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sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Adultério

Cornélio Pires/Francisco Cândido Xavier

Jornal - Consciência Espírita

"O triângulo afetivo, nunca se forma a contento, e,

termina, sempre, na vida, em trio de sofrimento"

Todos nós vivemos em uma sociedade organizada, sujeita a regras de procedimento, úteis e necessárias para facilitar a vida e permitir a coexistência agradável. São as NORMAS de conduta. Por serem havidas como indispensáveis, são ensinadas desde a infância e acabam absorvidas e interiorizadas para nortear o comportamento civilizado. De outro lado existem os IMPULSOS naturais, os instintos do ser humano, tais como a agressividade, a sexualidade, etc, que não conhecem, não aceitam e nem seguem normas.

Diante de uma situação antagônica o homem entra em conflito. Faz parte de sua essência viver dividido entre as normas e os impulsos, sendo muita ilusão pensar que só será feliz quando seus conflitos terminarem. Precisa é saber administrá-los e isso não consegue sem conhecimento e exercitamento, coisa que não faz sem ajuda.

Um dos problemas mais importantes no desajustamento comum do homem é que ele encara de forma patológica um impulso que é normal. Exemplo constante é o da agressividade que a cultura ensinou tratar-se de algo ruim, mas este impulso, que tem a finalidade de mobilizar o ser paralisado pelo medo, existe em nós para ajudar a estabelecer limites e para defender. Há necessidade de requalificá-lo, pois ele é apenas neutro. Seu resultado é que pode ser mau ou bom.

Com o impulso sexual é a mesma coisa, é neutro, podendo apresentar resultados bons e maus conforme a direção que lhe é imprimida. Conquanto já tenha tido uma boa requalificação em várias partes do mundo civilizado, ainda padece de má interpretação nos países de terceiro mundo onde é visto de três diferentes maneiras:

1) Emoção de segunda classe, um mal, portanto, mas necessário considerando a reprodução. O normal e correto é reprimi-lo.

2) Diferenciação entre mulher e homem, estabelecendo normas masculinas e normas femininas. Claro que a moral vigente diz que, em termos de direitos, homens e mulheres são iguais. Mas, os homens são muito mais iguais! Deles se espera uma vida sexual intensa e precoce, que começa aos doze, treze anos.

Se não acontece nesta idade, a família fica ansiosíssima com a possibilidade de o garoto vir a tornar-se homossexual, pelo que, passam a tomar várias providências de provocação. E o que se espera da mulher?

Que fique virgem e casta até o casamento e ai da moça que faz o contrário... Ela tem de ser assexuada até o casamento e, então, transformar-se numa messalina. Nesse contexto se tem um rapaz que aprendeu a não ter sexo com a pessoa que ama e uma garota que não aprendeu a ter sexo de jeito nenhum. Benzem-se as alianças e jogam os dois numa aventura chamada lua-de-mel. Eles vão ter, a duras penas, de aprender a praticar uma ação altamente emocional, buscando o prazer a que ambos têm direito. Não pode dar certo.

3) Sexo tabu, ninguém pode falar, é vergonhoso, é proibido. O aprendizado é feito na rua, de modo errado e perverso. Talvez, um dia, alguém ensine alguma coisa porque a escola também não ensina. Com as moças é pior ainda. Um dia, talvez, uma tia tenha uma conversa com ela, na véspera do casamento, talvez...

Mas, as coisas já mudaram em várias partes do mundo e estão mudando por aqui. O que houve? Por que mudou? Não foi porque a humanidade tenha amadurecido ou adiantado espiritualmente. Mudou por uma razão econômica. Mudou porque aconteceu uma coisa chamada Revolução Industrial! Mas este é outro assunto.

Uma das características do impulso sexual é o fato de que requer novidade. Significa que, após algum tempo de vida sexual, tanto o homem quanto a mulher podem começar a sentir atração por pessoas diferentes de seu par. É natural do instinto e, portanto, não é patológico. Não pode e não deve ser mal avaliado. É como alguém que resolve fazer regime por motivo de saúde ou por estética. A decisão de entrar na dieta não anula a fome, não faz com que a pessoa não sinta vontade de comer.

