Entre a
Terra e o Céu_28_Retorno
“Preocupados com o caso de Júlio, no dia
imediato indagamos do orientador sobre a planificação do serviço
reencarnatório, ao que Clarêncio informou, conciso:
_ O problema é doloroso, mas é simples.
Trata-se tão somente de ligeira prova necessária. Júlio sofrerá o aflitivo
desejo de permanecer na Terra, com o empréstimo do corpo físico a prazo longo,
entretanto, suicida que foi, com duas tentativas de auto-aniquilamento, por
duas vezes deverá experimentar a frustração para valorizar com mais segurança a
benção da vida terrestre. Depois de estagiar por muitos anos nas regiões
inferiores de nosso plano, confiando-se inutilmente à revolta e à inércia, já
passou pelo afogamento e agora enfrentará a intoxicação. Tudo isso é
lastimável, no entanto...
E mostrando significativa expressão fisionômica,
ajuntou:
_ Quem aprenderá sem a cooperação do
sofrimento?
_ Penso, contudo, no martírio dos pais... -
considerou Hilário, hesitante.
_ Meus amigos - falou o ministro, generoso-,
a justiça é inalienável. Não podemos iludí-la. Com o desequilíbrio emocional de
Amaro e Zulmira, no pretérito, Júlio arrojou-se a escuro despenhadeiro de
compromissos morais e, na atualidade, reabilitar-se com a cooperação deles.
Ontem, o casal, por esquecê-lo, inclinou-o à queda, hoje, por amá-lo
garantir-lhe-á o soerguimento.
[...]
O Ministro, com a paciência admirável de
todos os dias, tomou a palavra e esclareceu:
_ A reencarnação no caso de Júlio não reclama
de nossa esfera cuidados especiais. É uma descida experimental ao campo da
matéria densa, com interesse tão somente para ele mesmo e para os familiares
que o cercam. Todavia, se a existência do filho de Amaro estivesse destinada,
no momento, a influenciar a comunidade, se ele fosse detentor de méritos
indiscutíveis, com responsabilidades justas nos caminhos alheios, o problema
seria efetivamente outro. Forças de ordem superior seriam fatalmente
mobilizadas para a interferência nos cromossomos, garantindo-se o embrião do
veículo físico de maneira adequada à missão que lhe coubesse...
_ E se o reencarnante fosse um homem de larga
intelectualidade? - inquiriu Hilário, estudioso.
_ Merecer-nos-ia cautelosa atenção na
estrutura cerebral, para que não lhe faltasse um instrumento à altura de seus
deveres na materialização do pensamento.
_ E se fosse um médico, um grande cirurgião
por exemplo? - perguntei por minha vez.
_ Receberia assistência aprimorada na
formação do sistema nervoso, assegurando-se-lhe pleno domínio das emoções.
Porque não mais indagássemos especificamente,
o instrutor continuou:
_ Contudo, em milhares de renascimentos, na
Terra, os princípios embriogênicos funcionam, automáticos, cada dia. A lei de
causa e efeito executa-se sem necessidade de fiscalização da nossa parte. Na
reencarnação, basta o magnetismo dos pais, aliado ao forte desejo daquele que
regressa ao campo das formas físicas. De retorno ao corpo físico, estamos
invariavelmente animaods de um propósito firme...seja o anseio de alijar a dor
que nos atormenta, a aspiração de conquistas espirituais que nos facilitem o
acesso à Vida Superior, o voto de recapitular serviços mal feitos ou o ideal de
realizar grandes tarefas de amor entre aqueles a quem nos afeiçoamos no mundo.
De modo geral, a maioria das almas que reencarnam satisfazem a fome inquietante
de recomeço. Quem não atendeu com exatidão ao trabalho que a vida lhe delegou,
depressa se rende ao impositivo de repetição da experiência e o ressurgimento
na vida física aparece por benção salvadora. Milhões de destinos se
reestruturam dessa forma, qual se refaz uma grande floresta. A sementeira
cresce, estimulada pelo magnetismo do solo; a existência corpórea germina de
novo, incentivada pelo magnetismo da carne...
Ante a pausa ligeira do Ministro, Hilário
perguntou, respeitoso:
_ O seio maternal, desse modo...
