Entre a
Terra e o Céu_29_Ante a reencarnação
Na noite imediata, atendendo-nos a
solicitação, Clarêncio conduziu-nos ao domicílio do ferroviário para
observações.
...
Julio dormia.
Não mais acordara, informou a guardiã, feliz.
Tinha a impressão de que o reencarnante desaparecia pouco a pouco, na
constituição orgânica de Zulmira, como se a futura mãezinha fosse um filtro
miraculoso a absorvê-lo.
A genitora desencarnada mostrava-se
satisfeita e esperançosa. Preferia ver o filhinho confiado ao sono profundo. As
aflições e os gemidos dele lhe haviam dilacerado o coração.
O renascimento, por esse
motivo, representava uma bênção para as inquietantes responsabilidades
maternais de que se via detentora.
Observamos que Júlio se
caracterizava por enorme diferença.
O corpo sutil do menino
denotava espantosa transformação. Adelgara-se de maneira surpreendente.
Tive a idéia de que ele e
Zulmira, alma como alma, se fundiam um no outro. A moça ganhara em plenitude
física e vivacidade espiritual quanto perdia o menino na apresentação exterior.
Julio adormecera aliviado, ao passo que a jovem senhora demonstrava admirável
despertamento para a vida.
.....
A transfusão fluídica era ali
evidente.
O organismo materno
assemelhava-se a um alambique destinado a sutilizar as energias do reencarnante
para restituí-la, decerto, a ele mesmo, na formação do novo envoltório.
Registrando-nos o assombro, o
instrutor explicou com a sua habitual gentileza:
- A reencarnação, tanto quanto
a desencarnação, é um choque biológico dos mais apreciáveis. Unido à matriz
geradora do santuário materno, em busca de nova forma, o perispírito sofre a
influência de fortes correntes eletromagnéticas, que lhe impõem a redução
automática. Constituído à base de princípios químicos semelhantes, em suas
propriedades, ao hidrogênio, a se expressarem através de moléculas
significativamente distanciadas umas das outros, quando ligado ao centro
genésico feminino experimenta expressiva contração, à maneira do indumento de
carne sob carga elétrica de elevado poder. Observa-se, então, a redução
volumétrica do veículo sutil pela diminuição dos espaços inter-moleculares.
Toda matéria que não serve ao trabalho fundamental de refundição da forma é
devolvida ao plano etereal, oferecendo-nos o perispírito esse aspecto de
desgaste ou de maior fluidez.
... É por isso que, conduzidos à
reconstituição orgânica, revivemos, nos primeiros tempos da organização fetal,
embora apressadamente, todo o nosso pretérito biológico. Cada ser que retoma o
envoltório físico revive, automaticamente, na reconstrução da forma em que se
imprimirá na Terra, todo o passado que lhe diz respeito, estacionando na mais
alta configuração típica que já conquistou, para o trabalho que lhe compete, de
acordo com o degrau evolutivo em que se encontra.
...
Inspirados talvez na mesma faixa de reflexões
que me preocupavam o espírito de Hilário inquiriu:
- Os princípios que analisamos
funcionam em igualdade de circunstâncias para os animais?
- Como não? Replicou o nosso
orientador, paciente - todos nos achamos na grande marcha de crescimento para a
imortalidade. Nas linhas infinitas do instinto, da inteligência, da razão e da
sublimação, permanecemos todos vinculados à lei do renascimento como
inalienável condição de progresso. Atacamos experiências múltiplas e
recapitulamo-las, tantas vezes quantas se fizerem necessárias, na grande
jornada para Deus. Crisálidas de inteligência nos setores mais obscuros da
Natureza evolvem para o plano das inteligência humana, tanto quanto os homens
pouco a pouco, se encaminham para as gloriosas esferas dos anjos.
...
Hilário que, tanto quanto eu se mostrava
interessado em aproveitar a lição, fixando o quadro sob nossos olhos, pediu uma
explicação tão simples quanto possível acerca da comunhão fisiopsíquica de
Zulmira e Julio naquele instante, ao que Clarencio respondeu, após refletir
alguns momentos:
- Imaginemos um pêssego
amadurecido, lançado à cova escura, a fim de renascer. Decomposto em sua
estrutura, restituirá aos reservatórios da Natureza todos os elementos da polpa
e dos demais envoltórios que lhe revestem os princípios vitais, reduzindo-se no
imo do solo ao embrião minúsculo que se transformará, no espaço e no tempo, em
novo pessegueiro.
