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terça-feira, 29 de março de 2016

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 13 - Os Milagres do Evangelho

A Fé Ativa construindo uma Nova Era 13
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa

 Os Milagres do Evangelho 
(Allan Kardec, in “A Gênese” – cap. XV)

Curas

Tempestade aplacada
45. - Certo dia, tendo tomado uma barca com seus discípulos, disse-lhes ele: Passemos à outra margem do lago.
Partiram então. Durante a travessia, ele adormeceu. - Então, um grande turbilhão de vento se abateu de súbito sobre o lago, de sorte que, enchendo-se d’água a barca, eles se viam em perigo. Aproximaram-se, pois, dele e o despertaram, dizendo-lhe: Mestre, perecemos. Jesus, levantando-se, falou, ameaçador, aos ventos e às ondas agitadas e uns e outras se aplacaram, sobrevindo grande calma. Ele então lhes disse: Onde esta a vossa fé? Eles, porém, cheios de temor e admiração, perguntavam uns aos outros: Quem é este que assim dá ordens ao vento e às ondas, e eles lhe obedecem? (São Lucas, cap. VIII, vv. 22 a 25.)
46. - Ainda não conhecemos bastante os segredos da Natureza para dizer se há ou não inteligências ocultas presidindo à ação dos elementos. Na hipótese de haver, o fenômeno em questão poderia ter resultado de um ato de autoridade sobre essas inteligências e provaria um poder que a nenhum homem é dado exercer.
Como quer que seja, o fato de estar Jesus a dormir tranquilamente, durante a tempestade, atesta de sua parte uma segurança que se pode explicar pela circunstância de que seu Espírito via não haver perigo nenhum e que a tempestade ia amainar.
Bodas de Caná
47. - Este milagre, referido unicamente no Evangelho de S. João, é apresentado como o primeiro que Jesus operou e nessas condições, devera ter sido um dos mais notados. Entretanto, bem fraca impressão parece haver produzido, pois que nenhum outro evangelista dele trata. Fato não extraordinário era para deixar espantados, no mais alto grau, os convivas e, sobretudo, o dono da casa, os quais, todavia, parece que não o perceberam.
Considerado em si mesmo, pouca importância tem o fato, em comparação com os que, verdadeiramente, atestam as qualidades espirituais de Jesus. Admitido que as coisas hajam ocorrido, conforme foram narradas, e de notar-se seja esse, de tal gênero, o único fenômeno que se tenha produzido. Jesus era de natureza extremamente elevada, para se ater a efeitos puramente materiais, próprios apenas a aguçar a curiosidade da multidão que, então, o teria nivelado a um mágico. Ele sabia que as coisas úteis lhe conquistariam mais simpatias e lhe granjeariam mais adeptos, do que as que facilmente passariam por fruto de grande habilidade e destreza (nº 27).
Se bem que, a rigor, o fato se possa explicar, até certo ponto, por uma ação fluídica que houvesse, como o magnetismo oferece muitos exemplos, mudado as propriedades da água, dando-lhe o sabor do vinho, pouco provável é se tenha verificado semelhante hipótese, dado que, em tal caso, a água, tendo do vinho unicamente o sabor, houvera conservado a sua coloração, o que não deixaria de ser notado. Mais racional é se reconheça aí unia daquelas parábolas tão frequentes nos ensinos de Jesus, como a do filho pródigo, a do festim de bodas, do mau rico, da figueira que secou e tantas outras que, todavia, se apresentam com caráter de fatos ocorridos. Provavelmente, durante o repasto, terá ele aludido ao vinho e à água, tirando de ambos um ensinamento. Justificam esta opinião as palavras que a respeito lhe dirige o mordomo: « Toda gente serve em primeiro lugar o vinho bom e, depois que todos o têm bebido muito, serve o menos fino; tu, porém, guardas até agora o bom vinho. »
Entre duas hipóteses, deve-se preferir a mais racional e os espíritas não são tão crédulos que por toda parte vejam manifestações, nem tão absolutos em suas opiniões, que pretendam explicar tudo por meio dos fluidos.
Multiplicação dos pães
48. - A multiplicação dos pães é um dos milagres que mais têm intrigado os comentadores e alimentado, ao mesmo tempo, as zombarias dos incrédulos. Sem se darem ao trabalho de lhe perscrutar o sentido alegórico, para estes últimos ele não passa de um conto pueril. Entretanto, a maioria das pessoas sérias há visto na narrativa desse fato, embora sob forma diferente da ordinária, uma parábola, em que se compara o alimento espiritual da alma ao alimento do corpo.
Pode-se, todavia, perceber nela mais do que uma simples figura e admitir, de certo ponto de vista, a realidade de um fato material, sem que, para isso, seja preciso se recorra ao prodígio. É sabido que uma grande preocupação de espírito, bem como a atenção fortemente presa a uma coisa fazem esquecer a fome. Ora, os que acompanhavam a Jesus eram criaturas ávidas de ouvi-lo; nada há, pois, de espantar em que, fascinadas pela sua palavra e também, talvez, pela poderosa ação magnética que ele exercia sobre os que o cercavam, elas não tenham experimentado a necessidade material de comer.
