Desde sua fundação, em 10 de dezembro de 1997, o Centro de
Documentação Espírita do Ceará (Cedec) vem lutando para que o passado do
Espiritismo possa ser conhecido pelas gerações do presente e do futuro. Esses
esforços têm se mostrado sobretudo através da imprensa espírita, pela qual o
Cedec divulga o resultado de seu trabalho em reportagens e artigos
fundamentados por documentos raros que, quase sempre, são descobertos em
gavetas de instituições centenárias ou em bibliotecas e outros centros para
pesquisa.
Imbuído desse mesmo espírito de preservação histórica, o
Centro de Documentação Espírita do Ceará publicou “Mensagens de além-túmulo”,
livro no qual homenageia o saudoso Francisco Cândido Xavier.
A ideia de escrever o livro surgiu depois que o professor
Ary Bezerra Leite descobriu, durante pesquisa que realizava nos arquivos de um
jornal local chamado “O Povo”, uma série de reportagens sobre o médium Chico
Xavier que o vespertino havia reproduzido do jornal “O Globo” em 1935. Foi
assim que a equipe composta pelos pesquisadores Luciano Klein Filho, Marcus
Venícius Monteiro e Rogério Silva tomaram conhecimento das impressões do jornalista Clementino de Alencar sobre o Mineiro do Século.
Clementino deixou o Rio de Janeiro rumo à pequenina Pedro Leopoldo, no interior
de Minas, para colher informações que resultaram numa longa reportagem –
seguramente a primeira de âmbito nacional publicada por um jornal leigo – sobre
um jovem humilde por cujas mãos pessoas que já haviam deixado a Terra escreviam
páginas falando sobre a vida observada sob o prisma do mais além, muitas delas
figuras de destaque na literatura de língua portuguesa. Alguns desses literatos
tiveram suas produções poéticas reunidas num livro, então lançado, de nome “Parnaso
de Além-Túmulo”, obra que balançou os alicerces da incredulidade de muitos
intelectuais da época, merecendo o reconhecimento público de outros vultos
ilustres ainda no plano físico, como o presidente da Academia Brasileira de
Letras, jornalista e escritor Humberto de Campos, que pouco tempo depois, já
desencarnado, prefaciaria a edição futura do mesmo livro, tornando se, ainda,
parceiro do médium em 12 outras obras, publicadas pela Federação Espírita Brasileira.
“Para a consecução deste trabalho montamos uma equipe,
sintonizada com a idéia. (...) O grupo realizou pesquisa em diversos livros,
atualizou a ortografia, organizou os capítulos e as notas de rodapé. No intuito
de enriquecermos a obra, conseguimos fotografias da época, inclusive algumas nunca
publicadas, obtidas dos arquivos do jornal ‘O Globo’” – explica Luciano Klein Filho, na parte inicial do livro.
Um dos momentos curiosos da ampla reportagem, que se desdobrou
em consecutivos números do jornal, é a narrativa de Clementino sobre o seu
primeiro encontro com o jovem médium, ocorrido na casa do coletor Maurício
Azevedo.
“(...) timidamente, uma cabeça, quase risonha, quase
assustada, surge à porta.
– Pronto, doutor...
– Entre, Chico Xavier.
Ele atende. Está agora à nossa frente, encostado à parede,
evidentemente embaraçado diante daquela cara estranha e daqueles olhos
curiosos. Não traz chapéu nem gravata e todo o seu traje é um atestado de pobreza.
É moreno, de um moreno carregado, e tem cabelos muito negros, compridos, crespos.
Baixo, compleição forte. Caboclo.
Mas no físico, não na expressão. Esta é de estranha
humildade e doçura. Com o sorriso leve que mostra agora, seu rosto tem até um
ar de ingenuidade” – conta o repórter.
O livro tem 27 capítulos, que estão distribuídos em 196
páginas, onde se encontram ainda fac-símiles dos jornais da época.
Ao final, há uma relação das obras recebidas pela
mediunidade de Chico e um cronológico com os fatos que mais marcaram os seus 92
anos de existência física.
“Mensagens de além-túmulo” é um lançamento da Madras
Editora, em parceria com a União das Sociedades Espíritas do Estado de São
Paulo (USE).
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