EVANGELHO ESSENCIAL 3
Eulaide Lins
Luiz Scalzitti
2- MEU
REINO NÃO É DESTE MUNDO
Pilatos, tendo
entrado de novo no palácio e feito vir Jesus à sua presença, perguntou-lhe: És
o rei dos judeus? - Respondeu-lhe Jesus: Meu reino não é deste mundo. Se o meu reino
fosse deste mundo, a minha gente houvera combatido para impedir que eu caísse
nas mãos dos judeus; mas, o meu reino ainda não é aqui.
Disse-lhe então
Pilatos: És rei? - Jesus lhe respondeu: Tu o dizes; sou rei; não nasci e não
vim a este mundo senão para dar testemunho da verdade. Aquele que pertence á
verdade escuta a minha voz. (S. JOÃO, cap. XVIII, vv. 33, 36 e 37.)
A vida
futura
Por tais palavras,
Jesus claramente se refere à vida futura, que ele apresenta, em todas as
circunstâncias, como o fim a que se destina a Humanidade e como devendo ser o
objeto das principais preocupações do homem na Terra. Todos os seus
ensinamentos se referem a esse grande princípio.
* * *
Esse dogma pode ser
considerado como o ponto principal do ensinamento do Cristo. É ele que deve ser
o objetivo de todos os homens; só ele justifica as anormalidades da vida
terrena e se harmoniza com a justiça de Deus.
* * *
Jesus ajustando seu
ensino com o estado dos homens de sua época, não julgou conveniente dar-lhes
luz completa, percebendo que eles ficariam deslumbrados, visto que não a
compreenderiam. Limitou-se a apresentar a vida futura apenas como um princípio,
uma lei da Natureza de cuja ação ninguém pode fugir.
* * *
Todo cristão
necessariamente crê na vida futura; mas, a ideia que muitos fazem dela é ainda
vaga, incompleta e, por isso mesmo, falsa em muitos pontos. Para grande número
de pessoas, é apenas uma crença, sem nenhuma certeza absoluta, e daí as dúvidas
e até mesmo a incredulidade.
* * *
Com o Espiritismo, a
vida futura deixa de ser simples artigo de fé, mera hipótese; torna-se uma
realidade material, que os fatos demonstram, porque são testemunhas oculares os
que a descrevem nas suas fases todas e em todos as seus detalhes, e de tal modo
que, além de impossibilitarem qualquer dúvida a esse propósito, facultam à mais
simples inteligência a possibilidade de imaginá-la sob seu verdadeiro aspecto.
* * *
O ponto
de vista
A ideia clara e
precisa que se faça da vida futura proporciona inabalável fé no futuro, fé que
acarreta enormes consequências sobre a moralização dos homens, porque muda
completamente o ponto de vista sob o qual encaram a vida terrena.
* * *
Para quem se coloca
pelo pensamento na vida espiritual, que é infinita, a vida corpórea se torna
simples passagem, curta permanência num país ingrato.
* * *
As mudanças e
tribulações da vida não passam de incidentes que se enfrenta com paciência, por
sabê-las de curta duração, devendo seguir-se de um estado mais feliz.
* * *
A morte nada mais
terá de apavorante; deixa de ser a porta que se abre para o nada e torna-se a
que se dá para a libertação, pela qual entra o exilado numa morada de
felicidade e de paz.
* * *
Sabendo temporária e
não definitiva a sua estada no lugar onde se encontra, menos atenção presta às
preocupações da vida, resultando daí uma calma de espírito que lhe suaviza as
amarguras.
* * *
Pela simples dúvida
sobre a vida futura, o homem concentra todos os seus pensamentos para a vida
terrestre. Sem nenhuma certeza quanto ao futuro, dedica-se inteiramente ao presente.
Nenhum bem vendo mais precioso que os da Terra, torna-se qual a criança que
nada mais vê além de seus brinquedos.
* * *
A perda do menor dos
bens lhe ocasiona imensa mágoa; um desengano, uma decepção, uma ambição
insatisfeita, uma injustiça de que seja vítima, o orgulho ou a vaidade feridos,
são outros tantos tormentos, que lhe transformam a existência numa permanente
angústia, entregando-se voluntariamente a uma verdadeira tortura de todos os
instantes.
* * *
Sob o ponto de vista
da vida terrena, em cujo centro se coloca, tudo se agiganta a seu redor. O mal
que o atinge, como o bem que toque aos outros, grande importância adquire aos
seus olhos. É como o homem que, dentro de uma cidade, vê tudo grande ao seu
redor: os homens que ocupam altos cargos e também como os monumentos; mas que,
subindo a uma montanha, tudo lhe parece pequeno.
