A jovem francesa Isabelle Caro, após sofrer todo tipo de
constrangimentos físicos e morais, desencarnou no dia 17 de novembro de 2010.
Caro foi a “modelo” que se tornou mundialmente conhecida após mostrar seu corpo
“esqueleticamente nu” para as imagens midiáticas, na tentativa altruística de
advertir as jovens das passarelas da moda sobre as consequências da anorexia,
doença que sofria desde os 13 anos.
Segundo o informe do Instituto Nacional de Saúde Mental
Norte Americano (NIMH), as desordens alimentícias apresentam as taxas de
mortalidade mais altas de todas as patologias mentais. Na década de 1970, Karen
Carpenter, cantora do grupo Carpenters, também desenvolveu anorexia nervosa.
Ela tentou, em 1982, tratamento com renomados psicanalistas
americanos, porém, no ano seguinte, Karen, com 32 anos, desencarnou em
decorrência de uma parada cardíaca.
Escrevemos para a Revista Eletrônica O Consolador um
artigo (1) sobre o drama de Terri Schiavo, uma mulher da Flórida-EUA, que
esteve em estado vegetativo por longos 15 anos e que foi desconectada do tubo
que a alimentava, depois de um intenso debate entre seus familiares, o governo
americano e os tribunais. Embora não seja citado no artigo, Schiavo sofreu um
ataque cardíaco em 1990, decorrente de anorexia, o que a levou ao dramático estado
de coma.
Nos anos que vão de 1200 a1500, na Europa Medieval,
muitas mulheres faziam prolongados jejuns, e por se conservarem vivas apesar do
seu estado de inanição, eram tidas como santas ou milagrosas. O termo
"anorexia santa" foi cunhado por Rudolph Bell que, valendo-se de uma
moderna teoria psicológica que explicava o jejum, classificou-o como sintoma de
anorexia. Sob o pretexto de que as mulheres alcançariam posição espiritual mais
elevada, conservando-se distantes dos prazeres sexuais e comprometendo-se com
Deus, a Idade Média as forçou a praticar o jejum. O registro da manifestação da
anorexia, no entanto, não teve início nesse período, mas este é, sem dúvida, um
momento de capital importância no estudo dos possíveis paralelos entre as
diversas culturas históricas.
A anorexia nervosa é um transtorno alimentar cujo quadro
psiquiátrico é de 95% dos casos em mulheres adolescentes e adultas jovens, que
perdem o senso crítico em relação à imagem corpórea. Sua etiologia, na
essência, é pouco conhecida. Pode ser determinada por diversos fatores que
interagem
entre si de modo complexo para produzir, e muitas vezes
perpertuar, a enfermidade. Fatores genéticos, psicológicos, sociais, culturais,
nutricionais,
neuroquímicos e hormonais atuam como predisponentes,
desencadeantes ou precipitantes e mantenedores do quadro patológico.
Os transtornos alimentares também costumam ter como
desencadeante algum evento significativo como perdas, separações, mudanças,
doenças orgânicas, distúrbios da imagem corporal (como a insatisfação da
semelhança corporal da mãe), depressão, ansiedade e até mesmo traumas de
infância. Na anorexia nervosa, traços como baixa autoestima ou auto-avaliação
negativa, obsessividade, introversão e perfeccionismo são comuns e geralmente permanecem
estáveis mesmo após a recuperação do peso corporal.
Sob o ponto de vista espírita, afirmamos que a causa do
distúrbio dessa “doença nervosa” pode ter a sua matriz nos arcanos profundos do
inconsciente. Aí estão registrados com som, imagens e movimentos os históricos
de vida de cada um. Nesse sentido, a anorexia é um reflexo dos complexos
adquiridos em vidas pregressas e/ou concomitante aos registros das experiências
de período infantil da vida atual. Os dardos magnéticos acondicionados no
“corpo espiritual” (termo usado por Paulo de Tarso), são projetados na
indumentária física, desarranjando, por conseqüência, as funções endocrínicas e
neurológicas, culminando no aparecimento de doenças físicas e psicológicas de
muitos realces que desafiam a medicina contemporânea. Ainda sob a perspectiva
kadeciana, podemos afirmar que o maior agravante de qualquer doença é a
obsessão espiritual, hoje uma verdadeira pandemia na Terra.
