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domingo, 24 de junho de 2012

Fisiologia do Pensamento


Lígia Almeida

O fluido mental é formado por partículas que têm suas características próprias, como sugere a ativação mental visibilizada pela tomografia por emissão de positrões.
    Em uma visão global do Homem podemos resumidamente considerar uma interação em "via de mão dupla" que vai do espírito para o perispírito, do perispírito para o sistema nervoso, transmitidas às glândulas endócrinas, que, por fim, expressam a vontade do espírito para todo o corpo físico. Já as sensações físicas percorrem o caminho inverso,  impressionando, por sua vez, o princípio inteligente.
   Essa é uma visão abrangente, mas também reducionista da integração espírito-corpo, que deixa claro o papel do sistema nervoso como receptor principal, em relação a matéria, da vontade do espírito.
   Na codificação, encontramos a explicação de que o perispírito é ligado ao corpo físico célula a célula, expressão essa lembrada e detalhada por André Luiz, na sua obra. No entanto, apesar dessa total ligação  perispírito-corpo, existem  pontos  específicos  de ligação para a manifestação do espírito,  e esses pontos estão no sistema nervoso,  traduzido pelo neurônio que encerra, nos corpúsculos de Nissi, a energia nutritiva emanada do plano espiritual; no pigmento ocre de lipofuscina, o fator de fixação perispirítico, que liga o perispírito de forma mais ou menos intensa  dependendo  do grau de evolução do espírito e sua relação  mais ou menos intensa com o plano material; e, finalmente, nas mitocôndrias neuronais, o canal receptor dos comandos espirituais.
    Temos ainda, nessa interface, a glândula epífise ou pineal como receptor capaz de detectar informações do plano espiritual e as emanações magnéticas do plano material, servindo de antena poderosa que informa o espírito encarnado do plano etérico. Essa glândula está diretamente ligada ao centro de força coronário, que se encontra no duplo etérico, formando assim a interface espírito-corpo.
    O centro coronário, por sua vez, utiliza-se do centro frontal, que está diretamente relacionado com a glândula hipófise, e através dela transmite os avisos, impulsos, ordens e sugestões mentais aos órgãos, tecidos e células.
    Por esse sistema, verte o fluído mental, secreção da mente, e não do cérebro, que se difunde pelos caminhos neurais a todo o córtex, via glândula pineal, e posteriormente a todo o corpo biológico por ação glandular e nervosa.
   Quanto ao fluido mental, pode ser denominado de "matéria-psí", visto que o pensamento é matéria, formado por partículas que têm suas  características  próprias, como sugere a ativação mental visibilizada pela tomografia por emissão de pósitrons (PET-Scan), demarcando áreas específicas do cérebro em funcionamento, conforme a utilização da mente, seja para ouvir, ver ou raciocinar. São essas características que organ-zam a psicosfera, ou halo psíquico, e consequentemente o corpo físico, trazendo harmonia ou desequilíbrio de acordo com o seu emprego.
     As partículas dessa "matéria-psi" são manipuláveis e compõem elementos "vivos" de pensamento com comportamento e trajetória de acordo com os sentimentos de inteligência que os conduz. E o pensamento influi  e  comanda, modelado pela vontade do espírito, agindo sobre si mesmo, ou sobre o objetivo ao qual se destina.
    Concluindo, podemos dizer que o corpo biológico reflete a psicosfera, que influi, sem dúvida, na saúde física de forma positiva ou negativa, a depender da qualidade da "matéria-psi" que venhamos a emanar. Logo, o aforismo" Mente sã em corpo são" mais representativo seria se "Corpo são em mente sã".

Médica especialista em Geriatria com subespecialização  em  Cardiologia Geriátrica. Mestra em Bioquímica e Farmácia pela Universidade de São Paulo, Brasil. Conferencista e Presidente da AME  Porto.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II   N° 4  Maio e Junho 2009
The Spiritist Psychological Society 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Medicina e Espiritismo


