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quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

CAUSA E EFEITO


COMUNICAÇÃO - INFORMAÇÃO ESPÍRITA



SÉRIE ENCONTRO COM CHICO E DIVALDO

*VII - CAUSA E EFEITO*

Tema dos mais instigantes dentre os tratados pelo Espiritismo, a Lei de Causa e Efeito merecerá algumas considerações dentro desta série.

Os leitores vão se situar ante a possibilidade de alguém responder pelos equívocos de outrem, a respeito da relação entre a visão espírita e o Carma, a relação de Causa e Efeito e as cirurgias espirituais, entre outros.

Com a palavra, nossos dois ilustres convidados: Chico Xavier e Divaldo Pereira Franco.

Se uma pessoa inocente foi condenada, os verdadeiros culpados entrarão na lei de causa e efeito?

Chico — Sem dúvida que sim. Porque, por muito que queiramos negar a vida espiritual, ela sempre está presente. Temos um ponto a considerar. Há tempos alguém nos perguntou: Por que você crê nos Espíritos, qual a demonstração que você pode me oferecer para eu compreender o seu ponto de vista? Então o Espírito de Emmanuel me disse: — *Diga ao nosso companheiro, que uma das provas maiores da existência dos Espíritos é o chamado complexo de culpa.*

Porque se não fôssemos portadores de uma vida espiritual intensa, uma vida espiritual genuína, por que tínhamos que sofrer dores, que se manifestam em nossa própria consciência? A criatura responderá pelo desequilíbrio que ela criou ou venha a provocar. E quanto a isto ouvimos os nossos amigos  cantando com tanta beleza esta canção que ficou como um hino, quase que uma religiosa homenagem a Jesus Cristo, como sendo dentro de nossa evolução cultural nos tempos de hoje aquele homem maravilhoso de Nazaré, na canção que nossos amigos cantaram trazendo lágrimas aos nossos olhos. Jesus no capítulo 9, versículos 42 e 49, do Evangelho de São Mateus, nos diz: Tudo indica que Jesus falava mais para os Espíritos que iriam reencarnar do que propriamente para nós que estamos encarnados.

— “Se tua mão é motivo de desequilíbrio, de mal para os outros, é melhor que entres na vida de mãos cortadas. Se teus olhos se tornaram motivo de mal ou desequilíbrio para com os outros é melhor que entres na vida com um olho
apenas, para que teus próprios impulsos sejam controlados”.

Então nós vemos que quando partimos da Terra, levamos as nossas culpas, muitas vezes, somos portadores de culpas resguardadas. Culpas que ficarão dentro de nosso coração, sem nunca ter chegado à tona. Mas esses resíduos de nossa personalidade ficarão dentro de nós, e quando partimos deste mundo esses resíduos vem à tona, então sofremos o processo de nossa própria recuperação, nos tornamos reeducandos com muito mais dificuldades, do que os reeducandos internados neste mundo. Padecemos em nossa vida íntima. E o melhor remédio para nós é a reencarnação. Então pedimos:

Senhor, se eu tenho de assinar decretos que vão ferir os meus semelhantes, se eu tenho que escrever cartas caluniosas, e tenho que apresentar denúncias que vão ferir os nossos companheiros da Terra... Se eu tenho que,
em louvor da delinqüência espalhar o mal, então não me permita Senhor, voltar com os meus braços. Então voltamos mutilados, às vezes nascemos sem os braços, às vezes sem as pernas, ou renascemos cegos. Às vezes o nosso problema de culpa é o suicídio, então sabemos que o suicídio é maior, e tem a dor do tamanho de nosso conhecimento.

Porque nós nos sentimos como criaturas que estamos lesando a Misericórdia Divina. Chegamos então no Além com o problema do suicídio. E, às vezes não pedimos verbalmente, mas desejamos voltar com os recursos necessários à nossa própria regeneração, de modo que quando temos as nossas culpas, nós respondemos por elas, ainda mesmo que levemos os nossos irmãos para determinadas áreas de dificuldades maiores, com as leis penalógicas que nos governam, e ficamos impunes em nosso meio social. Mas a impunidade é transitória, não é impunidade do ponto de vista de um castigo, mas sim a impunidade que aplicamos em nós mesmos. Não é o mesmo que tem os nossos Juizes que respeitamos muito, que são criaturas muito dignas, sábios da ciência jurídica que nos ajudam, e muito mais que isso é o julgamento de nossa própria consciência dentro de nós. De modo que não adianta falar com nossos irmãos, como alguém que não erra, como alguém que não tem muitos erros, pois tenho também. Estou falando de mim mesmo, eu me irmano aos meus irmãos, aos meus companheiros, para dizer que tenho um grau de periculosidade muito alto, e que vou controlando essa periculosidade com a oração, a oração de todos os dias mas eu responderei por essa periculosidade, porque ela diz respeito a mim e minha consciência e estará julgando a mim mesmo, embora ainda eu não tenha entrado na área do julgamento de nossas leis penalógicas. Não sei se me expliquei bem.

