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domingo, 27 de janeiro de 2013

Ética da Alteridade


Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? Não procedem assim também os publicanos? Se apenas os vossos irmãos saudardes, que é o que com isso fazeis mais do que os outros? Não fazem outro tanto os pagãos?
(S. Mateus, Cap V, vv. 46 e 47)
O Evangelho Segundo o Espiritismo Cap XII – Item 1 -
A escola dos relacionamentos é o convite da vida para a vitória sobre o egoísmo. Viver é de todos, conviver é de poucos, e conviver bem é para quantos disponham encetar nova jornada ante a nossa condição de ”cidadãos do universo”.
Cada pessoa que passa pela nossa vida, ainda que superficial e circunstancialmente, é portadora de uma mensagem de vida para nós. Não existem relações casuais.
A boa convivência é quesito de qualidade de vida. Quem a experimenta sorri mais, tem melhor tônus muscular, forra-se de cansaço dos agastamentos, logra melhor nível de sono, vence facilmente a rotina, imuniza-se contra o tédio, amplia sua criatividade e vive na atmosfera da paz.
Livros desatualizam, eventos fecham ciclos, instituições extinguem-se e as tarefas são recursos didáticos, mas os relacionamentos perpetuam na consciência, são as únicas realidades plausíveis de todo o cosmo doutrinário, é a essência do espiritismo em nós.
Por isso, temos que aprofundar conceitos em torno da alteridade, no melhor encaminhamento das nossas questões de amor ao próximo, seja nas atividades educativas da doutrina, seja nas forjas disciplinadoras da sociedade.
Concebamos a alteridade, sem rigor técnico, como sendo a singularidade pertinente a cada criatura. Naturalmente, o conjunto das singularidades humanas estabelece a diversidade. Essa diversidade nos solicita, perante os sábios Códigos do Criador, uma ética nas relações que reflita os princípios de pluralidade natural para a harmonia e evolução.
Assinalemos, assim, de forma compreensível, que a “ética da alteridade” é a nossa capacidade de relativizarmo-nos perante as diferenças das quais os outros são portadores, convivendo em paz com nossos diferentes e suas diferenças, rendendo-lhes respeito e amor na forma como são e se expressam, nas suas particularidades.
Reconhecemos a melhoria das nossas condições pessoais através desse preito espontâneo de reverência, a quem quer que seja, sem que tenhamos que perder a identidade íntima, mantendo-a sempre resguardada pela definição de propósitos e coerência como características de criaturas espiritualmente saudáveis. Ética de alteridade não significa concordar com tudo ou aprovar tudo, ela não nos retira o senso de valor moral enobrecedor, pois nem toda alteridade está engajada nas sendas do bem. Por exemplo: algumas comunidades aferradas ao folclore manterão rituais ou festas que, para o progresso social, em nada cooperam objetivamente, trazendo algum 6
benefício somente para aqueles que fazem cultos a lendas e tradições. Nosso “dever alteritário”, contudo, é respeitar a diferença, buscar compreendê-la na atitude alheia e, quanto possível, buscar aprender algo sobre a “essência do outro” – uma razão profunda e Divina para aquele comportamento, algo “invisível aos olhos” como acentua o inspirado Antoine de Saint Exupéry.
Portanto, perante diferenças sociais, corporais, intelectuais ou de que natureza for, adotaremos a ética da alteridade e vivamos em paz.
Muitas pessoas nutrem um terrível vazio existencial porque querem existir mudando os outros, querem se realizar no outro, acham que têm todas as respostas para ele, querem “anular a diferença” alheia para se sentirem bem. Por isso é tão comum encontrarmos deficiência no próximo. Sempre achamos que se ele mudasse nisso ou naquilo tudo seria melhor e ele, inclusive, seria mais feliz. Esse é o velho hábito da intromissão perniciosa nas desconhecidas terras do mundo da diversidade, que queremos moldar a gosto pessoal, talhando a igualdade como forma de encontrar a fictícia solução para tudo que nos importuna ou contraria os interesses. Muitos conflitos nascem exatamente nesse ato de apropriação indevida da conduta e da forma de ser do próximo. Não sabendo considerar-lhe a singularidade, tentamos combater a diferença ou, o que é pior, adotamos a indiferença...
Pensemos urgentemente na construção da conduta de alteridade em nossas relações.
Prezemos as diferenças e honremo-las com a ética da fraternidade, esse o roteiro saudável proposto por Jesus em sua sábia interrogação: Porque, se só amardes os que vos amam, qual será a vossa recompensa? 7

Amor e Alteridade. Pág. 07
Do Livro Laços de Afeto – Caminhos do Amor na Convivência – Parte II- Capítulo 3 - Primeira Parte: Capítulo 11
Ditado Pelo Espírito Ermance Dufaux – Psicografia de Wanderley S. de Oliveira -

Conselho Espírita de São Bernardo do Campo
Encontros de Atitudes de Amor”
Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho
Reunião do dia 6 de julho de 2008
Tema Central:
Alteridade
A convivência adequada com a diferença, com os diferentes 

Etapas da Alteridade

Necessária é a variedade das aptidões, a fim de que cada um possa concorrer para a execução dos desígnios da Providência no limite do desenvolvimento de suas forças físicas e intelectuais.”

