(Guia dos Médiuns e dos Doutrinadores) Contém o ensino
especial dos Espíritos sobre a teoria de todos os gêneros de manifestações, os
meios de comunicação com o Mundo Invisível, o desenvolvimento da mediunidade,
as dificuldades e os escolhos que se podem encontrar na prática do Espiritismo.
SEGUNDA PARTE
CAPITULO VII MANIFESTAÇÕES
FÍSICAS ESPONTÂNEAS BICORPOREIDADE E TRANSFIGURAÇÃO
Estudo 42 - Itens 114 ao 120 - Bicorporeidade
Buscando
estudos anteriores, recordamos que o perispírito, no seu estado normal, é
invisível, mas, como é formado de substância etérea, o Espírito, em certos
casos, pode, por sua vontade, fazê-lo passar por uma modificação molecular que
o torna momentaneamente visível.
Conforme o
grau de condensação do fluido perispiritual, a aparição é às vezes vaga e
vaporosa; de outra, mais nitidamente definida; em outras, enfim, com todas as
aparências da matéria tangível. Pode mesmo chegar à tangibilidade real, ao
ponto do observador se enganar com relação à natureza do ser que tem diante de
si.
Ao
estudarmos a bicorporeidade e a transfiguração compreendemos que são variações
de fenômenos de manifestações visuais. A faculdade de emancipação que a alma
possui e seu desprendimento do corpo físico durante a encarnação podem dar
lugar a fenômenos análogos aos que apresentam os Espíritos desencarnados
(aparições). Enquanto o corpo passa pelo sono, o Espírito transportando-se a
diversos lugares, pode tornar-se visível e aparecer sob forma vaporosa, quer no
sonho quer no estado de vigília. Pode também apresentar-se sob forma tangível,
ou pelo menos com uma aparência tão idêntica à real que muitas pessoas podem
estar com a verdade quando afirmam tê-lo visto no mesmo instante em dois pontos
diferentes. De fato era ele, mas um era o corpo verdadeiro e o outro o
Espírito. Foi este fenômeno - por sinal muito raro - que deu origem à crença
nos homens duplos, designada de bicorporeidade.
Nos itens
115, 116 e 117 do capítulo em estudo, Allan Kardec cita exemplos de
bicorporeidade e deixamos aos leitores a tarefa de consultá-los, mas o item 118
apresenta uma questão: como pode o corpo viver enquanto o Espírito se ausenta?
Pode-se afirmar que o corpo se mantém pela vida orgânica, que independe da
presença do Espírito, como se prova pelas plantas, que vivem e não têm Espírito.
Mas devemos acrescentar que, durante a vida, o Espírito jamais se retira
completamente do corpo.
Os
Espíritos, assim como alguns médiuns videntes, reconhecem o Espírito de uma
pessoa encarnada por um traço luminoso que termina no seu corpo (cordão
fluídico), fenômeno que jamais se verifica se o corpo estiver morto, pois então
a separação é completa. É por meio dessa ligação que o Espírito é avisado, a
qualquer distância que estiver, da necessidade de voltar ao corpo, o que faz
com a rapidez de uma relâmpago. Disso resulta que o corpo nunca pode morrer
durante a ausência do Espírito, e que nunca pode acontecer que o Espírito, ao
voltar, encontre a "porta fechada", como afirmam alguns romancistas
em histórias para recrear. (O Livro dos espíritos, nº 400 e seguintes).
Afirma ainda Allan Kardec que o Espírito de uma pessoa viva, afastado do corpo
pode aparecer como o de um morto, com todas as aparências da realidade, podendo
adquirir a tangibilidade momentânea, fenômeno designado de bicorporeidade,
o que deu origem às histórias de homens duplos, indivíduos cuja presença
simultânea se constatou em dois lugares diversos. Apresenta dois exemplos
tirados da História Eclesiástica.
Santo Afonso
de Liguori foi canonizado antes do tempo prescrito, por se haver mostrado
simultaneamente em dois sítios diversos, o que passou por milagre.
Santo
Antônio de Pádua estava pregando na Itália, quando seu pai, em Lisboa, ia ser
supliciado, sob a acusação de haver cometido um assassínio. No momento da
execução, Santo Antônio aparece e demonstra a inocência do acusado.
Comprovou-se que, naquele instante, Santo Antônio pregava na Itália, na cidade
de Pádua.
Quando
evocado e interrogado, acerca do fato acima, Santo Afonso respondeu do seguinte
modo:
1ª Poderias explicar-nos
esse fenômeno?
"Perfeitamente.
Quando o homem, por suas virtudes, chegou a desmaterializar-se completamente;
quando conseguiu elevar sua alma para Deus, pode aparecer em dois lugares ao
mesmo tempo. Eis como: o Espírito encarnado, ao sentir que lhe vem o sono, pode
pedir a Deus lhe seja permitido transportar-se a um lugar qualquer. Seu
Espírito, ou sua alma, como quiseres, abandona então o corpo, acompanhado de
uma parte do seu perispírito, e deixa a matéria imunda num estado próximo do da
morte. Digo próximo do da morte, porque no corpo ficou um laço que liga o
perispírito e a alma à matéria, laço este que não pode ser definido. O corpo
aparece, então, no lugar desejado. Creio ser isto o que queres saber".
