Céu inferno_052_2ª parte cap. IV - Espíritos Sofredores -
Príncipe Ouran
TEXTO PARA ESTUDO
Um Espírito
sofredor se apresenta sob o nome de OURAN, anteriormente príncipe russo.
P. Quereis
nos dar alguns detalhes sobre a vossa situação?
R. Oh!
Bem-aventurados os humildes de coração, o reino do céu lhes pertence! Orai por
mim. Bem-aventurados são aqueles que, humildes de coração, escolhem, para
passarem suas provas, uma posição modesta! Não sabeis, vós todos que a inveja
devora, a qual estado que está reduzido um daqueles a que chamais os felizes da
Terra; não sabeis as brasas ardentes que acumulam sobre sua cabeça; não sabeis
os sacrifícios que a riqueza impõe quando se quer aproveitá-la para a salvação
eterna! Que o Senhor me permita, a mim, orgulhoso déspota, vir expiar, entre
aqueles que esmaguei com a minha tirania, os crimes que o orgulho me fez
cometer! Orgulho! Repeti esse nome sem cessar para que jamais vos esqueçais que
ele é a fonte de todos os sofrimentos que nos oprimem! Sim, abusei do poder e do
favor dos quais gozava; fui duro, cruel, para os meus inferiores que deveriam
curvar-se a todos os meus caprichos, satisfazer todas as minhas depravações.
Quis para mim a nobreza, as honras, a fortuna, e sucumbi sob o peso que tomei
acima de minhas forças.
Os Espíritos
que sucumbem, geralmente, são levados a dizerem que tinham uma carga acima de
suas forças; é um meio de se escusar aos próprios olhos, e ainda um resto do
orgulho: eles não admitem ter falido por suas faltas. Deus não dá a ninguém
acima do que se pode carregar; não pede a ninguém mais do que se possa lhe dar;
não exige que a arvore nascente carregue os frutos daquela que tem todo o seu
crescimento. Deus dá aos Espíritos a liberdade; o que lhes falta é a vontade, e
a vontade depende só deles; com a vontade, não há inclinações viciosas que não
se possam vencer; mas, quando se compraz numa tendência, é natural que não se
façam esforços para superá-la. Não é necessário, portanto, senão tomar a si as consequências
que disso resultem.
P. Tendes a
consciência de vossas faltas, é um primeiro passo para a melhoria.
R. Esta
consciência é ainda um sofrimento. Para muitos Espíritos, o sofrimento é um
efeito quase material, porque, agarrados ainda à humanidade de sua última
existência, não percebem as sensações morais. O meu Espírito está desligado da
matéria, e o sentimento moral aumentou de tudo o que as sensações cruas físicas
tinham de horrível.
P.
Entrevedes um fim para os vossos sofrimentos?
R. Sei que
não serão eternos; o fim não entrevejo ainda; me é necessário antes recomeçar a
prova.
P. Esperais
recomeçar hoje?
R. Não sei
ainda.
P. Tendes a
lembrança de vossos antecedentes? Eu vos pergunto com um fim instrutivo.
R. Sim, teus
guias aí estão e sabem o que te é necessário. Vivi sob Marco Aurélio. Ali, poderoso
ainda, já sucumbi pelo orgulho, causa de todas as quedas. Depois de errar por
séculos, quis experimentar uma vida obscura. Pobre estudante, mendiguei o meu
pão, mas o orgulho aí estava sempre; o Espírito adquirira em ciência, mas não
em virtude. Sábio e ambicioso, vendi a minha alma a quem mais desse, servindo
para todas as vinganças, todos os ódios. Sentia-me culpado, mas a sede de
honrarias, de riquezas, abafava os gritos de minha consciência. A expiação
ainda foi longa e cruel. Enfim, quis, na minha última encarnação, recomeçar uma
vida de luxo e de poder; pensando dominar os escolhos, não escutei os avisos:
orgulho que ainda me levou a fiar no meu próprio julgamento, antes que no
daqueles amigos protetores que não cessam de velar sobre nós; sabes o resultado
desta última tentativa.
