Entre a
Terra e o Céu_27_Preparando a volta
TRECHOS DO CAPÍTULO
"Quatro semanas correram céleres, quando
fomos realmente procurados por Odila, no Templo do Socorro, para um entendimento
particular.
Clarêncio, Hilário e eu recebemo-la quase sem
surpresa.
Vinha algo triste e preocupada.
Com respeitosa delicadeza, contou-nos a
experiência inquietante que atravessava.
Júlio prosseguia apresentando na fenda
glótica a mesma ferida. Instalara-se com ele em aposentos adequados
na Escola das Mães e ao filhinho dispensava todo o cuidado suscetível de
reerguer-lhe as energias, entretanto, a luta continuava... Recursos
medicamentosos e passes magnéticos não faltavam, contudo, não surtiam efeito.
Daria tudo para vê-lo feliz.
Esperava a descoberta de algum milagre, capaz
de atender-lhe o anseio de mãe, no entanto, visitara em companhia de Blandina
outros setores de assistência à infância torturada;
vira inúmeras crianças infelizes, portadoras de problemas
talvez mais dolorosos que aqueles do filhinho bem-amado.
Apavorara-se.
Jamais supusera a existência de tantas
enfermidades depois da morte.
Tentara obter os bons ofícios de vários
amigos, para esclarecer-se convenientemente, e todos, à uma, repetiam sempre
que os compromissos morais adquiridos conscientemente
na carne somente na carne deveriam
ser resolvidos, e que, por isso mesmo, a reencarnação para Júlio era o
único caminho a seguir.
O corpo físico funcionaria como abafador da
moléstia da alma, sanando-a, pouco a pouco.
"- Perfeitamente, atalhou o Ministro,
completando-lhe a frase - estou certo de que Amaro continuará sendo para
o menino um admirável companheiro, entretanto, não podemos dispensar no
cometimento o concurso de Zulmira.
Precisamos dela no trabalho maternal. Para
isso, é imprescindível te faças mais devotada, mais amiga... Um esforço pede
outro. Sem o lubrificante da cooperação, a máquina da vida não funciona.
. . .
- Devo buscar alguma regra específica?
- Creio - ponderou o nosso orientador - que
as tuas visitas afetuosas ao antigo lar, consolidando-lhe a harmonia, são providência
básica para que Júlio encontre um clima de confiança. Admito que o nosso
pequeno reclama especiais atenções, considerando-se-lhe a posição de enfermo,
para quem a reencarnação apresenta obstáculos justos.
"A reencarnação como lei exigia o
concurso da amizade para cumprir-se? os desafetos da vida influíam em nosso futuro?
o trabalho reencarnatório não seria uma imposição natural?
Clarêncio ouviu atencioso, as indagações e
respondeu, satisfeito:
- A lei é sempre a lei. Cabe-nos tão somente
respeitá-la e cumpri-la. Nossa atitude, porém, pode favorecer-lhe
ou contrariar-lhe o curso, em favor ou em prejuízo de nós mesmos. O
renascimento na carne funciona em condições idênticas para
todos, contudo, à medida que se nos desenvolvem o conhecimento e o amor,
conseguimos colaborar em todos os serviços do aperfeiçoamento moral em nossas
recapitulações. A alma, como a planta, pode ressurgir em qualquer trato de
solo, mas não seria justo relegar sementes selecionadas a terrenos incultos. A
reencarnação, por si, tanto quanto ocorre nos reinos inferiores à evolução
humana, obedece a princípios embriogênicos automáticos, com bases na sintonia
magnética; contudo, em se tratando de criaturas com alguns passos à
frente da multidão comum, é possível ajustar providências que
favoreçam a execução da tarefa a cumprir. Nesses casos, a plantação de simpatia
é fator decisivo na obtenção dos recursos de que necessitamos...
"Em noite próxima, Odila conduziria a
segunda esposa de Amaro ao encontro de Júlio, como derradeira preliminar do
trabalho reencarnatório.
No momento aprazado, achávamo-nos a postos.
. . .
