O Candomblé, ao desembarcar no País com os escravos, encontrou aqui um
outro culto de natureza mediúnica, chamado "Pajelança", praticado
pelos índios nativos em variadas formas. Em ambos os cultos havia a comunicação
de Espíritos. Os jesuítas, incumbidos de "doutrinar" os índios e
depois o negro, proibiram que estes últimos cultuassem seus "deuses"
pátrios. Naquela época não havia liberdade religiosa. Os escravos, por não
terem outra alternativa (os açoites falavam alto), construíam altares com
imagens e gravuras dos santos do catolicismo. Nas práticas exteriores,
chamavam-nos segundo a vontade dos padres, mas em sua intimidade associavam
essas imagens aos orixás que evocavam fervorosamente. Era a única forma de
continuarem com suas crenças de origem. Formou-se assim o "sincretismo
religioso", ou seja, a associação entre o orixá e o santo da Igreja
Católica. Os rituais eram realizados naturalmente nos terreiros das senzalas.
Com o tempo, alguns terreiros começaram a misturar os rituais do
Candomblé com os da Pajelança, dando origem a um outro culto chamado
"Candomblé de Caboclo". Naturalmente, os Espíritos que se manifestavam
eram os de índios e negros, que o faziam com finalidades diversas.
Do Candomblé primitivo, restou um tronco original que continuou fiel a
suas raízes e que ainda hoje é a melhor linhagem de terreiros na Bahia e outros
Estados do país.
O Candomblé de Caboclo, porém, degenerou-se na prática de baixa magia,
conjuros, Canjerê, Catimbó, macumba e Quimbanda. Uma mistura de cultos que
precisava sofrer a ação do progresso mas que não poderia ser pela influência da
Doutrina Espírita, pois sua natureza abstrata e totalmente despida de rituais,
afastava-a de tudo o que os praticantes dessas variantes do Candomblé estavam habituados.
Em 1908, por vontade dos Espíritos superiores, criou-se um movimento espiritualista,
destinado a fazer progredir aqueles cultos primitivos nascido do Candomblé. Por
meio do médium Zélio Moraes e do Espírito de um padre, chamado Gabriel
Malagrina, na cidade de Niterói, Estado do Rio de Janeiro, nasceu a Umbanda
cristã, bem brasileira.
O trabalho desse Espírito deu origem a uma linhagem de terreiros onde
não se faziam rituais de sacrifícios, não se olhava sorte; os trabalhos tinham
disciplina, com hora para começar e terminar; os adeptos eram convocados ao
estudo do Evangelho de Jesus e a fazer a "caridade" junto do povo sofredor.
Esse culto deveria misturar-se na mentalidade dominante dos terreiros já
existentes, enfraquecendo-a aos poucos quanto ao primitivismo e fazendo esses
trabalhos progredir no mundo das idéias. Segundo Frei Malagrina, a Umbanda
seria a manifestação do Espírito para a prática da caridade.
Ao contrário do Candomblé, a Umbanda admite a manifestação de
Espíritos errantes, exatamente como no Espiritismo. Alguns terreiros fazem
sessões de desobsessão e estudam as obras espíritas.
José Queid Tufaile Huaixan
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