A Fé Ativa construindo uma Nova Era 9
Módulo/Eixo Temático: A Fé Ativa
Os Milagres
do Evangelho (Allan Kardec, in “A Gênese” – cap. XV)
Curas
Perda de sangue
10. - Então, uma
mulher, que havia doze anos sofria de uma hemorragia; - que sofrera muito nas mãos
dos médicos e que, tendo gasto todos os seus haveres, nenhum alívio conseguira,
- como ouvisse falar de Jesus, veio com a multidão atrás dele e lhe tocou as
vestes, porquanto, dizia: Se eu conseguir ao menos lhe tocar nas vestes,
ficarei curada. - No mesmo instante o fluxo sanguíneo lhe cessou e ela sentiu
em seu corpo que estava curada daquela enfermidade.
Logo, Jesus,
conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, se voltou no meio da multidão
e disse: Quem me tocou as vestes? - Seus discípulos lhe disseram: Vês que a
multidão te aperta de todos os lados e perguntas quem te tocou? - Ele olhava em
torno de si à procura daquela que o tocara.
A mulher, que
sabia o que se passara em si, tomada de medo e pavor, veio lançar-se-lhe aos
pés e lhe declarou toda a verdade. - Disse-lhe Jesus: Minha filha, tua fé te
salvou; vai em paz e fica curada da tua enfermidade. (S. Marcos, cap. V, vv. 25
a 34.)
11. - Estas
palavras: conhecendo em si mesmo a virtude que dele saíra, são significativas.
Exprimem o movimento fluídico que se operara de Jesus para a doente; ambos
experimentaram a ação que acabara de produzir-se. É de notar-se que o efeito
não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização,
nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a
cura.
Mas, por que essa
irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outras pessoas, uma vez que
Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão?
É bem simples a
razão. Considerado como matéria terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria
orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade
do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra: pela
fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba
calcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária a
simultaneidade das duas ações; doutras, basta uma só. O segundo caso foi o que
ocorreu na circunstância de que tratamos.
Razão, pois, tinha
Jesus para dizer: « Tua fé te salvou. » Compreende-se que a fé a que ele se
referia não é uma virtude mística, qual a entendem, muitas pessoas, mas uma
verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente
fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que
paralisa a ação. Assim sendo, também, se compreende que, apresentando-se ao
curador dois doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. É
este um dos mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica
certas anomalias aparentes, apontando- lhes uma causa muito natural. (Cap. XlV,
nos 31, 32 e 33.)
Cego de Betsaida
12. - Tendo
chegado a Betsaida, trouxeram-lhe um cego e lhe pediam que o tocasse. Tomando o
cego pela mão, ele o levou para fora do burgo, passou-lhe saliva nos olhos e,
havendo-lhe imposto as mãos, lhe perguntou se via alguma coisa. - O homem,
olhando; disse: Vejo a andar homens que me parecem árvores. - Jesus lhe colocou
de novo as mãos sobre os olhos e ele começou a ver melhor. Afinal, ficou tão
perfeitamente curado, que via distintamente todas as coisas. - Ele o mandou
para casa, dizendo-lhe: Vai para tua casa; se entrares no burgo, a ninguém
digas o que se deu contigo. (S. Marcos, cap. VIII, vv. 22 a 26.)
13. - Aqui, é
evidente o efeito magnético; a cura não foi instantânea, porém gradual e
consequente a uma ação prolongada e reiterada, se bem que mais rápida do que na
magnetização ordinária. A primeira sensação que o homem teve foi exatamente a
que experimentam os cegos ao recobrarem a vista. Por um efeito de óptica, os
objetos lhes parecem de tamanho exagerado.
Paralítico
14. - Tendo subido
para uma barca, Jesus atravessou o lago e veio à sua cidade (Cafarnaum). - Como
lhe apresentassem um paralítico deitado em seu leito, Jesus, notando-lhe a fé,
disse ao paralítico: Meu filho, tem confiança; perdoados te são os teus
pecados.
Logo alguns
escribas disseram entre si: Este homem blasfema. - Jesus, tendo percebido o que
eles pensavam, perguntou-lhes: Por que alimentais maus pensamentos em vossos
corações? - Pois, que é mais fácil dizer: - Teus pecados te são perdoados, ou
dizer: Levanta-te e anda?
Ora, para que
saibais que o Filho do homem tem na Terra o poder de remitir os pecados:
Levanta-te, disse então ao paralítico, toma o teu leito e vai para tua casa.
O paralítico se
levantou imediatamente e foi para sua casa. Vendo aquele milagre, o povo se
encheu de temor e rendeu graças a Deus, por haver concedido tal poder aos
homens. (S. Mateus, cap. IX, vv. 1 a 8.)
15. - Que
significariam aquelas palavras: «Teus pecados te são remitidos» e em que podiam
elas influir para a cura? O Espiritismo lhes dá a explicação, como a uma
infinidade de outras palavras incompreendidas até hoje. Por meio da pluralidade
das existências, ele ensina que os males e aflições da vida são muitas vezes
expiações do passado, bem como que sofremos na vida presente as consequências
das faltas que cometemos em existência anterior e, assim, até que tenhamos pago
a dívida de nossas imperfeições, pois que as existências são solidárias umas com
as outras.