Estou aqui como um amigo que está abraçando os seus companheiros. Estou
com eles, como se estivesse com a minha própria família e eu lhes digo: eu também erro, eu também tenho errado, vocês me ajudam e que nos demos as mãos porque sei que a vida é eterna e que eu preciso controlar a mim mesmo. Não sei se estou falando, ou se estou bancando um pregador de falsa moral, o que eu não desejo.

*Como se encaram as cirurgias astrais?*

*Divaldo* - Acreditamos que as cirurgias astrais são válidas, desde que o paciente esteja com o seu carma liberado. Daí, constatar-se que nem toda interferência de ordem espiritual, no campo cirúrgico, dá o resultado que seria de esperar-se. Aliás, mesmo no Evangelho, encontramos uma referência: nem todos aqueles que buscaram Jesus foram curados, porque tinham dívidas, e essas dívidas não estando resgatadas, é óbvio que a cura não se poderia dar.

*Em conseqüência de quais erros um Espírito recebe como prova a reencarnação dentro de uma família, que vive em constante desarmonia?*

Chico — Se há complacência bancária nas reformas de nossos títulos, de nossas duplicatas, se o comércio nos favorece com novas oportunidades porque a Misericórdia Divina, não havia de nos favorecer? Muitos de nós temos dívidas acumuladas e adiadas, mas se temos o espírito de perseverança no esforço de nosso esforço e surjam para nós ensejos novos, pagaremos de qualquer modo, ou a rigor, ou pagaremos em serviço. Às vezes é muito melhor pagar em serviço, e é o que acontece quando reencarnamos em famílias que já estão em serviço na Terra.

Os irmãos me permitem eu quero dizer de mim mesmo porque muitas vezes eu peço: Senhor tenha compaixão de mim, permita-me que eu pague em serviço, porque é muito melhor pagar em serviço do que pagar em cima de uma cama sofrendo dores terríveis, sem rendimentos no Bem para os outros ou para mim mesmo.

Portanto é muito melhor pagar em serviço, porque em serviço compreendemos os outros e guardamos a calma, e com isso se processa o nosso burilamento.

“Um grande incêndio. Em tragédias assim, em datas assim, como se comporta o Espiritismo na explicação do fato?

Divaldo — Para nós, a Terra é o mundo dos efeitos, enquanto o mundo das causas é o de natureza espiritual. Naturalmente, a Divindidade dispõe de recursos por meio dos quais cobra os débitos que contraímos perante a harmonia das leis superiores, não sendo necessário recorrer a esses impactos cognominados calamidades, tragédias, infortúnios. No entanto, como somos negligentes e nem sempre nos submetemos às leis de amor, o Senhor recorre aos efeitos que são decorrência da nossa própria leviandade a fim de corrigir-nos. Em tragédias que tais, como aquela do Edifício Joelma, do Andraus (...) no Edifício Renner, em Porto Alegre, os Espíritos sempre se utilizam de tais dolorosos processos como medida saneadora dos grandes males transatos que causamos. Digamos, por exemplo, que as pessoas envolvidas na tragédia em pauta, hajam sido antigos cristãos partícipes das Cruzadas, que incendiaram cidades inermes, povoados indefesos, e que, agora, por uma lei de afinidade se aglutinaram em um edifício onde irrompeu o incêndio, resgatando, coletivamente, o crime que coletivamente praticaram. Expliquemos melhor: Para nós, espíritas, a noite de São Bartotomeu, de que foi cenário a França, em 24 de agosto de 1572 gerou um carma, uma dívida que a consciência francesa acumulou perante as Leis Divinas, vindo a resgatar pouco mais de 200 anos depois,. quando irrompeu a Revolução de 1789...

Aqueles mesmos destruidores de vidas, fizeram-se as vítimas da intolerância dos novos partidos em lutas aguerridas na comunidade gaulesa. Desta forma,
acreditamos, que, como os homens nos afinamos pelas aptidões e interesses, também nos aglutinamos por identidades psicológicas, cármicas... Somos reunidos onde deveremos atuar no sentido positivo ou resgatar coletivamente as mazelas que acumulamos por imprevidência.

*O perdão realmente existe? Então, por que existe o carma?*

*Chico Xavier* - Uma das grandes virtudes buscadas pelo Espírito, o perdão que parte do coração, manifestado com o completo esquecimento das ofensas, é digno das almas evoluídas.

A lógica do espírita é simples: a própria pessoa que sofre pede a Deus a chance de reencarnar na Terra e passar por aquela provação para assim se livrar de um débito cármico, ou seja, algum mal praticado em vidas passadas que precisa ser expiado para que o Espírito volte a ter paz. Nessa linha de entendimento, ensinam-nos os Espíritos* que o arrependimento concorre para melhoria do Espírito, mas ele tem que expiar o seu passado.

*O que se faz, é o que se paga?*

*Divaldo* - Exatamente. Há, no entanto, uma forma do indivíduo liberar-se de um resgate doloroso: pela soma de benefícios que pratique, anula os males que haja engendrado. Como normalmente não respeitamos esta lei de amor, mediante a prática do Bem, somos conduzidos,’ às vezes, a grandes aflições, através das quais ‘nos liberamos do infortúnio produzido antes.

