1865.
Durante 30 anos mendigou com uma salva nas
mãos. Por toda a cidade era bem conhecida aquela voz que dizia:
"Lembrai-vos dos pobres, das viúvas e dos órfãos!"
Por essa longa peregrinação Slizgol havia
juntado 90.000 rublos, não guardando, porém, para si um só copeque. Aliviava e
curava os enfermos; pagava o ensino de crianças pobres; distribuía aos
necessitados a comida que lhe davam.
(...)
Sociedade de Paris, 15 de junho de 1865
Evocação: Excessivamente feliz, chegado,
enfim, à plenitude do que mais ambicionava e bem caro paguei, aqui estou, entre
vós, desde o cair da noite.
Agradecido, pelo interesse que vos desperta
o Espírito do pobre mendigo, que, com satisfação, vai procurar responder às
vossas perguntas.
- P. Uma carta de Vilna nos deu
conhecimento das particularidades mais notáveis da vossa existência, e da
simpatia que tais particularidades nos inspiram nasceu o desejo de nos
comunicar convosco. Agradecemos a vossa presença, e, uma vez que quereis
responder-nos, principiaremos por vos assegurar que mui felizes seremos se,
para nossa orientação, pudermos conhecer a vossa posição espiritual, bem como
as causas que determinaram o gênero de vida que tivestes na última encarnação.
- R. (...) Visto que disponho de liberdade,
vou, portanto, dizer-vos, o mais laconicamente possível, quais as causas
determinantes da minha última existência.
Faz muitos séculos, vivia eu com o título
de rei, ou, pelo menos, de príncipe soberano. Dentro da esfera do meu poder
relativamente limitado, em confronto com os atuais Estados, era eu, no entanto,
absoluto senhor dos meus vassalos, como dos seus destinos, e governava-os
tiranicamente, ou antes digamos o próprio termo como algoz.
(...)
Como Espírito, permaneci na erraticidade
durante três e meio séculos, e, quando ao fim desse tempo compreendi que a
razão de ser da reencarnação era inteiramente outra que não a seguida por meus
grosseiros sentidos, obtive à força de preces, de resignação e de pesares a
permissão de suportar materialmente os mesmos sofrimentos que infligira, e mais
profundamente sensíveis que os por mim ocasionados. Obtida a permissão, Deus
concedeu que por meu livre-arbítrio aumentasse os sofrimentos físicos e morais.
Graças à assistência dos bons Espíritos, persisti na prática do bem, e sou-lhes
agradecido por me terem impedido de sucumbir sob o fardo que tomara.
Finalmente, preenchi uma existência de abnegação e caridade, que por si
resgatou as faltas de outra, cruel e injusta. Nascido de pais pobres e cedo
orfanado, aprendi a ganhar o pão numa idade em que muitos consideram incapaz o
raciocínio.
Vivi sozinho, sem amor, sem afeições, e
desde o princípio suportei as brutalidades que para com outros havia exercido.
(...)
Desencarnei calmamente, confiando no valor
da minha reparação, e sou premiado muito mais do que poderiam ter cogitado as
minhas secretas aspirações. Hoje sou feliz, felicíssimo, podendo afirmar-vos
que todos quantos se elevam serão humilhados, como elevados serão todos quantos
se humilharem.
(...)
Carrasco que fui de todos os bons
sentimentos, fiquei por muito, por longo tempo preso pelo perispírito ao corpo
em decomposição. Até que esta se completasse, vime corroído pelos vermes - o
que muito me torturava! e quando me vi liberto das peias que me prendiam ao
instrumento do suplício, mais cruel suplício me esperava!... Depois do
sofrimento físico, o sofrimento moral muito mais longo. Fui colocado em
presença de todas as minhas vítimas. Periodicamente, constrangido por uma força
superior, era eu levado a rever o quadro vivo dos meus crimes. E via física e
moralmente todas as dores que a outrem fizera sofrer! Ah! meus amigos, que
terrível é a visão constante daqueles a quem fizemos mal! Entre vós, tendes
apenas um fraco exemplo no confronto do acusado com a sua vítima. Aí tendes, em
resumo, o que sofri durante três e meio séculos, até que Deus, compadecido da
minha dor e tocado pelo meu arrependimento, solicitado pelos que me assistiam,
permitisse a vida de expiação que conheceis.
(...) A religião de Israel era uma pequena
humilhação a mais na minha prova, visto como em certos países a maioria dos
encarnados menosprezam os judeus, e principalmente os judeus mendicantes.
(...)
Durante os 60 e alguns anos dessa
peregrinação terrena, nunca deixei de atender à tarefa que me impusera. Também
jamais a consciência me fez sentir que causas anteriores à existência fossem o
móbil do meu proceder. Um dia somente, e antes de começar a pedir, ouvi estas
palavras: "Não façais a outrem o que não quiserdes que vos façam."
Surpreendido pelos princípios gerais de
moralidade contidos nessas poucas palavras, muitas vezes parecia-me ouvi-las
acrescidas com estas outras: - "Mas fazei, ao contrário, o que quiserdes
que vos façam." Tendo por auxiliares a lembrança de minha mãe e dos meus
próprios sofrimentos, continuei a trilhar uma senda que a minha consciência
dizia ser boa.
Vou terminar esta longa comunicação,
dizendo: - Obrigado!
Imperfeito ainda, sei, contudo, que o mal
só acarreta o mal, e de novo, como já o fiz, dedicar-me-ei ao bem para alcançar
a felicidade.
Szymel Slizgol.
QUESTÃO PARA DEBATE E ESTUDO
Explique com suas próprias palavras o que
entende dessas duas assertivas retiradas do texto:
a) “... todos quantos se elevam serão
humilhados, como elevados serão todos quantos se humilharem";
b) "Não façais a outrem o que não
quiserdes que vos façam. Mas fazei, ao contrário, o que quiserdes que vos
façam".
Conclusão:
Explique com suas próprias palavras o que
entende dessas duas assertivas retiradas do texto:
a) "...todos quantos se elevam serão
humilhados, como elevados serão todos quantos se humilharem";
Esta assertiva faz referência ao orgulho,
este mal moral do qual ainda padecemos em grande escala e que trava a nossa
evolução, o qual somente é revertido quando aprendemos a viver com abnegação e
caridade, como viveu Szymel na sua última encarnação, na qual foi possível
reverter suas ações negativas do passado.
b) "Não façais a outrem o que não
quiserdes que vos façam. Mas fazei, ao contrário, o que quiserdes que vos
façam".
Aqui é evidenciado o ensinamento evangélico
de que não adianta nada, ou seja, não se cresce moralmente apenas não fazendo o
mal - que não queremos para nós - mas sim devemos, além disso, praticar o bem,
fazer ao outro o que queremos que seja feito para nós.
Se levarmos em conta que toda ação leva a
uma reação contrária do mesmo teor e de igual intensidade, pode-se inferir que
apenas não praticando o mal, nenhuma reação enseja, pois nenhuma ação foi
realizada; por outro lado, o bem que praticarmos, além de melhorar nosso
semelhante, melhora o "ar" do nosso planeta pela boa vibração e
também nos melhora pela reação contrária de igual benefício.
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