Powered By Blogger

Pesquisar este blog

Páginas

terça-feira, 19 de novembro de 2013

CONSEQUÊNCIAS DO ESPIRITISMO

COMUNICAÇÃO

 Cleto Brutes

Allan Kardec, ao analisar os vários níveis de compreensão e vivência dos adeptos do Espiritismo, apresenta uma série de consequências para aqueles que, não se limitando apenas a observar os fenômenos, pelo estudo sério, faz da Doutrina Espírita um roteiro de vida.
A religiosidade. A primeira e mais importante consequência é no sentido de desenvolver um sentimento de religiosidade. A medida em que o homem entende que é um Espírito imortal, que está vivendo temporariamente uma experiência num corpo físico, temporal e perecível, passa a dar menos valor às questões transitórias, projetando seus interesses e seus esforços para o progresso espiritual. E, na proporção do progresso que realizar, mais se aproxima de Deus, objetivo principal de toda religião.
A resignação. Ao compreender que as provações da existência são experiências necessárias e impulsionadoras do progresso, o homem passa a se resignar diante das vicissitudes da vida. Ao entender de forma racional e lógica o motivo das dificuldades da vida terrena, o homem não se aflige tanto com as tribulações que a acompanham.
Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos.
A aceitação das perdas. A crença na vida futura o leva a aceitar, sem queixa, nem pesar, uma morte inevitável, como coisa mais de alegrar do que temer, pela certeza do estado que lhe sobrevirá. A compreensão de que a vida não se extingue no túmulo e que os laços que o unem aos entes queridos que o antecederam no retorno ao mundo espiritual não se rompem com a morte, torna mais fácil aceitar as separações.
A certeza de um futuro, que temos a faculdade de tornar feliz, a possibilidade de estabelecermos relações com os entes que nos são caros, oferecem ao espírita suprema consolação.
A profilaxia contra o suicídio. Quando compreende que a encarnação é o remédio divino para amenizar as dores da alma, valorizará mais a vida e, por consequência, banirá a idéia de abreviar os dias da existência, porque a ciência espírita ensina que pelo suicídio sempre se perde o que se queria ganhar. O Espiritismo, ao apresentar os próprios suicidas informando a situação dolorosa em que se encontram no outro lado da vida, vem confirmar que pelo suicídio o homem chega a resultados opostos ao que esperava. Ao tentar fugir de um mal, incorrerá em outro muito pior, mais longo e penoso. Se esperava encontrar-se com os entes queridos, o suicídio é exatamente o obstáculo que o impedirá de revê-los.
A indulgência. Todos são iguais perante Deus e têm o mesmo
princípio e a mesma destinação, a felicidade. O erro é um estágio transitório e toda criatura, por mais perversa que possa parecer, na medida dos seus esforços, irá purificar-se.
Compreendendo assim, fica mais fácil para o homem sentir indulgência para com os defeitos alheios.
O esquecimento de si mesmo. Quando o homem passa a ver o seu semelhante como um companheiro de jornada, e não um concorrente, torna-se menos egoísta, passando a se ocupar mais com o seu semelhante. A abnegação em favor do outro, pelo esquecimento de si mesmo, constitucional de grande progresso.
É evidente que a adoção dos princípios espíritas não vai livrar o homem das experiências necessárias ao seu amadurecimento. Conviverá ainda um largo tempo com o fruto da semeadura equivocada e com suas imperfeições, pois vícios e equívocos, cultivados por muitos séculos, somente serão vencidos com o trabalho no bem, levado a efeito ao longo das encarnações. No entanto, a Doutrina Espírita, o Consolador Prometido por Jesus, torna o homem mais consciente, mais humano e, com a fé racional que desenvolve, transitará pelos caminhos da vida, com mais equilíbrio e com melhor proveito. Por isso, o convite ao estudo sério, regular e contínuo dos seus ensinamentos.



“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXXII N° 389
FEVEREIRO 2009
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)


sábado, 16 de novembro de 2013

DEJÁ-VU: O REENCONTRO COM O PASSADO

CIÊNCIA



Dr. Ricardo Di Bernardi

O artigo apresentado pela revista Veja: “Quando o cérebro é o médico... e o monstro” na edição nº. 1962, nas páginas 66 até 76, é um tema que tem nos ocupado por demais nos últimos tempos. São pequenos transtornos da vida moderna que vão se acumulando e sem percebermos estamos à mercê de uma ‘pressa’, de um nervosismo, de uma irritação sem precedentes.
No texto extraído de O Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo IX, item 07(A Paciência), 3º §, página 127, encontramos os seguintes dizeres: “A vida é difícil, eu o sei; ela se compõe de mil nadas que são picadas de alfinetes que acabam por ferir... (UM ESPÍRITO AMIGO, Havre, 1862)”. No mundo conturbado em que vivemos, onde a lascívia, a tolerância ao errado e ao despudorado, assim como a indiferença com os nossos semelhantes, tornaram-se uma constância em nossa rotina, constatamos que para nos impormos temos que ter “atitude”, modificar nosso visual de forma agressiva, aparentar o tão sério e indiferentes que no íntimo não somos, tudo isso com o único propósito de sobrevivermos. Por outro lado, é importante ressaltar que esta mensagem foi recebida ainda no século XIX, todavia nunca se fez tão atual quanto agora, neste nosso mundo estressado.