O ensinamento não podia ser mais lógico, mais
preciso.
Então, por isso - acrescentou
Hilário, estudioso - é que as crianças desencarnadas reclamam período de tempo
mais ou menos longo para demonstrarem crescimento comum...
- Isso acontece com a maioria -
informou o Ministro - de vez que há exceções na regra. Em muitas
circunstâncias, semelhante imposição não existe. Quando a mente já desenvolveu
certas qualidades, aprimorando-se em mais alto degraus de sublimação
espiritual, pode arrojar de si mesma os elementos indispensáveis à composição
dos veículos de exteriorização de que necessite em planos que lhe sejam
inferiores. Nesses casos, o Espírito já domina plenamente as leis de
aglutinação da matéria, no campo de luta que nos é conhecido e, por esse
motivo, governa o fenômeno da própria reencarnação sem subordinar-se a ele.
Fitávamos o semblante calmo de
Zulmira, que respirava serena, feliz.
- O problema de Júlio, no
entanto - considerei - afigura-se-nos bastante doloroso...
- Doloroso mas educativo,
quanto o de milhares de criatura, cada dia, na Terra - ponderou Clarêncio,
imperturbável - Nosso companheiro vencido e enfermo, em razão de compromissos
adquiridos na carne, na carne encontrará caminho ao próprio reajuste.
...
A hereditariedade, qual é
aceita nos conhecimentos científicos do mundo, tem os seus limites. Filhos e
pais, indubitavelmente, ainda mesmo quando se cataloguem distantes uns dos
outros sob o ponto de vista moral, guardam sempre afinidade magnética entre si;
desse modo, os progenitores fornecem determinados recursos ao Espírito
reencarnante, mas esses recursos estão condicionados às necessidades da alma
que lhes aproveita a cooperação, porque, no fundo, somos herdeiros de nós
mesmos. Assimilamos as energias de nossos pais terrestres, na medida de nossas
qualidades boas ou más, para o destino enobrecido ou torturado a que fazemos
jus, pelas nossas conquistas ou débitos que voltam à Terra conosco, emergindo
de nossas anteriores experiências.
...
...Assim sendo, Julio renascerá com as
deficiências de que ainda é portador, embora favorecido pelo material genético
que recolherá dos pais, nos limites da lei de herança, para a constituição de
novo envoltório.
Depois de breve pausa,
concluiu:
- Como vemos na mente reside o
comando. A consciência traça o destino, o corpo reflete a impulsos do espírito.
Nossos pensamentos fabricam as formas de que nos utilizamos na vida.
Questões
para estudo
1) Qual a importância da mãe no processo de
reencarnação?
2) Por que a reencarnação, tanto quanto a
desencarnação é um processo doloroso?
3) Como se dá o processo de redução do
perispírito no ventre materno?
4) Diante da duvida de Hilário, vimos que
esse principio é o mesmo para todos que estão na marcha de evolução?
Justifique.
5) De que forma os progenitores se afinam com
o reencarnante?
6) Como esclarece o orientador, "somos
herdeiros de nós mesmo". O que Clarêncio quis dizer com essa afirmação?
Conclusão:
QUESTÕES PROPOSTAS PARA ESTUDO
1) Qual a importância da mãe no processo de
reencarnação?
Além de desempenhar um papel que atenda aos princípios
biológicos que ditarão a formação do novo corpo, a
mãe, conforme já estudamos em capítulo anterior, juntamente com
o pai, assume o compromisso de se
esforçar pelo encaminhamento do filho na senda do bem. Nas reencarnações planejadas,
este compromisso é assumido ainda no plano espiritual, de acordo com as
necessidades evolutivas de ambos. Mesmo quando se trata de
receber um desafeto de outra encarnação, Deus dota a mãe do amor materno,
para servir como uma força motora a inspirá-la aos reajustes a ambos
necessários.
Como temos visto, embora a reencarnação seja
um impositivo natural do qual não se pode fugir indefinidamente, alguns fatores
podem favorecer a execução da tarefa a que se propõe o reencarnante. O ambiente
familiar no qual o espírito que reencarna será recepcionado exercerá
influência que pode se tornar decisiva para o êxito ou não da missão.