Prevendo esse resultado, Jesus nenhuma dificuldade teve para tranquilizar os discípulos, dizendo-lhes, na linguagem figurada que lhe era habitual e admitido que realmente houvessem trazido alguns pães, que estes bastariam para matar a fome à multidão. Simultaneamente, ministrava aos referidos discípulos um ensinamento, com o lhes dizer:
« Dai-lhes vós mesmos de comer. » Ensinava-lhes assim que também eles podiam alimentar por meio da palavra.
Desse modo, a par do sentido moral alegórico, produziu-se um efeito fisiológico, natural e muito conhecido. O prodígio, no caso, está no ascendente da palavra de Jesus, poderosa bastante para cativar a atenção de uma multidão imensa, ao ponto de fazê-la esquecer-se de comer. Esse poder moral comprova a superioridade de Jesus, muito mais do que o fato puramente material da multiplicação dos pães, que tem de ser considerada como alegoria.
Esta explicação, aliás, o próprio Jesus a confirmou nas duas passagens seguintes.
O fermento dos fariseus
49. - Ora, tendo seus discípulos passado para o outro lado do mar, esqueceram- se de levar pães. - Jesus lhes disse: Tende o cuidado de precatar-vos do fermento dos fariseus e dos saduceus. - Eles, porém, pensavam e diziam entre si: É porque não trouxemos pães.
Jesus, conhecendo-lhes os pensamentos, disse: Homens de pouca fé, por que haveis de estar cogitando de não terdes trazido pães? Ainda não compreendeis e não vos lembrais quantos cestos levastes? - Como não compreendereis que não é do pão que eu vos falava, quando disse que vos guardásseis do fermento dos fariseus e saduceus?
Eles então compreenderam que ele não lhes dissera que se preservassem do fermento que se põe no pão, mas da doutrina dos fariseus e dos saduceus. (S. Mateus, cap. XVI, vv. 5 a 12.)
O pão do céu
50. - No dia seguinte, o povo, que permanecera do outro lado do mar, notou que lá não chegara outra barca e que Jesus não entrara na que seus discípulos tomaram, que os discípulos haviam partido sós - e como tinham chegado depois outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde o Senhor, após render graças, os alimentara com cinco pães; - e como verificassem por fim que Jesus não estava lá, tampouco seus discípulos, entraram naquelas barcas e foram para Cafarnaum, em busca de Jesus. - E, tendo-o encontrado além do mar, disseram-lhe: Mestre, quando vieste para cá?
Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que me procurais, não por causa dos milagres que vistes, mas por que eu vos dei pão a comer e ficastes saciados. -Trabalhai por ter, não o alimento que perece, mas o que dura para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará, porque foi nele que Deus, o Pai, imprimiu seu selo e seu caráter.
Perguntaram-lhe eles: Que devemos fazer para produzir obras de Deus? - Respondeu-lhes Jesus: A obra de Deus é que creiais no que ele enviou. Perguntaram-lhe então: Que milagre operarás que nos faça crer, vendo-o? Que farás de extraordinário? - Nossos pais comeram o maná no deserto, conforme está escrito: Ele lhes deu de comer o pão do céu.
Jesus lhes respondeu: Em verdade, em verdade vos digo que Moisés não vos deu o pão do céu; meu Pai é quem dá o verdadeiro pão do céu, - porquanto o pão de Deus é aquele que desceu do céu e que dá vida ao mundo.
Disseram eles então: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
Jesus lhes respondeu: Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê não terá sede. - Mas, eu já vos disse: vós me tendes visto e não credes.
Em verdade, em verdade vos digo: aquele que crê em mim tem a vida eterna. - Eu sou o pão da vida. – Vossos pais comeram o maná do deserto e morreram. - Aqui está o pão que desceu do céu, a fim de que quem dele comer não morra. (S. João, cap. VI, vv. 22-36 e 47-50.)
51. - Na primeira passagem, lembrando o fato precedentemente operado, Jesus dá claramente a entender que não se tratara de pães materiais, pois, a não ser assim, careceria de objeto a comparação por ele estabelecida com o fermento dos fariseus: « Ainda não compreendeis, diz ele, e não vos recordais de que cinco pães bastaram para cinco mil pessoas e que dois pães foram bastantes para quatro mil? Como não compreendestes que não era de pão que eu vos falava, quando vos dizia que vos preservásseis do fermento dos fariseus? » Esse confronto nenhuma razão de ser teria, na hipótese de uma multiplicação material. O fato fora de si mesmo muito extraordinário para ter impressionado fortemente a imaginação dos discípulos, que, entretanto, pareciam não mais lembrar-se dele.