Como se não bastassem estas referências, vejamos algumas situações do nosso cotidiano e então façamos uma rápida reflexão para ver se em algumas delas nós não estivemos envolvidos, tais como: nervosismo no trânsito, ansiedade com algum tipo de situação [o ente querido que ainda não retomou da rua; o salário que ainda não foi depositado; o preço ou a prestação daquele objeto cobiçado; aquele exame que não recebemos seu laudo ainda; a marginalidade que assola o mundo; dentre tantas outras situações].
Todas estas situações são fatores gerados por estresse. Desta forma, na conceituação do estresse, podemos afirmar que ele é um fator psicológico que se encontra por trás da maioria das doenças físicas. Um estressor é uma situação ou problema que requer um ajustamento que nos sobrecarrega. Uma vez que nos tornemos conscientes da situação ou problema tentamos lidar com ela por meio de resolução construtiva de problemas. Se o enfrentamento falha, a resposta de estresse é disparada.
A resposta de estresse tem tanto um componente psicológico (a ansiedade), como um componente fisiológico (a frequência cardíaca elevada). Podemos responder ao estresse com mecanismos de defesa que podem reduzi-lo, mas que não resolvem o problema subjacente (HOLMES, 1997, p. 357).
Nas últimas décadas, vários têm sido os processos no tratamento da redução do estresse. O conhecimento dos efeitos das cargas de trabalho, assim como dos períodos de descanso necessários para restaurar o equilíbrio biológico, o tratamento específico das formas de se viver e enfrentar estas situações estressantes, assim como a complexidade crescente das atividades contemporâneas fizeram que surgissem novas formas de organização estratégica, de planejamento e programação de métodos mais eficientes para se conviver com estas pressões.

É assim que vemos as mais variadas terapias, métodos de treinamento físico, políticas de empresas, dentre outras maneiras para que possam tentar viver dentro de uma relativa normalidade. (DANTAS, 1995, p. 20).
Todavia, quando não atentamos para aqueles fatores que podem gerar um excessivo e nocivo estresse, lá estaremos nós propensos ao desenvolvimento de: algumas moléstias cardiovasculares (AVe e hipertensão), as mais variadas formas de dores de cabeça, as úlceras, bem como àquelas indisposições relacionadas ao sistema imunológico, isto sem falar nos estados de espírito nocivos ao nosso campo mental, tais como irritações, ansiedades desnecessárias, depressões, estados de euforias, desesperanças, dentre outros, oferecendo oportunidades para a alteração de nosso campo vibratório e ficando à mercê de más influências que não se coadunem com o equilíbrio e a paz de espírito tão desejada.
DESENVOLVIMENTO
Durante o evangelho na casa de Pedro, quando este perguntou a Jesus quantas vezes deveríamos perdoar aos nossos adversários, Jesus lhe disse não sete vezes, mas setenta vezes sete vezes. Esta recomendação, se apoiada na fisiologia do corpo e da mente, orienta-nos que não deveremos somatizar nenhum tipo de forma pensamento (ou seja, ficar ‘martelando por muito tempo na mesma tecla’), a fim de não produzirmos substâncias em excesso e desnecessários ao funcionamento do nosso organismo, tais como: a adrenalina, o colesterol, o cortisol, os radicais livres, glucocorticóides, dentre outros.
Nunca se fez tão atual as recomendações de Emmanuel, no livro “Palavras de Vida Eterna”, psicografia de Francisco Cândido Xavier, nas páginas 157 até 164, quando ele aborda os seguintes temas: Pacifica Sempre; Olhos; Ouvidos, e Excesso, recomendando-nos sempre a busca do caminho da moderação, da tolerância, do equilíbrio e do bom senso moral, espiritual e consequentemente o físico.
Por outro lado, podemos constatar que Jesus é o exemplo vivo do dinamismo não se permitindo entrar na ociosidade ou no tempo perdido. No entendimento desta postura de Jesus, podemos constatar que Ele não se permitia ficar por muito tempo na contemplação do tempo perdido, ou na expectativa de que as situações se alterassem independentemente de sua atuação.
Na lida cristã encontramos o seguinte ditado:
“Ajuda-te que o Céu te ajudará”, que se formos operacionalizar esta mensagem, poderemos interpretá-la como a melhor forma de terapia para o espírito e a mente que se encontre com predisposições aos mais variados transtornos mentais, tais como: a depressão, o estresse, os transtornos obsessivos compulsivos, a ansiedade em excesso, o sentimento de ciúmes, a predisposição aos pensamentos de suicídio/homicídio, dentre outros.
Já desde a época que Jesus implantou o evangelho no lar, iniciado na casa de Pedro, Ele exemplificou que a melhor terapia para a mente e o espírito está no gasto energético de nossas forças físicas, desde que direcionadas para o bem, principalmente na ação de ajuda aos nossos semelhantes, conforme podemos atestar no item n.º 16, no livro “Jesus no Lar”, pelo espírito de Neio Lúcio, psicografado por Francisco Cândido Xavier, página 75 – “O Auxílio Mútuo”.
A ciência vem cada vez mais atestando que as situações de excessivo estresse, quando prolongadas poderão desenvolver, particularmente naquelas pessoas com baixa imunidade ou com tendências genéticas, o aparecimento de doenças tais como a “artrite reumatóide” e o próprio “câncer”.
Por outro lado, uma vida regrada tanto nos aspectos físicos, nos aspectos mentais, quanto nos aspectos morais são posturas que permitirão à pessoa ter adiado ou até mesmo anulado a ação do tempo no seu organismo físico, não permitindo o aparecimento destas doenças. Com isso não queremos afirmar que estaremos imunes à ação do tempo ou dos reajustes de vidas pretéritas.
Todavia poderemos amenizar a ação dos efeitos psicofisiológicos em nosso organismo, por meio de uma postura mental e espiritual equilibrada.
CONCLUSÃO
Quanto aos aspectos psicofisiólógicos, a ciência do mundo moderno tem cada vez mais ratificado o que Jesus no seu Evangelho veio nos oferecer há dois mil anos atrás, ou seja, as excessivas posturas mentais geradoras de estresse são nocivas primeiramente ao próprio espírito (ser Inteligente), à mente (órgão mediador entre o ser inteligente e o aparelho físico), assim como ao aparelho físico, resultando em diversas formas de desequilíbrio orgânico, alterando a produção hormonal, seja pelo aumento na produção de adrenalina, seja pela alteração do batimento cardíaco, da produção de cortisol, e de tantos outros hormônios que, em excesso, irão desestabilizar o organismo.
A ciência moderna recomenda as mais variadas terapias, todavia, num futuro não muito distante, com a reaproximação da ciência e da religião de Jesus Cristo, poderemos constatar, tanto no campo físico quanto no campo espiritual, que a postura do cristão vivenciada de acordo com o Evangelho de Jesus, será a melhor assepsia, e terapia preventiva como curativa para nossos corpos fisico-espirituais.


