Telepatia
Christiano Torchi
Christiano Torchi
REFORMADOR
Revista de Espiritismo Cristão
Ano 126 / Outubro, 2008 / n.º 2.155
"Transmissão oculta do pensamento": esta foi a expressão utilizada por Allan Kardec (1804-1869) para designar o fenômeno "telepatia", termo que provavelmente ainda nao existia na época em que lançou O Livro dos Espíritos (1857), terminologia esta que teria sido proposta por Frederic W. H. Myers (1843-1901) em 1882, e adotada nos trabalhos da Society for Psychical Research, de Londres. Myers, considerado um dos fundadores da moderna psicologia e psiquiatria, assim a definiu:Revista de Espiritismo Cristão
Ano 126 / Outubro, 2008 / n.º 2.155
Entendo por telepatia a transmissão do pensamento e das senções feitas pelo Espírito de um indivíduo sobre outro sem que seja pronunciada uma palavra, escrito um vocábulo ou feito um sinal (1).
Os Espíritos, ao respoderem a uma indação de Kardec, designam-na como "telegrafia humana", profetizando que "[...] será um dia um meio universal de correspondência (2)."
A telepatia pode dar-se, estando o Espírito acordado ou dormindo. Acontece de encarnado para encarnado, de desencarnado para desencarnado e de desencarnado para encarnado, dependendo da sintonia ou do tipo de pensamento emanado do Espírito.
Sem o pensamento - fonte causal manifestações do Espírito, fenômeno por meio do qual este cria e se relaciona com os demais seres - não haveria telepatia.
Quem pensa não é o cérebro ou o corpo físico, mas sim o Espírito, que alguns denominam mente (psique, do grego), que funciona à maneira de estação emissora e receptora, uma espécie de poderosa antena.
Sem o Espírito ou a alma - bem disseram os benfeitores do espaço - , o corpo seria apenas "simples massa de carne sem inteligência [...]" (3).
O pensamento não é um ente ilusório como costumamos imaginar; ele é muito real. Ele é a "força sutil e inexaurível do Espírito". (4) Pensar é irradiar...Quando pensamos, geramos "[...] infracorpúsculos ou [...] linhas de força do mundo subatômico, criador de correntes de bem ou de mal, grandeza ou decadência, vida ou morte, segundo a vontade que o exterioriza e dirige.[...]" (5). Portanto, o pensamento pode ser nossa asa libertadora ou nossa prisão, pois somos o que pensamos.
O Espírito André Luiz, em muitos de seus livros, reporta-se à "matéria mental" de baixa qualidade que prevalece na psicosfera terrestre, produto da emanação coletiva dos pensamentos dos habitantes e nosso globo, ainda atrasado moralmente. Em uma dessas obras, colhemos as seguintes observações, resultantes do diálogo entre dois Espíritos, em visita à crosta terrestre, numa grande cidade:
-Estão vendo aquelas manchas escuras na via pública? [...]
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- São nuvens de bactérias variadas. Flutuam quase sempre também, em grupos compactos, obedecendo ao princípio das afinidades, Repare aqueles arabescos de sombra...
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[...] São zonas de matéria mental inferior, matéria ue é expelida incessantemente por certa classe de pessoas. [...] (6)
Conscientes de que o pensamento é força criadora, estas informações não nos causam estranheza, justificando-se, com razão, o adágio: "[...] quem pensam está fazendo alguma coisa alhures. [...]" (7)
Muitas esperiências científicas já demonstraram a realidade dos pensamnetos e a possibilidade de transmití-los, telepaticamente, isto é, independente dos órgãos da fala ou independente da escrita ou de qualquer outro meio de comunicação ostensivo.
Se formos um pouco mais observadores, constataremos que, frequentemente, estamos exercitando esta faculdade, mesmo sem perceber, isto é, de forma incosciente.
A propósito, Kardec perguntou aos imortais; "Como se comunicam entre si os Espíritos?". E as resposta não se fez esperar:
Eles se vêem e se compreendem. A palavra é material: é o reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles constante comunicação; é o veículo da transmissão de seus pensamentos, como, para vós, o ar o é do som. É uma espécie de telégrafo universal, que liga todos os mundos e permite que os Espíritos se correspondam de um mundo a outro (8).
Léon Denis (1846-1927), o apóstolo do Espiritismo, continuador de Kardec, identifica o fenômeno da telepatia como "rebentos isolados da vida superior no seio da humanidade" (9):
A ação telepática não conhece limites; suprime todos os obstáculos e liga os vida da Terra aos vivos do Espaço, o mundo visivel aos mundos invisíveis, o homem a Deus; une-os da maneira mais estreita, mais íntima.
Os meios de tramissão que ela nos revela constituem a base das relações sociais entre os Espíritos, o seu modo usual de permutarem as idéias e as sensações. [...]
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[...] O pensamento e a vontade são a ferramenta por excelência, com a qual tudo podemos transformar em nós e à roda de nós. Tenhamos somente pensamentos elevados e puros; aspiremos a tudo o que é grande, nobre e belo. Pouco a pouco sentiremos regenerar-se o nosso próprio ser , e com ele, do mesmo modo, todas as camadas sociais, o globo e a Humanidade! E, em nossa ascensão, chegaremos a compreender e a praticar melhor a comunhão universal que une a todos os seres. [...] (9)
Não poderíamos deixar de citar aqui a prece, tida por Denis como uma das mais altas expressões da telepatia:
A prece é uma invocação, mediante a qual o homem entra, pelo pensamento, em comunicação com o ser a quem se dirige. [...]