Nosso mentor completou-lhe a definição,
respondendo:
_ É um vaso anímico de elevado poder
magnético ou um molde vivo destinado à fundição e refundição das formas, ao
sopro criador da Bondade Divina, que, em toda a parte, nos oferece recursos ao
desenvolvimento par a Sabedoria e para o Amor. Esse vaso atrai a alma sequiosa
de renascimento e que lhe é afim, reproduzindo-lhe o corpo denso, no tempo e no
espaço, como a terra engole a semente para doar-lhe nova germinação, consoante
os princípios que encerra."
Questões para estudo e diálogo virtual
1 - "Quem aprenderá sem a cooperação do
sofrimento?"
Dessa frase do ministro Clarêncio, vamos
discutir:
a) Qual a função do sofrimento?
b) O que vem realmente a ser sofrimento?
c) Será o sofrimento a única maneira de
aprendermos e evoluirmos?
2 - Comente esta frase: "Contudo, em
milhares de renascimentos, na Terra, os princípios embriogênicos funcionam,
automáticos, cada dia. A lei de causa e efeito executa-se sem necessidade de
fiscalização da nossa parte."
3 - O que nós podemos concluir sobre a nossa
responsabilidade perante aquilo que permitimos, através de nosso descaso,
esquecimento ou negligência, aconteça aos outros?
4 - Qual a visão de maternidade que podemos
ter com os ensinos desse capítulo?
5 - O que aprendemos mais sobre os
preparativos da reencarnação?
Conclusão:
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1 - "Quem aprenderá sem a cooperação do
sofrimento?". Dessa frase do ministro Clarêncio, vamos discutir:
a) Qual a função do sofrimento?
Este é um tema bastante extenso, que dá
margem a muitas reflexões. Resumidamente, podemos dizer que o
sofrimento, no momento evolutivo em que nos encontramos, ainda faz parte das
nossas necessidades. A dor, seja ela física ou moral, como fonte geradora do
sofrimento, é uma lei de equilíbrio e educação para o espírito. É claro
que não é fácil aceitar essa realidade. Léon Denis afirma que "é muito
difícil fazer entender aos homens que o sofrimento é bom.
Cada qual quereria refazer e embelezar a vida à sua vontade, adorná-la com
todos os deleites, sem pensar que não há bem sem dor, ascensão sem suores
e esforços." (in "O Problema do Ser, do Destino e da Dor).
O sofrimento tem, portanto, a função de
impulsionar o espírito para o progresso moral, ao despertar os sentidos nobres que
se encontram adormecidos dentro de si. Como o orgulho e o egoísmo ainda se
encontram fortemente enraizados nos espíritos que compõem a
humanidade terrena, o sofrimento é necessário para torná-los mais brandos, para
fazê-los melhor compreender os valores morais. Os que não sofrem mal
compreendem a realidade da nossa existência, presos que ficam aos deleites que
a vida na matéria pode proporcionar. A dor causadora do sofrimento funciona
como um aviso da Natureza de que precisamos corrigir nossos rumos,
preservarmo-nos dos excessos. Sem ela, o espírito ficaria inerte, ignorando,
passivamente, a força moral que carrega consigo.
b) O que vem realmente a ser sofrimento?
O sofrimento é a sensação causada no espírito
pela dor física ou moral, necessária à evolução do ser. Na maior parte das
vezes, é resultado de violações das leis naturais por parte do espírito. É a
conseqüência natural da lei de ação e reação, que atua não só sobre a
matéria mas, também, na vida espiritual.
c) Será o sofrimento a única maneira de
aprendermos e evoluirmos?
Como foi falado durante o estudo, respondendo
à indagação de Kardec a respeito, os Espíritos disseram não ser indispensável
à evolução do ser passar por provações para atingir a perfeição. Pode o
espírito, desde o seu ingresso na senda evolutiva, escolher um caminho que
o exima de muitas provas, que evite muitas das aflições possíveis.
Usando seu livre-arbítrio, o próprio espírito
é que irá traçar o seu futuro. Vivenciando as Leis Naturais que o Cristo veio não
só nos ensinar como igualmente exemplificar, podemos nos poupar de muitos
sofrimentos.
2 - Comente esta frase: "Contudo, em
milhares de renascimentos, na Terra, os princípios embriogênicos
funcionam, automáticos, cada dia. A lei de causa e efeito executa-se sem
necessidade de fiscalização da nossa parte."
As leis e forças que regem o Universo foram
instituídas pelo Criador e, como tal são sábias,
justas e soberanas.