Bibliografia:
BACCELLI, Carlos A. O Evangelho de Chico Xavier. São Paulo: Casa Editora Espírita “Pierre-Paul Didier”, 2000.
BISPO, Freimar Ferreira. A busca do estilo e da qualidade de vida no mundo atual. Dissertação de Mestrado em Psicologia, Saúde, Educação e Qualidade de Vida. Iowa, USA: American World University, 2002.
COOPER, Kenneth H. O Programa aeróbico para o bem-estar total exercícios, dietas, equilíbrio emocional. 3 ed. Rio de Janeiro: Editorial Nórdica, 1982.
DANTAS, Estélio H. M., Psicofisiologia. Rio de Janeiro: Shape, 2001.
HOLMES, David S. Psicologia dos transtornos mentais. 2 ed. Rio Grande do Sul: Artes Médicas, 2001.
KARDEC, Allan, O Evangelho Segundo o Espiritismo. 160 ed. São Paulo: Instituto de Difusão Espírita, 1993.
LÚCIO, Neio (Espírito). Jesus no Lar. Psicografado por Francisco Cândido Xavier. 15 ed. Distrito Federal: Federação Espírita Brasileira, 1987.
POLLOCK, Michael L., et al. Exercícios na saúde e na doença: avaliação e prescrição para prevenção e reabilitação. Rio de Janeiro: Médica e Científica, 1986.
EMMANUEL (Espírito). Palavras de Vida Eterna. Psicografado por Francisco Cândido Xavier; 9 ed. Minas Gerais: Comunhão Espírita Cristã, 1986.


“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXXIV N° 401
FEVEREIRO 2010
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)


domingo, 10 de novembro de 2013

Kardec Afirma

Em “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”,
Questões 801 e 802.
Por que os Espíritos não ensinaram desde todos os tempos o que ensinam hoje?
— Não ensinais às crianças o que ensinais aos adultos e não dais ao recém-nascido um alimento que ele não possa digerir. Cada coisa tem o seu tempo. Eles ensinaram muitas coisas que os homens não compreenderam ou desfiguraram, mas que atualmente podem compreender.
Pelo seu ensinamento, mesmo incompleto, prepararam o terreno para receber a semente que vai agora frutificar.

Desde que o Espiritismo deve marcar um progresso da Humanidade, por que os Espíritos não apressam esse progresso através de manifestações tão gerais e patentes que pudessem levar a convicção aos mais incrédulos?
— Desejaríeis milagres, mas Deus os semeia a mancheias nos vossos passos e tendes ainda os homens que os negam.
O Cristo, ele próprio, convenceu os seus contemporâneos com os prodígios que realizou?
Não vedes ainda hoje os homens negarem os fatos mais patentes que se passam aos seus olhos? Não tendes os que não acreditariam, mesmo quando vissem?
Não, não é por meio de prodígios que Deus conduzirá os homens. Na sua bondade ele quer deixar-lhes o mérito de se convencerem através da razão.



“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXXIV N° 401
FEVEREIRO 2010
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:

Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)


PORQUE OS ADULTOS SE ESQUECEM DE QUE JÁ FORAM CRIANÇAS

EDUCAÇÃO

Se fizessem um pouco de
esforço não as educariam melhor?