O Livro dos Espíritos – Questão 804

Alteridade, uma palavra que merece atenção nos programas de educação e melhora à luz do Espiritismo humanitário.

Consideremo-la como sendo a singularidade alheia, o distinto, aquilo que é “outro”, a diferença que marca a personalidade de nosso próximo.

Nas abordagens filosóficas a alteridade tem conotações de rara beleza e profundidade demonstrando a importância da diversidade humana. Entretanto, interessa-nos mais de perto, seu enfoque ético na convivência.

O trato humano com a diferença, da qual o outro é portador, tem sido motivo para variados graus de conflitos e adversidades. Inclusive entre os seareiros da causa espírita observa-se o desafio que constitui estabelecer uma relação harmoniosa e fraterna, quando se trata de alguém que não pensa igual ou que foge aos convencionais padrões de ação e pensamento, perante as tarefas promovidas nos círculos doutrinários.

Freqüentemente, a dificuldade em manter a fraternidade com as diferenças e os diferentes tem ocasionado um lamentável fenômeno comportamental na sociedade; a indiferença. A indiferença é a negação da diferença; o outro não faz diferença nenhuma, é um bloqueio deliberado ou inconsciente ao distinto, àquilo que não é o “eu”. Não havendo disposição ou mesmo possibilidade de compatibilidade entre aptidões ou no terreno do entendimento, adota-se a exclusão afetiva como suposta solução para os embates do relacionamento. Leves agastamentos e decepções arrefecem as expectativas e a s frágeis amizades levando muito facilmente a criaturas à mágoa e mesmo ao revanchismo.

Conviver é, de fato, um desafio. A humanidade terrena, nesse início do terceiro milênio, começa a se preocupar em delinear nos seus projetos educacionais a habilidade de “aprender a conviver” como um dos quatro magistrais pilares para todos os conteúdos das escolas do mundo. Muito relevante essa medida, tomando por base que esse será o milênio do homem interior, em contraposição aos últimos mil anos que fundamentaram a era do homem exterior, o homem das conquistas para fora, sendo agora o momento das conquistas e vitórias íntimas: a era do amor falado, sentido e aplicado.

A indiferença provoca uma quase total ausência de solidariedade nas relações entre os homens. O egoísmo é o responsável por essa calamidade da vida humana, levando ao “esfriamento da sensibilidade” ante tanto desrespeito e violência. 3

Compreender as etapas da alteridade nos mecanismo afetivos, sob o prisma do progresso espiritual, é fundamental para procedermos a uma auto-avaliação de nossa posição íntima.

Delineemos essas etapas do crescimento moral e espiritual em três: primeiro o desejo de melhora, posteriormente a interiorização e finalmente a transformação. Em cada uma dessas vivências dilata-se a consciência para uma concepção mais apurada daqueles que jornadeiam conosco no carreiro das experiências de cada instante. Em cada uma, a singularidade “daquele que é outro” toma uma conotação de conformidade com a maturidade afetiva e moral de cada um.

Antes de assinalarmos as características pertinentes a cada passo, deixemos claro que todo processo de mudança interior obedece a esse espírito de seqüência natural. Sem desejo de melhora não existe motivação para quaisquer empreendimentos de renovação. Sem a etapa da interiorização não se deflagra o conhecimento fidedigno do trabalho a ser efetuado na intimidade de si mesmo. E a transformação é o resultado e o objetivo para o qual todos caminhamos na evolução. Esse dinamismo interior é processual e ninguém estagia em uma ou outra etapa separadamente. No entanto, para efeitos didáticos, analisemos o que costuma suceder-se na vida afetiva ao longo dessa caminhada, dentro da relação eu e o outro, para quantos tomam contato com as luzes do Espiritismo:

