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quinta-feira, 24 de março de 2016

EVANGELHO ESSENCIAL 3 - MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

EVANGELHO ESSENCIAL 3
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti

2- MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO

Pilatos, tendo entrado de novo no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-lhe: És o rei dos judeus? - Respondeu-lhe Jesus: Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse nas mãos dos judeus; mas, o meu reino ainda não é aqui.
Disse-lhe então Pilatos: És rei? - Jesus lhe respondeu: Tu o dizes; sou rei; não nasci e não vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence á verdade escuta a minha voz. (S. JOÃO, cap. XVIII, vv. 33, 36 e 37.)

A vida futura
Por tais palavras, Jesus claramente se refere à vida futura, que ele apresenta, em todas as circunstâncias, como o fim a que se destina a Humanidade e como devendo ser o objeto das principais preocupações do homem na Terra. Todos os seus ensinamentos se referem a esse grande princípio.
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Esse dogma pode ser considerado como o ponto principal do ensinamento do Cristo. É ele que deve ser o objetivo de todos os homens; só ele justifica as anormalidades da vida terrena e se harmoniza com a justiça de Deus.
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Jesus ajustando seu ensino com o estado dos homens de sua época, não julgou conveniente dar-lhes luz completa, percebendo que eles ficariam deslumbrados, visto que não a compreenderiam. Limitou-se a apresentar a vida futura apenas como um princípio, uma lei da Natureza de cuja ação ninguém pode fugir.
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Todo cristão necessariamente crê na vida futura; mas, a ideia que muitos fazem dela é ainda vaga, incompleta e, por isso mesmo, falsa em muitos pontos. Para grande número de pessoas, é apenas uma crença, sem nenhuma certeza absoluta, e daí as dúvidas e até mesmo a incredulidade.
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Com o Espiritismo, a vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese; torna-se uma realidade material, que os fatos demonstram, porque são testemunhas oculares os que a descrevem nas suas fases todas e em todos as seus detalhes, e de tal modo que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse propósito, facultam à mais simples inteligência a possibilidade de imaginá-la sob seu verdadeiro aspecto.
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O ponto de vista
A ideia clara e precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no futuro, fé que acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda completamente o ponto de vista sob o qual encaram a vida terrena.
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Para quem se coloca pelo pensamento na vida espiritual, que é infinita, a vida corpórea se torna simples passagem, curta permanência num país ingrato.
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As mudanças e tribulações da vida não passam de incidentes que se enfrenta com paciência, por sabê-las de curta duração, devendo seguir-se de um estado mais feliz.
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A morte nada mais terá de apavorante; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a que se dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa morada de felicidade e de paz.
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Sabendo temporária e não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às preocupações da vida, resultando daí uma calma de espírito que lhe suaviza as amarguras.
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Pela simples dúvida sobre a vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos para a vida terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao futuro, dedica-se inteiramente ao presente. Nenhum bem vendo mais precioso que os da Terra, torna-se qual a criança que nada mais vê além de seus brinquedos.
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A perda do menor dos bens lhe ocasiona imensa mágoa; um desengano, uma decepção, uma ambição insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos, são outros tantos tormentos, que lhe transformam a existência numa permanente angústia, entregando-se voluntariamente a uma verdadeira tortura de todos os instantes.
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Sob o ponto de vista da vida terrena, em cujo centro se coloca, tudo se agiganta a seu redor. O mal que o atinge, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos seus olhos. É como o homem que, dentro de uma cidade, vê tudo grande ao seu redor: os homens que ocupam altos cargos e também como os monumentos; mas que, subindo a uma montanha, tudo lhe parece pequeno.
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Daí conclui-se que a importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida futura.
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Aquele que se preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda.
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Deus não condena os gozos terrenos; condena, sim, o abuso desses gozos em prejuízo dos interesses da alma.
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O Espiritismo mostra que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do Criador. Mostra a solidariedade que liga todas as existências de um mesmo ser, todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Oferece assim uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da criação da alma no momento do nascimento de cada corpo, faz estranhos uns aos outros todos os seres.

INSTRUÇÕES DOS ESPÍRITOS

Uma realeza terrestre
Uma Rainha de França-Havre,1863
Para se preparar um lugar neste reino celeste são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade, a benevolência para com todos.
Não se pergunta o que fostes, nem que posição ocupastes, mas que bem fizestes, quantas lágrimas enxugastes. Correm os homens atrás dos bens terrenos, como se os pudessem guardar para sempre. Aqui todas as ilusões se acabam. Cedo se apercebem eles de que apenas conquistaram sombras e desprezaram os únicos bens reais e duradouros, os únicos que lhes aproveitariam na morada celeste e que lhes podiam abrir as portas dessa morada. Compadece-te dos que não ganharam o reino dos céus; ajuda-os com as tuas preces, porque a prece aproxima do Altíssimo o homem; é o traço de união entre o Céu e a Terra: não esqueça.

COMENTÁRIO

MEU REINO NÃO É DESTE MUNDO
O capítulo desenvolve a ideia central dos ensinamentos de Jesus, qual seja, a de comprovar uma vida futura, aquela livre da vestimenta material que nos serve de intermediário à vida de relação social. Sem o conceito de vida futura perde o sentido os preceitos de moral. Também como no capítulo anterior foi colocado entre os primeiros ensinos do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Estudando a história da humanidade, encontraremos várias referências à vida futura, seja na crença do maligno na figura dos Espíritos que praticam o mal, seja nas figuras das almas penadas que habitam e valorizam, castelos antigos, seja nas evocações celebres da Bíblia ou mesmo nos oráculos aos deuses; recurso dos generais em busca de vitórias, seja ainda na ideia dos bons e amorosos anjos de asas brancas velando pelos que merecem. Pois bem, a ignorância não permite a humanidade entender racionalmente a questão. Vejamos: Porque vamos ao cemitério? Lá só se encontram os restos materiais dos Espíritos, e estes, os restos mortais, não têm raciocínio e nem inteligência. Porque dizemos que levamos flores ou orações que lhes possa ser benéfico à alma? Se não acreditamos nisto perdemos tempo e dinheiro, uma vez que descerrando a urna ali não se consegue enxergar nada que lembre o ente querido.
Portanto, o Espiritismo veio dar cumprimento ao ensino de Jesus fazendo com que o mundo espiritual fosse conhecido de todos, pois já conhecido dos antepassados de maneira pueril e ingênua, tendendo aos benefícios materiais mais que aos moralmente mais elevados, mais para as sensações de posse, poderio e títulos que enriquecem do que dos sentimentos que nos tornam mais responsáveis uns pelos outros. Por isso dizia Jesus: “... Meu reino não é deste mundo”, refere-se ele ao reinado da simplicidade, da moral elevada e da fraternidade. Não a estes poderes temporais da matéria, que mesmo numa existência se vê quedas desastrosas de impérios fortíssimos tais como o de Roma.
Consola-nos a ideia da vida futura, a fé inabalável que nos fortalece no sentido de preocupar-nos com as nossas atitudes morais mais elevadas perante a humanidade. Não sendo corrupto, pagando os impostos de maneira correta, compreendendo a pobres e ricos, não querendo levar vantagens sobre nada.

E lembre-se que Jesus com esses ensinamentos não quis dizer que deveríamos distribuir a riqueza e sermos todos pobres! Não! O que preconizou foi a utilização fraterna e justa de todos os recursos postos a serviço da humanidade por Deus Nosso Pai!

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