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quinta-feira, 26 de julho de 2012

Culpa e Responsabilidade



Ana Cecília Rosa    

Nos evangelhos, estão relatadas diversas passagens, nas quais o arrependimento dos erros cometidos é condição primária para o perdão das faltas e a felicidade eterna. A visão de Deus como um juiz severo e vingativo é ainda temida por muitos, motivando mudança de comportamento e o ensejo de penitenciar-se. O arrependimento é o grito da consciência, nosso aguilhão íntimo, que reconhece a transgressão de condutas morais e o desvio do dever, levando-nos a experimentar a culpa e suas consequências. O Espiritismo esclarece-nos que somos apenas Espíritos arrependidos, sensibilizados pelo remorso em busca do reajustamento através da reparação.
     Quando alguém se equivoca por algum motivo e se arrepende, é compreensível que a culpa se instale nos painéis da consciência. Segundo Joanna de Angelis, “a culpa surge como uma forma de catarse necessária para a libertação dos conflitos” (Momento de Consciência, cap. 6). Não sendo um sentimento negativo em si, cumpre seu papel de despertar-nos para a atitude necessária de recompormo-nos moralmente. A experiência de vivenciar a culpa sem nenhum propósito de transformação ou não reincidência no erro consubstancia o remorso, gerando as atitudes infelizes de autopunição. Qualquer tentativa de reter, na lembrança, os delitos passados ou oportunidades perdidas, lamentando-os, não fará que o erro se apague. Ao contrário, proporciona graves distúrbios psicológicos, conscientes ou não, principalmente se o indivíduo for incapaz de praticar o recurso do autoperdão.
A sustentação deste pensamento enfermiço não só traz a falsa idéia de que o sofrimento vivido é, por si só, reparador da falta, como também impede que se busquem as ações edificantes necessárias para a corrigenda, única forma de libertação da culpa.
Tomar consciência de seu erro e libertar-se da culpa não exime o indivíduo da necessidade de reparar a falta, já que o ofendido, geralmente, não está isento da dor causada pelo nosso ato infeliz. Segundo Allan Kardec “o arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são precisas a expiação e a reparação” (Céu e Inferno, parte I, cap. 7). 
É relevante considerar que as noções de consciência e moral desenvolvem-se lentamente, no decurso de diferentes encarnações, para o espírito imortal. É precisamente no momento em que a responsabilidade se faz presente que se estabelece o contraponto entre a “culpa saudável” e o remorso patológico.
Quando convertemos a culpa em responsabilidade, crescemos psicologicamente e ficamos mais predispostos à prática do perdão e, consequentemente, à reparação.
     A responsabilidade marca, de fato, uma diferença na conduta do ser. Ser responsável implica em ter consciência dos problemas existenciais, reconhecer humildemente as falhas, demonstrar capacidade de agir com elevação e dignidade e desejar sinceramente reparar o mal feito.
Se, ao lidar com o sentimento de culpa, o indivíduo assumir a responsabilidade pelos seus atos, pensamentos e sentimentos de forma madura, saberá enfrentar as consequências de suas escolhas sem a perturbação do remorso patológico. Apagar as lembranças infelizes de uma falta e suas consequências é trabalho de almas que já tomaram conhecimento dos valores morais verdadeiros e praticam uma postura mais realista e produtiva em relação à vida. 
     Segundo Emmanuel, “Cair em culpa demanda, por isso mesmo, humildade viva para o reajustamento tão imediato quanto possível de nosso equilíbrio vibratório, se não desejamos o ingresso inquietante na escola das longas reparações” (Pensamento e vida, cap. 22). 
O Espiritismo, afirmando que a existência humana é oportunidade de crescimento e realizações no bem, renova-nos a esperança para cumprir com os resgates necessários a fim de que a nossa consciência tranquilize-se após a reparação.
 
Ana Cecília Rosa é médica pediátrica, residente no Brasil. É membro do Instituto de Divulgação Espírita - Araras/SP.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 8 Janeiro e Fevereiro 2010
The Spiritist Psychological Society 

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