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sexta-feira, 31 de outubro de 2008

29-O EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO

CAPÍTULO IV: NINGUÉM PODE VER O REINO DE DEUS SE NÃO NASCER DE NOVO
ITENS 5, 7 a 9: RESSURREIÇÃO E REENCARNAÇÃO

            ”E havia um homem, dentre os fariseus, por nome Nicodemos, senador dos judeus.

           Este, uma noite, veio buscar a Jesus, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és mestre, vindo da parte de Deus, porque ninguém pode fazer estes milagres que tu fazes, se Deus não estiver com ele. Jesus respondeu e lhe disse: Na verdade, na verdade te digo que não pode ver o reino de Deus, senão aquele que renascer de novo.

           Nicodemos lhe disse: Como pode um homem nascer, sendo velho?

Porventura pode entrar no ventre de sua mãe e nascer outra vez?

           Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que quem não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que é nascido do Espírito é Espírito. Não te maravilhes de eu te dizer que importa-vos nascer de novo. O Espírito sopra onde quer, e tu ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai. Assim é todo aquele que é nascido do Espírito.

           Perguntou Nicodemos: como se pode fazer isto?

           Respondeu Jesus: Tu és mestre em Israel e não sabes estas coisas? em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e damos testemunho do que vimos, e vós, com tudo isso, não recebeis o nosso testemunho. Se quando eu vos falo das coisas terrenas, ainda assim não me credes, como creríeis, se e vos falasse das celestiais? ( João, III: 1-12)

           Recordemos, inicialmente, quem eram os fariseus, palavra vinda do hebraico parasch, que significa divisão ,separação.

           Das interpretações diversas dos trechos das escrituras, surgiram seitas, das quais a mais importante no tempo de Jesus era a dos fariseus, surgida nos anos 180 a 200 A.C.

Tinha como chefe Hilel, doutor judeu nascido na Babilônia, fundador de uma célebre escola, onde se ensinava que a fé só era dada pelas escrituras. Conservaram o poder até a queda de Jerusalém, no ano 70 da era cristã, quando os judeus se dispersaram.

           No tempo de Jesus, eram "observadores servis das práticas exteriores do culto e das cerimônias, tomados de ardoroso proselitismo, inimigo das inovações, afetavam grande severidade de princípios. Mas, sob as aparências de uma devoção meticulosa, escondiam costumes dissolutos, muito orgulho e sobretudo, excessivo desejo de dominação." "Tinham apenas exterioridades e ostentação de virtudes, mas com isso exerciam grande influência sobre o povo, passando para este como santos personagens." ( Introdução de Kardec ao livro O Evangelho Segundo o Espiritismo, item II)

           Sentiram-se, pois, atacados por Jesus, que ensinava e vivia exatamente o contrário.

           Nos Evangelhos, vemos dois fariseus que se sensibilizaram com os novos ensinos: Nicodemos e Gamaliel que defenderam os apóstolos que haviam sido presos, os quais foram libertados (Atos, 5:33 e seguintes). De Gamaliel temos mais notícias no livro Paulo e Estevão, de Emmanuel, psicografado por Francisco Cândido Xavier, tentando amenizar a severidade dos membros do Sinédrio no julgamento de Estevão, visitando a Casa do Caminho, declarando-se amigo de Simão Pedro, advogando a causa dos continuadores de Jesus nos capítulos VI, VII da primeira parte e declarando-se cristão para Saulo no capítulo II da Segunda parte.

           Nicodemos, talvez por ser pessoa "principal entre os judeus", doutor da lei, rico, procurou Jesus, interessado no que dele ouvira falar, no escuro da noite, para não ser visto.

           Conhecedor da Lei, trata Jesus como Mestre, considera-o enviado por Deus, pelos seus "milagres" e demonstra interesse em conhecer os ensinos de Jesus. Ele e Gamaliel, fariseus, não tinham as características dos fariseus.

           Nesta passagem da vida de Jesus, vemos, uma vez mais, que seus ensinos devem sempre ser interpretados sob a tônica da vida eterna, que não fazia parte das preocupações farisaicas, mais envolvidos em cultos e comportamentos exteriores.

           Quando Jesus lhe diz que "ninguém pode entrar no reino de Deus se não nascer de novo", expondo tão claramente a lei da reencarnação, sua resposta- pergunta demonstra sua ignorância da continuidade da vida após a morte, a ausência de reflexões em torno da imortalidade espiritual: " Como pode um homem nascer sendo velho?" Ele via a pessoa material e não a espiritual.

           Jesus lhe diz que somente entrará no reino de Deus "aquele que nascer da água e do espírito. O que é nascido da carne é carne, o que é nascido do espírito é espírito."

           O Mestre faz aqui uma clara distinção entre corpo carnal e espírito. O corpo renasce pela água, isto é a vida orgânica se origina na água, elemento material. O espírito surge do elemento espiritual e desenvolvendo-se através de corpos materiais, em mundos materiais, segundo a lei da reencarnação, vai adquirindo as qualificações de perfeição para a qual está destinado. O corpo é de natureza material, a alma é de natureza espiritual. Escreve Kardec que essa referência de Jesus : nascer de novo da água e do espírito, significa renascer com o corpo e a alma. Por isso ele acrescentou: “Não te maravilhes de eu te dizer que importa-vos nascer de novo."

           O "espírito sopra onde quer, e ouves a sua voz, mas não sabes de onde ele vem, nem para onde vai." Kardec escreve que se pode entender essa frase como uma referência a Deus, mas pode-se entender também como referindo-se à alma, espírito encarnado, do qual sabemos que é criação divina, mas não sabemos como , nem quando foi criado. Se fosse criado junto com o corpo físico, então conheceríamos seu começo.

           O espírito, sendo imortal e perfectível, tem de renascer tantas vezes quantas forem necessárias para atingir seu destino: ser perfeito, como afirmou Jesus : "Sede perfeitos"

Evidentemente que, enquanto está o espírito fazendo sua evolução no decorrer dos milênios, precisa de alvos menores a serem perseguidos, alvos estes que, na medida em que forem sendo atingidos, estimulem e favoreçam o esforço na continuação dessa caminhada para alvo maior.

