A
reencarnação provém de dois atributos básicos de Deus, sem os
quais, no nosso entendimento, Ele não seria Deus: justiça e
misericórdia infinitas.
Acreditando-se
que tais atributos são intrínsecos à Deus, torna-se sobremaneira
impossível conceber-se a idéia de um inferno temporalmente infinito
a um indivíduo, no qual estarão as almas que aqui viveram de forma
errada, enganosa, materialista, etc, sem quaisquer chances de
arrependimento. Tais almas, uma vez adentradas no inferno, não
poderiam ser alcançadas pela misericórdia divina. Mesmo
arrependendo-se, não mais seriam ouvidas por Deus por todo o sempre.
É fácil perceber o grave conflito entre esse conceito de inferno e
os dois atributos divinos citados acima, uma vez que sua existência
estabelece, de forma óbvia, um termo à misericórdia de Deus.
A
reencarnação é uma segunda chance que Deus nos concede para
tentarmos evoluir moralmente como seres humanos, sendo esse o real
objetivo dela: a evolução do espírito. "Receber um corpo, nas
concessões do reencarnacionismo, não é ganhar um barco para nova
aventura, ao acaso das circunstâncias, mas significa
responsabilidade definida nos serviços de aprendizagem, elevação
ou reparação, nos esforços evolutivos ou redentores". (1)
Deus
não quer que nenhum dos seus filhos se perca e sua infinita
misericórdia estará sempre nos tocando com sua divina benção.
Ela
vem ainda a corrigir possíveis injustiças. Quantas pessoas passam
por sérias dificuldades em suas vidas? Miséria, vivendo ao lado do
crime e tendo os filhos passando fome, enquanto outras possuem totais
condições de desenvolvimento moral junto a suas famílias tão bem
estabelecidas?
Um
caso interessante: quantos povos viveram em níveis bárbaros e
antropófagos na história da humanidade? Será que se nossa alma,
assim que fosse criada, encarnasse em um corpo e vivesse junto a esse
povo não seríamos também antropófagos?
Por
isso deveríamos ir para o inferno, logicamente?
Ou
iríamos para o paraíso eterno? (Mas como, se fomos canibais??)
Pode-se
argumentar que Deus perdoar-nos-ia por não sabermos que tal prática
era errada, afinal nascemos ali e convivemos desde cedo com aquilo.
Mas então isso quer dizer que, por viver na ignorância, estaríamos
livres para fazer o que quiséssemos e ainda assim sermos premiados
com o paraíso eterno? Seria uma grande demonstração de
misericórdia, realmente, por parte de Deus, mas ao mesmo tempo
também de injustiça. Isso não seria justo para com aqueles que
conheceram as leis do amor a Deus e ao próximo. Aos primeiros o
paraíso, não importando o que fizeram, devido a sua ignorância;
aos últimos, somente se conseguissem manter-se no caminho correto,
passando pela porta estreita (Mateus 7:13)? Em qualquer hipótese,
não há como haver justiça igualitária a todos nesse caso se não
pensarmos na reencarnação. Nas duas possibilidades estaria havendo
um tratamento preferencial de Deus para com um povo ou outro: seja
dando a possibilidade do paraíso apenas àqueles que possuíssem o
conhecimento das leis morais divinas e as praticassem, relegando os
ignorantes e bárbaros ao inferno eterno; seja dando aos ignorantes e
bárbaros de qualquer forma o paraíso, face à sua ignorância,
devendo os outros, para chegarem à felicidade eterna, seguir todo um
caráter moral de convivência com o próximo.
Outro
caso interessante: o que ocorre com a criança que morre ainda em
tenra idade? Imaginemos que tal criança deixe essa vida apenas
alguns dias após seu nascimento. Deveria ela ir para o céu ou para
o inferno?
Lógico
é pensarmos que não irá para o inferno, pois sua alma, acabando de
ser criada e vivendo encarnada por apenas alguns dias, não haverá
cometido pecado algum. Então pensamos: deverá certamente ir para o
paraíso eterno. Se assim o é, tal alma fora escolhida por Deus para
ser salva. Não foi submetida a nenhum sofrimento que qualquer ser
humano enfrenta em sua vida, tendo que ser forte para suportá-los
sem desviar-se do bom caminho. Concebemos como justo e correto um pai
que, a um filho, dá todas as condições de desenvolvimento:
carinho, amor, suporte material, etc; e a outro despreza e humilha,
sempre relegando-o a um plano inferior? Se um homem que assim agisse
seria obviamente considerado injusto e sem caráter, como Deus
poderia proceder desse modo? Deus não escolhe almas e as salva
previamente. Deus não quer mais a você do que a alguém de um povo
bárbaro que viveu há milhares de anos atrás, nem quer mais a uma
criança que desencarna com alguns dias de vida do que você, que
está aqui, suportando alguns sofrimentos dessa vida. Somos todos
filhos Dele e Ele quer nosso bem igualmente.
O que dizer então nesses
casos?
Devemos pensar que a real
vida é a do espírito. O corpo morre e volta ao pó, a alma continua
eternamente. Seria melhor ter vivido com o povo bárbaro em um tempo
longínquo, tendo a salvação eterna garantida pela ignorância, ou
viver agora, com todas as responsabilidades que o conhecimento que
possuímos trás? Sabemos o quanto é difícil nos mantermos no
caminho correto, com tantas dificuldades, tentações e violências
do mundo atual...
A reencarnação é o
produto da misericórdia infinita de Deus aliada a sua justiça
suprema! Não se trata de um castigo, como muitos pensam, mas de uma
segunda chance, como colocado no início. Uma chance que nos é
concedida para que possamos sempre evoluir até atingirmos a
perfeição que nossa natureza humana comporta. Aliado a isso, a
reencarnação ainda corrige as injustiças, dando iguais
possibilidades a todos.
É como em uma escola: se
um aluno é reprovado, ele não é expulso, mas ganha uma nova chance
no ano seguinte, sempre podendo contar com a assistência de seus
professores.
Leia ainda: Por que não
nos lembramos de outras vidas?
A reencarnação não
está na Bíblia! Como pode ela existir?
(1) – Trecho do livro
Missionários da Luz, de André Luiz, psicografado por Chico Xavier
Versículo
citado nesse texto
Mateus, 7:13
Entrai pela porta
estreita; porque larga é a porta, e espaçoso o caminho que conduz à
perdição, e muitos são os que entram por ela.
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– Conhecendo o Espiritismo sem preconceitos
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