Módulo
VIII
Reencarnação
Em
que se fundamenta?
Segundo
os Espíritos codificadores, na resposta da questão 171 de “O
Livro dos Espíritos”, a doutrina reencarnacionista se fundamenta
na própria Justiça Divina.
Na
análise do conteúdo desta resposta, verificamos que se não fosse a
oportunidade reencarnatória, Deus estaria privado de um de seus
atributos: a justiça, e conseqüentemente já não seria Deus.
Para
facilitar o nosso raciocínio, citamos a seguir um texto em que
Kardec disserta sobre a lógica da pluralidade das existências:
Se
não há reencarnação, só há, evidentemente, uma existência
corporal. Se a nossa atual existência corpórea é única, a alma de
cada homem foi criada por ocasião do seu nascimento, a menos que se
admita a anterioridade da alma, caso em que caberia perguntar o que
era ela antes do nascimento, e se o estado em que se achava não
constituía uma existência sob forma qualquer. Não há meio termo:
ou a alma existia, ou não existia antes do corpo. Se existia, qual a
sua situação? Tinha ou não consciência de si mesma? Se não o
tinha, é quase como se não existisse. Se tinha individualidade, era
progressiva ou estacionária?
Num
e noutro caso, a que grau chegara ao tomar o corpo? Admitindo, de
acordo com a crença vulgar, que a alma nasce com o corpo, ou, o que
vem a ser o mesmo, que antes de encarnar, só dispõe de faculdades
negativas perguntamos:
1º)
Porque mostra a alma aptidões tão diversas e independentes das
ideias que a educação lhe fez adquirir?
2º)
Donde vem a aptidão extranormal que muitas crianças em tenra idade
revelam, para esta ou aquela arte, para esta ou aquela ciência,
enquanto outras se conservam inferiores ou medíocres durante a vida
toda?
3º)
Donde, em uns, as idéias inatas ou intuitivas, que noutros não
existem?
4º)
Donde em certas crianças, o instinto precoce que revelam para os
vícios ou para as virtudes, os sentimentos inatos de dignidade ou
baixeza, contrastando com o meio em que elas nasceram?
5º)
Por que abstraindo-se da educação, uns homens são mais adiantados
do que outros?
6º)
Por que há selvagens e homens civilizados? Se tomardes de um menino
hotentote recém-nascido e o educardes nos nossos melhores liceus,
fareis dele algum dia um Laplace ou um Newton? (…) 48
Através
deste raciocínio kardequiano, vimos acima de tudo que a reencarnação
é fundamentada na justiça divina, e que assenta na mais perfeita
lógica e no maior bom senso.
48
“O Livro dos Espíritos”, questão 222.
Provas
da Reencarnação
Mas
que provas podemos ter da reencarnação, além destas explícitas
neste raciocínio?
Podemos
dividir estas provas em duas categorias: provas filosóficas e provas
experimentais.
a)
Filosóficas
Como
entender a justiça divina, sem aceitar o princípio reencarnatório?
Por que nascem uns pobres e outros ricos? Uns desfrutam da maior
saúde, outros lutam a vida toda com várias doenças. Há os que
vivem muitos anos, e os que vivem poucos meses ou dias. E como a
justiça divina irá julgar estes que não tiveram tempo para serem
nem bons nem maus. Irão para o céu ou para o suplício eterno?
Há
também a questão do progresso. Por que a humanidade de hoje é mais
adiantada intelectual e cientificamente do que a passada? Poderão
dizer que a sociedade é que faz o homem assim. Mas como explicar a
diferença brutal que existia entre a capacidade de um homem
primitivo e a do homem atual, se ambos fossem criados no instante do
nascimento, e suas conquistas para nada servissem?
Nos
dêem explicações melhores para estes e outros questionamentos e
abandonaremos nossas certezas reencarnatórias.
b)
Experimentais
Entre
as provas experimentais, podemos citar a fenomenologia mediúnica com
todas as suas nuanças. A comunicação dos Espíritos por si só
prova a imortalidade da alma e, conseqüentemente, a possibilidade
reencarnatória, mas é o conteúdo destas comunicações que nos
dizem da certeza desta doutrina.
Temos
ainda o aspecto relacionado com a regressão da memória, hoje
bastante difundido nos meios cientificistas e não espíritas. A
partir desta possibilidade vemos a incursão do ser em muitos
momentos de suas existências pregressas.
E
para finalizar as questões das provas, podemos ainda falar das
lembranças de outras vidas, faculdade bastante rara, mas que já
aconteceu com muitas pessoas.
Sobre
este assunto indicamos a leitura do livro A Reencarnação de
Gabriel Delanne, do qual tiramos, para ilustração, a narrativa
abaixo, dentre tantas outras existentes nesta obra:
Há
cinqüenta anos, duas crianças nasceram em uma aldeia chamada
Okshitgon, um rapaz e uma menina. Vieram ao mundo no mesmo dia, em
casas vizinhas, cresceram juntos, brincaram juntos, amaram-se.