           Então, essas palavras de Jesus devem nos estimular, a cada existência, a irmos nos desfazendo das nossas imperfeições, despojando- nos do "homem velho", renovando-nos , renascendo para o bem, no bem e pelo bem.

           Mas essa conversa com Nicodemos confirma a lei da reencarnação, idéia que já existia entre muitos homens na Terra, muito tempo antes de Jesus.

Leda de Almeida Rezende Ebner

Outubro 

O LIVRO DOS ESPÍRITOS (I)

Revista Espírita de Allan Kardec

Janeiro, 1858

CONTENDO

OS PRINCÍPIOS DA DOUTRINA ESPÍRITA

Sobre a natureza do mundo incorpóreo, suas manifestações e suas relações com os homens; as leis morais, a vida presente, a vida futura e o futuro da Humanidade.

ESCRITO DE ACORDO COM O DITADO E PUBLICADO POR ORDEM DOS ESPIRITOS SUPERIORES

Por Allan Kardec

Como o indica o título, a obra não é uma doutrina pessoal: é o resultado do ensino direto dos próprios Espíritos sobre os mistérios do mundo aonde iremos um dia e sobre todas as questões que interessam à Humanidade; eles nos dão de algum modo um código de vida, traçando-nos a rota da felicidade porvindoura.

Este livro não é fruto de nossas idéias, pois sobre muitos pontos importantes tínhamos uma maneira de ver bem diversa; por isso nossa modéstia não poderá ressentir-se de nossos elogios. Preferimos, entretanto, deixar que falem os que estão inteiramente desinteressados por esta questão.

Sobre este livro o Courrier de Paris, de 11 de junho de 1857, estampou o seguinte artigo:

A DOUTRINA ESPÍRITA

Faz pouco tempo publicou o editor Dentu uma obra deveras notável; diríamos mesmo muito curiosa, se não houvesse coisas às quais repugna qualquer classificação banal.

O Livro dos Espíritos, do Sr. Allan Kardec, é uma página nova do próprio grande livro do infinito e, estamos persuadidos, uma marca será posta nesta página. Seria lamentável que pensassem estarmos aqui a fazer reclame bibliográfico: se tal se pudesse admitir, preferiríamos quebrar a pena. Não conhecemos absolutamente o autor mas proclamamos bem alto que gostaríamos de o conhecer. Quem escreveu aquela introdução que abre o Livro dos Espíritos deve ter a alma aberta a todos os sentimentos nobres.

Aliás, para que não se ponha em dúvida a nossa boa fé e nos acusem de partidarismo, diremos com toda a sinceridade que jamais fizemos um estudo aprofundado das questões sobrenaturais. Apenas, se os fatos produzidos nos causaram admiração, pelo menos não nos levaram a dar de ombros. Somos um pouco da classe chamada dos sonhadores, porque não pensamos como todo mundo. A vinte léguas de Paris, ao cair da tarde quando em nossa volta tínhamos apenas algumas cabanas esparsas, pensamos naturalmente em coisas muito diversas da Bolsa, do macadame dos bulevares ou nas corridas de Longchamps. Muitas vezes nos interrogávamos e durante muito tempo, antes de ter ouvido falar em médiuns, a respeito do que se passava nas regiões que se convencionou chamar o Alto. Há tempos chegamos mesmo a esboçar uma teoria sobre os mundos invisíveis, guardando-a ciosamente para nós e nos sentimos muito felizes porque a encontramos, quase que por inteiro, no livro do Sr. Allan Kardec.

A todos os deserdados da Terra, a todos quantos marcham e que, nas suas quedas, regam com as lágrimas o pó da estrada, diremos: Lede o Livro dos Espíritos; ele vos tornará mais fortes. Também aos felizes, aos que pelo caminho só encontram as aclamações e os sorrisos da fortuna, diremos: Estudai-o e ele vos tornará melhores.

O corpo da obra, diz o Sr. Allan Kardec, deve ser atribuído inteiramente aos Espíritos que o ditaram. Está admiravelmente dividido no sistema de perguntas e respostas. Por vezes estas últimas são sublimes, o que não nos surpreende. Mas não foi necessário um grande mérito a quem as soube provocar?

Desafiamos aos mais incrédulos a rir quando lerem esse livro em silêncio e na solidão. Todos honrarão àquele que lhe escreveu o prefácio.

A doutrina se resume em duas palavras: não façais aos outros o que não quereis que vos façam. Lamentamos que o Sr. Allan Kardec não tivesse acrescentado: e fazei aos outros como quereríeis que vos fizessem. Aliás, o livro o diz claramente, sem o que a doutrina não seria completa. Não basta não fazer o mal: é preciso ainda que se faça o bem. Se fores apenas homem de bem, só terás cumprido a metade do dever. Somos um átomo imperceptível desta grande máquina chamada mundo, na qual nada é inútil. Não nos digam que é possível ser útil sem fazer o bem: seríamos forçados a responder por um volume.

Lendo as admiráveis respostas dos Espíritos na obra do Sr. Kardec, dissemos a nós mesmo que havia um belo livro a escrever. Logo verificamos, entretanto, o nosso engano: o livro já está escrito. Procurando completá-lo, apenas o estragaríamos.

O senhor é homem de estudo e tem aquela boa fé que apenas necessita instruir-se?

Então leia o LIVRO PRIMEIRO sobre a doutrina espírita.

Está na classe das criaturas que apenas se ocupam consigo mesmas e que, como se costuma dizer, fazem os seus negócios muito tranqüilamente e nada enxergam além dos próprios interesses? Leia as Leis Morais.

A desgraça o persegue encarniçadamente e a dúvida o tortura por vezes no seu abraço gelado? Estude o terceiro livro: Esperanças e Consolações.

Todos quantos aninham pensamentos nobres no coração e acreditam no bem, leiam o livro da primeira à última página.

Aos que encontrassem matéria para zombarias, o nosso sincero lamento.

G. DU CHALARD.

Das numerosas cartas que nos têm sido dirigidas desde a publicação do Livro dos Espíritos, citaremos apenas duas, porque, de certo modo, resumem a impressão produzida pelo livro e o fim essencialmente moral dos princípios que o mesmo encerra.