Rodrigo Machado Tavares

A Organização Mundial de Saúde (OMS) define: “saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de afecção ou doença”. Tal conceito, apesar de buscar ser abrangente, não está completo. Isto pode ser afirmado porque o processo saúde-doença é complexo, haja vista que tem, como causas, fatores de ordem natural, socio-econômica, psicos-social e espiritual.
   Em verdade, a Saúde deve ser vista como uma condição relativa e dinâmica, e não como um estado absoluto e estático. Saúde é diferente de adaptabilidade; é a interação do homem com o meio, na qual o ser humano é ativo. Em resumo, para nós, espíritas - que já sabemos que o mundo espiritual é a verdadeira realidade -, a saúde é um contínuo agir do homem em frente aos universos físico, mental, social e espiritual em que vive, buscando sempre modificar, transformar e recriar aquilo que deve ser mudado (L. E., a reforma íntima  tão  promovida  e  bem explicada pelo Espiritismo).
    Sendo assim, a Medicina, para poder melhor compreender o processo saúde-doença e consequentemente agir de forma mais eficaz, necessita não apenas aceitar, mas sobretudo entender que somos todos Espíritos. Dessa forma, os pesquisadores das áreas médicas e afins irão entender que todos, Espíritos,  encarnados e desencarnados, podem ser fatores influenciadores, mas também determinantes e, em muitos casos, causadores desse processo.
    A Medicina, indubitavelmente, desde o seu surgimento na Grécia Antiga, através  de  Hipócrates, avançou bastante. Contudo, esse avanço poderia ter se dado de forma mais completa se todos os fatores citados anteriormente tivessem sido considerados. Mas como tudo evolui, a humanidade começa a vislumbrar a verdadeira realidade, o mundo espiritual e descobertas recentes, tais como: “água com amor” e “o perdão na saúde” entre outras, evidenciam que a Medicina  necessita  do Espiritismo para poder progredir ainda mais.

Rodrigo Machado Tavares é Engenheiro e pesquisador, residente em Londres.  Colabora  com  a  Revista Reformador

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II   N° 4  Maio e Junho 2009
The Spiritist Psychological Society 

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Evangelho: Ética, Amor e Fraternidade


Manuel Portásio Filho


Falar de Evangelho é abordar os valores mais expressivos da cultura humana, inseridos num dos livros mais importantes já compostos pelo homem: a Bíblia, dividida em Antigo e Novo Testamento. O Velho Testamento conta a história do povo hebreu e de outros povos que lhes foram contemporâneos. É uma narrativa que começa com fortes conotações míticas e termina no profetismo judaico. Sua figura exponencial é Moisés. E com ele surgiu uma ética peculiar, dirigida ao povo hebreu e ao relacionamento de cada um de seus membros com os demais e com o seu Deus. O Novo Testamento tem como figura nuclear Jesus e pode ser visto por cinco ângulos, como enfatizou Kardec: "1) Os atos comuns da vida do Cristo; 2) Os milagres; 3) As profecias; 4) As palavras que serviram para o estabelecimento dos dogmas da Igreja; 5) O ensino moral" (ESE, Introdução, I). Como os quatro primeiros geraram polêmicas intermináveis ao longo dos séculos, importa relevar o aspecto ético, moral, da didática do Mestre, que se apresenta como um "código divino", onde estão expostos os nossos deveres para com Deus, Inteligência Suprema do Universo, que criou tudo o que existe; para com o próximo, nosso irmão e companheiro de jornada; e para conosco mesmos, Espíritos eternos em busca da perfeição. O ensino de Jesus não está destinado a um único povo mas a toda a Humanidade: é universal, em última análise. 

   O que é a ética? A ética é considerada uma disciplina prática, envolvendo a ação humana, e normativa, estabelecendo os seus deveres perante a sociedade. Pela ética estabelece-se uma diferenciação nítida entre o bem e o mal. Há diversas formas de ética, mas em todos os casos ela visa responder à questão: "como agir da melhor forma possível". No sentido etimológico, a palavra ética, de origem grega, pode ser entendida como "a ciência moral"; trasladada para o latim, foi traduzida como "a moral". Por isso, podemos falar de uma ética, ou de uma moral, do Cristo, para significar o conjunto dos seus ensinamentos, voltado para um ideal de comportamento humano. Como diz Joanna de Angelis, "Jesus é a personagem histórica mais identificada com o homem e com a humanidade" (Jesus e Atualidade, p. 24) 

    Começamos, então, por dizer que a ética de Jesus está disseminada pelos quatro evangelhos e pelas vinte e uma epístolas que os seguem. Ela começa já no nascimento do Mestre, em sua simplicidade e discreção, projetando-se por toda a sua vida, no seu modo de agir e exemplificar. Eis a sua prática. Nos seus sermões e nas suas parábolas vamos encontrar a base teórica da sua ética, a qual não foi registrada por ele próprio, mas por seus apóstolos e discípulos. Contudo, é no Sermão do Monte, descrito nos capítulos 5, 6 e 7, do Evangelho de Mateus, que se acha a essência da ética cristã, embasada no amor, que se desdobra em humildade, caridade e fraternidade. Por isso, Jesus resumiu toda a sua doutrina nos dois grandes mandamentos: amar a Deus acima de todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos (Mt 22:36-40).

   Isso tudo fica mais claro quando tomamos seus principais ensinos como referência: "tudo o que vós quereis que os homens vos façam, fazei-lho também vós"; "amai a vossos inimigos"; "concilia-te depressa com o teu adversário enquanto estás no caminho com ele"; "seja, porém, o vosso falar: sim, sim; não, não"; "quando tu deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a tua direita"; "pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á"; "nem todo o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus"; "sede vós pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos céus" etc. 