Hoje, enfim,
compreendo e espero na misericórdia do Senhor. Deponho aos seus pés o meu
orgulho vencido, e peço-lhe carregar as minhas espáduas com o mais pesado fardo
de humildade; com a ajuda de sua graça, o peso parecer-me-á leve. Orai comigo e
para mim; orai também para que este demônio de fogo não devore em vós os
instintos que vos elevam para Deus. Irmãos em sofrimento, que o meu exemplo vos
sirva, e nunca olvideis que o orgulho é o inimigo da felicidade, porque dele
decorrem todos os males que assaltam a Humanidade e a perseguem até nas regiões
celestes.
O guia do
médium – Tivestes dúvidas sobre este Espírito, porque a sua linguagem não te
pareceu de acordo com o seu estado de sofrimento, que acusa a sua inferioridade.
Não temas: recebeste uma instrução séria; por sofredor que este Espírito seja,
ele é bastante elevado em inteligência, para falar como o fez. Não lhe falta
senão a humildade, sem a qual nenhum Espírito pode chegar a Deus. Essa
humildade ela a conquista agora, e esperamos que, com a perseverança, saíra
triunfante de uma nova prova.
Nosso Pai
celeste é cheio de justiça em sua sabedoria; leva em conta os esforços que o
homem faz para domar os seua maus instintos. Cada vitória obtida sobre vós
mesmos é um degrau transposto nessa escala da qual uma extremidade se apóia na
vossa Terra, e da qual a outra se detém aos pés do Juiz supremo. Subi, pois,
com ardor; eles são agradáveis a vencer para aqueles que têm a vontade forte.
Olhai sempre para o alto, para vos encorajar, porque infeliz daquele que se
detém e olha para trás! É então atingido pelo deslumbramento, o vazio que o
cerca o apavora; acha-se sem força e diz: De que serve querer avançar ainda?
Tão pouco fiz do caminho! Não, meus amigos, não olheis para trás. O orgulho
está incorporado no homem; pois bem! Empregai esse orgulho para vos dar a força
e a coragem para rematar a vossa ascensão. Empregai-o para dominar as vossas
fraquezas, e subirdes ao cume da montanha eterna.
QUESTÕES PARA ESTUDO
1.Por que os
Espíritos que sucumbem nunca aceitam que eram eles mesmos os culpados, sempre
dizendo que carregavam um fardo maior do que aguentavam?
2.Para
muitos Espíritos, o que seria o sofrimento?
3.Segundo
Ouran, o que seria o orgulho?
4.O guia do
médium disse que ele não deveria duvidar desta mensagem. Qual a justificativa?
5.Ainda
segundo o guia do médium, o que caracteriza a justiça na sabedoria divina?
CONCLUSÃO
1.Porque é
um meio de se desculpar aos seus próprios olhos e, ainda, um resto de orgulho.
Eles não admitem falhar por seus erros. Deus não dá a ninguém acima do que pode
carregar; não pede a ninguém mais do que se possa lhe dar; não exigem que a
árvore nascente carregue os frutos daquela que tem todo o seu crescimento. Deus
dá aos Espíritos a liberdade; o que lhes falta é a vontade, e ela depende só
deles. Com a vontade, não há inclinações viciosas que não se possam vencer.
Mas, quando se compraz numa tendência, é natural que não se façam esforços para
superá-la. Não é necessário tomar senão a si as consequências que disso
resultem.
2.Seria um
efeito quase material, porque ainda estão agarrados à sua última existência,
não percebendo as sensações morais.
3.O inimigo
da felicidade, porque dele decorrem todos os males que assaltam a Humanidade e
a perseguem até nas regiões celestes.
4.Ele disse
que Kardec teria dúvidas devido à linguagem usada pelo Espírito, que não tinha
lhe parecido de acordo com o seu estado de sofrimento, que acusa sua
inferioridade. Disse que não temesse, pois havia recebido uma instrução séria;
por sofredor que o Espírito seja, ele é bastante elevado em inteligência, para
falar como o fez. Não lhe falta senão a humildade, sem a qual nenhum Espírito
pode chegar a Deus. Essa humildade ele conquistaria naquele momento e, com
perseverança, sairia triunfante de uma nova prova.
5.Deus é
cheio de justiça em sua sabedoria: leva em conta os esforços que o homem faz
para domar os seus maus instintos. Cada vitória obtida sobre vós mesmos é um
degrau transposto nessa escala da qual uma extremidade se apoia na vossa Terra,
e da qual a outra se detém aos pés do Juiz supremo.
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