Bordeus, 25 de abril de 1857.

Senhor,

V. S.a submeteu minha paciência a uma grande prova, pelo retardamento da publicação do Livro dos Espíritos, há tanto tempo anunciado. Felizmente não perdi com a espera, porque ele ultrapassa toda a idéia que eu havia feito, baseado no prospecto.

Impossível descrever o efeito em mim produzido: sinto-me como um homem que saiu da escuridão; parece-me que uma porta, até hoje fechada, abriu-se subitamente; minhas idéias ampliaram-se em poucas horas! Oh! Quanto a humanidade e todas essas miseráveis preocupações me parecem mesquinhas e pueris ao lado desse futuro de que não duvidava, mas que me era de tal modo obscurecido pelos preconceitos, que eu apenas o imaginava!

Graças ao ensino dos Espíritos, agora se me apresenta sob uma forma definida, perceptível, maior, mais bela, e em harmonia com a majestade do Criador. Quem quer que leia esse livro meditando, como eu, nele encontrará inesgotável tesouro de consolações, pois que ele abarca todas as fases da existência. Em minha vida sofri perdas que me afetaram vivamente; hoje não me causam nenhum desgosto e toda a minha preocupação é empregar utilmente o tempo e minhas faculdades para acelerar meu progresso, pois agora para mim o bem tem uma finalidade e compreendo que uma vida inútil é uma vida egoística, que não nos ajudará a avançar na vida futura.

Se todos os homens que pensam como eu e como o senhor, e que são multidões, ao que espero, para honra da humanidade, pudessem se entender, reunir-se e trabalhar de acordo, que poder não teriam para apressar essa regeneração que nos é anunciada!

Quando eu for a Paris terei a honra de o procurar e, se não for abusar do seu tempo, pedir-lhe-ei mais explicações sobre certos trechos e alguns conselhos sobre a aplicação das leis morais em certas circunstâncias pessoais. Receba, senhor, a expressão de todo o meu reconhecimento porque o senhor me proporcionou um grande bem, mostrando-se o único caminho da felicidade real neste mundo e, quiçá, além disso, um lugar melhor no outro.

Seu dedicado

Capitão reformado D...

Lião, 5 de julho de 1857.

Senhor,

Não sei como lhe exprimir o meu reconhecimento pela publicação do Livro dos Espíritos, que acabo de reler. Como tudo quanto o senhor nos ensina é consolador para a nossa pobre humanidade! Por mim confesso que me sinto mais forte e mais encorajado para suportar as penas e os aborrecimentos ligados à minha pobre existência. Faço meus amigos parIlIbarem das convicções adquiridas na leitura de sua obra; todos se sentem muito felizes; compreendem agora as desigualdades das posições sociais e não murmuram contra a Providência; a esperança fundamentada num futuro mais feliz, desde que bem se conduzam, os conforta e lhes dá coragem. Queria eu, senhor, ser-lhe útil: sou um simples filho do povo, que se criou numa posição insignificante pelo trabalho, mas a quem falta instrução, pois fui obrigado a trabalhar desde menino. Entretanto, sempre amei a Deus e fiz tudo quanto era possível para ser útil aos meus semelhantes: eis porque procuro tudo que possa aumentar a felicidade de meus irmãos. Vamos nos reunir, diversos adeptos esparsos; faremos esforços para o ajudar: o senhor levantou a bandeira e nossa obrigação é segui-lo. Contamos com o seu apoio e os seus conselhos.

Subscrevo-me, senhor, se me permite chamá-lo de confrade, seu dedicado.

C...

Muitas vezes nos foram dirigidas perguntas sobre a maneira por que foram obtidas as comunicações que constituem o Livro dos Espíritos. Resumimos aqui, com muito prazer, as respostas que temos dado a tais perguntas; é uma oportunidade para resgatarmos uma dívida de gratidão para com as pessoas que tiveram a boa vontade de nos prestar o seu concurso.

Como explicamos, as comunicações por meio de batidas, outrora chamadas signologia, são muito lentas e muito incompletas para um trabalho de fôlego; por isso tal recurso jamais foi utilizado.

Tudo foi obtido pela escrita, por intermédio de diversos médiuns psicógrafos. Nós mesmos preparamos as perguntas e coordenamos o conjunto da obra; as respostas são, textualmente, as que nos deram os Espíritos; a maior parte delas foram escritas sob nossas vistas, outras foram tiradas de comunicações que nos foram remetidas por correspondentes ou que colhemos aqui e ali, onde estivemos fazendo estudos. Parece que para isso os Espíritos multiplicam aos nossos olhos os motivos de observação.

Os primeiros médiuns que concorreram para o nosso trabalho foram as senhoritas B..., cuja boa vontade jamais nos faltou. O livro foi quase todo escrito por seu intermédio e em presença de numeroso público que assistia às sessões, nas quais tinha o mais vivo interesse. Mais tarde os Espíritos recomendaram uma revisão completa em sessões particulares, tendo-se feito, então, todas as adições e correções julgadas necessárias. Esta parte essencial do trabalho foi feita com o concurso da Senhorita Japhet (2), a qual se prestou com a melhor boa vontade e o mais completo desinteresse a todas as exigências dos Espíritos, porque eram eles que marcavam dia e hora para suas lições. O desinteresse não seria aqui um mérito especial, desde que os Espíritos reprovam qualquer tráfico que se possa fazer da sua presença; a Senhorita Japhet, que é também uma notável sonâmbula, tinha seu tempo utilmente empregado: mas compreendeu que também lhe daria uma aplicação proveitosa ao se consagrar à propagação da doutrina. Quanto a nós, já declaramos desde o princípio, e temos a satisfação de o reafirmar agora, jamais pensamos em fazer do Livro dos Espíritos objeto de especulação: seu produto será aplicado a coisas de utilidade geral. Por isso seremos sempre gratos aos que, de coração e por amor ao bem, se associaram à obra a que nos consagramos.

(1) 1 vol. in-8.º em 2 col., 3 fr.: Dentu, Palais-Royal e na redação do jornal, rua e galeria Sant'Ana, 59 (antiga rue des Martyrs, n. 8).

