PANORAMA
Carlos Abranches
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A resposta à pergunta acima é simples, se depender de um
estudo da equipe do Laboratório de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São
Paulo (HC), iniciado há dois anos.
De acordo com os dados obtidos por uma bateria de
testes, apenas 26,4% das pessoas são normais.
O levantamento feito pelo HC teve o objetivo de testar
os efeitos do antidepressivo cloripramina em voluntários sem nenhum transtorno
psiquiátrico. O problema é que, de cada 100 pessoas que se apresentam para
participar , cerca de 80 acabam dispensadas por não preencher alguns requisitos
básicos. E o principal deles é justamente ser normal.
O exame é rigoroso. Para passar na seleção da equipe, é
preciso enfrentar três etapas rigorosas e padronizadas. A primeira elimina o
maior número de candidatos (53%). Ela se baseia em critérios de idade (é
preciso ter entre 21 e 50 anos), de escolaridade (exige-se 1º grau completo) e
num
teste americano chamado Self Report Questionary, ou SRQ,
de 20 perguntas. Aparentemente simples, ele é capaz de detectar se a pessoa tem
ou não transtornos psicológicos. As chances de acerto são de 80%.
O teste é mais implacável com as mulheres. Há uma
diferença de dois números em favor dos homens na pontuação de corte - seis
respostas “sim” para eles e quatro para elas. A psiquiatra Mônica Vilberman,
uma das responsáveis pela segunda etapa do estudo, afirmou que é preciso ser
mais duro com as mulheres “porque elas têm maior oscilação hormonal e mais
facilidade em falar de intimidades”.
Na segunda fase de testes, que causa a eliminação de 43%
dos entrevistados, psiquiatras investigam se há transtornos psicológicos na
família do candidato. As últimas etapas são exames laboratoriais e mais uma entrevista
com o psiquiatra, só que dessa vez com quatro horas de duração. “No total, ficam
só 26,4%”, afirmou a psiquiatra Elaine Henna. É o fim da maratona: o candidato recebe
um “atestado” de normalidade.
O fato é que até o final de 2004, somente 40 pessoas
resistiram até o fim, menos da metade do necessário. Depois da triagem, são
oito semanas de estudo, nas quais o candidato toma doses mínimas de
cloripramina, de 10 a 40 miligramas. Ressalta-se que em pessoas depressivas,
são aplicadas de 150 a 300mg da droga. Entre os participantes, a depressão é
a doença mais comum (46%), seguida de ansiedade (21%) e obsessões (8%).
O psicanalista Ailton Amélio, da Universidade de São
Paulo (USP), tranqüilizou os candidatos, dizendo que “se um determinado transtorno,
como timidez e ansiedade, não prejudica aos outros e ao próprio portador dele,
não é preciso se preocupar”. Para ele, “o normal é não ser normal”.
Sem considerar, neste artigo, os critérios utilizados
pela pesquisa para definir o conceito de normalidade, quem observa o fenômeno sob
o ponto de vista espiritual deve acrescentar a esse tipo de conclusão as influências
que a realidade do Espírito traz para a saúde psíquica do Ser humano.
Vivemos sob uma nuvem de ondas mentais, de presenças
espirituais, de estímulos psicológicos que fogem aos parâmetros de percepção
dos homens. Muitas dessas influências agem nas causas de inúmeras atitudes das
pessoas, desde a execução de crimes horrendos, inspirados pelas sombras da
maldade, até gestos da mais pura conduta amorosa, como o socorro prestado na
hora exata, a palavra correta que silencia a chance do crime ou a prece
sublime, acompanhada por benfeitores anônimos, verdadeiros missionários da
luz...
O Espírito Calderaro faz referência a essa questão na
obra NO MUNDO MAIOR. O instrutor espiritual de André Luiz lembra que muitos
encarnados batalham diariamente para vencer os próprios monstros interiores que
carregam consigo. “Há pessoas que têm vocação para o abismo”, afirma.
Nessa luta, enfrentam as pressões da ansiedade, os
transtornos bipolares, em que não conseguem administrar os impulsos de
depressão e euforia que lhes tomam a mente, os processos mais graves de
paranóia e esquizofrenia e outras enfermidades da alma, a agirem negativamente na
vida de relação deles com o mundo.
Os transtornos alimentares, como anorexia, bulimia e
obesidade mórbida desencadeiam outros quadros graves de difícil solução, a
exigir disciplina do paciente e atenção amorosa de médicos e familiares, para
que a pessoa consiga enxergar horizontes renovados, mais claros e otimistas com
relação ao futuro.
Diante dessa intensa dinâmica da relação do homem
consigo mesmo, incluindo-se aí a movimentação do mundo espiritual ao seu redor,
é natural considerarmos que nem todo mundo pode mesmo ser “Normal”.
O ambiente psíquico da Humanidade ainda é extremamente
heterogêneo, doentiamente desestruturado, seriamente desequilibrado. Isto exige
elevada atenção de quem quer sobreviver emocionalmente um pouco acima da média,
estruturando-se intimamente para vibrar sobre as ondas psíquicas de caráter
doentio.
Os espíritas temos a oportunidade de cuidar com apreço
bastante apurado da saúde emocional. Há trabalho suficiente no Bem, sob o
amparo da orientação doutrinária, para que compreendamos com profundidade os
impulsos da depressão e dos transtornos da mente, para que nos permitamos cair
nessa faixa, incorrendo nas conseqüências imediatas desse tipo de sintonia.
Temos como remédio a luz do autoconhecimento, a coragem
de agir sempre focados no bem coletivo, a alegria que deve caracterizar nossa
opção de vida, além da prece, espelhada em nossas meditações profundas em busca
do melhor que somos e podemos ser.
Se um dia nós fossemos fazer o teste do Hospital das
Clínicas de São Paulo, talvez não passássemos no exame da normalidade, dentro
dos critérios definidos pela pesquisa.
Não é problema. O que importa é se podemos afirmar
agora, com segurança, se temos o controle de nossa vida em nossas mãos, se
estamos dedicados o suficiente para conhecer as entranhas de cada atitude que
tomamos , se os impulsos mais primitivos que ainda nos caracterizam estão sob o
controle do Ser que busca ser melhor a cada minuto dos dias.
Sentir no bem, para pensar no bem e agir no bem. A
proposta é de Emmanuel, vindo com perfeição se encaixar na nova dinâmica que
precisamos impor à vida emocional, apesar de possíveis oscilações que possam
aparecer no decorrer dos tempos tumultuados que chegarão.
Esta, sim, é a normalidade adequada, em que nos
oferecemos não só como um Ser melhor à vida, mas como alguém interessado em
colaborar para que os outros se aproximem também, o mais rápido possível, da
normalidade de seres equilibrados espiritualmente.
Fonte: REFORMADOR, nº2118
“INFORMAÇÃO”:
REVISTA
ESPÍRITA MENSAL
ANO
XXX Nº351
Janeiro
2006
Publicada pelo Grupo Espírita “Casa do Caminho” -
Redação:
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