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sexta-feira, 13 de março de 2009

…E não os impeçais

NILZA TERESA ROTTER PELÁ
de Ribeirão Preto, SP
Apresentaram-lhe então algumas crianças, a fim de que ele as tocasse, e, como seus discípulos afastassem com palavras ásperas os que lhas apresentavam, Jesus, vendo isso, zangou-se e lhes disse: “Deixai que venham a mim as criancinhas e não as impeçais, porquanto o reino dos céus é para os que se lhes assemelham. - Digo-vos, em verdade, que aquele que não receber o reino de Deus como uma criança, nele não entrará”.- E, depois de as abraçar, abençoou-as, impondo-lhes as mãos. (S. Marcos, cap. X, vv. 13 a 16.)
No texto em epígrafe, passagem do Evangelho de Marcos, Jesus faz uma proposta a todos nós no sentido de que as crianças não devem ser impedidas de vir até ele. A primeira vista parece que essa assertiva era adequada ao tempo de Jesus, mas que hoje, entre os cristãos, ela já se faz sem sentido, uma vez que todas famílias dentro de seu credo religioso cristão têm o cuidado de adequar a criança aos preceitos colocados pela religião escolhida para nortear suas vidas.
A proposta de Jesus, porém é mais abrangente não se trata apenas de cumprir preceitos, de encaminhar para o cristianismo, mas não obstruir o caminho da criança até o cristianismo. Esse alerta bem atual ainda nos dias de hoje deve ser assunto de reflexão do educador seja ele pai, mãe, professor, familiar.
Se estou encaminhando como posso estar obstruindo ao mesmo tempo? Não seria isto uma contradição? Entretanto mostrar o caminho não quer dizer que a tarefa está completa, pois ainda se faz necessário não criar obstáculos para a jornada.
Quais seriam esses obstáculos que se poderia colocar no caminho do infante em direção a Jesus?
Um deles sem dúvida é a valorização primordial da vida material em detrimento da vida espiritual. O conceito de bem sucedido ainda é centrado no sucesso dos empreendimentos da vida material, mesmo que esse sucesso tenha deixado mágoa ao longo do caminho o que geralmente é visto como inevitável na competição pela busca do melhor salário, melhor posição social, mais prestígio.
O exemplo dado no cotidiano da vida que gera padrão de comportamento na criança é um sério impedimento na construção de valores centrados no amor ou pelo menos respeito ao próximo. Muitas vezes o adulto não dimensiona a influência que seu comportamento exerce sobre a criança que passa a incorporar atitudes que julga serem boas por estarem vindo de seu cuidador a quem considera pessoa importante. Assim desrespeitar regras de trânsito, contar mentira para se safar de constrangimento, usar palavras de baixo calão, fazer observações maldosas sobre pessoas e tantos outros deslizes considerados pequenos são observados e incorporados pela criança.
No cap. V de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Bem-aventurados os aflitos – Causas atuais das aflições) encontramos “Quantos pais são infelizes com seus filhos, porque não lhes combateram desde o princípio as más tendências! Por fraqueza, ou indiferença, deixaram que neles se desenvolvessem os, do orgulho, do egoísmo e da tola vaidade, que produzem a germens da secura do coração; mais tarde, quando colhem o que semearam, admiram-se e se depois afligem da falta de deferência com que são tratados e da ingratidão deles”. Fraqueza e indiferença dos pais aqui se apresentam como obstáculos para impedir a criança a desenvolver comportamentos novos em seu repertório moral. Lembramo-nos de certa reunião de pais e evangelizadores em uma casa espírita onde estava sendo abordado o tópico – falta às atividades – quando um casal justificou a falta de seus filhos porque “afinal domingo era o único dia que podiam dormir até mais tarde e trazer regulamente as crianças significava levantar-se cedo no domingo”. Argumentos dessa natureza evidenciam a valorização de outros aspectos da vida em detrimento a oferecer aos filhos a sentir que atividades espirituais são tão ou mais importantes que atividades materiais.
Outro aspecto que a isso se relaciona é que nesta fase da infância os Espíritos são suscetíveis à ação do ambiente e aos ensinamentos que lhe são formadores de caráter conforme está evidenciado no capítulo VIII de “O Evangelho Segundo o Espiritismo” (Bem-aventurados os que têm puro o coração) – “(…) é necessário esse estado de transição para que o Espírito tenha um novo ponto de partida e para que esqueça, em sua nova existência, tudo aquilo que a possa entravar. Sobre ele, no entanto, reage o passado. Renasce para a vida maior, mais forte, moral e intelectualmente, sustentado e secundado pela intuição que conserva da experiência adquirida.”
Nesse novo ponto de partida onde a criança está sendo encaminhada ao cristianismo o que estamos colocando em seu caminho? Alavancas? Obstáculos? Observemos nosso comportamento na busca de identificar essas duas situações no nosso relacionamento com as crianças quer sejamos pai, mãe, professor ou familiar.
Fevereiro de 2006, edição n°. 241
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