Os dois problemas: o da educação no lar e o da educação na escola giram em torno de um mesmo eixo. Os pais são os professores no lar e os mestres são os pais na escola. Muito mais do que um fenômeno biológico, a paternidade e a maternidade constituem uma relação psíquica e portanto espiritual. O Espiritismo ensina e demonstra que os pais não geram o Espírito dos filhos, mas apenas os seus corpos. A criança já nasce com o acervo pessoal de suas conquistas no processo evolutivo. Ora, a tarefa dos pais, como a dos mestres, é ajudá-la a integrar-se, durante a presente existência, na posse desse acervo, e a enriquecê-lo ainda mais.
Assim, para que a educação se desenvolva de maneira harmoniosa e eficiente é necessária a conjugação do lar com a escola, dos pais com os mestres. Não é muito fácil conseguir-se isso no mundo de hoje, mormente nas grandes cidades. Mas há um meio pelo qual se podem superar as dificuldades atuais. Se os pais e os mestres se lembrarem de que foram crianças, se procurarem manter essa lembrança em suas atividades no lar e na escola, a conjugação necessária se fará naturalmente.
EDUCAÇÃO AFETIVA
Os adultos se esquecem facilmente de que foram crianças porque se acham integrados num mundo diferente, o mundo da gente grande. Esse mundo dos adultos é geralmente feito de ambições, temores, ódios e violências. É um mundo hostil, muitas vezes brutal. Os adultos se tornam criaturas práticas, objetivas, eficientes - o que vale dizer egoístas, secas, frias e insensíveis. Se fizessem algum esforço para vencer essa frieza mortal, lembrando-se um pouco da infância, voltariam a viver e seriam capazes de amor e ternura.
A Educação é um ato de amor, é a ajuda das pessoas grandes para que as crianças também possam crescer. Os adultos sem amor não podem educar. Pelo contrário, deseducam. Às vezes a escola destrói a educação iniciada no lar, e às vezes é o lar que destrói a educação dada na escola. Se os pais são insensíveis, a criança é infeliz, carente de amor. Se os mestres são estúpidos, a criança tem medo da escola.
Mas o pior de tudo é a indiferença, a frieza.

Pais e mestres que olham para as crianças com olhos de múmia, de rosto impassível, são carrascos executando vitimas inocentes.
Queimam essas plantinhas tenras, que são as crianças, como um sol ardente crestando semeaduras no campo. As crianças necessitam de afeto, de carinho, de atenção.
A natureza humana é diferente da natureza animal. Não se pode nem se deve querer domesticar uma criança como se fosse um cachorrinho, domá-la como se fosse um potro. Cada criança é uma inteligência despertando para a vida, e mais do que isso, é uma consciência que desabrocha. Essa inteligência e essa consciência precisam de aceitação e compreensão, pois do contrário se ressecam, tornam-se amargas, voltam-se para a rebeldia e a maldade. Os próprios animais não podem ser domesticados apenas com violência.
EDUCAR E AMAR
O mundo das crianças é diferente do mundo dos adultos. Ê um mundo de sonhos e de aspirações nobres. Um mundo amoroso, cheio de ternura e ansiando por compreensão.

