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terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

O DISCIPULO DESPERTA

 O DISCÍPULO DESPERTA

 
        Na minha infinita ignorância eu pensava que era um poderoso rei para quem o universo existia.
       Céus e terras, estrelas e constelações mares e vergéis, pássaros e animais estavam todos a serviço da minha insignificância.
       Cheguei mesmo a acreditar que os homens nasceram para me servir, e que, diferente de todos e de tudo, eu deveria fruir, seguir adiante, não olhar para trás, nem para baixo, somente para cima, para o futuro de gozo ilimitado.
       Atrelado ao carro da ilusão, a infância correu célere demais, sem que me desse conta, fazendo-me contemplar o chão que eu pisava e despertando-me para breves reflexões, que não amadureci.
       Logo depois, a fantasia da juventude foi-se rasgando e despindo-me. Mas, eu me neguei a ver-me igual aos demais indivíduos.
       Quando bebi o licor da idade da razão embriaguei-me de orgulho, intoxicando o discernimento que me tentou apresentar os valores reais da vida.
       O meu era todo o tempo da quimera.
       Eu me encontrava, é certo, inebriado pelos vapores do triunfo que a saúde outorga e a presunção premia.
       Tinha olhos e via; mas não enxergava.
       Possuía ouvidos e escutava; porém não entendia.
       Pensava; no entanto, não ia além dos limites estreitos do meu infeliz personalismo.
       Quando na maturidade do tempo que dá perfume à flor, sabor ao fruto, faz o rio alcançar o mar e a chuva abençoar a terra cansada, comecei a vergar-me na direção do solo, descobrindo que o meu passo, diminuindo de vigor, projetava sombra onde reinava a claridade, então surpreendi-me com a rapidez dos dias e a brevidade dos anos, compreendendo a loucura em que me demorara e sentindo o travo amargo da frustração.
       Todos os prazeres experimentados, que desfilaram pela minha mente, não me atenderam a fome das sensações, encontrando-me tão ansioso e vazio quanto antes.
       O orgulho tombou-me a cabeça e a sua coroa de barro se esboroou no choque da realidade.
       O trono em que me sentava, dourado, apenas por fora, estava devorado pelos cupins esfaimados, e derrubou-me.
       Apagaram-se as luzes do palco de mentira onde eu parecia brilhar, e o espetáculo de fausto cedeu lugar à realidade inevitável, dorida.
       Eu que me supunha rei, descobria, agora, que apenas fora vassalo infeliz; que buscara aproveitar e somente perdera; que ambicionara tudo e não possuía nada.
       Hoje, porém, sei que Tu és o Rei Poderoso que, através do amor, governas os corações, e, por isto, despojado de tudo e de mim mesmo, ajoelho-me aos Teus pés para rogar-Te piedade e ensejo de seguir contigo.

(De A um passo da imortalidade, de Divaldo P. Franco, pelo Espírito Eros)

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