Ailton Paiva
1 - OUVIR COM AMOR
“A moral sem as ações é o mesmo que a semente sem o trabalho.
De que vos serve a semente, se não a fazeis dar frutos que vos alimentam? Grave é a culpa desses homens, porque dispunham de inteligência para compreender.
Não praticando as máximas que ofereciam aos outros, renunciaram a colher-lhes os frutos.”
(Questão 905 de O LIVRO DOS ESPÍRITOS.).
“O homem de bem é bom, humano e benevolente para com todos, sem distinção de raças, nem de crenças, porque em todos os homens vê irmãos seus.”
“Respeita nos outros todas as convicções sinceras e não lança anátema aos que como ele não pensam.”
“(...) o homem de bem respeita todos os direitos que aos seus semelhantes dão as leis da Natureza, como quer que sejam respeitados os seus.”
(O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XVII - Sede Perfeitos, item 3, parágrafos 7º e penúltimo.)
Vivendo em sociedade precisamos nos manifestar, para isso usamos a linguagem, que pode ser oral, escrita e pictórica, ou seja, os diversos canais de comunicação.
Pela linguagem manifestamos nossos pensamentos, sentimentos e emoções.
A linguagem oral é mais usada e, de modo geral, podemos dizer que é mais direta e atinge o interlocutor com maior carga de emoções.
Em nossa vida de relação não podemos deixar de usar o juízo de valores, através da análise das situações que vivemos e as formas de interação com as pessoas com quem convivemos.
Daí nasce a crítica, que não se confunde com a maledicência.
A crítica é a busca da verdade pelo exercício da razão.
A maledicência é o comentário inconsistente, veiculado sem objetivos éticos, onde não há preocupações com a verdade, com a utilidade e com o bem.
A maledicência é a manifestação do comportamento que expressa o egoísmo e a vaidade. O comentário visa apenas diminuir o valor de quem está no foco para, artificial e enganosamente, pretender elevar-se acima do outro.
No entanto, quando sofremos algum julgamento, pela linguagem oral ou escrita, deveremos, primeiramente, avaliar se o comentário é expressão de uma crítica ou de maledicência.
Se percebemos que o fruto da análise feita com relação à nossa pessoa é manifestação da maledicência, não deveremos nos importunar, nem nos agastar com ela. Se não serve, deve ser esquecida; a não ser que, por sua gravidade e insensatez, exija que preservemos nossos direitos, como Espírito, como pessoa e como cidadão.
Às vezes, recebemos críticas e a pessoa que as faz não está sendo maledicente. É sincera e honesta, mas a crítica é equivocada, certos elementos que a compõem não são consistentes. Temos então o direito de amorosamente rejeitar a crítica, esclarecendo o crítico.
Ao lado das informações que os Evangelhos nos trazem e também a Doutrina Espírita, os psicólogos espíritas Almir Del Prette e Zilda Del Prette, baseados nas ciências do comportamento, apresentam-nos alguns passos que deveremos observar para, quando a crítica não for procedente, podermos rejeitá-la deforma correta, assertiva.
REJEITAR A CRITÍCA
Procuremos observar, quando recebermos uma crítica, os seguintes pontos:
1. Permitir que o crítico termine de falar.
Ao recebermos uma crítica, a tendência natural é, sob impacto emocional, reagir instantaneamente, procurando justificar-nos, juntando argumentos para rebater as observações feitas, as quais, de alguma maneira, mostram nosso possível desacerto.
De início não sabemos se a crítica é procedente ou houve algum mal-entendido, ou ainda, é uma manifestação de maledicência. Então, deixemos que a pessoa exponha todo o seu pensamento. Ouçamo-la com atenção.
Demonstremos com a postura corporal assertiva que estamos acompanhando os seus argumentos e que isso fique claro para ela.
2. Controlar o desconforto da raiva.
Normalmente, quando recebemos uma crítica altera-se o nosso estado emocional, que pode ir da simples irritação à raiva. Nesse estado, registram-se alterações físicas e fisiológicas: aceleração do batimento cardíaco, empalidecimento ou ruborização, diminuição da saliva e outros.
Quando a crítica é infundada ou se trata de maledicência, os efeitos psicológicos e físicos são mais intensos.
Pode haver, também, um desequilíbrio psíquico ou espiritual.
Então, manter um controle emocional saudável é necessário para podermos analisar a crítica e saber aproveitá-la adequadamente.
3. Compreender que ao outro assiste o direito de ter opinião contrária à nossa.
Procuremos ouví-lo com atenção e deixemos que ele perceba isso. Assim ele compreenderá que nós estamos respeitando o seu direito de opinar.
Procuremos criar uma empatia com o crítico. Vejamos o assunto do ponto de vista dele. Manifestamos que entendemos o que ele disse e também o seu sentimento.
4. Solicitar detalhes, se necessário, para melhor compreender a posição assumida pelo crítico.
Quando os motivos ou os fatos geradores da crítica não ficarem muito claros, peçamos, com a tranqüilidade possível, detalhes ou esclarecimentos.
5. Manifestar a discordância mente, no total ou em parte, quanto à veracidade da crítica.
Após a análise dos argumentos apresentados na crítica, com o exercício da razão, verifiquemos se é procedente ou não. Se julgarmos que ela não é procedente, sem agressividade discordemos dela totalmente ou na parte que não tenha fundamento.
6. Estabelecer a veracidade dos fatos que estão sendo apontados.
Ao ouvir a crítica verifiquemos se há veracidade nos fatos que estão sendo apresentados ou se apenas se trata de interpretação daquele que a formula.
7. Solicitar mudança, se necessário, quanto à forma como a crítica foi feita e sobre a ocasião escolhida.
Se a crítica não foi feita de forma apropriada ou foi manifestada de forma agressiva, desqualificando o destinário, sem respeito à individualidade e privacidade, embora ela seja procedente em parte ou na totalidade, devemos pedir ao seu emissor que mude a sua maneira de se expressar, respeitando a dignidade daquele que a ouve.
8. Agradecer à pessoa pela sua preocupação.
Se constatarmos que a pessoa fez a crítica de forma adequada e procedente na sua totalidade ou em parte, é oportuno agradecer-lhe a manifestação que, sem dúvida, se trata de uma forma de amor ao próximo, como ensinou o Mestre Jesus.
Fonte: Reformador, nº2118
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº351
Janeiro 2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
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