Kardec escreveu que as crianças são Espíritos que se apresentam no mundo com as vestes da inocência. Espíritos maduros que se fazem pequeninos e tenros para poderem entrar no Reino do Céu. Voltam à fonte da vida, renovam-se nas águas lustrais da esperança, recomeçam a existência com grandes planos de trabalho delineados no intimo. São frágeis e parecem puros porque precisam atrair o amor da gente grande.
Carecem de amor e imploram carinho. As pesquisas pedagógicas entre as tribos selvagens revelam que as crianças tribais, ao contrário do que supunham alguns teóricos, não são tratadas com brutalidade mas com reserva e carinho. Para o selvagem a criança é como um estrangeiro que chega à tribo, mas um estrangeiro que pode ser amigo. Antes de integrá-la na vida social eles a mantêm em observação, procurando atraí-la com amor. Depois dos rituais de integração, os adolescentes continuam a ser encarados com ternura e tratados com carinho.
A finalidade dessas pesquisas é favorecer a descoberta da verdadeira natureza da educação. Nos povos civilizados a educação aparece muito complexa, revestida de numerosos artifícios técnicos e teóricos, perturbada por sofismas e sujeita a interesses múltiplos. Nos povos selvagens ela pode ser observada na fonte, está ainda pura e nua como a verdade. E o que as pesquisas revelam é que a educação, na sua verdadeira essência, é um ato de amor pelo qual as consciências maduras agem sobre as imaturas para elevá-las ao seu nível. Educar é amar, porque a mecânica da educação é a ajuda, o amparo, o estimulo. A vara, o ponteiro, a palmatória, as descomposturas e os gritos pertencem à domesticação e não à educação.
A violência contra a criança é um estimulo negativo que desperta as suas reações inferiores, acorda a fera do passado na criaturinha vestida de inocência que Deus nos enviou. Só o amor educa, só a ternura faz as almas crescerem no Bem.
O PERIGO DO EXEMPLO
O comportamento dos adultos, não só em relação às crianças mas também ao redor das crianças, tem sobre elas um poder maior do que geralmente pensamos. O exemplo é uma didática viva. Por isso mesmo é perigoso.
Costumamos dizer que as crianças aprendem com facilidade as coisas más e dificilmente as boas. E é verdade. Mas a culpa é nossa e não das crianças. Nossos exemplos exercem maior influência sobre elas do que as nossas palavras. Nosso ensino oral é quase sempre falso, insincero. Ensinamos o que não fazemos e queremos que as crianças sigam as nossas palavras. Mas elas não podem fazer isso porque aprendem muito mais pela observação, pelo contágio social do que pelo nosso palavrório vazio. Renouvier dizia que aprender é fazer e fazer é aprender. Nós mesmos, os adultos, só aprendemos realmente alguma coisa quando a fazemos.
Na criança o aprendizado está em função do seu instinto de imitação. A menina imita a mãe (e a professora), o menino imita o pai (e o professor). De nada vale a mãe e o pai, a professora e o professor ensinarem bom comportamento se não derem o exemplo do que ensinam. As palavras entram por um ouvido e saem pelo outro, mas o exemplo fica o exemplo cala na alma infantil. Tagore, o poeta-pedagogo da Índia, comparava a criança a uma árvore. Dizia que a criança se alimenta do solo social pelas raízes da espécie, mas também extrai da atmosfera social a clorofila do exemplo. O psiquismo infantil é como uma fronde aberta no lar e na escola, haurindo avidamente as influências do ambiente.
RESPONSABILIDADE ESPIRITUAL
Dois exemplos nos mostram, no passado e no presente, a responsabilidade espiritual do nosso comportamento no lar e na escola. O exemplo de Jesus, que exemplificou durante toda a vida e ensinou apenas durante três anos. E o exemplo de Kardec, que exemplificou até os cinqüenta e quatro anos e só ensinou durante doze anos. Só a partir de 1857, com a publicação de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, Kardec começou o verdadeiro ensino que trazia para a Terra. Antes disso foi professor e pedagogo, didata e cientista, dando mais em exemplo do que em teoria.
Outro grande exemplo é o de Pestalozzi, o mestre de Kardec, que só na velhice se voltou para a Pedagogia e se tornou o mestre do seu tempo. Pestalozzi sentiu que educar é amar e por isso dedicou-se à educação com toda a força do seu amor. Tomou-se o paizinho dos seus alunos, como era ternamente chamado por eles. E se fez mendigo entre as crianças mendigas para arrancá-las da miséria moral. Por isso fracassou materialmente. Não enriqueceu com a educação e sofreu as agruras da queda financeira. Mas sua vitória espiritual foi gloriosa. Também Jesus, para a curta visão dos ganhadores de dinheiro, foi um judeu fracassado que morreu na cruz, a morte mais infamante daquele tempo. Essa coragem moral de abrir mão do lucro, do ganho, do rendimento é a mola que faz a Terra subir na escala dos mundos. Só as almas superiores a possuem. E quando essas almas enfrentam o julgamento louco dos homens para nos darem o exemplo da abnegação, com isso nos mostram a importância do exemplo.
Devemos pensar nesses grandes problemas para podermos vencer em nossas pequenas tarefas cotidianas. Abdiquemos da violência, da irritação, do autoritarismo e da arrogância se quisermos realmente educar, se desejarmos de fato ser pais e mestres.
A EDUCAÇÃO CRISTÃ
A Educação Cristã reformou o mundo, mas os homens a complicaram e deturparam. A consciência do pecado pesou mais nas almas do que a consciência da libertação em Cristo. Tomás de Aquino ensinou: mães, os vossos filhos são cavalos! Educar transformou-se em domar, domesticar, subjugar. A repressão gerou a revolta e reconduziu o mundo ao ateísmo e ao materialismo, à loucura do sensualismo. A Educação Espírita é a Renascença da Pedagogia Cristã. É nela que o exemplo e o ensino do Cristo renascem na Terra em sua pureza primitiva. Precisamos reformar os nossos conceitos de educação à luz dos princípios espíritas e dos grandes exemplos históricos. Dizia uma grande figura espiritualista inglesa, Annie Besant, que cada criança e cada adolescente representam planos de Deus encarnados na Terra e endereçados ao futuro. Aprendamos a respeitar essas mensagens divinas.
Lembremo-nos de nossa própria infância e se por acaso verificarmos que a nossa mensagem se perdeu ao longo da existência, que o nosso plano divino foi prejudicado pelos homens, pelos maus exemplos e pelos ensinos falsos, juremos perante o nosso coração que havemos de evitar esse prejuízo para as novas gerações. Pais, sejamos mestres! Mestres, sejamos pais! Que cada rostinho de criança aberto à nossa frente, como uma flor que desabrocha, nos desperte no coração o melhor de nós mesmos, o impulso do amor. Que cada adolescente, na sua inquietude e na sua irreverência – jovem ego que se afirma pela oposição ao mundo - não provoque a nossa ira mas desperte a nossa compreensão e a nossa ternura. Para domar o potro precisamos da sela e das esporas, mas para educar o jovem só necessitamos de amor. A Educação Espírita começa no lar como uma fonte oculta e deve ganhar a planície como um rio tranqüilo em busca do mar.