O espiritismo torna compreensível a ação da prece, explicando o modo de transmissão do pensamento, quer no caso em que o ser a quem oramos acuda ao nosso apelo, quer no em que apenas lhe chegue o nosso pensamento. Para apreendermos o que ocorre em tal circunstância, precisamos conceber mergulhados no fluido universal, que ocupa o espaço, todos os seres, encarnados e desencarnados, tal qual nos achamos, neste mundo, dentro da atmosfera. Esse fluído recebe da vontade uma impulsão; ele o veículo do pensamento, como o ar é do som, com a diferença de que as vibrações do ar são circunscritas, ao passo que as do fluído cósmico universal se estendem ao infinito. Dirigido, pois, o pensamento para um ser qualquer, na Terra ou no espaço, de encarnado para desencarnado, ou vice-versa, uma corrente fluídica se estabelece entre um e outro, transmitindo de um ao outro o pensamento, como o ar transmite o som.
A energia da correte guarda proporção com a do pensamento e da vontade. É assim que os Espíritos ouvem a prece que lhes é dirigida, qualquer que seja o lugar onde se encontrem; é assim que os Espíritos se comunicam entre si, que nos transmitem suas inspirações, que relações se estabelecem a distância entre encarnados. (10)
Resumindo, a base da telepatia repousa sobre a sintonia mental entre pessoas que pensam ou vibram na mesma faixa, estejam elas encarnadas ou desencarnadas.
Quando pensamos, emitimos ondas mentais, que podem ou não ser sintonizadas por outros Espíritos. Isso vai depender do grau da afinidade ou sintonia entre os seres pensantes.
A telepatia, como faculdade de transmissão direta dos pensamento, um dia será praticada por toda a Humanidade terrena, quando tivermos ascendido a patamares superiores, ocasião em que poderemos ler as mentes uns dos outros, sem qualquer constrangimento ou receio, como se fosse um livro aberto, sem que consigamos dissimular nossos pensamentos. (11)
Este tempo ainda está muito longe, entretanto, nada obsta que que prossigamos nos esforçando, com vistas à transformação moral, agora mais conscientes de nossas responsabilidades, o que nos permitirá, no futuro, o desabrochar completo de nossas faculdades sublimes, denunciadoras de sentimentos elevados.
Avaliemos a qualidade de nossas criações mentais. Que tipo de pensamentos estamos emitindo? Eles estão contribuindo para melhorar ou piorar a psicosfera terrena?
Com o objetivo de melhorar refletirmos sobre as respostas a estas questões, encerramos este modesto artigo com a mensagem atribuída a um poeta anônimo, de grande significação para nós, Espíritos em processo de aprendizagem:
Vigiemos nossos pensamentos,
porque eles se converterão em palavras.
Vigiemos nossas palavras, porque elas se transformarão em atos.
Vigiemos nossos atos, porque eles formarão os nossos hábitos.
Vigiemos nossos hábitos, porque eles moldarão o nosso caráter.
Vigiemos nosso caráter, porque ele transformará o nosso DESTINO.
Referências:
(1) BORGES, A. Merci Spada. Doutrina Espírita no tempo e no espaço. 800 verbetes especializados. 2. ed. São Paulo: Panorama, 2001. p. 348.
(2) KARDEC, Allan. O livro dos Médiuns. 80 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda, cap. XXV, item 285.
(3) _________. O livro dos Espíritos. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB 2007. Parte segunda, cap. II, questão 136b.
(4) XAVIER, Francisco C.; VIEIRA, Waldo. Mecanismos da mediunidade. Pelo Espírito André Luiz. 26 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2006. Cap.9, item Corrente do pensamento, p.82.
(5) XAVIER, Francisco C. Roteiro. Pelo Espírito Emmanuel. 12 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 30, p.128. Apud O Espiritismo de A a Z (FEB), verbete "Pensamento".
(6) _________. Os Mensageiros. Pelo Espírito André Luiz. 45 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 40, p. 248-249.
(7)_________. Nosso Lar, pelo espírito André Luiz. 59. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 12, p. 83.
(8) KARDEC, Allan. O livro dos espíritos. 91 ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda, cap. VI, questão 282.
(9) DENIS, Léon. O problema do ser, do destino e da dor. Rio de Janeiro: FEB, 2007 Primeira parte, cap. VI, p. 121, 129 e 132.
(10) KARDEC, Allan. O Evangelho segundo o espiritismo. 127. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. XXVII, itens 9 e 10.
(11) _________. O livro dos espíritos. 91. ed. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Parte segunda, cap. VI, questão 283.
(12) TORCHI, Christiano. Espiritismo passo a passo com Kardec. 2. ed. 1ª reimpressão. Rio de Janeiro: FEB, 2007. Cap. 9, p. 481-482.
Muito Elucidativo o artigo, bom é que colocando as fontes podemos pesquisar e nos esclarecer muito mais. Obrigado!
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