É também o que não menos claramente ressalta, do que Jesus expendeu sobre o pão do céu, empenhado em fazer que seus ouvintes compreendessem o verdadeiro sentido do alimento espiritual. « Trabalhai, diz ele, não por conseguir o alimento que perece, mas pelo que se conserva para a vida eterna e que o Filho do Homem vos dará. » Esse alimento é a sua palavra, pão que desceu do céu e dá vida ao mundo. «Eu sou, declara ele, o pão da vida; aquele que vem a mim não terá fome e aquele que em mim crê nunca terá sede. »
Tais distinções, porém, eram por demais sutis para aquelas naturezas rudes, que somente compreendiam as coisas tangíveis. Para eles, o maná, que alimentara o corpo de seus antepassados, era o verdadeiro pão do céu; aí é que estava o milagre. Se, portanto, houvesse ocorrido materialmente o fato da multiplicação dos pães, como teria ele impressionado tão fracamente aqueles mesmos homens, a cujo benefício essa multiplicação se operara poucos dias antes, ao ponto de perguntarem a Jesus: « Que milagre farás para que, vendo-o, te creiamos? Que farás de extraordinário? » Eles entendiam por milagres os prodígios que os fariseus pediam, isto é, sinais que aparecessem no céu por ordem de Jesus, como pela varinha de um mágico. Ora, o que Jesus fazia era extremamente simples e não se afastava das leis da Natureza; as próprias curas não revelavam caráter muito singular, nem muito extraordinário. Para eles, os milagres espirituais não apresentavam grande vulto.
Tentação de Jesus
52. - Jesus, transportado pelo diabo ao pináculo do Templo, depois ao cume de uma montanha e por ele tentado, constitui uma daquelas parábolas que lhe eram familiares e que a credulidade pública transformou em fatos materiais 9.
9 A explicação que se segue é reprodução textual do ensino que a esse respeito de um Espírito.
53. - «Jesus não foi arrebatado. Ele apenas quis fazer que os homens compreendessem que a Humanidade se acha sujeita a falir e que deve estar sempre em guarda contra as más inspirações a que, pela sua natureza fraca, é impelida a ceder. A tentação de Jesus é, pois, uma figura e fora preciso ser cego para tomá-la ao pé da letra. Como pretenderíeis que o Messias, o Verbo de Deus encarnado, tenha estado submetido, por algum tempo, embora muito curto fosse este, às sugestões do demônio e que, como o diz o Evangelho de Lucas, o demônio o houvesse deixado por algum tempo, o que daria a supor que o Cristo continuou submetido ao poder daquela entidade? Não; compreendei melhor os ensinos que vos foram dados. O Espírito do mal nada poderia sobre a essência do bem. Ninguém diz ter visto Jesus no cume da montanha, nem no pináculo do Templo. Certamente, tal fato teria sido de natureza a se espalhar por todos os povos. A tentação, portanto, não constituiu um ato material e físico. Quanto ao ato moral, admitiríeis que o Espírito das trevas pudesse dizer àquele que conhecia sua própria origem e o seu poder: « Adora-me, que te darei todos os remos da Terra? » Desconheceria então o demônio aquele a quem fazia tais oferecimentos? Não é provável. Ora, se o conhecia, suas propostas eram uma insensatez, pois ele não ignorava que seria repelido por aquele que viera destruir-lhe o império sobre os homens.
« Compreendei, portanto, o sentido dessa parábola, que outra coisa aí não tendes, do mesmo modo que nos casos do Filho Pródigo e do Bom Samaritano. Aquela mostra os perigos que correm os homens, se não resistem à voz íntima que lhes clama sem cessar: «Podes ser mais do que és; podes possuir mais do que possuis; podes engrandecer-te, adquirir muito; cede à voz da ambição e todos os teus desejos serão satisfeitos. » Ela vos mostra o perigo e o meio de o evitardes, dizendo às más inspirações: Retira-te, Satanás ou, por outras palavras: Vai-te, tentação!
« As duas outras parábolas que lembrei mostram o que ainda pode esperar aquele que, por muito fraco para expulsar o demônio, lhe sucumbiu às tentações. Mostram a misericórdia do pai de família, pousando a mão sobre a fronte do filho arrependido e concedendo-lhe, com amor, o perdão implorado. Mostram o culpado, o cismático, o homem repelido por seus irmãos, valendo mais, aos olhos do Juiz Supremo, do que os que o desprezam, por praticar ele as virtudes que a lei de amor ensina.

« Pesai bem os ensinamentos que os Evangelhos contêm; sabei distinguir o que ali está em sentido próprio, ou em sentido figurado, e os erros que vos hão cegado durante tanto tempo se apagarão pouco a pouco, cedendo lugar à brilhante luz da Verdade. » - João Evangelista, Bordéus, 1862.

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