FONTE
J. Herculano Pires; PEDAGOGIA ESPIRITA; ed. EDICEL


“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº351
janeiro de 2003.
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)


sexta-feira, 8 de novembro de 2013

MORRER E DESENCARNAR DIFERENÇAS ACENTUADAS

CIÊNCIA
 
(1ª Parte)

Todos sabemos que caminhamos para a morte. Intuitivamente, a maioria a teme.
Os resultados das pesquisas e observações de Allan Kardec expostos no livro ”O CÉU E O INFERNO”, e a objetividade das informações apresentadas por André Luiz (Espírito), através do médium F. C. Xavier, serviram para nos dar idéia da naturalidade da sobrevivência do Espírito.
As condições dessa etapa, porém, constituem em surpresa nem sempre agradável para a quase totalidade dos que vivenciam esta experiência.
Objetivando estimular o despertamento de um número cada vez maior de consciências sobre a dura realidade do Plano Espiritual para o qual todos nos dirigimos, propomos à sua reflexão a entrevista que se segue com o escritor e jornalista Abel Gomes.

INFORMAÇÃO - Morrer e Desencarnar são duas situações distintas. Como as pessoas atravessam esta experiência?
Abel Gomes - "Mentiríamos, asseverando que a transição é serviço rotineiro para todos.
Cada qual, como acontece no nascimento, tem a sua porta adequada para ausentar-se do Plano Físico. Na existência do corpo, começamos ou recomeçamos determinado serviço. Além da sepultura, continuamos a boa obra encetada ou somos escravos do mal que praticamos na Terra. Por isto, o estado mental é muito importante nas condições da matéria rarefeita que a criatura passa a habitar, logo depois de abandonar o carro fisiológico".
INFORMAÇÃO - Então não se integram de imediato na Vida Espiritual?
Abel Gomes - "Incontáveis pessoas, por deficiência de educação do "eu", agarram-se aos remanescentes do corpo, com a obstinação de estulto viajante que, pelo receio do desconhecido ou pela incapacidade de usar as próprias pernas, pretendesse inutilmente reerguer na estrada a cavalgadura morta. Mas o número de almas perturbadas de outro modo é infinitamente maior. Não se apegam ao cadáver putrefato, mas demoram na paisagem doméstica, onde se desvencilharam das células enfermas, conservando ilusões ou sofrimentos intraduzíveis. Muitos que se abandonaram à moléstia, fortalecendo-a e acariciando-a, mais por fugir aos deveres que a vida lhes reserva do que por devoção e fidelidade aos Desígnios Divinos, fixam longamente sintomas e defeitos, desequilíbrios ou chagas na matéria sensível e plástica do organismo espiritual, experimentando sérias dificuldades para extirpá-los. Almas desse naipe, desalentadas e oprimidas, podem ser enumeradas aos milhares, em qualquer região dos círculos sutis que marginam a zona de trabalho, em que se delimita a ação dos homens encarnados".
INFORMAÇÃO - Mas, não são amparados pelos Benfeitores Espirituais?
Abel Gomes - "Quando possível, são internadas em grandes e complexas organizações hospitalares, quase que justapostas ao Plano Terrestre comum; entretanto, é preciso reconhecer que milhares delas se mantém dentro de linhas mentais infra-humanas, rebeldes a qualquer processo de renovação. Muitas permanecem, em profundo desânimo, nos recintos domésticos em que transitaram por alguns anos consecutivos, detendo-se nos hábitos arraigados da casa e inalando substâncias vivas do ambiente que lhes é familiar, sem coragem de ir adiante".
INFORMAÇÃO - O socorro a elas não depende então da Espiritualidade Superior?
Abel Gomes - "Quando mostrem sinais de transformação benéfica, são, de imediato, aceitas em instituições educativas nas adjacências da Terra, patenteando melhoria nas manifestações exteriores, à medida que se renovam por dentro, no que condiga com o sentimento, a atitude e a boa-vontade no apreender os ensinos recebidos, nas tarefas de auto-aperfeiçoamento".
INFORMAÇÃO - E, a recuperação é breve?
Abel Gomes - "Custam a modificar conceitos e opiniões, mantendo-se como que paraliticas do entendimento, de vez que, estancando as energias da imaginação nos quadros terrenos, dos quais, entretanto, já se desligaram, são verdadeiros dementes para a Vida Espiritual, como seriam loucos para o mundo os homens que reencarnassem com a memória integralmente presa aos acontecimentos, às pessoas e às coisas do pretérito".
INFORMAÇÃO - Ficam esses Espíritos abrigados nestas instituições educativas?
Abel Gomes - "Tais Espíritos perambulam entre as criaturas encarnadas quais se fossem sonâmbulos, vivendo pesadelos e sonhos como sendo realidades absolutas, porquanto a onda mental que lhes verte das preocupações se expressa em movimento de recuo, em busca do passado a que se imantam e no qual focalizam a consciência.
Nessas retrospecções, assemelha-se a alma a um proprietário de importante prédio de muitos andares, que preferisse viver no subterrâneo, na intimidade de fósseis estranhos e horripilantes do subsolo, repentina e temporariamente convertidos legião imensa de fantasmas que o poder da evocação traz novamente à vida. Presa das próprias criações mentais monstruosas e perturbadoras, enreda-se, às vezes por muito tempo, no cipoal dos seus pensamentos selvagens ou indisciplinados, atravessando aflições Indizíveis, qual homem que, em sono profundo, suando e chorando sob padecimentos inomináveis da mente, crê estar num largo circulo de tortura".
INFORMAÇÃO - Permanecem isolados ou se agrupam?
Abel Gomes - "Os orientadores dos princípios filosóficos ou religiosos afirmam que cada individualidade vive no mundo que lhe é peculiar, isto é, cada mente vive o tipo de vida patível com o seu estádio, avançado ou atrasado, na marcha evolutiva. As inteligências aqui se agrupam segundo os impositivos da afinidade, vale dizer, consoante a onda mental, ou freqüência vibratória, em que se encontram. Tenho visitado vastas colônias representativas de Civilizações há muito tempo extintas para a observação terrestre. Costumes, artes e fenômenos lingüísticos podem ser estudados, com admiráveis minudências, nas raízes que os produziram no tempo".
INFORMAÇÃO - Sendo assim, cada caso é um caso?
Abel Gomes - "A alma liberta adianta-se sem apego à retaguarda, esquecendo antigas fórmulas, como o pinto que estraçalha e olvida o ovo em que nasceu, abandonando o envoltório inútil e constritor em busca do oxigênio livre e do largo horizonte, na consolidação das suas asas; em contraposição, existem milhões de Espíritos, apaixonados pela forma, que se obstinam naquelas colônias, por muito tempo, até que abalos afetivos ou conscienciais os constranjam à frente ou ao renascimento no campo físico".
INFORMAÇÃO - Integram-se então nos chamados Planos e Sub-Planos Espirituais?