(2) Rua Tiquetonne, 14.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Eutanásia

Richard Simonetti

O termo eutanásia, cujo significado é “morte feliz”, foi criado pelo filósofo Francis Bacon. Ele argumentava que o médico tem a responsabilidade de aliviar doenças e dores, não somente com a cura do mal, mas também proporcionando ao doente uma morte calma e fácil, se o problema for irreversível.

Embora universalmente considerado homicídio, a eutanásia conta com a benevolência da justiça quando aplicada em pacientes terminais atormentados por dores e aflições. São raríssimos os processos contra pessoas envolvidas nesse crime.

Em alguns países cogita-se de considerá-la simples ato médico com o consentimento do próprio doente ou de familiares, no piedoso propósito de abreviar seus padecimentos.

As religiões em geral manifestam-se contrárias à eutanásia, partindo de dois princípios fundamentais:

Primeiro: Compete a Deus, senhor de nossos destinos, promover nosso retorno à Espiritualidade.

Na tábua dos Dez Mandamentos Divinos, recebida por Moisés no Monte Sinai, onde estão os fundamentos da justiça humana, há a recomendação inequívoca: “Não matarás”.

Segundo: Ninguém pode afirmar com absoluta segurança que um paciente está irremediavelmente condenado. A literatura médica é pródiga em exemplos de pacientes em estado desesperador que se recuperam.

O Espiritismo ratifica tais considerações e nos permite ir além, demonstrando que a eutanásia não só interrompe a depuração do Espírito encarnado pela enfermidade, com lhe impõe sérias dificuldades no retorno ao Plano Espiritual.

André Luiz aborda esse assunto no livro “Obreiros da Vida Eterna”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, ao descrever o desencarne de Cavalcante, dedicado servidor do Bem, empolgado por injustificáveis temores da morte. Não obstante seus méritos e o amplo apoio dos amigos espirituais que o assistiam, ele simplesmente recusava-se a morrer, apegando-se à vida física com todas as forças de sua alma.

Com o moribundo inconsciente e sem nenhum familiar a consultar, o médico decide, arbitrariamente, abreviar seus padecimentos, aplicando-lhe dose letal de anestésico. Diz André Luiz:

“Em poucos instantes, o moribundo calou-se. Inteiriçaram-se-lhe os membros vagarosamente.

Imobilizou-se a máscara facial. Fizeram-se vítreos os olhos móveis.”

“Cavalcante, para o espectador comum, estava morto. Não para nós, entretanto. A personalidade desencarnante estava presa ao corpo inerte, em plena inconsciência e incapaz de qualquer reação”.

Jerônimo, o mentor espiritual que acompanha André Luiz, explica:

“A carga fulminante da medicação de descanso, por atuar diretamente em todo o sistema nervoso, interessa os centros do organismo perispiritual. Cavalcante permanece, agora, colado a trilhões de células neutralizadas, dormentes, invadido, ele mesmo,de estranho torpor que o impossibilita de dar qualquer resposta ao nosso esforço. Provavelmente só poderemos libertá-lo depois de decorridas mais de doze horas.”

Finalizando o autor acentua:

“E, conforme a primeira suposição de Jerônimo, somente nos foi possível a libertação do recémdesencarnado quando já haviam transcorrido vinte horas, após o serviço muito laborioso para nós.

Ainda assim, Cavalcante não se retirou em condições favoráveis e animadoras. Apático, sonolento, desmemoriado, foi por nós conduzido ao asilo de Fabiano*, demonstrando necessitar de maiores cuidados.”

Aplicada desde as culturas mais antigas, a eutanásia, longe de situar-se por “morte feliz” é uma solução infeliz para o paciente, além de se constituir em lamentável desrespeito aos desígnios de Deus.

* Instituição socorrista do Plano Espiritual

Transcrito do livro “Quem tem medo da morte?” de Richard Simonetti

Informativo CME

Boletim do Núcleo de Barra Mansa da Cruzada dos

Militares Espíritas - Novembro de 1997

ESTUPRO E ABORTO NA VISÃO ESPÍRITA

rhdb@matrix.com.br

Dr. Ricardo Di Bernardi - Florianópolis SC

Em diversas oportunidades, quando fizemos palestra sobre reencarnação e aborto, fomos questionados posteriormente sobre a dolorosa e delicada circunstância do estupro.

Principalmente, ao se propiciar perguntas nos serem dirigidas por escrito viabilizava-se este questionamento.

Embora o tema seja potencialmente polêmico e desagradável, não há como ignorá-lo no contexto de nossa situação planetária.

A grande discussão que se levanta é a legitimidade, ou não, do aborto, quando a gravidez é conseqüente a um ato de violência física. Mais uma vez, nos posicionamos em relação ao aspecto legal da questão nos abstendo de maiores comentários no campo jurídico pois leis e constituições os povos já tiveram inúmeras e tantas outras terão. Nossa abordagem será pelo ângulo transcendental e reencarnacionista considerando que são três (3) espíritos, no mínimo, envolvidos na tragédia em questão.

Igualmente, quanto ao aspecto da ética médica, a qual estamos submetidos por força da profissão que nesta reencarnação exercemos, lembramos ser esta ética diferente em cada país do planeta. Numa escala de zero a 10, teremos todas as notas, conforme a nação e o continente que nos reportarmos.

Inicialmente, cumpre-nos esclarecer que o livre arbítrio é o maior patrimônio que nós, espíritos humanos, temos alcançado ao atingirmos a faixa evolutiva pensante. Livre arbítrio que não legitima atitudes, mas oportuniza às criaturas decidir e se responsabilizar pelas conseqüências de seus atos posteriores.

Outra premissa que deveremos estabelecer é aquela da maior ou menor repercussão dos atos perante a Lei Universal, em função do nível de esclarecimento que possuímos.

Importante também salientar que não há atos perversos que tenham sido planejados pela espiritualidade superior. Seria de uma miopia intelectual sem limites, a idéia de que alguém deve reencarnar a fim de ser estuprado.

A concepção do Deus punitivo e vingativo já não cabe mais no dicionário dos esclarecidos sobre a vida espiritual. Deus é a fonte inesgotável de amor.

É a Lei maior que a tudo preside, uma lei de amor que coordena as leis da natureza.