2ª Isso não nos dá a
explicação da visibilidade e da tangibilidade do perispírito.
"Achando-se desprendido da matéria, conforme o grau de sua elevação, pode o Espírito tornar-se tangível à matéria".
"Achando-se desprendido da matéria, conforme o grau de sua elevação, pode o Espírito tornar-se tangível à matéria".
3ª É indispensável o
sono do corpo, para que o Espírito apareça noutros lugares?
"A alma
pode dividir-se, quando se sinta atraída para lugar diferente daquele onde se
acha seu corpo. Pode acontecer que o corpo não se ache adormecido, se bem seja
isto muito raro; mas, em todo caso, não se encontrará num estado perfeitamente
normal; será sempre um estado mais ou menos extático".
NOTA. A alma
não se divide, no sentido literal do termo: irradia-se para diversos lados e
pode assim manifestar-se em muitos pontos, sem se fragmentar. Dá-se o que se dá
com a luz, que pode refletir-se simultaneamente em muitos espelhos.
4ª Que sucederia se,
estando o homem a dormir, enquanto seu Espírito se mostra noutra parte, alguém
de súbito o despertasse?
"Isso
não se verificaria, porque, se alguém tivesse a intenção de o despertar, o
Espírito retornaria ao corpo, prevendo a intenção, pois o Espírito lê os
pensamentos".
Afirma Allan
Kardec que explicação inteiramente idêntica foi dada, muitas vezes, por
Espíritos de pessoas mortas ou vivas. Santo Afonso explica o fato da dupla
presença, mas não a teoria da visibilidade e da tangibilidade.
Concluindo o
estudo sobre a bicorporeidade, Allan Kardec acrescenta que a pessoa que se
mostra simultaneamente em dois lugares diversos tem, portanto, dois corpos. Mas
desses dois corpos, um é real, o outro é simples aparência. Pode-se dizer que o
primeiro tem a vida orgânica e que o segundo tem a vida anímica. Ao despertar o
indivíduo, os dois corpos se reúnem e a vida anímica penetra o corpo material.
Não parece possível, pelo menos se conhece disso exemplo algum, e a razão o
demonstra, que, no estado de separação, possam os dois corpos gozar,
simultaneamente e no mesmo grau, da vida ativa e inteligente. Demais, do que
acabamos de dizer ressalta que o corpo real não poderia morrer, enquanto o
corpo aparente se conservasse visível, porquanto a aproximação da morte sempre
atrai o Espírito para o corpo, ainda que por um instante. Daí resulta
igualmente que o corpo aparente não poderia ser assassinado, pois não é
orgânico e nem formado de carne e osso. Desapareceria, no momento em que o
quisessem matar.
Por mais
extraordinário que pareça, este fenômeno não deixa, como todos os outros, de
ser incluído na ordem dos fenômenos naturais, pois se fundamenta nas
propriedades do perispírito e em leis da Natureza.
Recomendamos
consultar também os livros:
KARDEC, Allan
- Revue Spirite, janeiro de 1859: O Duende de Baiona; fevereiro de 1859:
Os agêneres;
meu amigo Hermann; maio de 1859: O laço que prende o Espírito ao corpo;
Novembro de
1859: A alma errante; janeiro de 1860: O Espírito de um lado e o corpo do outro;
março de 1860: Estudos sobre o Espírito de pessoas vivas; o doutor V. e a
senhorita I; abril de 1860: O fabricante de São Petersburgo; aparições tangíveis;
novembro de 1860:
História de
Maria Agreda; julho de 1861: Uma aparição
KARDEC,
Allan - Obras Póstumas, 2.ed. São Paulo: LAKE, 1979 - Manifestações
dos Espíritos.
AKSAKOF, Alexandre - Animismo e Espiritismo, 5.ed., FEB, 1990, cit., vol. II, pp 256 a 262 - Caso da Senhorita Saggé.
AKSAKOF, Alexandre - Animismo e Espiritismo, 5.ed., FEB, 1990, cit., vol. II, pp 256 a 262 - Caso da Senhorita Saggé.
Em nosso próximo estudo veremos o fenômeno da transfiguração.
BIBLIOGRAFIA
KARDEC,
Allan - O Livro dos Médiuns: 2.ed. São Paulo: FEESP, 1989 - Cap VII
- 2ª Parte
JORGE, Jorge
- Antologia do Perispírito: 4. ed. Rio de Janeiro: CELD, 1991 -
Referência 262 a 265.
ZIMMERMANN,
Zalmino - Perispírito: 1. ed. Campinas: CEAK. 2000 - Cap II -
Propriedades do Perispírito.
Tereza Cristina D'Alessandro
Janeiro / 2005
Centro Espírita Batuira
cebatuira@cebatuira.org.br
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