Abel Gomes - "Cada tipo de mente vive na dimensão com que se harmonize. Não há surpresa para a ciência comum, neste enunciado, porquanto, mesmo na Terra, muitas vezes, numa só área reduzida vivem o cristal e a árvore, a ameba e o pulgão, o peixe e o batráquio, o réptil e a formiga, o cão e a ave, o homem rude e o homem civilizado, respirando o mesmo oxigênio, alimentando-se de elementos químicos idênticos, e cada qual em mundo à parte".
INFORMAÇÃO - E, aqueles que se manifestam nos trabalhos de desobsessão parecendo estar encapsulados em eras remotas?
Abel Gomes - "Além daqueles que sofrem deformidades psíquicas deploráveis, manifestadas no tecido sutil do corpo espiritual, não é difícil encontrarmos personalidades diversas, sem a capa física, vivendo mentalmente em épocas distanciadas. Habitualmente se reúnem àqueles que lhes comungam as idéias e as lembranças, formando com recordações estagnadas a moldura nevoenta dos quadros íntimos em que vivem, a plasmarem paisagens muito semelhantes às que o grande vidente florentino descreveu na Divina Comédia. Há infernos purgatoriais de muitas categorias. Correspondem à forma de pesadelo ou de remorso que a alma criou para si mesma. Tais organizações, que obedecem à densidade mental dos seres que as compõem, são compreensíveis e justas.
Onde há milhares de criaturas humanas, clamando contra si mesmas, chocadas pelas imagens e gritos da consciência, criando quadros aflitivos e dolorosos, o pavor e o sofrimento fazem domicílio. Aqui, as leis magnéticas se exprimem de maneira positiva e simples".
INFORMAÇÃO - Seria como se mantivessem ausentes mentalmente da realidade?

