Entre a
Terra e o Céu_23_Apelo maternal
“A paisagem doméstica, na residência de
Amaro, não mostrava qualquer alteração.
Zulmira, atormentada por Odila, que
realmente lhe vampirizava as forças, fazia no leito,
apática e desolada, como estátua viva de angústia e
medo, escutando o vento que zunia, lá fora...
Mais magra e mais abatida, exibia
comovedoramente a própria exaustão.
Irmã clara, depois de expressivo
entendimento com o nosso orientador, solicitou que nos mantivéssemos a pequena distância,
e, abeirando-se da genitora de Evelina, que tanto quanto a enferma não nos
percebia a presença, alongou os braços em prece.
Sob forte emoção, acompanhei o formoso
quadro que se desdobrou, divino, ao nosso olhar.
Gradativamente, o recinto foi invadido por vasto
círculo de luz, do qual se fizera a instrutora o núcleo irradiante.
Assemelhava-se nossa amiga a uma estrela
repentinamente trazida à 'terra, com os dois braços distendidos em forma de
assas, prestes a desferir excelso vôo...
“- Irmã Clara - informou o Ministro,
igualmente enlevado - já atingiu o total equilíbrio dos centros de força que irradiam
ondulações luminosas distintas. Em oração, ao influxo da mente enaltecida, emite
as vibrações do seu sentimento purificado, que constituem projeções de harmonia
e beleza a lhe fluírem do ser. Se partilhássemos com ela a mesma posição
evolutiva, entraríamos agora em relação imediata com o elevado plano de
consciência em que se exterioriza e, então, em vez de somente observarmos
este deslumbramento de luz e cor, perceberíamos a mensagem glorificada
que lhe nasce do coração, de vez que as irradiações sob nossos olhos
são música e linguagem, sabedoria e
amor do pensamento a expressar-se maravilhoso e vivo... A sintonia
espiritual perfeita, porém, só é possível entre aqueles que se
confundem na afinidade completa...
"Indicando timidamente a triste
companheira que jazia acorrentada ao leito, Odila tentou conservar a atitude
que lhe era característica, exclamando cruel:
- Devo alijar a intrusa que me assaltou a
casa! Esta miserável mulher tomou-me o marido e assassinou-me o filhinho...
Quem ama faz justiça pelas próprias
mãos!...
- Pobre filha! - revelou Clara,
abraçando-a. - Quem ama semeia a vida e a alegria, combatendo o sofrimento e a
morte...
Quando nosso culto afetivo se converte em flagelação
para os que seguem ao nosso lado, não
abrigamos outro sentimento que não seja aquele do desvairado apego
a nós mesmos, na centralização do egoísmo aviltante. Achamo-nos à
frente de infortunada irmã, arrojada a dolorosa prova. Não te dói vê-la
derrotada e infeliz?
"E, acariciando-lhe a cabeça agora
trêmula, a instrutora aduziu:
- Odila, o ciúme que não destruímos,
enquanto dispomos da oportunidade de trabalhar no corpo denso, transforma-se em
aflitiva fogueira a calcinar-nos o coração, depois da morte. ... Temos um só
Pai que é o Senhor da Bondade Infinita, que nos centraliza as esperanças...
Somos, assim, todos irmãos, partes integrantes de uma família só. ...
Entretanto, o homem amado permanece no cárcere de escuros padecimentos
íntimos a debater-se com enigmas inquietantes, sem que te disponhas a
socorrê-lo....
- Não me fales assim! -... Odeio a infame
que nos roubou a felicidade...
“- Sei que sofres igualmente como mãe
atormentada... Recorda, contudo, que nossos filhos pertencem a Deus... E se a
morte colheu a criança que estremeces, separando-a dos braços paternais, é que
a Vontade Divina determinou o afastamento...
- Por que te dispões a clarear o próprio
caminho, a fim de reencontrares o teu anjo e embalá-lo de novo, em teus braços,
ao invés de te consagrares inutilmente à vingança que te cega os olhos e
enregela o coração?
Clara, certo, alcançara o ponto sensível
daquela alma atribulada, porque a infortunada genitora de Evelina, qual se
arrojasse para fora de si mesma todos os pesares que lhe senhoreavam os
sentimentos, gritou, como fera jugulada pela dor:
- Meu filho!... Meu filho!...
"Rejubila-te, irmã querida! Grande é a
tua felicidade! Podes ajudar e isso representa a ventura maior!... Há vinte e
dois séculos espero por um minuto igual a este para o meu saudoso e agoniado
coração, de vez que os meus amados ainda não se inclinaram para mim!...
A voz de Clara parecia mesclada de lágrimas
que não chegavam a surgir.
Dominada pelas vibrações da mensageira
celeste, Odila agarrou-se a ela, prosseguindo em choro convulso, enquanto a instrutora
repetia com desvelos de mãe:
- Vamos, filha! Vamos à procura de nossa
renovação com Jesus!...
Amparando-a, Clara conduziu-a para fora,
colada ao próprio peito.
Junto de nós, Clarêncio informou:
- Agora, Zulmira poderá recuperar-se. A
adversária retirou-se sem a violência que lhe prejudicaria o campo mental.
E, acompanhado o nosso orientador, afastamo-nos
por nossa vez, embora conservando a atenção presa à continuação de nossa
edificante aventura."
QUESTÕES
PARA ESTUDO
1.- É fácil entender que Odila, a
obsessora, não conseguia ver os benfeitores espirituais devido ao seu
baixo padrão vibratório, pois ainda nutria fortemente sentimentos
negativos, como o de vingança. Mas, e Zulmira, que era a
vítima?