A sociedade vem sofrendo processos obsessórios preocupantes.
A influência do materialismo cresce incessantemente. Os valores morais estão
sendo corrompidos com espantosa velocidade. Nunca o mundo precisou tanto dos
ensinos espíritas como nos tempos atuais, em que anoréxicos definham seus corpos
até a morte. Vivenciamos instantes em que se aguça o individualismo, enodoando
o tecido social, e nos vendavais da tecnologia somos remetidos aos acirramentos
das desigualdades e isolamentos, estabelecendo-se níveis de conforto e exclusão
sociais nunca antes experimentados.
Nesse autêntico amálgama, usando e abusando do livre
arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau
de experiência conquistada. Uns riem hoje, para chorarem amanhã, e outros que
agora se exaltam, serão humilhados depois. Devemos interrogar a própria
consciência, passando em revista os atos cotidianos, para a identificação dos
desvios do deveres que deveriam ter sido cumpridos e dos motivos alheios de
queixa por conta dos nossos atos. Revisemos periodicamente nossas quedas e
deslizes no campo moral, ativando a memória para nos lembrarmos dos tantos
espinhos que já trazemos cravados na "carne do espírito"(2), tal como
ensina o “convertido de Damasco”. Estes espinhos nos lembrarão a nossa condição
de enfermos em estágio de longa recuperação,
necessitados de cautela.
Na anorexia de matizes nervosas a cura não é fácil e exige
apoio familiar, porque é uma patologia com raízes sociomentosomático e espiritual.
O primeiro passo, e o mais importante, é convencer o anoréxico que está doente,
que deve ser tratado antes que seja tarde demais. Não obstante, o emprego de
fármacos para o tratamento ter poucos efeitos concretos, motivo pelo qual seu
uso tem sido limitado. Todavia – graças a Deus! – o mal não é invencível; pelo contrário!
Nos centros espíritas, podem-se encontrar tratamentos eficazes através do passe
magnético, da água fluidificada, do atendimento fraterno, da desobsessão.
A revista Reformador, da FEB, entrevistou o Dr. Elias Barbosa
e o indagou se, na condição de dirigente espírita ou psiquiatra, teve
oportunidade de interagir com o Chico Xavier para o atendimento de pessoas em
desequilíbrio. O médico espírita explicou que “em todos os casos gravíssimos,
geralmente de esquizofrenia e anorexia nervosa, sempre solicitava ao Chico para
que o ajudasse no Sanatório, às vezes com a simples imposição das mãos sobre os
enfermos.”.(3)
Buscar o perfeito equilíbrio entre o corpo físico e o espiritual
é tarefa que compete a cada um de nós, porque, por intermédio do primeiro temos
ensejo de realizar atividades no bem na matéria; por intermédio do segundo
depuramos aquele e chegamos a planos mais evoluídos da Criação. Não esquecendo
que Deus tem Suas leis regendo todas as nossas ações. Se as violamos, assumimos
os ônus.
“Indubitavelmente, quando alguém comete um excesso
qualquer, Deus não profere contra ele um julgamento. Ele traçou um limite. As
enfermidades e, muitas vezes a morte, são consequência dos excessos.
Eis, aí, a punição; é o resultado da infração da lei.
Assim é tudo.”.(4)
Jorge Hessen
Referências:
(1) Hessen, Jorge. Artigo “Somente Deus tem o direito de
dispor da vida humana” disponível no site acesso em 09-01-2011
(2) 2ª Epístola de Paulo aos Coríntios- 7 – “E, para que
não me exaltasse pela excelência das revelações, foi-me dado um espinho na
carne, a saber, um mensageiro de Satanás para me esbofetear, a fim de não me
exaltar”.
(3) Elias Barbosa, entrevista para Reformado da FEB disponível
no site
http://www.febnet.org.br/reformadoronline/pagina/?id=199
acesso em 10-01-2011
(4) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, Rio de Janeiro:
Ed. FEB, 2000, questão 964
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