Desejo de melhora – período em que nos ocupamos pelas ações no bem. Etapa marcada pelo conhecimento espiritual criando conflitos íntimos, impulsionando novos posicionamentos. A necessidade de mudança será proporcional ao nível de maturidade de cada criatura. Nessa fase o outro ainda é uma referência de incômodo, disputa e ameaça, quase um adversário para quem são dirigidas cobranças não suportáveis a si mesmo. Tal estado psicológico instiga o julgamento inflexível através da análise para fora. O principal traço afetivo é a simpatia pelos iguais, aqueles que pensam conforme pensamos, que esposam pontos de vista idênticos. Embora seja um instante de muita “convulsão” nas metas e propósitos de vida, é quando o homem se define por uma nova opção de melhora com base na vida futura, na imortalidade e na ascensão. O convite ético do Espiritismo chega-lhe como consolo e também um abalo nas convicções. Mesmo o próximo não sendo ainda respeitado na sua diferença, trata-se do início da morte da indiferença. Apesar de não aceitar os diferente, já se incomoda com eles, querendo modificá-los: um efetivo sinal de mutação na forma de sentir. Afetivamente não é uma postura ajustada, mas é uma estrada que se abre para superar a tendência de marginalização e impulso para repensarmos a nossa individualidade, até alcançarmos a interiorização.

Interiorização - se na fase anterior a prioridade era a ação, aqui o aprendiz das questões do espírito volta-se para estudar suas reações íntimas. O conhecimento sai da esfera puramente intelectiva para o campo das reflexões sentidas, motivando a busca de estados mentais de harmonia. O “outro” promove-se à condição de espelho das necessidades de nosso aperfeiçoamento, uma extensão de nós próprios que deflagra o processo educativo; afetivamente toma a conotação daquele que nos leva a novos e mais elevados sentimentos. Esse é o estado psicológico da busca de entendimento e do autoconhecimento, uma análise para dentro. Há uma 4

dilatação da sensibilidade para com a diferença alheia, seguida de mais intensa aceitação, disposição para o perdão e a concórdia. Começa-se assim a compreensão da importância que tem a diversidade de aptidões. O desigual passa a ser visto como alguém importante para o nosso crescimento pessoal. A maleabilidade, a assertividade, a empatia e outras habilidades emocionais passam a ser usadas com mais intensidade. Todas essas posturas sedimentam valores novos no rumo da transformação.

Transformação – os valores interiorizados atingem o campo dos sentimentos, é a mudança real. O outro é alteridade, distinção; é o estado psicológico do amor em que a diferença do outro passa a ser incondicionalmente aprovada e, mais que isso, compreendida com indispensável lição de complementaridade. Nessa etapa aprende-se não só a aceitar os diferentes como se consegue aprender com eles, amá-los na sua maneira de ser. É a etapa da felicidade. O outro jamais poderá ser motivo para decepções e mágoas. Ainda que as tenhamos saberemos como lidar bem com essas emoções. A autonomia e a liberdade não permitem amarras e dependência, opressão e sentimentalismo. Aprende-se o auto-amor e por conseqüência ama-se sem sofrimento, sem sacrifícios; ama-se porque o amor é preenchedor e isso, definitivamente, basta.

Jesus na Parábola do Semeador, quando fala dos vários terrenos em que foram distribuídas as sementes, deixa-nos um tratado sobre a alteridade e suas etapas. Os solos da narrativa correspondem aos níveis evolutivos em que cada qual dará frutos, conforme suas possibilidades.

O aprendizado da reforma íntima, inevitavelmente, percorre esses degraus de aprimoramento. A análise sincera dos sentimentos que se movimentam na esfera dos corações nessa marcha de crescimento nos permitirá proceder ao conhecimento de si próprio com mais êxito.

Não esqueçamos, em nosso favor, que em qualquer tempo e lugar, diferenças não são defeitos, os diferentes necessariamente não são oponentes, e a indiferença é o recolhimento egoísta do afeto na escura masmorra do desamor. Nossa harmonia é construída no cultivo das virtudes da indulgência, da fraternidade e do acolhimento.

Ação, reação, transformação: caminhos da alteridade.

Morte da indiferença, autoconhecimento, amor: caminhos da felicidade.

Em quaisquer etapas: sempre alteridade na erradicação do personalismo.

Hosanas às diferenças e aos diferentes! 5



Ética da Alteridade. Pág. 05

Do Livro Unidos pelo Amor - Ética e Cidadania à Luz dos Fundamentos Espíritas – Primeira Parte: Capítulo 15

Conselho Espírita de São Bernardo do Campo

Encontros de Atitudes de Amor”

Grupo Fraternidade Espírita João Ramalho

Reunião do dia 6 de julho de 2008

Tema Central:

Alteridade

A convivência adequada com a diferença, com os diferentes