Como conceber a violência física? como enquadrar a onipresença divina em situações e sofrimentos que observamos? Deus estaria ausente nestas circunstâncias? Ou estaria presente? Para muitos indivíduos se estivesse presente já seria motivo para não crer na sua existência ou na sua infinita bondade e onisciência.

Outra questão importante: Quem é a "vítima"? Cada um de nós ao reencarnar trouxe todo o seu passado impresso indelevelmente em si mesmo, são os núcleos energéticos que trazemos em nosso inconsciente construídos no passado.

Espíritos que somos e pelas inúmeras viagens que percorremos, representadas pelas inúmeras vidas, possuímos no nosso "passaporte" inúmeros "carimbos" das pousadas onde estagiamos em vidas anteriores. Hoje, a somatória destas experiências se traduzem em manancial energético que irradia constantemente do nosso interior para a superfície desta vida.

Assim, é também a "vítima. A jovem que hoje se apresenta de forma diferente, traz em seu passado profunda marcas de atitudes prejudiciais a irmãos seus. Atitudes de desequilíbrio que são gravadas em si mesma.

Algumas delas participaram intelectualmente de verdadeiras emboscadas visando atingir de maneira dolorosa a intimidade sexual de criaturas; outras foram executoras diretas, pela autoridade que eram investidas, de crimes nesta área. enfim, são múltiplas as situações geradoras da desarmonia energética que agora pulsa constantemente nos arquivos vibratórios da nossa personagem neste drama.

Pela Lei Universal, a sintonia de vibrações, poderá ocorrer em um dado momento dependendo da facilitação criada por atitudes mentais da personagem apresentou como surpresa desagradável para a agredida.

Como orientar a vítima? Identificados dois dos protagonistas (mãe e filho) falemos acerca da entidade reencarnante Em certas ocasiões, o ser que mergulha na carne nesta dolorosa circunstância é alguém que vibra na mesma faixa de desequilíbrio. Um espírito que pelo ódio se imantava magneticamente à aura da jovem como que pedindo-lhe contas pelos sofrimentos causados por ela, se vê preso às malhas energéticas do organismo biológico que se forma.

O processo obsessivo que vinha se desenvolvendo já o fixara perifericamente à trama perispiritual materna e agora passa a aderir definitivamente naquele organismo feminino.

Apesar do momento cruel, a Lei maior pode aproveitar para retirar o perseguidor desta situação adormecendo-o. Acordará, talvez, embalado pelos braços de sua antiga algoz que aprenderá a perdoar e até amar em função do sábio esquecimento do passado.

Lembramos, novamente, não foi em hipótese alguma programado o estupro, nem ele em qualquer circunstância teria justificativa. No entanto o crime existindo, a espiritualidade sempre fará o máximo para do "mal" poder resultar algum bem.

Mas, muitas vezes, a gestante pressionada pelos vínculos familiares opta por interromper a gravidez indesejada.

Somos contrários a teatralidade daqueles que exibem recursos chocantes de fragmentos ensangüentados de bebês em formação, jogados nos baldes frio da indiferença humana. A falta de argumento e conhecimento espírita do processo que se desencadeia, é que faz lançar mão destes métodos agressivos de exposição.

A visão espiritual da situação dispensa estes recursos dos quais podem se servir outras correntes religiosas que desconhecem a preexistência da alma o mecanismo da reencarnação, etc.

O espírito submetido à violência do aborto sofre intensamente no processo, conforme o seu grau de maturidade espiritual. Perante a Lei divina sabemos que o espírito reencarnado não deve receber a agressão arbitrária em face da violência cometida por outro. Violência que gera violência, um ciclo triste que necessita ser rompido com um ato de amor a um entezinho que muitas vezes aspira por uma oportunidade de evolução em nova vida.

O aborto provocado gera muitas vezes profundos traumas em todos os envolvidos exacerbando a dolorosa situação cármica da constelação familiar. Ninguém é mãe ou filho de outrem por casualidade. Há, sempre, um mecanismo sábio da lei que visa corrigir ou atenuar sofrimentos.

Há, também, espíritos afins e benfeitores que, visando amparar a futura mãe, optam pelo reencarne na situação surgida. A vítima do estupro, poderá ter ao seu lado toda luz de alguém que poderá vir a ser o seu arrimo e consolo na velhice.

Irmãos cheios de ternura em seu coração, com projetos de dedicação e amparo, aproveitam o momento criado pelo crime para auxiliar, diretamente, na vida material, dando todo seu trabalho afetivo para aquela que amam. Renascem como seu filho.

A eliminação da gravidez, através do aborto provocado, nestes casos, irá anular este laborioso auxílio que o espírito protetor lamentará ter perdido.

Pelo exposto, a interrupção da gestação mesmo decorrente de violência, é sempre uma atitude arbitrária que só ampliará o sofrimento dos familiares. Se a jovem for emocionalmente incapaz de atender os requisitos da maternidade, a adoção, preferencialmente por pessoas de vínculos próximos, deverá ser o remédio por nós indicado.

Se não houver possibilidades psiquicamente aceitáveis de recepção por parte de familiares, encaminhe-se os trâmites da adoção para quem receberá aquela criatura com o amor necessário ao seu processo redentor e educativo.

O tempo se encarregará de cicatrizar os ferimentos da alma.

ESPÍRITOS ERRANTES OU ENCARNADOS

Revista Espírita de Allan Kardec

Fevereiro, 1858

 

Quanto às suas qualidades íntimas, são os Espíritos de diferentes ordens, que percorrem sucessivamente, à medida que se depuram. Como estado, podem estar encarnados, isto é, unidos a um corpo, num mundo qualquer; ou errantes, isto é, desligados de um corpo material e esperando nova encarnação para melhorarem.

Os Espíritos errantes não formam uma categoria especial: trata-se de um dos estados em que se podem encontrar.

O estado errante ou a erraticidade não significa inferioridade para os Espíritos, pois que nele podemos encontrá-los de todos os graus. Todo Espírito que não está encarnado é, por isso mesmo, errante, salvo os Espíritos puros que, não devendo passar por outras encarnações, estão em estado definitivo.