Casaram-se
e fizeram uma família (…)
A
morte os levou no mesmo dia; enterraram-nos fora da aldeia, depois os
esqueceram (…)
Nesse
ano, após a tomada de Mandalay, a Birmânia inteira sublevou-se (…)
Tristes tempos para os homens pacíficos, e muitos, fugindo de suas
habitações, refugiavam-se nos lugares mais habitados (…)
Okshitgon
estava nos centros de um dos distritos mais castigados; grande
números de seus habitantes fugiram, e entre eles um homem chamado
Maung Kan e sua jovem mulher. Eles se estabeleceram em Kabyn. Tiveram
dois filhos gêmeos, nascidos em Okshitgon, pouco antes de
abandonarem o lar. O mais velho chamava-se Maung-Gyi, isto é, Rapaz
Grande. As crianças cresceram em Kabu e começaram logo a falar.
Seus pais notaram com espanto que, durante os brinquedos,
chamavam-se, não Maung-Gyi e Maung-Ngé, mas Maung San Nyein e
Ma-Gyroin; este último é nome de mulher; Maung Kan e a esposa
lembraram que assim se chamavam os cônjuges falecidos em Okshitgon,
na época em que as crianças nasceram.
Eles
pensavam, pois, que as almas daqueles defuntos haviam entrado no
corpo dos filhos, e os levaram a Oksitgon, para os experimentar. As
crianças conheceram toda Okshitgon, estradas, e casas e pessoas;
chegaram a reconhecer as roupas que vestiam na vida anterior.
Não
havia dúvidas. Um deles, o mais moço, lembrou-se de ter tomado
emprestado duas rupias a um certo Ma-Thet, sem que seu marido o
soubesse, quando era Ma-Gyroin, e essa dívida não fora saldada.
Ma-Thet vivia ainda.
Interrogaram-no
e ele se lembrava, com efeito, de haver emprestado esse dinheiro. (…)
(…)
O menino mais velho (…) é um bom burguês, gordo rechonchudo, mas
o gêmeo cadete é menos forte e tem uma curiosa expressão
sonhadora.
Contaram-me
muitas coisas da vida passada. Disseram que, depois da morte,
viveram, algum tempo, sem corpo nenhum, errando no espaço,
ocultando-se nas árvores, e isso por causa dos pecados; e, alguns
meses depois, nasceram gêmeos (…) 49
49
“A Reencarnação”, cap. XI.
Objetivo
da Reencarnação
Já
sabemos que o Espírito reencarna, e que a reencarnação se
fundamenta na Justiça Divina. Mas por que o Espírito reencarna? Com
que fim?
Allan
Kardec também perguntou isto aos Espíritos. Porém, pela sua
capacidade didática, fez duas perguntas:
132
– Qual o objetivo da encarnação?
“Deus
lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à
perfeição.
Para
uns é expiação; para outros missão.” 50
50
“O Livro dos Espíritos”, questão 132.
167
– Qual o fim objetivado com a reencarnação?
“Expiação,
melhoramento progressivo da humanidade. Sem isto, onde a justiça?”
51
51
“O Livro dos Espíritos”, questão 167.
Analisando
o conteúdo destas duas respostas temos: o objetivo principal da
encarnação dos Espíritos, ou da reencarnação, é a evolução:
Deus lhes impõe a encarnação com o fim de fazê-los chegar à
perfeição. Acontece que em uma vida só não dá para cumprir tal
objetivo. O que representa sessenta ou oitenta anos para uma pessoa,
em relação ao aprendizado de todas as coisas para que ela chegue à
perfeição?
Assim
sendo, reencarnando inúmeras vezes, quantas forem necessárias, o
Espírito atinge o objetivo primordial de sua existência.
Desta
forma, entendemos que expiar não é o objetivo da reencarnação,
mas pode vir a ser se o Espírito não quiser evoluir pelo caminho
natural do bem.
Trocando
em miúdos: o Espírito só passa pela expiação quando quer, ou
seja, quando não quer seguir as Leis Divinas.
Como
já vimos anteriormente, a evolução também é uma Lei de Deus;
portanto o Espírito tem de evoluir, consciente ou inconscientemente.
Quando ele entende isso e busca esta evolução por conta própria,
ele a faz sem dor. A expiação só entra na história, quando a
rebeldia fala mais alto, quando ele, sabendo qual caminho a seguir,
escolhe outro.
Assim,
provocando sofrimento em seus semelhantes, o ser estaciona. Como ele
tem de evoluir, passa pelo sofrimento como que para despertar a
centelha divina que existe dentro de si, que o induz ao
aperfeiçoamento.
É
aí que entendemos a misericórdia que é a oportunidade
reencarnatória; não é à toa que Emmanuel nos afirma:
Cada
encarnação é como se fora um atalho nas estradas da ascensão. Por
esse motivo, o ser humano deve amar a sua existência de lutas e
amarguras temporárias, porquanto ela significa uma bênção divina,
quase um perdão de Deus.52
52
“Emmanuel”, cap. 5.
Apostila
do Curso de Espiritismo e Evangelho
Centro
Espírita Amor e Caridade
Goiânia
– GO
Trabalho
realizado em 1997 pelo Grupo de Estudos desta Casa Espírita com a
coordenação de Cláudio Fajardo
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