Da mesma forma a fidelidade conjugal não anula o desejo por outrem. Acontece que em nossa cultura os casais fazem um contrato de fidelidade, não por escrito e nem, ao menos, verbalizado, mas elaboram uma expectativa de ambos que sejam fiéis, isto é, sexualmente exclusivos.

Mas, ao cumprirem o contrato frustram o instinto e entram em conflito. Por que, então, persiste a fidelidade? Pelas compensações que existem: - o prazer de ver o outro feliz; - o prazer de estar de acordo com os próprios princípios; - a fidelidade que recebe em troca; - a sensação de estar construindo um vínculo sólido e prazeroso; - a suposição de estar de acordo e agradando os bons espíritos assistentes, etc.

Mas, com tudo isso, ainda vão sentir desejo extraconjugal. E, se não se inculpam pela fome durante um regime, também não devem censurar-se por causa do desejo. Fidelidade não é obrigação, é escolha. Pode ser a causa de muita satisfação, mas também pode produzir muita frustração.Um autor comparou, pitorescamente, a fidelidade a algo menos estimulante do que uma salada de chuchu temperada com água.

No Brasil a prática sexual tem sido feita dos dois modos possíveis, o legal e o ilegal ou dentro do casamento, com a aprovação e beneplácito de todos ou fora dele, com a desaprovação, a censura e a condenação geral. Este sistema facilita a entronização da hipocrisia, pois, os mesmos que condenam são, muitas vezes, os próprios participantes ocultos da infração.

O adultério pode ser definido, segundo Millôr Fernandes, como a quebra do contrato vitalício, civil ou religioso, com substituição de sócio, sem aviso prévio. Além de curiosa essa interpretação é bem verdadeira. Haveria apenas uma pequena restrição à substituição de sócio. O que mais se vê não é isso e, sim, uma variante de utilização de sócio.

Eu próprio costumo conceituar o adultério como uma quebra do contrato de exclusividade sexual, porque o sócio indisciplinado, quando não descoberto, continua atuando na empresa como se nada houvesse ocorrido de anormal.

Quando descoberto e penalizado, costuma adotar vários tipos de medidas defensivas: - defesa com negação absoluta e acusação de excesso de desconfiança; defesa sem negação da ocorrência, mas com denúncia de insuficiência, defeito ou problema por parte do outro sócio; defesa com aceitação da crítica e auto-acusação de desvalor e inferioridade; defesa com acusação de que o casamento acabou e que é melhor a separação.

Na verdade, o que o parceiro lesado pretende não é exatamente punir o culpado mas, constantemente, é conseguir uma garantia de que aquilo nunca mais irá acontecer. Quase todas as mulheres, quando nesta situação, são capazes de perdoar e deixar o problema no esquecimento, se puderem ter certeza de encerramento do episódio. Já os homens, auto-havidos como machões cultivadores de grande orgulho sexual, não conseguem pensar assim e, freqüentemente, partem para uma retaliação, punindo a mulher com agressão física ou com humilhações mil, quando não com uma separação ou até com assassinato.

Comparando estes dos casos e adotando aquela tese espírita de que "quem pode mais cede mais", podemos concluir sobre que é mais adiantado espiritualmente.

É importante considerar que o adultério masculino é muito mais freqüente do que o feminino, talvez até, por uma questão cultural. Desde criança o menino é criado com a idéia de que há uma grande honra em ser macho, agressor, violentador. A conquista para ele é como um troféu - quanto mais difícil, quanto mais proibida e quanto mais numerosa, mais valiosa e admirada.

Com isso em mente, desde a infância, o pobre do adulto não poderá, depois, ser tão inculpado, quando praticar um acontecimento para o qual foi tão bem preparado.

Já com a menina é diferente: desde a infância ela recebeu uma instrução para ser virtuosa, honesta.

Daí conseguir, diante de uma tentação, ter mais resistência. Isso é falado sem negar-se o valor real do indivíduo espiritual cujo sexo é apenas uma circunstância reencarnatória, considerando que esta virtuosa mulher, de hoje, pode ter sido homem na última existência.