Sendo a encarnação um estado transitório, a erraticidade é realmente o estado normal dos Espíritos, e esse estado não lhes é, forçosamente, uma expiação; nesse estado são felizes ou desventurados, conforme seu grau de elevação e o bem ou o mal que hajam praticado.

EDUCAÇAO: Tarefa Prioritária do Centro Espírita

marcusdemario@ig.com.br

MARCUS ALBERTO DE MARIO

Dirigente Espírita - Março e Abril de 2002

O Centro Espírita deve realizar treinamentos, cursos, grupos de estudo que visem formar o trabalhador espírita para a função que ele irá realizar, pois não se pode mais ficar à mercê do voluntariado cego, sem preparo, desconhecedor do mínimo indispensável para boa execução do serviço.

O Centro Espírita é uma escola de almas. Alma, na definição encontrada em "O Livro dos Espíritos", é o Espírito encarnado. Não há referência quanto à idade física. Do berço ao túmulo, todos somos espíritos reencarnados. A lógica, pois, nos diz que o Centro Espírita deve estar preparado para atender o ser humano em todas as suas etapas de crescimento do corpo físico - da infância à madureza.

Há, entretanto, ainda em "O Livro dos Espíritos", evidente preocupação de Allan Kardec e dos Espíritos Superiores em sublinhar a importância do período infantil no estágio reencarnatório, e a função da educação para renovação moral da humanidade, que enfeixa encarnados e desencarnado.

No capítulo sete da segunda parte da obra básica, quando trata do retorno do Espírito à vida corporal, diversas questões são tratadas a respeito da infância, das tendências inatas, da influência do organismo físico, da origem das faculdades morais e intelectuais, da lei de afinidade e outros temas ligados ao período infantil, mostrando suficientemente o quanto é importante o trabalho educacional junto à criança, que é um Espírito reencarnado.

Compreendendo esse trabalho, os Centros Espíritas criaram as Escolas Espíritas de Evangelização Infanto-Juvenil, com estrutura pedagógica específica.

Mas, o que é a evangelização?

Por que esse trabalho nem sempre é prioridade?

A história do movimento espírita é uma história de mediunidade e ação social através da caridade material - o chamado serviço assistencial.

A estrutura física de construção dos Centros Espíritas, em sua grande maioria, não reserva espaço para atividades educacionais, que têm de ser adaptadas. Esse é um primeiro problema.

Também boa parte dos evangelizadores são pessoas de boa vontade, mas sem formação específica. Esse é um segundo problema.

Também os dirigentes espíritas não estão efetivamente conscientes de que o Espiritismo é doutrina de educação do ser, e, portanto, não preparam o Centro Espírita para cumprir sua finalidade de escola de almas. É o terceiro problema.

O Centro Espírita deve realizar treinamentos, cursos, grupos de estudo que visem formar o trabalhador espírita para a função que ele irá realizar, pois não se pode mais ficar à mercê do voluntariado cego, sem preparo, desconhecedor do mínimo indispensável para boa execução do serviço. E quando se trata da educação moral e espiritual de companheiros reencarnados não se pode "brincar de tentar fazer alguma coisa".

A educação, conforme entende o Espiritismo, é a arte de manejar caracteres, é a formação de hábitos, tendo por base a imortalidade da alma e os ensinos morais de Jesus, e essa educação deve fazer a reforma moral do homem, sua auto-educação, trazendo para o inundo um homem novo, consciente dos seus direitos e deveres.

Se for importante a modificação da estrutura física do Centro Espírita para atendimento às crianças, ainda de maior importância é a adequação de suas finalidades para tão grandiosa tarefa, onde o estudo da Educação do Espírito deve ocupar espaço de prioridade junto às demais atividades que sejam executadas, sob pena, se assim não for feito, de o Centro Espírita desviar-se de uma finalidade que é o próprio cerne da doutrina, pois o Espiritismo é doutrina de educação como bem acentuam os Espíritos ao dizerem a Kardec que "somente a educação pode renovar a humanidade" (O Livro dos Espíritos, questão 796).

A evangelização espírita infantil não pode ficar em segundo plano, como apenas uma "aulinha dominical de moral cristã", consideração essa irresponsável e de repercussão negativa, tanto na sociedade humana terrena como na espiritualidade, onde as colônias espirituais, conforme narram os companheiros desencarnados, mantêm de creches a universidades, além de institutos escolares especiais para crianças recémdesencarnadas, abortadas, desajustadas no psiquismo e outras. Onde os ensinos cristãos à luz da reencarnação são trabalhados com amor. Os serviços de educação junto à criança é a única maneira de o Centro Espírita realizar a maior das finalidades do Espiritismo: transformar a todos em homens de bem. Por esse motivo deve merecer da direção do Centro Espírita uma acolhida e estudo mais profundo.

Lembram que a educação não se dá apenas à criança, mas também ao adolescente, ao jovem, ao adulto, o que nos leva a compreender que as atividades de estudo realizadas pelo Centro Espírita devem se caracterizar por dinamismo, facultando ao freqüentador todas as possibilidades de conhecer o Espiritismo. Esses estudos não podem dispensar a discussão dos temas cotidianos da vida à luz dos princípios básicos da Doutrina, pois estudar a realidade que se vive é preparar-se para bem vivê-la, sabendo porque se compreende. A criança é um espírito reencarnado, e como tal deve ser considerada. As lições do Evangelho embasadas na imortalidade, na reencarnação e na evolução do Espírito, devem ser ministradas às crianças porque no estágio da infância o Espírito mais acessível à nossa influência, quando podemos trabalhar seu caráter, dando-lhe diretriz no bem. Com essas considerações queremos dizer que a evangelização da criança e do jovem, através dos ensinos espíritas, é a educação que entrega a esses espíritos reencarnados as lições sublimes de Jesus à luz da alma imortal; é o amor em conjunto com a reencarnação, esclarecendo a mente e iluminando o coração.

Por esses motivos deve o Centro Espírita considerar a tarefa de evangelização como prioridade, fonte de renovação humana para Uma sociedade melhor. Evangelizar é mais que ensinar Evangelho. É traduzir a Boa Nova para o viver humano nas relações sociais.