Enlaçada pelos braços das duas protetoras, a ex-obsediada
parecia feliz, não obstante a impressão de medo e insegurança
que lhe transparecia do olhar.
Respondeu-nos as saudações com a estranheza
de quase todos os encarnados que alcançam as esferas superiores da vida
espiritual, antes da morte física, e, logo após, sustentada pelas
companheiras, aproximou-se do pequeno enfermo,
identificando-o, espantada.
- Será Júlio, meu Deus?
- É verdadeiramente Júlio! - confirmou Odila,
fraternal - para ele te rogamos socorro! Nosso pequeno precisa renascer, Zulmira!
Poderás auxiliá-lo, oferecendo-lhe o regaço de mãe?
. . .
- Estou pronta! Devo a Júlio cuidados que lhe
neguei... Louvo reconhecidamente a Deus por esta graça! Sinto que
assim nunca mais serei assaltada pelo remorso de não haver feito por ele quanto
me competia!... Será meu filho, sim!... Conchegá-lo-ei de
encontro ao peito! O Senhor amparam-me!...
Abraçou o menino enfermo e afigurou-se-nos,
desde então, incapaz de qualquer sintonia conosco.
Talvez, religada, de súbito, a inquietantes
recordações da fixação mental que atravessara, pareceu-nos cega e surda, sob o
império de inesperada introversão.
O Ministro, atendendo ao apelo de Clara,
abeirou-se dela e amparou-a, recomendando:
- Convém seja nossa irmã restituída ao lar
terrestre. O choque repetido será prejuízo grave. Amanhã, reconduziremos nosso
pequeno ao santuário doméstico de onde veio, confiando-o, enfim, à tarefa do
recomeço.
A sugestão foi obedecida.
E enquanto Zulmira voltava ao templo familiar,
arquivávamos nossa expectação, à espera do dia seguinte."
QUESTÕES
PARA ESTUDO
1.- Espíritos enfermos. Essa constatação
causou perplexidade a Odila, que jamais imaginara existir enfermidades
após a morte. Vamos refletir um pouco sobre isso. Pode o espírito ficar enfermo
mesmo após deixar o corpo físico?
Como se
dá isso?
2.- André Luiz explica que o novo corpo
físico de Júlio " ... funcionaria como abafador da moléstia da alma,
sanando-a, pouco a pouco...". Como a reencarnação pode funcionar como um
"abafador da moléstia da alma"?
3.- Vemos que a reencarnação de Júlio está
sendo preparada pelos trabalhadores espirituais, programando, inclusive, o meio
familiar em que ele renascerá. Podemos concluir que todo retorno ao corpo físico
é precedido dos mesmos cuidados?
4.- Por que Clarêncio recomendou a Odila
"visitas afetuosas ao antigo lar", no qual Júlio renasceria?
Conclusão:
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1.- Espíritos enfermos. Essa constatação
causou perplexidade a Odila, que jamais imaginara existir enfermidades
após a morte. Vamos refletir um pouco sobre isso. Pode o espírito ficar
enfermo, mesmo após deixar o corpo físico?
Como se
dá isso?
No plano espiritual, o espírito se apresenta
revestido de seu perispírito, que, dentre outras funções, tem a
de servir como corpo para identificá-lo naquela dimensão. Trata-se
de um organismo semimaterial, sutil, plasmável, submetido ao comando do
espírito. Esse comando se dá através da mente, que é o campo pelo qual o
espírito extravasa seus pensamentos e sentimentos. A atuação da
mente sobre o perispírito, operando nele modificações, sutilizando-o ou o
densificando, é regida por um automatismo que funciona independentemente
de qualquer iniciativa do espírito. O espírito
é o que pensa. Pelo simples ato de pensar, seu pensamento é refletido no perispírito
e atua sobre ele.
Sendo assim, o psiquismo é que vai definir o
estado em que o espírito se encontrará após a desencarnação. O seu corpo
espiritual, ou seja, o seu perispírito, que fará as vezes do corpo físico
utilizado no mundo da matéria, será reflexo
da sua condição psíquica. Espírito psiquicamente sadio, corpo espiritual são;
espírito psiquicamente doente, corpo espiritual enfermo. Essa é a lei.