Um dos temas preferidos para justificar-se uma atração fora do casamento é o de se haver encontrado a alma gêmea - uma pessoa de subido valor, alguém de que se estava na expectativa desde a juventude e que já se pensava não existir mais. Seria o afeto idealizado que cada pessoa, normalmente, constrói na existência. Os menos informados em Doutrina Espírita dizem que esta pessoa é a sua alma gêmea ou sua metade eterna e que ambos se estavam buscando com empenho e persistência até se encontrarem e que, daí para frente, seguiriam juntos para todo o sempre, completando-se infinitamente. Em O Livro dos Espíritos Kardec já recusa esta idéia e coloca por terra a tese das almas gêmeas. O que pode ser admitido é que, com o crescimento espiritual as pessoas vão construindo as suas afinidades e ampliando sua capacidade de amar. Na condição de espírito superior teremos as entidades se comportando com tanta afeição e aperfeiçoamento que podem ser tidas como verdadeiras almas gêmeas, irmanadas e felizes na compostura de suas ações benfeitoras.

Na realidade evolutiva de nosso planeta não encontraremos afeições muitas profundas que possam sequer lembrar as almas gêmeas. Existe, sim, uma afeição do passado que, constantemente, costuma aparecer no caminho, podendo gerar dificuldades, considerando a nossa baixa resistência à tentação. A este respeito o espírito Cornélio Pires, no livro Retratos da Vida, lança uma série de avisos provisores: "Se uma afeição de outras vidas / Vem, de novo, ao nosso olhar, / A situação em que esteja / É uma lei a respeitar." - "Se você gosta de alguém, / Mas já não está sozinho, / Cultive o amor dos irmãos, / Não complique o seu caminho." - "Em toda parte do mundo, / Se a mulher larga o dever, / Deserções, crimes, suicídios, / São fáceis de aparecer." - "O triângulo afetivo / Nunca se forma a contento, E, termina, sempre, na vida, / Em trio de sofrimento" - "Cumpra o dever que abraçou, / Alegre, calmo, sereno, / Pois, sexo com remorso / É melado com veneno." - "Recorde o antigo ditado, / De valor singelo e raro, / Quem a paca cara compra / Pagará a paca caro."

O que se divulga e se defende no Espiritismo é que a pessoa saiba, correta e conscientemente, o que está fazendo com a sua vida. Se souber, tudo bem, pode continuar, seu débito é conhecido e assumido. Não poderá alegar, depois, nenhuma ignorância. Mas, se não estiver bem certa do que faz, será bom aprender.

Falando pela maioria, as pessoas não suportam o adultério e procuram sempre tomar providências punitivas. Só que estas são, constantemente, estapafúrdias e contraproducentes. O que mais conseguem com o revide é lançar o seu cônjuge nos braços de outra pessoa. Seria muito importante, pela própria economia de dor e de saúde, que estes cônjuges soubessem agir com acerto e acreditassem que poderiam conseguir melhor resultado usando um outro procedimento - a tolerância evangélica, lembrar que um erro não justifica outro e, então, deixar o engano havido inteiramente com a outra pessoa.

Nós não precisamos sofrer porque alguém quis nos abandonar. Afinal, todos têm o direito de fazes suas escolhas, mesmo que estas não recaiam sobre nós.

Pensando bem, só nos pode interessar um amor que nos seja dado espontaneamente e, nunca, um obrigatório. Aprendamos a abençoar e deixemos o afeto seguir o seu caminho. É claro que isso não é muito fácil de conseguir, considerando o nosso condicionamento antigo, mas pode ser obtido, devendo ser tentado. O primeiro passo é aderir à nova postura, ter vontade de fazer, acreditar que pode, desejar intensamente. E continuar insistindo, insistindo, sem cansaço. Você consegue.

Para justificar esta posição quero sugerir a mensagem Infidelidade, contida nos livro Pedaços do Cotidiano, do espírito Silveira Sampaio, onde temos um belíssimo exemplo de procedimento feminino.

Evidentemente existem pessoas não espíritas dotadas de consciência espírita, assim como existem espíritas sem ela. O mais comum, todavia, é encontrá-la entre os espíritas porque o Espiritismo trabalha as consciências das pessoas.

Que tal estudar para valer e, depois, aplicar firmemente o resultado em sua vida?

Que tal conhecer e aderir ao Modelo Espírita?

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