Se, portanto, a
enfermidade daquele homem era uma expiação do mal que ele praticara, o
dizer-lhe Jesus:
« Teus pecados te
são remitidos» equivalia a dizer-lhe: «Pagaste a tua dívida; a fé que agora
possuís elidiu a causa da tua enfermidade; conseguintemente, mereces ficar
livre dela. » Daí o haver dito aos escribas: «Tão fácil é dizer: Teus pecados
te são perdoados, como: Levanta-te e anda. » Cessada a causa, o efeito tem que
cessar. É precisamente o caso do encarcerado a quem se declara: «Teu crime está
expiado e perdoado», o que equivaleria a se lhe dizer: «Podes sair da prisão. »
Os dez leprosos
16. - Um dia, indo
ele para Jerusalém, passava pelos confins da Samaria e da Galileia - e, estando
prestes a entrar numa aldeia, dez leprosos vieram ao seu encontro e,
conservando-se afastados, clamaram em altas vozes: Jesus, Senhor nosso, tem
piedade de nós. - Dando com eles, disse-lhes Jesus: Ide mostrar-vos aos
sacerdotes. Quando iam a caminho, ficaram curados.
Um deles, vendo-se
curado, voltou sobre seus passos, glorificando a Deus em altas vozes; - e foi
lançar-se aos pés de Jesus, com o rosto em terra, a lhe render graças. Esse era
samaritano.
Disse então Jesus:
Não foram curados todos dez? Onde estão os outros nove? - Nenhum deles houve
que voltasse e glorificasse a Deus, a não ser este estrangeiro? - E disse a
esse: Levanta-te; vai; tua fé te salvou. (S. Lucas, capítulo XVII, vv. 11 a
19.)
17. - Os
samaritanos eram cismáticos, mais ou menos como os protestantes com relação aos
católicos, e os judeus os tinham em desprezo, como heréticos. Curando
indistintamente os judeus e os samaritanos, dava Jesus, ao mesmo tempo, uma
lição e um exemplo de tolerância; e fazendo ressaltar que só o samaritano
voltara a glorificar a Deus, mostrava que havia nele maior soma de verdadeira
fé e de reconhecimento, do que nos que se diziam ortodoxos.
Acrescentando:
«Tua fé te salvou», fez ver que Deus considera o que há no âmago do coração e
não a forma exterior da adoração. Entretanto, também os outros tinham sido
curados. Fora mister que tal se verificasse, para que ele pudesse dar a lição
que tinha em vista e tornar-lhes evidente a ingratidão. Quem sabe, porém, o que
daí lhes haja resultado; quem sabe se eles terão se beneficiado da graça que
lhes foi concedida? Dizendo ao samaritano: «Tua fé te salvou», dá Jesus a
entender que o mesmo não aconteceu aos outros.
Mão seca
18. - Doutra vez
entrou Jesus no templo e aí encontrou um homem que tinha seca uma das mãos. - E
eles o observavam para ver se ele o curaria em dia de sábado, para terem um
motivo de o acusar. - Então, disse ele ao homem que tinha a mão seca:
Levanta-te e coloca-te ali no meio. - Depois, disse-lhes: É permitido em dia de
sábado fazer o bem ou mal, salvar a vida ou tirá-la? Eles permaneceram em
silêncio. - Ele, porém, encarando-os com indignação, tanto o afligia a dureza
de seus corações, disse ao homem: Estende a tua mão. Ele a estendeu e ela se
tornou sã.
Logo os fariseus
saíram e se reuniram contra ele em conciliábulo com os herodianos, sobre o meio
de o perderem. - Mas, Jesus se retirou com seus discípulos para o mar,
acompanhando-o grande multidão de povo da Galileia e da Judéia - de Jerusalém,
da Idumeia e de além Jordão; e os das cercanias de Tiro e de Sídon, tendo
ouvido falar das coisas que ele fazia, vieram em grande número ao seu encontro.
(S. Marcos, cap. III, vv. 1 a 8.)
A mulher curada
19. - Todos os
dias de sábado Jesus ensinava numa sinagoga. - Um dia, viu ali uma mulher
possuída de um Espírito que a punha doente, havia dezoito anos; era tão curvada,
que não podia olhar para cima. - Vendo-a, Jesus a chamou e lhe disse: Mulher,
estás livre da tua enfermidade. - Impôs-lhe ao mesmo tempo as mãos e ela,
endireitando-se, rendeu graças a Deus.
Mas, o chefe da
sinagoga, indignado por haver Jesus feito uma cura em dia de sábado, disse ao
povo: Há seis dias destinados ao trabalho; vinde nesses dias para serdes
curados e não nos dias de sábado.
O Senhor, tomando
a palavra, disse-lhe: Hipócrita, qual de vós não solta da carga o seu boi ou
seu jumento em dia de sábado e não o leva a beber? - Por que então não se
deveria libertar, em dia de sábado, dos laços que a prendiam, esta filha de
Abraão, que Satanás conservara atada durante dezoito anos?
