PARTE TERCEIRA - Das leis morais
CAPÍTULO III — DA LEI DO TRABALHO - (questões 674 a 685)
Antes de entrarmos em reflexões sobre este capítulo, pedimos vênia aos leitores para nos recordarmos de uma passagem de Jesus, assaz interessante, como aliás o são todos os momentos vividos pelo Mestre dos mestres junto a nós, como encarnado. Referimo-nos àquilo que o Evangelista João (em 5:17) registrou, dizendo que após Jesus curar um homem doente há trinta e oito anos (!) os judeus O acusaram de não respeitar o sábado, tendo Jesus lhes respondido:
“Meu Pai tem estado trabalhando até agora e eu também”.
Outra observação nossa é sobre o tema TRABALHO.
Na literatura espírita existem tantas referências ao trabalho que seria impossível catalogar todas. O que nos causa alguma admiração é o fato de que Allan Kardec, ao tratar da Lei do Trabalho, foi bem econômico...
3.1 – Necessidade do trabalho - (questões 674 a 681)
Sem que ninguém precise lecionar, antes mesmo que o indivíduo adquira a capacidade de raciocinar (primeiros tempos da reencarnação), ele trabalha.
OBS: Não será exagero dizer que já iniciam a trabalhar pela sobrevivência os bebês que choram, tanto os que o fazem quando vêem a luz por primeira vez, quanto os que choram para mamar. De alguma forma estão informando “ao mundo” que têm necessidades. Como não podem supri-las, o chorar é uma excelente forma de comunicação (ou de trabalhar).
Na Natureza todos os seres vivos trabalham.
Ampliando o conceito, não nos recusa aceitar que a própria Natureza é uma trabalhadora em atividade de tempo integral — sempre a nosso favor, bem como em favor dos demais seres vivos. O Sol, por exemplo.
Dessa forma é plenamente correto afirmar, com Kardec, que o trabalho é lei da Natureza e constitui necessidade inexorável. Se para vegetais e animais sua atividade visa a sobrevivência e perpetuação da espécie, no homem, além disso há o fator da busca permanente de maior conforto. Não fosse isso e estaríamos até hoje habitando nas cavernas, furnas e grotões e nos vestindo com pele de animais...
Seria enganosa a concepção de que no homem só trabalha o corpo físico, até porque quem o dirige é o Espírito. Na verdade, aquele é ferramenta deste.
É pela inteligência que o homem se põe a trabalhar, desenvolvendo a faculdade de pensar: pensar e escolher, dentre várias alternativas para solucionar problemas ou suprir suas necessidades físicas e morais, a que melhor se ajusta à sua capacidade. Tal é a tônica do progresso.
Segundo os Espíritos que arrimaram Kardec na Codificação do Espiritismo, nos mundos mais desenvolvidos moralmente que a Terra, ali também seus habitantes trabalham. Isso não é difícil de entender, se imaginarmos que quanto mais os Espíritos se elevam, mais e mais têm condições de auxiliar os que estão à sua retaguarda. Nisso se comprazem. E essa atividade, que chamamos de caridade, é de todos, senão o mais, pelo menos um dos mais abençoados trabalhos.
Homens de fortuna, se estão dispensados do trabalho remunerado, “do emprego”, não o estão de serem úteis ao próximo, fazendo seu dinheiro gerar empregos, com isso auxiliando não apenas a tantas famílias, mas à própria sociedade. A criação, administração e supervisão de fábricas, indústrias, estabelecimentos comerciais, educacionais, etc., eis aí uma excelente forma de trabalhar.
Na infância pais trabalham para os filhos. Natural que, na velhice daqueles, se necessitados, os filhos trabalhem para eles.
3.2 – Limite do trabalho. Repouso - (questões 682 a 685)
Repousar é direito e necessidade de todos nós.
O trabalho excessivo, voluntário (por ganância ou pobreza) ou imposto por patrões, será sempre um grave equívoco, carreando sérias conseqüências para uns e outros. Para o empregado, desgaste prematuro. Para o empregador autoritário, transgressor das Leis de Deus, débitos a reclamar duros resgates...
Na velhice, geralmente aposentado, o homem não terá obrigação de continuar trabalhando. Contudo, isso não quer dizer que ele não possa ser útil à família e à sociedade, se tiver condições físicas para tal.
Aqueles que não podem trabalhar jovens ou velhos, necessariamente devem ter suas necessidades supridas, seja pela família, ou pela sociedade
Comentários de Allan Kardec (até parece que antevendo os dias atuais):
- não basta exigir que o homem trabalhe: necessário é dar-lhe emprego;
- o desemprego é verdadeiro flagelo para a família toda e para a sociedade;
- a produção deve ser proporcional ao consumo – fora desse equilíbrio ocorrerá sempre problemas trabalhistas, para os quais a sociedade deve estar preparada;
- a educação moral é elemento fundamental para o trabalhador e isso deve acontecer nos primórdios dos bancos escolares, preparando-o para os embates do futuro;quando já trabalhando, esses conceitos não podem ficar deslembrados
- por educação moral subentenda-se a formação de hábitos salutares:
- respeito à ordem instituída – disciplina consciente
- capacidade de previdência – para si e para os outros
- hábitos que lhe fortaleçam em situações estressantes
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