É trabalhar a psicologia do indivíduo na luz do amor. É sensibilizar os sentimentos para a ação no bem. Evangelização faz parte do processo de educação, na busca da formação integral do Espírito desenvolvendo-lhe com harmonia todas as potencialidades depositadas por Deus, como bem definiu Pestalozzi, e essa visão necessita ser abraçada pelos dirigentes espíritas, fazendo do Centro Espírita uma verdadeira escola de almas.

O LIVRO DOS ESPÍRITOS *Estudo de: Eurípedes Kühl

PARTE TERCEIRA - Das leis morais

CAPÍTULO XII — DA PERFEIÇÃO MORAL - (questões 893 a 919)

12.1 – As virtudes e os vícios - (questões 893 a 906)

 Falar em virtudes é falar de anjos — ambos se confundem.

 Para tanto, todo respeito, reflexões demoradas, gratidão eterna.

 Definir virtude será exercício sempre inacabado. Contudo, se imaginarmos que a virtude é a representação do Bem, não estaremos muito longe de entendimento, desde que considerando que o Bem é vitoriosa resistência ao mal.

 Virtude sublime exerceremos quando atendermos ao próximo, sem qualquer interesse que não seja o de ajuda, assim procedendo até mesmo com sacrifício próprio, se necessário.

Praticar o bem — ser caridoso — sempre é resultante de acerbos combates contra o egoísmo... Guerrear os próprios vícios é evoluir e aproximar-se de Deus.

 O patrimônio moral de um Espírito pode ser avaliado pela ausência ou prática de ação caridosa na sua vida. E se não for desinteressada, permanente, espontânea e anônima, não será ação caridosa.

 Outro indicativo de evolução é seguramente o desapego dos bens materiais.

 Doar irrefletidamente não significa posse de virtude. Não deixa de haver algum merecimento, pelo bem que vier a ser produzido, contudo, expõe mau zelo com a confiança ou responsabilidade de que seja depositário.

 Não se configura um mal a caridade que trilha por desinteresse material, mas que, no fundo, se reveste da intenção de recompensa no plano espiritual. Com toda certeza há aferição divina de intenções em tudo o que fazemos e dessa forma ideal seria a prática caridosa sem idéia pré-concebida de dividendos celestiais. Terão maior recompensa aqueles que fazem o bem infensos à expectativa de qualquer retorno, neste ou no plano espiritual, ciosos de que apenas Deus contempla suas ações.

 A busca de conhecimentos científicos é meritória e faz com que a inteligência se aprimore cada vez mais, disso decorrendo que quanto mais o homem conhece, mais se aproxima da Natureza, que em última análise, é a grande professora da Vida. Tudo o que o homem sabe aprendeu com ela! Tudo!

 Um fato é óbvio: aquele que detém muitos conhecimentos não tarda a perceber que pela prática do amor ao próximo mais e mais se aproximará da felicidade. Assim agir será decisão exclusiva dele próprio.

 Ademais, só tudo sabendo um Espírito será perfeito.

 OBS: À questão 899 nos deparamos com uma proposição interessante:

 Dois ricos: um assim nascido e o outro nasceu pobre e depois enriqueceu. Ambos utilizam a fortuna a benefício próprio. Qual o mais culpado?...

 — O que você responderia, caro leitor?

 — Eu consignei que ambos, mas os Espíritos responderam a Kardec, com o ajuizamento superior que detêm, que o segundo é mais culpado, pois o primeiro desconheceu a dor da pobreza, ao passo que este, dela se esqueceu...

 Mal procede aquele que só pensa em acumular riquezas para legá-las aos herdeiros. Imaginando que bem procede, na verdade desliza pelo egoísmo.

 OBS: À questão 901 somos colocados diante de outra proposição intrigante:

 Dois avarentos: um nega até a si mesmo qualquer conforto e morre na miséria; o outro só é generoso para consigo mesmo, jamais fazendo favor para quem quer se seja, no entanto, dando-se a fantasias e luxos exagerados. Outra vez a mesma pergunta: qual o mais culpado e qual se achará em pior condição no mundo dos Espíritos?

 Responda, querido leitor...

 Pois é: dessa vez eu não arrisquei. Responderam os Instrutores Celestiais de Kardec que o segundo, eis que o primeiro já foi parcialmente castigado pelo próprio procedimento...

 Almejar a riqueza para com ela fazer o bem... “Há alguém aí?”

 Na Terra somos todos inquilinos de uma moradia de provas e expiações...

 Como tal, imperfeitos. Ainda...

 — Do que aproveitará descobrirmos erros alheios?

 — Um único: não cometê-los. Dito de outra forma: identificando o orgulho em alguém, impregnando nosso viver de humildade; captando mentira nas palavras de quem quer que seja, passando só a dizer verdades; se considerarmos alguém avarento, áspero, falso, tudo fazer para ser pródigo, cordial, autêntico.

 Escritores, modo geral, se provocam escândalos, por eles responderão. Ao contrário, se de seus escritos resultam bem, isso só será convertido em mérito para eles se procederem como escrevem. Se registram o bem, bem devem proceder...

 É bom, logo útil, o indivíduo auto-identificar procedimentos, no bem ou no mal para, no primeiro caso, disso não se envaidecer e no segundo, coibi-lo.

12.2 – Paixões - (questões 907 a 912)

 Estamos novamente diante de dificuldade interpretativa. Agora é referente à paixão... Segundo os dicionários ela é “sentimento ou emoção levados a um alto grau de intensidade, sobrepondo-se à lucidez e à razão; amor ardente, afeto dominador e cego; desgosto, mágoa, sofrimento. Nos Evangelhos é descrita como o sofrimento dos santos, particularmente a Paixão do Cristo”.

 Na verdade, a paixão é um sentimento nato, acoplado à alma para o bem, mas que exige temperança e controle absoluto na administração do que dela se depreende.

 Enquanto sentimento com aura celestial é poderosa força, capaz de impulsionar a criatura a feitos extraordinários, via de regra a benefício de outrem. Imbuído desse impulso e na obra que realiza o ser é, por assim dizer, um agente de Deus, já que seus feitos obedecem aos processos dos desígnios da Providência. E nessas horas o amparo do mais Alto estará arrimando-o, invariavelmente.