*Sou epilética, sei que se trata de uma dívida espiritual, mas há possibilidade de cura, pois tomo remédio controlado e quero muito ficar boa. A caridade poderá curar-me, além da fé em Deus?*

*Chico Xavier* - Sobre os desígnios Celestes não podemos nada afirmar, pois sabemos que as Leis Divinas regem nossa evolução. Porém, a caridade, com certeza, nos auxilia no aprendizado e no resgate de grande parte do nosso débito.

Essa caridade, aliada à Fé e à reforma íntima, só podem ajudar a acelerar a passagem pelo processo. E quanto ao aspecto físico, o caminho está correto, o auxílio médico é essencial. Lembremos que a doença do corpo físico pode significar a cura do Espírito e procuremos continuar trabalhando com amor na Seara do Pai.

*Como explicar: ventura ou desventura de um Espírito, na sua primeira reencarnação?*

*Divaldo* - Deus cria os Espíritos, sem nenhuma mácula, “simples e ignorantes”, disse Allan Kardec. Nesse estágio inicial, o seu livre-arbítrio elege a forma pela qual deseja evoluir. Ele pode realizar a sua jornada de maneira segura e direta, e pode realizá-la através da incursão em experiências que lhe trarão naturalmente as conseqüências. Nos primeiros períodos da encarnação e das primeiras reencarnações, o Espírito somente tem venturas. Desarmado de mais ressentimentos e ignorando o lado positivo e negativo da vida, ele é simples, e portanto destituído de maiores ideais. Ele não tem os sofrimentos que lhe edificam a personalidade idealista ou a personalidade marcada pelas frustrações. Mas, à medida que o seu livre arbítrio vai elegendo a forma de progredir, ele vai gerando o carma, palavra sânscrita, que significa lei de causa e efeito, correspondente, na Física, a este mesmo princípio — “Todo efeito provém de uma causa”, que Allan Kardec completaria logo: “Todo efeito inteligente, provém de uma causa inteligente”. Assim, no princípio, são todos inocentes, sem experiências e sem carma. As dores e os júbilos vêm depois das conquistas positivas ou negativas realizadas pelo Ser.

*Ultimamente, tem havido uma série de desastres, onde perdem a vida muitas pessoas, ou seja, desencarnações em massa. Como a Doutrina Espírita explica isso?*

*Chico Xavier* - “Acreditamos na Doutrina Espírita, segundo a qual todas essas ocorrências são subordinadas a leis de causa e efeito. Apesar disso, nós estamos caminhando cada vez mais para um mundo de tecnologia muito avançada. E se não iluminarmos as nossas conquistas científicas com o amor que Jesus nos legou na civilização cristã, sem dúvida seremos obrigados a admitir que a tecnologia pode nos conduzir a desastres coletivos de maior expressão, comprometendo o progresso da Humanidade”.

*Diga-nos três coisas a pessoas que estão sofrendo muito, em certos casos curtindo amargas provas cármicas que as induziram à desesperança.*

*Divaldo* - Tudo na vida é transitório, só o Espírito é eterno. Disse Jesus: “O amor apaga a multidão dos nossos pecados”. No amor, no sofrimento edificante, entrosamo-nos com a Obra da Criação, O amor, sendo o “hálito de Deus”, é a alma da vida e a vida da alma. Através dele iremos minimizar nossos padecimentos pela prática das diversas formas de caridade, pulverizando nossas dívidas acumuladas em vidas passadas.

Tenhamos paciência para com tudo o que, apesar de nossos esforços, não pôde ou não pode ser modificado, conscientizando-nos sempre mais de que nossa vida não começou no berço e não findará no túmulo. Peçamos a Deus discernimento em nossas horas de turvação para que não agravemos nossos males. Aprendamos a ver na fé e no ato de conviver harmoniosamente com o
próximo, principalmente com nossos familiares e consangüíneos, uma graça do amparo de Deus. O ato de servir ao nosso semelhante é, para o que serve, um privilégio ofertado pela Divina Providência.

A estrada é estreita, larga deve ser a nossa fé. Reacendamos luzes de esperança nos recantos sombreados da alma. Vençamos o desespero com a prece e a vigilância, reparando mais nas coisas eternas que nas imediatas, convictos sempre de que não há, não pode haver, injustiça nas Oniscientes Leis Divinas. A própria dor é nossa amiga fiel e mestra constante. Portanto: Fé, Esperança, Caridade, eis os três requisitos necessários ao resgate da nossa felicidade verdadeira.

Fonte

MEDIUNIDADE E PAZ, por F. C. Xavier, ed. Didier

O PEREGINO DO SENHOR, por Altiva Glória F. Noronha, ed. Leal

PLANTÃO DE RESPOSTAS, por F. C. Xavier, ed.Cultura Espírita União

A TERRA E O SEMEADOR, por F. C. Xavier e Emmanuel, ed. Difusão Espírita

VIAGENS E ENTREVISTAS, por Divaldo Pereira Franco, ed. Alvorada

MOLDANDO O TERCEIRO MILÊNIO, por Fernando Worm, ed. CECR



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