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sábado, 12 de dezembro de 2015

Programa 1 # Tomo I # Modulo II # Roteiro 7 # Maria Mae De Jesus..4

Programa 1 # Tomo I # Modulo II # Roteiro 7 # Maria Mae De Jesus..4

MARIA MAE DE JESUS

MARIA MÃE DE JESUS, VIRGEM MARIA OU SANTA MARIA

1) Introdução

Virgem Maria, ou Santa Maria, são títulos possíveis para este artigo, títulos tão divulgados no mundo católico, para designar Maria a mãe de Jesus. Tanto podia ser Maria ou Miriam, pois o nome grego Maria, corresponde a Miryâm em hebraico que deu Miriam na nossa língua. Como os seus familiares falavam aramaico, é natural que o nome pronunciado na sua língua materna, fosse mais parecido com Miriam do que Maria.

Só no Novo Testamento, há várias mulheres com o nome de Maria, desde Maria Madalena, Maria irmã de Marta, Maria mãe de Marcos e ainda outras que aparecem só uma vez. Mas neste artigo, sempre que falar em Maria refiro-me à mulher escolhida para ser a mãe de Jesus, no qual encarnou o próprio Filho de Deus, no mundo em que vivemos.

Estive há dias em Fátima, o principal Santuário mariano em Portugal, bem conhecido em todo o mundo, que fica a cerca de 40 quilômetros de minha casa, e onde, aliás, sempre fui bem recebido quando me identifico como protestante. No entanto, como já é do conhecimento dos habituais visitantes da minha página, não sou católico nem estou ligado a nenhuma igreja evangélica.

O principal motivo que me levou a Fátima foi procurar nas suas livrarias, alguma literatura que me ajudasse a investigar a pessoa de Maria. Afinal, encontrei muita literatura sobre Maria, mas quase nada com fundamento bíblico.

Neste estudo, embora privilegiando os textos bíblicos canônicos, faremos algumas referências às informações disponíveis nos apócrifos do Novo Testamento, assim como no Alcorão, que, aliás, dá um grande destaque a Maria, que aparece em 30 referências, apresentando até a descrição do nascimento de Maria e nomes dos seus pais. Mas se Maomé viveu entre 520 a 632 da era cristã, tais informações só terão credibilidade admitindo que foram revelações divinas. É evidente que a aceitação dessas informações, que não constam dos textos canônicos neotestamentários, ficará ao critério do leitor.

Os teólogos católicos embora muito falem de Maria, geralmente perdem-se nas histórias das aparições e na sua teologia, sem grandes preocupações em investigar quem foi a verdadeira Maria das origens, a Maria que aparece nos evangelhos, enquanto o protestantismo pouco ou nada nos diz sobre Maria. Noto da parte das igrejas evangélicas ou protestantes certo receio em abordar a pessoa de Maria. É muito vulgar nas escolas dominicais, o estudo dos vários personagens bíblicos, desde os apóstolos aos vários reis de Israel, mas é muito raro um estudo sobre Maria que sofre certa discriminação da parte dos evangélicos. Na própria Bíblia, há muito mais informação sobre os apóstolos, nomeadamente sobre Paulo ou Pedro do que sobre Maria. É por isso que até pensei em dar a este estudo, em que pretendo meditar em Maria com fundamento bíblico, o título de Maria a desconhecida, desconhecida pelos evangélicos e desconhecida pelos católicos.

Temos três ocasiões em que Maria se pode considerar o personagem principal da descrição bíblica: No anúncio do nascimento de Cristo, na visita à sua familiar Isabel, e de certa maneira na festa de casamento em Caná da Galileia.

Em toda a Bíblia, não há registro de milagres de Maria.

A verdadeira Maria tem de ser compreendida, não com a mentalidade dos católicos e muito menos com a mentalidade dos evangélicos ou protestantes, mas na cultura dos judeus que viveram há dois mil anos.

Este não é, ou pelo menos não pretende ser, um estudo sobre os habituais debates teológicos, se estará correto o título de Maria, Mãe de Deus ou se Maria teve mais filhos além de Jesus O que pretendo é saber como era a verdadeira Maria. Para isso, temos de nos integrar na sua cultura, temos de nos tornar como judeus do primeiro século para podermos compreender Maria no seu contexto histórico e cultural, antes de toda esta polêmica sobre a sua pessoa, se levantar.

Devo dizer, nesta introdução, que este estudo poderá ser um tanto chocante, para quem não esteja familiarizado com o estudo e investigação bíblica, nomeadamente com a leitura de certas passagens da velha Lei de Moisés. Mas é nossa intenção investigar a pessoa de Maria na realidade em que ela viveu.