Abel Gomes - "No mundo, vemos inúmeras pessoas com presença imaginária nos lugares a que comparecem. Na verdade, apenas se encontram em determinada parte sob o ponto de vista físico: a mente, com a quase totalidade de suas forças, vagueia longe. Depois da morte, porém, livre de certos princípios de gravitação que atuam, na experiência carnal, contra a fácil exteriorização do desejo, a criatura alia-se ao objeto de suas paixões. Assim é que surpreendemos entidades fortemente ligadas umas às outras, através de fios magnéticos, nos mais escuros vales de padecimento regenerativo, expiando o ódio que as acumpliciaram no vício ou no crime. Outras, que perseveram no remorso pelos delitos praticados, improvisam, elas mesmas, com as faculdades criadoras da imaginação, os instrumentos de castigo dos quais se sentem merecedoras”.
INFORMAÇÃO - Pode exemplificar?
Abel Gomes - "Antigo sertanejo de minha zona, que impunha serviço sacrifical aos seus empregados de campo, mais por ambição de lucro fácil na exploração intensiva da terra que por amor ao trabalho, deixou recheados cofres aos filhos e netos; mas, transportado à esfera imediata e ouvindo grande número de vozes que o acusavam, tomou-se de tão grande arrependimento e de tão viva compunção, que plasmou, ele mesmo, uma enxada gigantesca, agrilhoando-a às próprias mãos, com a qual atravessou longos anos de serviço, em comunhão com Espíritos primitivos da Natureza, punindo-se e aprendendo o preço do abuso na autoridade. Orgulhosa dama, que conheci pessoalmente e a quem humilde e honrada família deve a morte de nobre mulher, vitimada pela calúnia, em desencarnando e conhecendo a extensão do mal que causara, adquiriu para si o suplício da vítima, por intermédio do remorso profundo em que se mergulhou, estacionando por mais de dois lustros em sofrimento indescritível".
INFORMAÇÃO - A mente comanda mais que nunca a tudo...
Abel Gomes - "A matéria mental, energia cuja existência mal começamos a perceber, obedece a impulsos da consciência mais do que possamos calcular. A paz é realmente daqueles que a possuem no recesso do Ser.
O pecado é filho do conhecimento e da responsabilidade perante a Lei. A culpa e o mérito crescem, quando o discernimento se desenvolve".
INFORMAÇÃO - A alteração deste estado mental pode demorar muito tempo?
Abel Gomes - "Os famosos padecimentos de Tântalo, o rei lendário, esfomeado e sedento, além do túmulo, não constituem meros símbolos mitológicos. Há poderes mentais, de que ainda não possuímos senão leve notícia, que estabelecem certos estados d’alma e nos sustentam, muita vez, por decênios ou séculos. Criminosos, detidos na visão de pavorosas Imagens que pintaram na vida íntima; traidores, de pensamento fixo na contemplação da paisagem onde lobrigaram as suas vítimas pela última vez; caluniadores, estagnados no delito que cometeram; e toda uma multidão de entidades, que conservam resíduos de lembranças deploráveis na consciência, gastam anos e anos na operação a que poderíamos chamar decantação interior das emoções escuras e violentas. Grande partede semelhantes remanescentes da luta humana estacionam nos próprios lares em que desencarnaram, presos às lágrimas, aos desvarios ou aos pensamentos de amargura e revolta, de tristeza ou indisciplina daqueles que lhes partilharam as experiências, e nutrem-se, como vampiros naturais, no organismo doméstico.
Ninguém está no âmago do céu ou do inferno, mas na intimidade de si mesmo, com as figurações que estabeleceu no mundo vivo da própria mente. O corpo espiritual é ainda tão desconhecido à ciência comum, quanto a refinada cultura humana, levada ao máximo nas grandes celebrações da atualidade, é ignorada pelo homem primitivo, ainda aglutinado ao espírito tribal".
INFORMAÇÃO - É por isso que morrer e desencarnar tem sentido diferente?
Abel Gomes - "A morte nos situa à frente de complexidades imensas, nos domínios da mente, e, para solucionar os problemas de ordem imediata, nesse campo de incógnitas vastíssimas, somente encontraremos na prática dos ensinamentos de Jesus a sublimação necessária ao equilíbrio intimo de que carecemos para mais amplos vôos no conhecimento e na virtude, forças básicas para as realizações mais altas na dinâmica do Espírito. Volumosa percentagem das milhares de pessoas que desencarnam, hora a hora, no Planeta, permanece, por vezes, muitos anos consecutivos, ao lado de parentes na consangüinidade, porque é na experiência do lar que deixamos maior número de obrigações não cumpridas".

INFORMAÇÃO - Por quê?
Abel Gomes - "No microcosmo da família, em muitas ocasiões, temos representantes significativos de nossos adversários do pretérito. Almas vigorosas na incompreensão, na dureza, na ingratidão e na hostilidade passiva, ai se encontram ombreando conosco, na lide cotidiana, disfarçados nos apelidos mais doces, no que concerne ao carinho. Incontáveis individualidades discordes podem estar sob compromissos conjugais ou com os títulos de pais e mães, filhos ou irmãos. Ah! se soubéssemos, enquanto na existência precária da matéria densa, o valor da rendição generosa e edificante com auxílio espontâneo de nossa parte aos inimigos do passado, certo aproveitaríamos todas as oportunidades para exercer o entendimento fraterno que o Mestre nos recomendou. É no seio da organização doméstica que somos tentados à disputa mais longa, ao ciúme mais entranhado, à rebeldia mais impermeável e às aversões mais fundas.
Fácil será sempre desculpar as ofensas do mundo vasto, esquecer a maledicência dos que nos não conhecem e perdoar as pedras do torvelinho social. Mas, em casa, na comunhão com aqueles cuja vida partilhamos na sucessão dos dias numerosos, a ciência do amor espiritual é muito difícil de aprender.
Em razão disto, depois da morte, percebendo a importância de nossa harmonização em pensamento com certas criaturas de nosso séquito familiar, voluntariamente nos consagramos a retificar atitudes errôneas, adotadas no curso de nossas tarefas interrompidas no túmulo, auxiliando aqueles por quem nutríamos animadversão declarada, para que não arremessem sobre nós os raios da malquerença destrutiva. A sementeira de simpatia é impositivo precípuo, a que nossa paz se condiciona. Todos os deveres cumpridos no seio doméstico significam ingresso no apostolado pela redenção humana. Os raros homens e mulheres que se ausentam do mundo, conservando uma consciência tranqüila para com os parentes e afeiçoados, penetram, de imediato, em missões mais amplas no auxilio à Humanidade”.

(Conclue no próximo número)


O MUNDO MAIOR E A CIÊNCIA DO ESPÍRITO
“O tempo liga os valores mediúnicos, fundindo-os em um recurso único de sintonia, assim como o rio de longo percurso absorve as fontes e os rios menores, para penetrar silencioso e amplo, nas profundezas do mar”.
“A mediunidade nos corações valorosos e fortes, é um talento
destinado à aplicação imediata”.
“Sem que nos afeiçoemos ao serviço, que ajude ao semelhante,a própria mediunidade estará reduzida a um poço de águas estagnadas”.

Emmanuel


“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº351
janeiro de 2003.
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)