Cabe aos pais criarem condições favoráveis para que este espírito renasça
para a vida física numa psicosfera saudável, de amor e harmonia, onde os bons
espíritos estejam presentes.
2) Por que a reencarnação, tanto quanto a
desencarnação, é um processo doloroso?
Os Espíritos nos ensinam que são dois
momentos que podem ser dolorosos e de grande perturbação para o espírito:
A reencarnação e a desencarnação. Os dois
fenômenos implicam numa mudança de estado dimensional, por isso que impõem ao
espírito um período de adaptação. Ensinam, também, os orientadores da
humanidade que a duração e a intensidade dessa perturbação dependem do
estágio evolutivo do espírito. À medida que se adianta moralmente, a cada mudança
de estado o espírito sofre menos as suas conseqüências, chegando, nos mundos
mais adiantados, a ser um processo que se dá com a máxima naturalidade, sem
maiores sofrimentos. Dizem os Espíritos que a reencarnação é um
processo mais doloroso, pois, enquanto na desencarnação o espírito se liberta,
no retorno à carne ele ingressa numa
prisão, demorando mais a se adaptar à nova dimensão vibratória.
3) Como se dá o processo de redução do
perispírito no ventre materno?
Sabemos que, desde o momento da concepção, o
espírito reencarnante - entenda-se, com seu perispírito - é ligado à organização
física da mãe por um laço fluídico tênue, de início, mas que vai se apertando à
medida que o novo corpo se desenvolve. Assim ligado ao ventre materno, o
perispírito, por força da atuação de correntes eletromagnéticas, sofre uma
contração devido a diminuição dos espaços existentes entre suas moléculas. Somente
guarda, a partir desse momento, as moléculas que serão utilizadas na
formação do novo corpo carnal. Toda a matéria restante é restituída ao plano
etéreo. Estando devidamente reduzido, o perispírito do reencarnate é acoplado
ao ventre da mãe, passando a receber os recursos para a formação do
novo corpo. Simplificadamente, assim podemos descrever o processo de redução do
perispírito para a reencarnação.
4) Diante da duvida de Hilário, vimos que
esse principio é o mesmo para todos que estão na
marcha de evolução?
Justifique.
Segundo o ensinamento de Clarêncio, esse
princípio é o mesmo para todos os processos reencarnatórios, inclusive dos
animais. Trata-se de lei cósmica, biológica, natural, que regula a
embriogênese. As circunstâncias que envolverão todo esse processo é que podem
diferir, conforme cada caso. Em alguns, o processo é facilitado pelo adiantamento
moral do espírito, que colabora efetivamente na execução da tarefa. Outros, mais
atrasados, requerem o auxílio de benfeitores especializados
nesse tipo de trabalho, para que a reencarnação se consume. Muitos
destes, entram noprocesso inconscientes, sem a mínima noção
do que está acontecendo. São processos reencarnatórios automáticos, mais
dolorosos.
5) De que forma os genitores se afinam com o
reencarnante?
Fornecendo-lhe determinados recursos de que o
espírito precisa para reencarnar. Esses recursos, no
entanto, são condicionados às necessidades evolutivas do
reencarnante, que os aproveitará ou não, na medida do seu merecimento, isto é,
do patrimônio moral que coletou com as ações que praticou durante toda a sua
existência.
6) Como esclarece o orientador, "somos
herdeiros de nós mesmo". O que Clarêncio quis dizer com essa afirmação?
Com essa frase, o Ministro Clarêncio ressalta
os efeitos da lei de ação e reação que atua na vida espiritual. Somos
portadores de livre-arbítrio, com total liberdade para agirmos e pensarmos.
Todavia, todo ato ou pensamento que praticamos repercute no nosso
perispírito, pois este é o reflexo do que produz o nosso campo mental.
Podemos sutilizá-lo, com ações e pensamentos consonantes com as leis naturais
ou adensá-lo, quando contrariamos essas leis. O novo corpo a ser
plasmado pelo perispírito será uma reprodução fiel deste, com suas enfermidades
ou com as condições saudáveis geradas no passado. Como bem definiu o benfeitor
espiritual, herdamos o que colecionamos. Ou seja, "somos herdeiros de nós
mesmos".
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