A Fé Ativa construindo uma Nova Era 4
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa
Da Lei de Adoração (Allan Kardec, in
“O Livro dos Espíritos” – 3ª parte, cap. II)
Sacrifícios
669.
Remonta a mais alta antiguidade o uso dos sacrifícios humanos. Como se explica
que o homem tenha sido levado a crer que tais coisas pudessem agradar a Deus?
“Principalmente,
porque não compreendia Deus como sendo a fonte da bondade. Nos povos primitivos
a matéria sobrepuja o espírito; eles se entregam aos instintos do animal
selvagem. Por isso é que, em geral, são cruéis; é que neles o senso moral,
ainda não se acha desenvolvido. Em segundo lugar, é natural que os homens
primitivos acreditassem ter uma criatura animada muito mais valor, aos olhos de
Deus, do que um corpo material. Foi isto que os levou a imolarem, primeiro,
animais e, mais tarde, homens. De conformidade com a falsa crença que possuíam,
pensavam que o valor do sacrifício era proporcional à importância da vítima. Na
vida material, como geralmente a praticais, se houverdes de oferecer a alguém
um presente, escolhê-lo-eis sempre de tanto maior valor quanto mais afeto e
consideração quiserdes testemunhar a esse alguém. Assim tinha que ser, com
relação a Deus, entre homens ignorantes.”
a) -
De modo que os sacrifícios de animais precederam os sacrifícios humanos?
“Sobre isso não
pode haver a menor dúvida.”
b) -
Então, de acordo com a explicação que vindes de dar, não foi de um sentimento
de crueldade que se originaram os sacrifícios humanos?
“Não;
originaram-se de uma ideia errônea quanto à maneira de agradar a Deus.
Considerai o que se deu com Abraão. Com o correr dos tempos, os homens entraram
a abusar dessas práticas, imolando seus inimigos comuns, até mesmo seus
inimigos particulares. Deus, entretanto, nunca exigiu sacrifícios, nem de
homens, nem, sequer, de animais.
Não há como
imaginar-se que se Lhe possa prestar culto, mediante a destruição inútil de
Suas criaturas.”
670.
Dar-se-á que alguma vez possam ter sido agradáveis a Deus os sacrifícios
humanos praticados com piedosa intenção?
“Não, nunca. Deus,
porém, julga pela intenção. Sendo ignorantes os homens, natural era que
supusessem praticar ato louvável imolando seus semelhantes. Nesses casos, Deus
atentava unicamente na ideia que presidia ao ato e não neste. À proporção que
se foram melhorando, os homens tiveram que reconhecer o erro em que laboravam e
que reprovar tais sacrifícios, com que não podiam conformar-se as ideias de
Espíritos esclarecidos. Digo - esclarecidos, porque os Espíritos tinham então a
envolvê-los o véu material; mas, por meio do livre-arbítrio, possível lhes era
vislumbrar suas origens e fim, e muitos, por intuição, já compreendiam o mal
que praticavam, se bem que nem por isso deixassem de praticá-lo, para
satisfazer às suas paixões.”
671.
Que devemos pensar das chamadas guerras santas? O sentimento que impele os
povos fanáticos, tendo em vista agradar a Deus, a exterminarem o mais possível
os que não partilham de suas crenças, poderá equiparar-se, quanto à origem, ao
sentimento que os excitava outrora a sacrificarem seus semelhantes?
“São impelidos
pelos maus Espíritos e, fazendo a guerra aos seus semelhantes, contravêm à
vontade de Deus, que manda ame cada um o seu irmão, como a si mesmo. Todas as
religiões, ou, antes, todos os povos adoram um mesmo Deus, qualquer que seja o
nome que lhe deem. Por que então há de um fazer guerra a outro, sob o
fundamento de ser a religião deste diferente da sua, ou por não ter ainda
atingido o grau de progresso da dos povos cultos? Se são desculpáveis os povos
de não crerem na palavra daquele que o Espírito de Deus animava e que Deus
enviou, sobretudo os que não o viram e não lhe testemunharam os atos, como
pretenderdes que creiam nessa palavra de paz, quando lhes ides levá-la de
espada em punho? Eles têm que ser esclarecidos e devemos esforçar-nos por
fazê-los conhecer a doutrina do Salvador, mediante a persuasão e com brandura,
nunca a ferro e fogo. Em vossa maioria, não acreditais nas comunicações que
temos com certos mortais; como quereríeis que estranhos acreditassem na vossa
palavra, quando desmentis com os atos a doutrina que pregais?”
672. A
oferenda feita a Deus, de frutos da terra, tinha a Seus olhos mais mérito do
que o sacrifício dos animais?
“Já vos respondi,
declarando que Deus julga segundo a intenção e que para Ele pouca importância
tinha o fato.
Mais agradável
evidentemente era a Deus que Lhe oferecessem frutos da terra, em vez do sangue
das vítimas. Como temos dito e sempre repetiremos, a prece proferida do fundo
da alma é cem vezes mais agradável a Deus do que todas as oferendas que lhe
possais fazer. Repito que a intenção é tudo, que o fato nada vale.”
673.
Não seria um meio de tornar essas oferendas agradáveis a Deus consagrá-las a
minorar os sofrimentos daqueles a quem falta o necessário e, neste caso, o
sacrifício dos animais, praticado com fim útil, não se tornaria meritório, ao
passo que era abusivo quando para nada servia, ou só aproveitava aos que de
nada precisavam? Não haveria qualquer coisa de verdadeiramente piedoso em
consagrar-se aos pobres as primícias dos bens que Deus nos concede na Terra?
“Deus abençoa
sempre os que fazem o bem. O melhor meio de honrá-Lo consiste em minorar os
sofrimentos dos pobres e dos aflitos. Não quero dizer com isto que Ele
desaprove as cerimônias que praticais para lhe dirigirdes as vossas preces.
Muito dinheiro, porém, aí se gasta que poderia ser empregado mais utilmente do
que o é. Deus ama a simplicidade em tudo. O homem que se atém às exterioridades
e não ao coração é um Espírito de vistas acanhadas.
Dizei, em
consciência, se Deus deve atender mais à forma do que ao fundo.”
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