2) Origens de Maria

O personagem central de toda a Bíblia, nomeadamente do Novo Testamento, é Jesus o Cristo. Em Mateus 1:1/17 e em Lucas 3:23 / 38, encontramos a genealogia de José, marido de Maria. Neste caso em especial, gostaria de perguntar aos evangelistas: Afinal, que temos a ver com esta genealogia de José se ele não foi o pai biológico de Cristo, que nasceu por intervenção divina, segundo Mateus 1:18/20? Não seria mais natural uma genealogia de Maria? Isso foi certamente influência do contexto cultural judaico, que dava toda a importância ao homem, chefe de família e não à sua mulher ou mulheres, numa cultura em que a poligamia era permitida, e os sacerdotes davam o exemplo, como aliás quase todos os que consideramos os grandes exemplos veterotestamentários.

No Velho Testamento encontramos vários ungidos ou cristos, o que corresponde à palavra messias em hebraico como foi o caso dos reis de Israel. Mas Jesus, o filho de Maria, não foi mais um cristo ou ungido entre muitos, mas sim o Cristo, como aparece nas primeiras referências, sendo posteriormente omitido o artigo o. Logo no início do seu evangelho, João identifica Jesus como a Palavra de Deus, que criou todo o Universo. Se, como muitos pretendem, o nome de Jesus se refere ao homem, e o nome de Cristo ou Messias se refere à sua natureza divina, então o Cristo sempre existiu, mas veio ao nosso mundo através do homem, nascido de Maria, a que esta deu o nome de Jesus (Mateus 1:21 e Lucas 1:31). Não me parece correto o título Maria mãe de Deus (Theotokos) que foi utilizado pela primeira vez, pelo bispo Nestório no Concílio de Éfeso no ano 431, título que era desconhecido no primitivo cristianismo. Até nem me parece correto afirmar que Jesus foi judeu, já que Ele não foi filho biológico de José.

Infelizmente, não temos nenhuma genealogia de Maria, pelo menos nos livros canônicos. O livro apócrifo Natividade de Maria rejeitado por católicos e protestantes, também nada diz sobre a genealogia de Maria. A afirmação em Romanos 1:3, que se refere a Jesus como nascido da estirpe de David segundo a carne, leva-nos a pensar que, se José não foi seu pai biológico, Jesus só poderia ser da descendência de David através de Maria. Mas penso que seria forçar um tanto a interpretação desta simples introdução da epístola aos Romanos, pois isto não é uma passagem didática sobre Maria e a informação é demasiado vaga, pelo que nem sabemos se Maria seria também descendente de David, embora essa hipótese seja bem possível.

3) Estado civil de Maria quando o anjo Gabriel lhe apareceu

Na primeira referência, que encontramos em Lucas 1:26/27, Maria está na Nazaré da Galileia quando o anjo Gabriel lhe aparece. Segundo algumas traduções estava casada com José e segundo outras traduções, estava noiva de José. Esta divergência é devido à dificuldade de tradução visto que estavam numa cultura muito diferente da atual.

Segundo o historiador Joaquim Jeremias, era habitual uma jovem ficar noiva aos doze ou doze anos e meio. Eram os pais que escolhiam o noivo, logo que a jovem se tornava sexualmente fértil e era freqüente o pai querer um noivo da sua família e a mãe também um da sua família ou da sua tribo. Assim, como já dissemos, é bem possível que Maria fosse também descendente de David, mas por vazes havia casamentos com mulheres de outras tribos.

 Transcrevemos o que afirma Joaquim Jeremias no seu livro Jerusalém no tempo de Jesus.

«O noivado que precedia o pedido de casamento e a execução do seu contrato, expressavam a aquisição (qinyan) da noiva pelo noivo, e, assim, a conclusão válida do casamento; a noiva passa a se chamar esposa, pode ficar viúva, é repudiada por um libelo de divórcio e castigada de morte em casos se adultério. É característico da situação legal da noiva que a aquisição da mulher e a do escravo sejam postas em paralelo. Adquire-se a mulher pelo dinheiro, contrato e relações sexuais; assim adquire-se também o escravo por dinheiro, contrato e tomada de posse...»

 É esta a dificuldade em traduzir a situação de Maria na passagem que citamos em Lucas. Ela ainda não se tinha juntado a José e nem sabemos se tinha sido consultada pelos seus pais para esse casamento ou se alguma vez tinha visto a José. Mas, estar noiva nesse contexto cultural era quase o mesmo que estar casada. Possivelmente José já teria pago ao pai de Maria, a importância acordada entre ambos.

De acordo com o Evangelho do Pseudo-Mateus, Maria tinha 14 anos quando foi dada como esposa a José. Trata-se dum livro apócrifo, que não merece muita credibilidade, mas diz o que nesse contexto histórico e cultural era considerado a idade apropriada para o casamento.

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