 Já o excesso passional terreno, que sempre trilha pelo abuso, desemboca em prejuízo (como, aliás, ocorre com qualquer excesso). E tal prejuízo não alcança apenas o agente, mas quase sempre, os que estão à sua órbita de vida, não apenas encarnados...

 OBS: Retornando à questão 459 deste livro, temos patente que quase sempre temos companhias espirituais, que chegam até mesmo a nos dirigir. No caso da paixão fugir ao nosso controle, não objeta refletir que Espíritos pouco esclarecidos, ultra-apaixonados por causas infelizes, podem estar no governo de nossos atos, mergulhados tanto quanto nós em paixões avassaladoras. Na hipótese, usam-nos como intermediários, apossando-se das ensandecidas vertigens resultantes. Nesse contexto somos infelizes nós e eles, restando desestruturados e devedores morais, por termos nos associado e ofertado inconscientemente canal e vazão de sensações menos nobres, fugazes.

 A vontade é a mais poderosa ferramenta que o homem possui, e que o acompanha permanentemente. É por ela que o ser se liberta de todos os vícios, supera todas as tendências negativas, desenvolve e incorpora à sua vida a prática constante das virtudes. Vetor principal na subida evolutiva: a vontade!

12.3 – O egoísmo - (questões 913 a 917)

 Em termos radicais o egoísmo é, de longe, o pior dos vícios.

 É corrosivo potente de todas as virtudes.

 Absolutamente incompatível com a justiça, o amor e a caridade.

 Tudo que no mundo atrai e excita a alma, gerando desejo de posse material tende a impedir a evolução espiritual. E são tantas essas tentações terrenas...

 O problema não é do planeta Terra e sim dos homens que nele habitam, cuja maioria está longe do desprendimento integral dos bens terrestres.

 OBS: Todos os bens materiais são efêmeros. Uma simples reflexão demonstra a veracidade dessa assertiva: onde está a casa mais luxuosa de mil anos atrás? O traje mais luxuoso do mundo manufaturado há duzentos anos como está? Onde está o automóvel mais luxuoso fabricado há cem anos? Onde está a primeira cabeça da coroa mais valiosa do mundo? E onde está o primeiro dedo do anel mais valioso do mundo? Quanto de ouro há no plano espiritual?

 A posse de bens é característica primitiva do homem e persiste.

 Não há escape: só compenetrando-se o indivíduo da importância da vida moral ele automaticamente se desvencilhará dos arrastamentos da material. E esse entendimento religião alguma oferta com tanta lógica quanto o Espiritismo, daí que não será presunção supor que a regeneração planetária a ele se condiciona.

 Obvio que muitos são os homens abnegados e desprendidos, não necessariamente espíritas ou sequer conhecedores das lições evangélicas. O que se enfatiza é que a Doutrina dos Espíritos faculta à razão compreender o porquê da existência física, que se desdobra em muitas etapas reencarnatórias, enaltecendo o valor ímpar da evolução e da vida espiritual, imensamente mais valiosa que a atual (terrena).

 Na educação do espírito reside a extirpação do egoísmo da Humanidade.

 Se o egoísmo é a fonte de todos os vícios a caridade o é de todas as virtudes.

12.4 – Caracteres do homem de bem - (questão 918)

 Um Espírito evoluído será reconhecido quando nenhum dos seus atos na vida corporal não contrariarem a lei de Deus e, estando encarnado, compreender a vida espiritual.

 Eis como age o homem de bem:

   pratica a lei de justiça, amor e caridade, com integral pureza;

   está sempre perguntando à consciência se não terá, algures, transgredido essa lei;

   ajuíza que, se não fez o mal, teria feito todo o bem que podia?...

   interroga-se quanto à eventual existência de alguém com queixas a seu respeito;

   pergunta-se ainda: o que vem fazendo é o mesmo que desejaria que lhe fizessem?

   por caridade e amor faz o bem pelo bem, sem almejar retribuição;

   sacrifica seus interesses à justiça;

   usa de bondade, humanitarismo e benevolência para com todos;

   vê irmãos nos homens de todas as crenças e raças, conhecidos ou não;

   se detém poder e riqueza atribui a posse disso a Deus, por empréstimo temporário e com destinação exclusiva à prática do bem;

   se detém chefia é bondoso para com os auxiliares, aos quais jamais subjuga;

   jamais condena, por saber-se também frágil e passível de falhas;

   o perdão é sua resposta para qualquer ataque, fixando-se só em benefícios;

   mantém integral respeito ao próximo, a quem considera exatamente igual a ele quanto aos direitos naturais.

12.5 – Conhecimento de si mesmo - (questão 919)

 A melhor maneira de evoluir e de resistir à atração do mal é o conhecimento de si mesmo.

 “Conhece-te a ti mesmo”, proclamava o filósofo grego Sócrates.

 — Isso é fácil?

 — De forma alguma: ao contrário, talvez seja a atitude mais difícil da vida.

 Santo Agostinho, um dos Espíritos que arrimaram Kardec na elaboração deste livro, oferta longa reflexão à presente questão e dá conselhos. Vou sintetizar:

   ao fim de cada dia interrogar à consciência se fez algo errado ou magoou alguém;

  nesse repasse feito a cada noite, orar a Deus e ao anjo da guarda implorando auxílio para autodefinir se suas ações daquele dia foram boas ou más;

   nessas ações não mascarar a avareza de previdência; não se imaginar a única pessoa digna no mundo; delas o que pensam os amigos e principalmente os inimigos?

   imaginar se determinadas ações fossem feitas por outrem não teriam sua própria condenação...

   se desencarnasse agora: ao chegar ao plano espiritual não temeria encarar alguém “olho no olho”?

   desse balanço moral, diário, sobre perdas ou lucros, dependerá dormir em paz e a segurança de que quando atravessar “o grande rio da Vida” lá despertar bem.

 OBS: Kardec, seguro, pragmático (aqui entendido como aquele que “ toma o valor prático como critério da verdade”) e sensato como sempre, encerra essa questão enfatizando respostas do tipo “sim” ou “não” para as interrogações que fizermos à consciência, tomando especial cuidado em não esconder ou dissimular algumas das nossas atitudes, quase sempre faltosas...