Por espírito psiquicamente sadio, devemos
entender aquele que, na Terra, vivenciou as leis morais. Aquele que foi
um homem de bem, que os Espíritos codificadores definiram como sendo o que
cumpre a lei de justiça, de amor e de caridade. Este não portará doenças
ao retornar ao mundo espiritual. Ao contrário, o que na passagem pela carne dedicou-se
à prática do mal, do egoísmo, do desejo de vingança, dos vícios, que levou
uma vida marcada por contrariedades às leis naturais, retornará do mundo físico
portando algum tipo de enfermidade. Seu psiquismo doentio refletirá no corpo
espiritual, tornando-o enfermo. A enfermidade, como desarmonia espiritual,
sobrevive no perispírito, mesmo após a morte do corpo físico.
Os espíritos encontrados por Odila ao visitar
o filho, inclusive o próprio Júlio, portavam enfermidades geradas pelos
seus psiquismos. Desencarnaram em situação de desequilíbrio espiritual (seu filho, por exemplo,
ainda trazia as conseqüências de uma pretérita desencarnação mediante
suicídio, na qual se envenenará. Plasmou no corpo espiritual uma doença na
região dos órgãos que compõem o centro laríngeo, danificado pela ingestão da substância venenosa).
Aguardavam todos o momento mais propício para
buscarem seu refazimento por intermédio da reencarnação.
2.- André Luiz explica que o novo corpo
físico de Júlio " ... funcionaria como abafador da moléstia da alma,
sanando-a, pouco a pouco...". Como a reencarnação pode funcionar como um
"abafador da moléstia da alma"?
A reencarnação é o instrumento pedagógico de
que Deus se utiliza para nos propiciar a oportunidade de nos melhorar, de
atingirmos a perfeição relativa. Somente sofrendo a prova de uma nova
existência é que o espírito pode se depurar.
O corpo físico funciona como uma espécie de
válvula, através da qual são drenadas as enfermidades
causadas no perispírito pelo desajuste psíquico. Julio deveria
retomar um corpo carnal a fim de purgar de seu perispírito dos gravames que
imprimiu com seu procedimento contrário às leis naturais, ao se suicidar, como
meio de fuga às provas que deveria se submeter.
3.- Vemos que a reencarnação de Júlio está
sendo preparada pelos trabalhadores espirituais, programando, inclusive, o meio
familiar em que ele renascerá. Podemos concluir que todo retorno ao corpo físico é
precedido dos mesmos cuidados?
O retorno do espírito ao plano da matéria,
assim como acontece quando da volta ao plano espiritual, dá-se sempre em condições
ditadas pelo seu merecimento, pelo seu nível de evolução. Alguns são merecedores da intercessão
de espíritos que se encontram mais adiantados, que lhe são afins e, dessa
maneira, são objetos de cuidados especiais.
Outros há, entretanto, muito atrasados e
ainda persistentes no mal, que sequer têm consciência do ato reencarnatório em
que estão envolvidos e retornam à carne inconscientes, como crianças
adormecidas. Não tendo como participar do planejamento reencarnatório, devido à
sua baixa evolução e não possuindo merecimento, caem na vala comum
das reencarnações automáticas, atendendo às necessidades evolutivas e que
se concretizam com base unicamente na sintonia
magnética.
4.- Por que Clarêncio recomendou a
Odila "visitas afetuosas ao antigo lar", no qual Júlio renasceria?
Como explicou Clarêncio, o renascimento na
carne funciona em condições idênticas para todos. Porém, alguns fatores podem
favorecer a execução da tarefa a que se propõe o reencarnante. Um desses
fatores é o ambiente familiar no qual o reencarnante reiniciará sua
experiência. Renascendo num lar harmonioso, onde os espíritos que o habitam
estão sintonizados com o bem e afinizados entre si, o espírito receberá toda
uma carga magnética saudável, que o fortalecerá para a nova luta que se inicia.
Odila recebeu de Clarêncio orientação para trabalhar nesse sentido, preparando um
ambiente favorável à chegada de Júlio.
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