Provindas da autoridade suprema que dirige o
Cosmo, não podem ser contrariadas. São auto-aplicáveis. Funcionam impulsionadas
por um magnetismo que ainda não estamos evoluídos o suficiente para compreender
inteiramente. Os princípios embriogênicos a que se refere Clarêncio são aqueles
que regem a formação e desenvolvimento do embrião que se constituirá no novo
corpo físico do reencarnante. O magnetismo que faz com que as leis naturais se
cumpram se encarrega de fazer incidir a lei de causa e efeito, que é uma delas,
inclusive quanto aos pais, que atrairão o espírito com quem precisam se
reajustar. O embrião se formará em obediência a esses princípios, sem que se
faça necessária a intervenção das autoridades espirituais.
Há, no entanto, casos especiais em que o
reencarnante, para cumprir determinada missão, necessita vir com certas
características particulares. Os espíritos construtores, especializados no
trabalho de preparação de futuros corpos físicos, nessas
hipóteses, atuam nos cromossomos que formarão o embrião do novo corpo,
objetivando um veículo físico adequado à missão que ao
reencarnante caberá se desincumbir.
3 - O que
nós podemos concluir sobre a nossa responsabilidade perante aquilo que permitimos,
através de nosso descaso, esquecimento ou negligência, aconteça aos outros?
"A cada um será dado segundo as suas
obras", ensinou Jesus. Por isso, recomendou: "tudo que quiserdes
que os outros vos façam, fazei também a eles". A lei de causa e efeito,
como frisou o Ministro Clarêncio, executa-se por si mesma.
Quando fazemos algum mal ao próximo, causamos um desequilíbrio no Universo, cuja
lei é de amor.
Esse desequilíbrio precisa ser reparado,
restabelecendo-se a situação anterior. O veículo que nos impelirá à
reparação é a lei da ação e reação. Sofreremos, inevitavelmente, o mesmo mal
que ocasionamos. Não se trata de punição, nem de vindita. Mas de um
mecanismo de equilíbrio e educação do espírito.
4 - Qual a visão de maternidade que podemos
ter com os ensinos desse capítulo?
O capítulo nos mostra o caráter missionário
da maternidade. Ao assumir o compromisso da maternidade, a mãe se responsabiliza
por desincumbir-se de um dever que, certamente, vai trazer conseqüências para o
seu futuro. O filho é colocado sob a tutela dos pais para que estes os dirijam
na senda do bem. Para isso, nos primeiros anos da nova existência, o corpo
físico tem uma organização ainda débil e delicada, que propicia ao espírito
receber as impressões que os pais lhe impõem. Vemos que Zulmira até então não
devotava a Júlio um sentimento de amor puro. Contudo, consciente da necessidade
dos reajustes que possibilitariam a ambos a retomada do progresso espiritual,
aceitou a missão de mãe, passando a dedicar-lhe todo o apreço e cuidado.
5 - O que aprendemos mais sobre os
preparativos da reencarnação?
Como vimos no capítulo anterior, os
preparativos para o retorno do espírito ao plano da matéria estão condicionados
ao seu merecimento, às conquistas que acumulou no passado. Alguns são
merecedores da intercessão de espíritos afins, mais adiantados, que atuam junto
aos benfeitores visando obter cuidados especiais na
preparação do ato reencarnatório. Outros, que
constituem a maioria, segundo afirmou
Clarêncio, reencarnam sob a ação de um automatismo
magnético, impulsionados pelo desejo de se refazerem dos gravames
sofridos em existências mal aproveitadas. Estes são
atraídos para o ato reencarnatório sem maiores cuidados, aos pais com os quais
precisam se reajustarem, A reencarnação se processa, nesses casos, unicamente
sob a égide das leis biológicas.
Júlio, embora um espírito ainda em débito com
a lei e que retornaria à carne em processo redentor de reajuste, já
contava com algum merecimento, o que motivou os benfeitores a prepararem o seu
regresso num lar harmonioso. Os futuros pais também receberam um tratamento
preparatório adequado, sendo conscientizados dos
benefícios que aquela reencarnação traria a todos. Não se trata,
portanto, da reencarnação de um espírito elevado, que venha
em missão relevante para a coletividade. Mas de um espírito de evolução
mediana, que já amealhou créditos, assim como os demais com quem estará
envolvido no ambiente familiar.
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