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domingo, 10 de novembro de 2013

PORQUE OS ADULTOS SE ESQUECEM DE QUE JÁ FORAM CRIANÇAS

EDUCAÇÃO

Se fizessem um pouco de
esforço não as educariam melhor?

Os dois problemas: o da educação no lar e o da educação na escola giram em torno de um mesmo eixo. Os pais são os professores no lar e os mestres são os pais na escola. Muito mais do que um fenômeno biológico, a paternidade e a maternidade constituem uma relação psíquica e portanto espiritual. O Espiritismo ensina e demonstra que os pais não geram o Espírito dos filhos, mas apenas os seus corpos. A criança já nasce com o acervo pessoal de suas conquistas no processo evolutivo. Ora, a tarefa dos pais, como a dos mestres, é ajudá-la a integrar-se, durante a presente existência, na posse desse acervo, e a enriquecê-lo ainda mais.
Assim, para que a educação se desenvolva de maneira harmoniosa e eficiente é necessária a conjugação do lar com a escola, dos pais com os mestres. Não é muito fácil conseguir-se isso no mundo de hoje, mormente nas grandes cidades. Mas há um meio pelo qual se podem superar as dificuldades atuais. Se os pais e os mestres se lembrarem de que foram crianças, se procurarem manter essa lembrança em suas atividades no lar e na escola, a conjugação necessária se fará naturalmente.
EDUCAÇÃO AFETIVA
Os adultos se esquecem facilmente de que foram crianças porque se acham integrados num mundo diferente, o mundo da gente grande. Esse mundo dos adultos é geralmente feito de ambições, temores, ódios e violências. É um mundo hostil, muitas vezes brutal. Os adultos se tornam criaturas práticas, objetivas, eficientes - o que vale dizer egoístas, secas, frias e insensíveis. Se fizessem algum esforço para vencer essa frieza mortal, lembrando-se um pouco da infância, voltariam a viver e seriam capazes de amor e ternura.
A Educação é um ato de amor, é a ajuda das pessoas grandes para que as crianças também possam crescer. Os adultos sem amor não podem educar. Pelo contrário, deseducam. Às vezes a escola destrói a educação iniciada no lar, e às vezes é o lar que destrói a educação dada na escola. Se os pais são insensíveis, a criança é infeliz, carente de amor. Se os mestres são estúpidos, a criança tem medo da escola.
Mas o pior de tudo é a indiferença, a frieza.

Pais e mestres que olham para as crianças com olhos de múmia, de rosto impassível, são carrascos executando vitimas inocentes.
Queimam essas plantinhas tenras, que são as crianças, como um sol ardente crestando semeaduras no campo. As crianças necessitam de afeto, de carinho, de atenção.
A natureza humana é diferente da natureza animal. Não se pode nem se deve querer domesticar uma criança como se fosse um cachorrinho, domá-la como se fosse um potro. Cada criança é uma inteligência despertando para a vida, e mais do que isso, é uma consciência que desabrocha. Essa inteligência e essa consciência precisam de aceitação e compreensão, pois do contrário se ressecam, tornam-se amargas, voltam-se para a rebeldia e a maldade. Os próprios animais não podem ser domesticados apenas com violência.
EDUCAR E AMAR
O mundo das crianças é diferente do mundo dos adultos. Ê um mundo de sonhos e de aspirações nobres. Um mundo amoroso, cheio de ternura e ansiando por compreensão.

Kardec escreveu que as crianças são Espíritos que se apresentam no mundo com as vestes da inocência. Espíritos maduros que se fazem pequeninos e tenros para poderem entrar no Reino do Céu. Voltam à fonte da vida, renovam-se nas águas lustrais da esperança, recomeçam a existência com grandes planos de trabalho delineados no intimo. São frágeis e parecem puros porque precisam atrair o amor da gente grande.
Carecem de amor e imploram carinho. As pesquisas pedagógicas entre as tribos selvagens revelam que as crianças tribais, ao contrário do que supunham alguns teóricos, não são tratadas com brutalidade mas com reserva e carinho. Para o selvagem a criança é como um estrangeiro que chega à tribo, mas um estrangeiro que pode ser amigo. Antes de integrá-la na vida social eles a mantêm em observação, procurando atraí-la com amor. Depois dos rituais de integração, os adolescentes continuam a ser encarados com ternura e tratados com carinho.
A finalidade dessas pesquisas é favorecer a descoberta da verdadeira natureza da educação. Nos povos civilizados a educação aparece muito complexa, revestida de numerosos artifícios técnicos e teóricos, perturbada por sofismas e sujeita a interesses múltiplos. Nos povos selvagens ela pode ser observada na fonte, está ainda pura e nua como a verdade. E o que as pesquisas revelam é que a educação, na sua verdadeira essência, é um ato de amor pelo qual as consciências maduras agem sobre as imaturas para elevá-las ao seu nível. Educar é amar, porque a mecânica da educação é a ajuda, o amparo, o estimulo. A vara, o ponteiro, a palmatória, as descomposturas e os gritos pertencem à domesticação e não à educação.
A violência contra a criança é um estimulo negativo que desperta as suas reações inferiores, acorda a fera do passado na criaturinha vestida de inocência que Deus nos enviou. Só o amor educa, só a ternura faz as almas crescerem no Bem.
O PERIGO DO EXEMPLO
O comportamento dos adultos, não só em relação às crianças mas também ao redor das crianças, tem sobre elas um poder maior do que geralmente pensamos. O exemplo é uma didática viva. Por isso mesmo é perigoso.
Costumamos dizer que as crianças aprendem com facilidade as coisas más e dificilmente as boas. E é verdade. Mas a culpa é nossa e não das crianças. Nossos exemplos exercem maior influência sobre elas do que as nossas palavras. Nosso ensino oral é quase sempre falso, insincero. Ensinamos o que não fazemos e queremos que as crianças sigam as nossas palavras. Mas elas não podem fazer isso porque aprendem muito mais pela observação, pelo contágio social do que pelo nosso palavrório vazio. Renouvier dizia que aprender é fazer e fazer é aprender. Nós mesmos, os adultos, só aprendemos realmente alguma coisa quando a fazemos.
Na criança o aprendizado está em função do seu instinto de imitação. A menina imita a mãe (e a professora), o menino imita o pai (e o professor). De nada vale a mãe e o pai, a professora e o professor ensinarem bom comportamento se não derem o exemplo do que ensinam. As palavras entram por um ouvido e saem pelo outro, mas o exemplo fica o exemplo cala na alma infantil. Tagore, o poeta-pedagogo da Índia, comparava a criança a uma árvore. Dizia que a criança se alimenta do solo social pelas raízes da espécie, mas também extrai da atmosfera social a clorofila do exemplo. O psiquismo infantil é como uma fronde aberta no lar e na escola, haurindo avidamente as influências do ambiente.
RESPONSABILIDADE ESPIRITUAL
Dois exemplos nos mostram, no passado e no presente, a responsabilidade espiritual do nosso comportamento no lar e na escola. O exemplo de Jesus, que exemplificou durante toda a vida e ensinou apenas durante três anos. E o exemplo de Kardec, que exemplificou até os cinqüenta e quatro anos e só ensinou durante doze anos. Só a partir de 1857, com a publicação de “O LIVRO DOS ESPÍRITOS”, Kardec começou o verdadeiro ensino que trazia para a Terra. Antes disso foi professor e pedagogo, didata e cientista, dando mais em exemplo do que em teoria.
Outro grande exemplo é o de Pestalozzi, o mestre de Kardec, que só na velhice se voltou para a Pedagogia e se tornou o mestre do seu tempo. Pestalozzi sentiu que educar é amar e por isso dedicou-se à educação com toda a força do seu amor. Tomou-se o paizinho dos seus alunos, como era ternamente chamado por eles. E se fez mendigo entre as crianças mendigas para arrancá-las da miséria moral. Por isso fracassou materialmente. Não enriqueceu com a educação e sofreu as agruras da queda financeira. Mas sua vitória espiritual foi gloriosa. Também Jesus, para a curta visão dos ganhadores de dinheiro, foi um judeu fracassado que morreu na cruz, a morte mais infamante daquele tempo. Essa coragem moral de abrir mão do lucro, do ganho, do rendimento é a mola que faz a Terra subir na escala dos mundos. Só as almas superiores a possuem. E quando essas almas enfrentam o julgamento louco dos homens para nos darem o exemplo da abnegação, com isso nos mostram a importância do exemplo.
Devemos pensar nesses grandes problemas para podermos vencer em nossas pequenas tarefas cotidianas. Abdiquemos da violência, da irritação, do autoritarismo e da arrogância se quisermos realmente educar, se desejarmos de fato ser pais e mestres.
A EDUCAÇÃO CRISTÃ
A Educação Cristã reformou o mundo, mas os homens a complicaram e deturparam. A consciência do pecado pesou mais nas almas do que a consciência da libertação em Cristo. Tomás de Aquino ensinou: mães, os vossos filhos são cavalos! Educar transformou-se em domar, domesticar, subjugar. A repressão gerou a revolta e reconduziu o mundo ao ateísmo e ao materialismo, à loucura do sensualismo. A Educação Espírita é a Renascença da Pedagogia Cristã. É nela que o exemplo e o ensino do Cristo renascem na Terra em sua pureza primitiva. Precisamos reformar os nossos conceitos de educação à luz dos princípios espíritas e dos grandes exemplos históricos. Dizia uma grande figura espiritualista inglesa, Annie Besant, que cada criança e cada adolescente representam planos de Deus encarnados na Terra e endereçados ao futuro. Aprendamos a respeitar essas mensagens divinas.
Lembremo-nos de nossa própria infância e se por acaso verificarmos que a nossa mensagem se perdeu ao longo da existência, que o nosso plano divino foi prejudicado pelos homens, pelos maus exemplos e pelos ensinos falsos, juremos perante o nosso coração que havemos de evitar esse prejuízo para as novas gerações. Pais, sejamos mestres! Mestres, sejamos pais! Que cada rostinho de criança aberto à nossa frente, como uma flor que desabrocha, nos desperte no coração o melhor de nós mesmos, o impulso do amor. Que cada adolescente, na sua inquietude e na sua irreverência – jovem ego que se afirma pela oposição ao mundo - não provoque a nossa ira mas desperte a nossa compreensão e a nossa ternura. Para domar o potro precisamos da sela e das esporas, mas para educar o jovem só necessitamos de amor. A Educação Espírita começa no lar como uma fonte oculta e deve ganhar a planície como um rio tranqüilo em busca do mar.

FONTE
J. Herculano Pires; PEDAGOGIA ESPIRITA; ed. EDICEL


“INFORMAÇÃO”:
REVISTA ESPÍRITA MENSAL
ANO XXX Nº351
janeiro de 2003.
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)


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