* * *
Daí conclui-se que a
importância dada aos bens terrenos está sempre em razão inversa da fé na vida
futura.
* * *
Aquele que se
preocupa com o futuro não liga ao presente mais do que relativa importância e
facilmente se consola dos seus insucessos, pensando no destino que o aguarda.
* * *
Deus não condena os
gozos terrenos; condena, sim, o abuso desses gozos em prejuízo dos interesses
da alma.
* * *
O Espiritismo mostra
que essa vida não passa de um elo no harmonioso e magnífico conjunto da obra do
Criador. Mostra a solidariedade que liga todas as existências de um mesmo ser,
todos os seres de um mesmo mundo e os seres de todos os mundos. Oferece assim
uma base e uma razão de ser à fraternidade universal, enquanto a doutrina da
criação da alma no momento do nascimento de cada corpo, faz estranhos uns aos
outros todos os seres.
INSTRUÇÕES
DOS ESPÍRITOS
Uma
realeza terrestre
Uma Rainha de
França-Havre,1863
Para se preparar um
lugar neste reino celeste são necessárias a abnegação, a humildade, a caridade,
a benevolência para com todos.
Não se pergunta o que
fostes, nem que posição ocupastes, mas que bem fizestes, quantas lágrimas
enxugastes. Correm os homens atrás dos bens terrenos, como se os pudessem
guardar para sempre. Aqui todas as ilusões se acabam. Cedo se apercebem eles de
que apenas conquistaram sombras e desprezaram os únicos bens reais e
duradouros, os únicos que lhes aproveitariam na morada celeste e que lhes
podiam abrir as portas dessa morada. Compadece-te dos que não ganharam o reino
dos céus; ajuda-os com as tuas preces, porque a prece aproxima do Altíssimo o
homem; é o traço de união entre o Céu e a Terra: não esqueça.
COMENTÁRIO
MEU REINO
NÃO É DESTE MUNDO
O capítulo desenvolve
a ideia central dos ensinamentos de Jesus, qual seja, a de comprovar uma vida
futura, aquela livre da vestimenta material que nos serve de intermediário à
vida de relação social. Sem o conceito de vida futura perde o sentido os preceitos
de moral. Também como no capítulo anterior foi colocado entre os primeiros
ensinos do Evangelho Segundo o Espiritismo.
Estudando a história
da humanidade, encontraremos várias referências à vida futura, seja na crença
do maligno na figura dos Espíritos que praticam o mal, seja nas figuras das
almas penadas que habitam e valorizam, castelos antigos, seja nas evocações
celebres da Bíblia ou mesmo nos oráculos aos deuses; recurso dos generais em
busca de vitórias, seja ainda na ideia dos bons e amorosos anjos de asas
brancas velando pelos que merecem. Pois bem, a ignorância não permite a
humanidade entender racionalmente a questão. Vejamos: Porque vamos ao
cemitério? Lá só se encontram os restos materiais dos Espíritos, e estes, os
restos mortais, não têm raciocínio e nem inteligência. Porque dizemos que
levamos flores ou orações que lhes possa ser benéfico à alma? Se não
acreditamos nisto perdemos tempo e dinheiro, uma vez que descerrando a urna ali
não se consegue enxergar nada que lembre o ente querido.
Portanto, o
Espiritismo veio dar cumprimento ao ensino de Jesus fazendo com que o mundo
espiritual fosse conhecido de todos, pois já conhecido dos antepassados de
maneira pueril e ingênua, tendendo aos benefícios materiais mais que aos
moralmente mais elevados, mais para as sensações de posse, poderio e títulos
que enriquecem do que dos sentimentos que nos tornam mais responsáveis uns
pelos outros. Por isso dizia Jesus: “... Meu reino não é deste mundo”,
refere-se ele ao reinado da simplicidade, da moral elevada e da fraternidade.
Não a estes poderes temporais da matéria, que mesmo numa existência se vê
quedas desastrosas de impérios fortíssimos tais como o de Roma.
Consola-nos a ideia
da vida futura, a fé inabalável que nos fortalece no sentido de preocupar-nos
com as nossas atitudes morais mais elevadas perante a humanidade. Não sendo
corrupto, pagando os impostos de maneira correta, compreendendo a pobres e
ricos, não querendo levar vantagens sobre nada.
E lembre-se que Jesus
com esses ensinamentos não quis dizer que deveríamos distribuir a riqueza e
sermos todos pobres! Não! O que preconizou foi a utilização fraterna e justa de
todos os recursos postos a serviço da humanidade por Deus Nosso Pai!
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