Sob o ponto de vista sociológico, o suicídio é um ato
que se produz no marco de situações anômicas, em que os indivíduos se vêem
forçados a tirar a própria vida para evitar conflitos ou tensões inter-humanas,
para eles insuportáveis. Émile Durkheim registra que a causa do suicídio quase sempre
é de matriz social, ou seja, o ser individual é abatido pelo ser social.
Absorvido pelos valores (sem valor), como o
consumismo, a busca do prazer imediato, a competitividade, a necessidade de não
ser um perdedor, de ser o melhor, de não falhar, o homem se afasta de si mesmo
e de sua natureza. Sobrevive de "aparências", para representar um
"papel social" como protagonista do meio. Nessa vivência neurotizante,
ele deixa de desenvolver suas potencialidades, não se abre, nem expõe suas
emoções e se esmaga na sua intimidade solitária.(1)
A simples idéia, e uma vez contínua, leva o indivíduo
à fascinação, à subjugação, e, por fim, ao suicídio. Emmanuel ensina que o suicídio
é como alguém que pula no escuro sobre um precipício de brasas. Após o ato, sobrevêm
ao infeliz a sede, a fome, o frio, o cansaço, a insônia, os irresistíveis
desejos carnais, a promiscuidade e as tempestades com constantes inundações de
lamas fétidas.
Refletindo sobre a questão 945 de "O Livro dos
Espíritos", que pensar do suicídio que tem por causa o desgosto da vida?
Os Espíritos responderam: "Insensatos! Por que não trabalhavam? A
existência não lhes seria uma carga!"(2)
Sabemos que o suicida, além de sofrer no mundo
espiritual as dolorosas conseqüências de seu gesto impensado, de revolta diante
das leis da vida, ainda renascerá com todas as seqüelas físicas daí resultantes,
e terá que arrostar, novamente, a mesma situação provacional que a sua flácida
fé e distanciamento de Deus não lhe permitiram o êxito existencial.
É preciso ter calma para viver, até porque, não há
tormentos e problemas que durem para sempre. Recordemos que Jesus nos assegurou
que "O Pai não dá fardos mais pesados que os ombros".
O suicídio é a mais desastrada maneira de fugir das
provas ou expiações pelas quais devemos passar. É uma porta falsa em que o
indivíduo, julgando libertar-se de seus males, precipita-se em situação muito
pior.
Arrojado violentamente para o Além-túmulo, em plena
vitalidade física, revive, intermitentemente, por muito tempo, os acicates de
consciência e sensações dos derradeiros instantes, além de ficar submerso em
regiões de penumbras, onde seus tormentos serão importantes para o sacrossanto
aprendizado, flexibilizando-o e credenciando-o a respeitar a vida com mais
empenho.
A religião, a moral, todas as filosofias condenam o
suicídio como contrário às leis da Natureza. Todas asseveram, de primeiro, que
ninguém tem o direito de abreviar, voluntariamente, a vida. Entretanto, por que
não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos?
Ao Espiritismo estava reservado demonstrar, pelo exemplo dos que sucumbiram,
que o suicídio não é uma falta somente por constituir infração de uma lei
moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas, também, um ato estúpido,
pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá, como no-lo
ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas.
Não há como falar do assunto sem evocarmos o sociólogo
Emile Durkheim, que afirma existirem homens capazes de resistir a desgraças
horríveis enquanto outros se suicidam depois de aborrecimentos ligeiros. Seria
importante investigar a causa desta resistência diversa e o que contribui para
essa estrutura maior ou menor. Interessante anotar que é nas épocas em que a
vida é menos dura que as pessoas a abandonam com mais facilidade.(3)
Considerada a doença do século, responsável por muitos
dos suicídios, a depressão tem preocupado os especialistas.
Os psiquiatras estimam que de cada grupo de 100
pessoas, 15 têm a probabilidade de desenvolver a depressão, e que é um distúrbio
que ocorre por causa da alteração de substâncias como a serotonina e a noroadrenalina.
O quadro depressivo é gerado por mudanças na produção e utilização dos
neurotransmissores cerebrais (noradrenalina, interferona, serotonina e dopamina
- atualmente, já são conhecidas 64 substâncias do cérebro). Quando sua produção
ou forma de produção se altera, pode gerar a depressão e, daí, para o suicídio
é uma porta escancarada.
O suicida é, antes de tudo, um deprimido, e a
depressão é a doença da modernidade. O suicida não quer matar a si próprio, mas
alguma coisa que carrega dentro de si e que sinteticamente pode ser nominado de
sentimento de culpa e vontade de querer matar alguém com quem se identifica.
Como as restrições morais o impedem, ele acaba se autodestruindo.
Assim "o suicida mata uma outra pessoa que vive dentro dele e que o
incomoda profundamente. A obsessão poderia ser definida como um constrangimento
que um indivíduo, suicida em potencial ou não, sente, graças à presença
perturbadora de um ser espiritual.
Vale a pena ler a descrição feita por Allan Kardec.(4)
Diversas são as obras que comentam o assunto. Temos
como exemplo: "O Martírio dos Suicidas", de Almerindo Martins de Castro,
e "Memórias de um Suicida", de Yvonne A. Pereira. Por outro lado, não
podemos esquecer que Allan Kardec, em o livro "O Céu e o Inferno" ou
"A Justiça divina segundo o Espiritismo", deixa enorme contribuição
em exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida
espiritual e, especificamente, no capítulo V, da Segunda parte, onde aborda a
questão dos suicidas.
É verdade que após a desencarnação não há tribunal nem
Juízes para condenar o espírito, ainda que seja o mais culpado. Fica ele,
simplesmente, diante da própria consciência, nu perante si mesmo e todos os demais,
pois nada pode ser escondido no mundo espiritual, tendo o indivíduo de enfrentar
suas próprias criações mentais.
Jorge Hessen
E-Mail: jorgehessen@gmail.com
FONTES:
1- Durkheim, Emile. Título : El suicidio. P.imprenta :
Tlahuapan, Puebla. Premiá. 1987. 343 p. Edición ; 2a ed. Descriptores: Suicidio.
Sociología. Aspectos psicológicos
2- Kardec , Allan, O Livro dos Espíritos, RJ: Ed FEB,
2001, perg. 945
3-_______, Emile. Título : El suicidio. P.imprenta :
Tlahuapan, Puebla. Premiá. 1987. 343 p. Edición ; 2a ed. Descriptores: Suicidio.
Sociología. Aspectos psicológicos
4- Kardec , Allan, O Livro dos Médiuns, RJ: 44º ed. Ed FEB,
1981, cap. 23
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