A estas palavras,
todos os seus adversários ficaram confusos e todo o povo encantado de vê-lo
praticar tantas ações gloriosas. (S. Lucas, cap. XIII, vv. 10 a 17.)
20. - Este fato
prova que naquela época a maior parte das enfermidades era atribuída ao demônio
e que todos confundiam, como ainda hoje, os possessos com os doentes, mas em
sentido inverso, isto é, hoje, os que não acreditam nos maus Espíritos
confundem as obsessões com as moléstias patológicas.
O paralítico da piscina
21. - Depois
disso, tendo chegado a festa dos judeus, Jesus foi a Jerusalém. - Ora, havia em
Jerusalém a piscina das ovelhas, que se chama em hebreu Betesda, a qual tinha
cinco galerias - onde, em grande número, se achavam deitados doentes, cegos,
coxos e os que tinham ressecados os membros, todos à espera de que as águas
fossem agitadas - Porque, o anjo do Senhor, em certa época, descia àquela
piscina e lhe movimentava a água e aquele que fosse o primeiro a entrar nela,
depois de ter sido movimentada a água, ficava curado, qualquer que fosse a sua
doença.
Ora, estava lá um
homem que se achava doente havia trinta e oito anos. - Jesus, tendo-o visto
deitado e sabendo-o doente desde longo tempo, perguntou-lhe: Queres ficar
curado? - O doente respondeu: Senhor, não tenho ninguém que me lance na piscina
depois que a água for movimentada; e, durante o tempo que levo para chegar lá,
outro desce antes de mim. - Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e
vai-te. - No mesmo instante o homem se achou curado e, tomando de seu leito,
pôs-se a andar. Ora, aquele dia era um sábado.
Disseram então os
judeus ao que fora curado: Não te é permitido levares o teu leito. - Respondeu
o homem:
Aquele que me
curou disse: Toma o teu leito e anda. - Perguntaram-lhe eles então: Quem foi
esse que te disse: Toma o teu leito e anda? - Mas, nem mesmo o que fora curado
sabia quem o curara, porquanto Jesus se retirara do meio da multidão que lá
estava.
Depois,
encontrando aquele homem no templo, Jesus lhe disse: Vês que foste curado; não
tornes de futuro a pecar, para que te não aconteça coisa pior.
O homem foi ter
com os judeus e lhes disse que fora Jesus quem o curara. - Era por isso que os
judeus perseguiam a Jesus, porque ele fazia essas coisas em dia de sábado. -
Então, Jesus lhes disse: Meu Pai não cessa de obrar até ao presente e eu também
obro incessantemente. (S. João, cap. V, vv. 1 a 17.)
22. - «Piscina»
(da palavra latina piscis, peixe), entre os romanos, eram chamados os
reservatórios ou viveiros onde se criavam peixes. Mais tarde, o termo se tornou
extensivo aos tanques destinados a banhos em comum.
A piscina de Betesda,
em Jerusalém, era uma cisterna, próxima ao Templo, alimentada por uma fonte
natural, cuja água parece ter tido propriedades curativas. Era, sem dúvida, uma
fonte intermitente que, em certas épocas, jorrava com força, agitando a água.
Segundo a crença vulgar, esse era o momento mais propício às curas. Talvez que,
na realidade, ao brotar da fonte água, mais ativas fossem as suas propriedades,
ou que a agitação que o jorro produzia na água fizesse vir à tona a vasa
salutar para algumas moléstias. Tais efeitos são muito naturais e perfeitamente
conhecidos hoje; mas, então, as ciências estavam pouco adiantadas e à maioria
dos fenômenos incompreendidos se atribuíam uma causa sobrenatural. Os judeus,
pois, tinham a agitação da água como devida à presença de um anjo e tanto mais
fundadas lhes pareciam essas crenças, quanto viam que, naquelas ocasiões, mais
curativa se mostrava a água.
Depois de haver
curado aquele paralítico, disse-lhe Jesus: « Para o futuro não tornes a pecar,
a fim de que não te aconteça coisa pior. » Por essas palavras, deu-lhe a
entender que a sua doença era uma punição e que, se ele não se melhorasse,
poderia vir a ser de novo punido e com mais rigor, doutrina essa inteiramente
conforme à do Espiritismo.
23. - Jesus como
que fazia questão de operar suas curas em dia de sábado, para ter ensejo de
protestar contra o rigorismo dos fariseus no tocante à guarda desse dia. Queria
mostrar-lhes que a verdadeira piedade não consiste na observância das práticas
exteriores e das formalidades; que a piedade está nos sentimentos do coração.
Justificava-se, declarando: « Meu Pai não cessa de obrar até ao presente e eu
também obro incessantemente. » Quer dizer: Deus não interrompe suas obras, nem
sua ação sobre as coisas da Natureza, em dia de sábado. Ele não deixa de fazer
que se produza tudo quanto é necessário à vossa alimentação e à vossa saúde; eu
lhe sigo o exemplo.
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