Por que também não conseguia ver os
benfeitores?
2.- Como explicar o fato de Clarêncio,
André Luiz e Hilário, embora espíritos também elevados, notadamente o Ministro,
não conseguirem se sintonizar com as vibrações emanadas do sentimento
purificado de Clara?
3.- Em que ponto Clara conseguiu
sensibilizar Odila, levando-a a se transformar e que lição
podemos extrair desse episódio?
4.- Clara revela que, há vinte e dois
séculos, aguarda por um momento igual àquele que estava vivenciando, com
relação aos seus entes queridos. Como explicar o fato de ter conseguido operar
a transformação de Odila e não conseguir fazer o mesmo com os seus?
5.- " ... o ciúme que não destruímos,
enquanto dispomos da oportunidade de trabalho no corpo denso,
transforma-se em aflitiva fogueira a calcinar-nos o coração, depois da
morte." O que pretendeu a benfeitora ensinar com essas palavras?
Conclusão:
Com a chegada de Clara à residência de
Amaro, os benfeitores deram início ao trabalho visando alcançar a transformação
de Odila. Através da pregação amorosa da benfeitora, Odila entendeu que,
persistindo na perseguição à desafeta, estaria tornando cada vez mais longínquo
o dia do ansiado reencontro com Júlio, o filho desencarnada que tanto amava. O
amor materno foi o grande instrumento utilizado por Clara para convencer a
obsessora a se desvencilhar de Zulmira.
QUESTÕES
PROPOSTAS PARA ESTUDO
1.- É fácil entender que Odila, a
obsessora, não conseguia ver os benfeitores espirituais devido ao seu
baixo padrão vibratório, pois ainda nutria fortemente sentimentos
negativos, como o de vingança. Mas, e Zulmira, que era a
vítima?
Por que também não conseguia ver os
benfeitores?
Como temos visto em nossos estudos, o processo
obsessivo não se instala sem que o obsediado o permita, através de uma
identidade de sintonia com o obsessor. Odila e Zulmira encontravam-se imantadas
uma à outra, pela identidade de sentimentos. Mesmo nos momentos de liberação do
corpo físico, a vítima, até o presente momento da história, ainda não conseguiu
perceber a presença dos benfeitores por estar com sua mente inteiramente à
mercê da obsessora.
Dominada dessa maneira, somente conseguia
se sintonizar no mesmo padrão vibratório da algoz.
2.- Como explicar o fato de Clarêncio,
André Luiz e Hilário, embora espíritos também elevados, notadamente o Ministro,
não conseguirem se sintonizar com as vibrações emanadas do sentimento
purificado de Clara?
Vemos nesta passagem narrada por André Luiz
que, mesmo entre os espíritos elevados, há faixas vibratórias diferentes.
Clara é um espírito que já conseguiu
sublimar seus sentimentos, voltando-se totalmente para a lei do amor. Os benfeitores
que realizavam o trabalho de desobsessão, embora também de alta elevação moral,
ainda não haviam conseguido purificar seus sentimentos, ao ponto de poderem se
sintonizar com o amor que emanava de Clara. Por essa razão, Clarêncio solicitou
a sua colaboração, pois percebeu que através do envolvimento da obsessora pelas
vibrações amorosas de Clara poder-se-ia obter a sua transformação.
3.- Em que ponto Clara conseguiu
sensibilizar Odila, levando-a a se transformar e que lição
podemos extrair desse episódio?
A transformação de Odila operou-se no
momento em que Clara a exortou a vivenciar o amor maternal em toda a sua
plenitude. Através dele, acenou-lhe com a possibilidade de se encontrar com
Júlio, o filho querido que desencarnara em acidente para o qual Zulmira
contribuíra.
4.- Clara revela que, há vinte e dois
séculos, aguarda por um momento igual àquele que estava vivenciando, com
relação aos seus entes queridos. Como explicar o fato de ter conseguido operar
a transformação de Odila e não conseguir fazer o mesmo com os seus?
Não só apenas da vontade e da ajuda de
Espíritos já mais evoluídos pode-se levar à transformação de outros Espíritos;
necessário é, principalmente, esses espíritos tenham vontade de se
transformarem. Assim, provavelmente (uma vez que Clara não faz maiores
comentários), os Espíritos amados de seu coração devem se encontrar enraizados
na rebeldia, sem, pois, poderem proporcionar a si mesmos uma brecha que seja
para se verem e se sentirem envolvidos no Amor encorajador das grandes
transformações e assim serem tocados pela verdade Eterna e Divina.
5.- " ... o ciúme que não destruímos,
enquanto dispomos da oportunidade de trabalho no corpo denso,
transforma-se em aflitiva fogueira a calcinar-nos o coração, depois da
morte." O que pretendeu a benfeitora ensinar com essas palavras?
Assim como todos os demais
defeitos(egoísmo, orgulho, vaidade, soberba, etc.) o ciúme tem a sua
oportunidade de ser trabalhado enquanto caminhamos com a roupagem carnal, uma
vez que quando dela nos desvestirmos iremos nos encontrar frente à frente
conosco mesmo: sem máscaras, sem personagens, simplesmente nós mesmos apenas
levando conosco as nossas verdadeiras conquistas espirituais. Assim, podemos e
devemos vencer nossas más tendências, no caso citado o ciúmes, as fim de que
possamos ao retornar à Pátria Espiritual sem que as dores morais sejam mais
cruciantes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário