COMUNICAÇÃO
Ramiro Gama escreveu LINDOS CASOS DE
BEZERRA DE MENEZES e LINDOS CASOS DE CHICO XAVIER. Eis que também, no livro O
FENÔMENO TIO JUCA, o escritor baiano Eusínio Lavigne, com aquele savoir dire
que lhe é familiar, deleita-nos com esplêndidos relatos biográficos a que
poderemos, com justeza, crismar de Lindos Casos de Tio Juca. Porque, na
verdade, tanto são lindos os casos de Bezerra e do Chico, como os do inolvidável
Juca. Concordam em gênero, número e grau. Recordemos que Tio Juca é o apelido
de José Soares de Gouveia, o ateu que se convertera ao Espiritismo em virtude duma
aparição do filho, no momento dramático em que ele, Gouveia, estava a pique de
desertar deste mundo pela porta falsa do suicídio. Feito este ligeiro exórdio, vamos
aos “lindos casos”, que aqui sintetizamos, por economia de espaço. Muito antes de
libertar-se do seu ateísmo, Tio Juca já revelava faculdades mediúnicas que, mais
tarde, se manifestariam com extraordinária freqüência e incontrastavel vigor.
Em 1924, viajando com alguns
companheiros pela estrada da Serra da Borborema (Pernambuco), em noite escura,
houve um enguiço no automóvel. O motorista, dando marcha-à-ré, esforçava-se por
superar o emperramento do veículo, mas debalde. Tio Juca fez ver a todos o
risco da descida. Acolhida a advertência, a viagem não prosseguiu.
No outro dia, viram que o carro
estacionara a um palmo de enorme, precipício. 18 de setembro de 1935: Soares de
Gouveia surpreende com a visão de uma tia falecida. Não entendendo a natureza
do fenômeno, foi ouvir a opinião do padre Quinderé, em Fortaleza. — Você é
médium — diz o sacerdote. — Trata-se de um fenômeno espírita, que se manifesta por
pessoas ditas médiuns. (Quem nos dera que os padres Quinderés formassem
multidão!).
Anos depois, em 1939, ia viajar do
Rio para São Paulo. Na ante-sala do Aeroporto, viu o seu filho Antônio Carlos,
desencarnado, que lhe avisava que o avião ia cair. Desistiu da viagem e
comunicou o vaticínio aos demais passageiros, porém ninguém acreditou, O avião
caiu e todos morreram. D. Antonieta Bastos, cunhada do dr. Eunápio de Queirós, fora
acometida de uma doença nos pés. O dr. Estácio Gonzaga, examinando-lhe o
sangue, atestou grave infecção. Estava sendo inócuo o tratamento médico
indicado. É quando, espontaneamente, por incorporação, um Espírito, dizendo-se
russo, comunica-se com Tio Juca e dá a seguinte indicação: “que Antonieta
Bastos acendesse um fogareiro e sobre ele estendesse um pano molhado sobre o
qual, a certa altura, duas vezes por dia, cerca de dez minutos, pusesse os pés,
para que exsudassem suficientemente.” E receitou determinado medicamento.
Após 24 aplicações, os pés voltaram ao normal. Um exame médico posterior não
revelou mais infecção.
A origem do mal — elucida o Espírito —
estava no sapato de D. Antonieta, cujo couro continha ainda o germe da
moléstia. De fato — ajunta Lavigne —, o carbúnculo resiste ao processo do
curtume. E foi na Rússia, no tempo do Czar, que verificaram o fato da resistência
do vírus a altas temperaturas. Os correões dos soldados transmitem o carbúnculo.
Achava-se internado no Sanatório Bahia um rapaz surdo-mudo que havia engolido oito
chaves e um rosário arrebatado das mãos de sua mãe. Obedecendo a um conselho da
esposa, Tio Juca trouxe para casa o aberrante deglutidor que, ao receber os
primeiros passes, vomitou duas chaves.
Mais duas no dia seguinte. Duas mais
no terceiro.
E depois as restantes e também o
rosário.
Caso patente de obsessão. Continua surdo
e mudo, mas entende o que se lhe fala, processando-se rapidamente a
recuperação.
Movido por uma força estranha, um dia
Tio Juca, contrariando seus hábitos, levantou-se às cinco horas da manhã.
Descendo as escadas, fica à porta da rua, a gritar para um automóvel que passa
em disparada: — Pára! Pára!
Pará! — O motorista parou, dizendo,
entretanto, não poder apanhar mais passageiros, porque vinha de Pituba
conduzindo um menino com uma espinha de peixe na garganta e ia à procura dos
recursos necessários. - É isso mesmo que me traz aqui — replicou. Abriu a boca
do acidentado, e retirou a espinha. No Rio de Janeiro, em 1952, Tio Juca sonhou
que alguém lhe pedia para salvar um doente na Pavuna, rua Honório Hermeto. Já
se aprestava para ir à procura do enfermo, quando recebe um telegrama da Bahia,
de sua cunhada Helena, implorando-lhe que salvasse uma pessoa na rua Honório
Hermeto, 147.
Localizada a casa, esclareceu-se o caso. Não havia ali doente algum,
e sim uma menina de 12 anos que um marinheiro queria seduzir, e com muita possibilidade
de êxito, já que a mãe dela era prostituta. Retirada da casa materna, a menina foi
levada de avião para Salvador. Recebeu, posteriormente, educação na “Casa do
Tio Juca”. E os casos são em barba — como diria mestre Imbassahy. Todos edificantes.
Todos lindos. Todavia, não nos foi possível, nos exíguos limites duma crônica,
relatá-los em sua totalidade. Encontrando-se com Chico Xavier em Pedro
Leopoldo, Minas Gerais, no mês de agosto de 1956, Tio Juca teve a confirmação do
que já lhe havia sido revelado em 1954, através de sua própria mediunidade:
devia cumprir importante missão na selva amazônica.
Embrenhar-se-ia no Inferno Verde à
procura de certa moça que, saindo a caça de borboletas, desapareceu naquelas
vestidões inóspitas, deixando a família aflita e desesperançada. Chamava-se
Helena de Andrade Fortuna. Há cerca de vinte anos, sem perder a virgindade,
vivia em companhia de índios que a acolheram na taba — informou o médico Luiz
Carvalho (Espírito). Muitas outras comunicações ratificaram tal informação.
O índio Tauá, desencarnado, da tribo
dos Mundurucus, bacia do Tapajós, percebendo telepaticamente que alguém temia
pela sorte de Tio Juca, já idoso e doente, a lançar-se numa aventura perigosa,
de êxito duvidoso, assegurou: — Não se paga com o mal uma missão de paz.
Fenômeno interessante de bicorporeidade Tio Juca entrou em contato com o
espírito de um vivo — o índio Juçanã.
Viu-o claramente e dele recebeu
orientação coincidente com a de Tauá, relativamente ao roteiro da viagem. Do
ponto de desembarque à taba seria carregado em maca de tucum.
Traria três gotas de sangue,
simbolizando a fraternidade. Não podia haver mais dúvida. Tio Juca iniciou a
grande jornada, por via aérea, no dia 26 de setembro de 1957. Fez parada no Recife
e em Fortaleza. Chegou a Manaus pela manhã de 3 de outubro e pôs-se logo a
agir.
Após uma série de peripécias, viu uma
senhora à porta duma casa humilde e, naturalmente por inspiração; pede-lhe uma “informação
que nunca pediria aos anteriores transeuntes”: saberia ela algo acerca de uma
moça chamada Helena, desaparecida há, aproximadamente, vinte anos? Para sua
grande surpresa, a mulher deu resposta afirmativa. E mais: confessou ser ela
mesma a mãe da Helena das Selvas. Identificou-se pelo nome de Maria José de
Andrade Fortuna, casada com José Vicente Fortuna, já falecido. Moravam no Alto Tapajós.
Relatou que sua filha Helena, no dia 26 de janeiro de 1937, ainda no vigor da
mocidade —18 anos —, penetrou na mata à caça de borboletas para trabalhos de
pintura. Julgavam-na morta. Como Tio Juca contestasse a morte da filha D. Maria
quis saber por que assim pensava e ele revelou a origem das informações:
comunicações mediúnicas. A mulher não lhe deu crença.
Voltando ao hotel, Tio Juca vê uma
entidade que se dá a conhecer por “Júlia”, a qual lhe diz que Helena vive a
meio caminho da Itaituba e Curuzu e o aconselha a seguir para Santarém, a fim
de avistar-se com o dr.Elmar Cunha.
6 de outubro Em Santarém, dr Eimar, também
espírita (e médium) afirmou estar a par dos acontecimentos e foi taxativo — A moça
não vem. Tio Juca quase desiste da tarefa.
Porém, recobra o ânimo e resolve ir
até o fim.
Resumindo: no dia 8, descia Tio Juca,
de avião, em Curuzu. Horas depois, num barco a motor, percorrendo o caminho do
Rio Itaituba, vêm-lhe aos ouvidos repetidos gritos — ué, Tauáué, Tauáué, Tauá.
À margem do rio havia uma cruz de
filhas de palmeira. Aí encostou o barco, que prosseguiu viagem, após deixar Tio
Juca sozinho, em terra.
Guiado pelos gritos dos silvícolas,
foi-se adentrando na mata. Aparece Juçanã, que, à guisa de saudação, exclama: —
Espera, branco, que o caboclo vai levar. Viva o Cristo!
Dentro em pouco aproximam-se uns 200 índios
que, se revezando, conduziram o destemido homem branco, em maca de tucum, para
a aldeia dos bronzeados mundurucus.
Era noite, Helena sai de sua modesta
morada.
Sobe a um tronco de árvore. Traços
imperceptíveis, devido à escuridão. Dirige-se ao visitante: — Juro pelo nosso
Deus e pelo sacrifício do branco do mar, Tio Juca, que sou virgem, como a
virgem das selvas. No dia seguinte, o hóspede visitou toda a aldeia, observou o
trabalho ordeiro dos indígenas e foi alvo de expressivas homenagens, posto que muitos
singelas. Afinal, o depoimento de Helena.
Ela rememorou os incidentes de sua incursão
na selva, desde o dia em que, desorientada, perdeu o caminho de casa. Levada
para a comunidade dos mundurucus, trataram-na muito bem, mas custou-lhe adaptar-se
entre eles. Agora está acostumada e satisfeita no ambiente em que se encontra.
Vive tal como os índios, seminua, apenas com uma tanga. Perdeu a noção do tempo.
Não quer voltar para o convívio dos brancos. Afeiçoara-se àquela gente, que lhe
implorava a permanência. Ocupa-se de ensinar os índios. A língua e a religião
cristã. Por isso que eles já estavam falando o português, embora
imperfeitamente e adotando a saudação “Vida o Cristo!”. Estava chegando ao fim
a missão do Tio Juca. Voltaria satisfeito. Se não conseguira fazer retornar
Helena ao lar de nascimento, rejubilou-se com seu autêntico procedimento
cristão, por estar construindo um lar coletivo naquelas brenhas em que impera a
Lei da Natureza e onde a “Civilização” ainda não chegou para corromper os bons costumes
.
Como fora anunciado de há muito, o lenço de Tio Juca ficou marcado com três gotas
de sangue (extraídas do corpo do pajé). A hora da despedida, Helena mandou de
presente à mãe uma medalha presa num cordão de ouro. Conservava-a consigo desde
o dia em que deixara para sempre a casa paterna.
Ao dizer adeus a Juçanã, Tio Juca
notou-lhe os olhos marejados e ouviu da boca do bravo mundurucu: — Diga aos
brancos do mar que o índio chorou. Tio Juca entregou a medalha a D. Maria
Fortuna. As filhas acharam que ele cometera um ato criminoso, arrancando-a do cadáver
de Helena. A mãe, entretanto, quase em lágrimas, murmurou: — Esta medalha é de
minha filha. Lamentavelmente tivemos de omitir detalhes interessantíssimos, por
motivo de limitação de espaço. A narrativa completa acha-se no livro o FENÔMENO
TIO JUCA, do escritor baiano Eusínio Lavigne, já falecido.
Fonte
O ESPIRITISMO EXPLICA, por Aureliano Alves Netto, ed.EDICEL
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA
ESPÍRITA MENSAL
Janeiro
2007
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
Rua Souza Caldas, 343 - Fone: (11) 2764-5700
Correspondência:
Cx. Postal: 45.307 - Ag. Vl. Mariana/São Paulo (SP)
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