    Eis, em síntese, o que se encontra no Sermão do Monte, um código de moral incomparável, voltado para o aperfeiçoamento do ser eterno que somos nós. É um código que estabelece  direitos (bem-aventuranças) e deveres (ensinos). 

     Construindo a ponte entre o homem e Deus, através do exemplo da oração dominical, contida no próprio Sermão, Jesus deu consistência ao ensinamento e preparou o nosso caminho para os planos superiores da vida universal. Ética, amor,  fraternidade: palavras que ecoarão em nosso íntimo pela eternidade a fora.

Manuel Portásio Filho é Advogado, residente em Londres. É membro do The Solidarity Spiritist Group - Londres - UK.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 3  Março e Abril 2009
The Spiritist Psychological Society


Rodrigo Machado Tavares

A pluralidade das existências (l. e., a lei da reencarnação) é um dos fundamentos da Doutrina Espírita. Claramente, sabe-se que a reencarnação é encontrada como crença forte em diversos povos da antiguidade. Por exemplo, na Índia antiga, onde muitos Capelinos reencarnaram, era muito comum saber que "assim como se deixam vestes gastas para usar vestes novas, também a alma deixa o corpo usado para revestir novos corpos". E no Egito, onde tantos outros Capelinos também viveram, o destino e a comunicabilidade dos mortos e a pluralidade das existências e dos mundos eram, para eles, problemas solucionados e conhecidos.
   Dessa maneira, encontramos, estudando a história antropológica, fatos interessantíssimos. Contudo, a visão que os homens tinham sobre a reencarnação, assim como acontece com tudo na natureza, evoluiu bastante. Não pensemos que tal lei já foi mostrada para nós, ou descoberta por nós, de forma integral. Não é assim que as coisas acontecem. A Revelação, sempre deve ser gradual, pois, ao contrário ofuscaria o raciocínio humano. E Deus, nosso Pai justo, sempre no-la mostrou assim.
Portanto, o Espiritismo veio revelar as verdades desta lei divina somente no Século 19. Como nos fala Allan Kardec em O Espiritismo em Sua Expressão Mais Simples: "A própria Doutrina que os espíritos ensinam hoje, nada tem de nova; se a encontra, por fragmentos, na maioria dos filósofos da Índia, do Egito e da Grécia, e toda inteira no ensinamento do Cristo. O que vem, pois, fazer o Espiritismo? Ele vem confirmar por novos testemunhos, demonstrar por fatos, verdades desconhecidas ou mal compreendidas, restabelecer, em seu verdadeiro sentido, aquelas que foram mal interpretadas".
    Quão bom é ter a certeza de que a carne, como fala Joanna de Ângelis, em Oferenda, nasce, morre e renasce inúmeras vezes, inclusive numa mesma existência, no nosso dia-dia, mas que a vida real continua sempre.
    Que bom é ter a certeza, como asseverou Allan Kardec, e não mais a intuição do passado, da lei: "Nascer, morrer, renascer, ainda, e progredir sempre".

Rodrigo Machado Tavares é Engenheiro e pesquisador, residente em Londres. Colabora com a Revista Reformador.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 3  Março e Abril 2009
The Spiritist Psychological Society 

A Imortalidade da Alma


Ana Cecília Rosa


A idéia da imortalidade da alma acompanha a humanidade há milênios. O primeiro relato de  que "Há uma parte  imortal no Homem” é  visto  no Livro de Vedas, em 1500 A.C.   Egípcios  e  gregos tinham este conhecimento e evocavam seus mortos, promovendo o intercâmbio  com o mundo espiritual. Foi com Jesus, portanto, que este conhecimento se estabeleceu, ao dizer "Eu sou a ressurreição e a vida e todo aquele que crê em mim mesmo que morrer, viverá". Desde então, para as religiões cristãs, a alma e a vida espiritual são tidas como verdades incontestáveis. Porém, apenas no século XIX foi possível a comprovação científica da existência da alma e sua sobrevivência à morte do corpo físico. Da observação dos fenômenos mediúnicos surgiu a doutrina Espírita, trazida  por Allan Kardec, codificada nas obras do Pentateuco Espírita.  
    Por trás do caráter científico destas revelações, há o ensinamento moral trazido pela idéia esclarecida da alma imperecível e o regresso da mesma à vida corpórea em sucessivas reencarnações, com o propósito de evolução espiritual, forma única de atingir a perfeição. Este princípio esclarece que os sofrimentos são temporários, oriundos da nossa dificuldade de vivenciar a lei de amor uns para com os outros. E que, a morte física só separa transitoriamente os espíritos afins, que voltam a reunir-se na erraticidade, estreitando laços e fortalecendo as uniões fundamentadas no amor verdadeiro, que confere resignação diante da perda de entes queridos. Assim, as idéias falsas em relação ao destino das almas após o desenlace do corpo físico, que têm gerado tantos incrédulos, são substituídas pela certeza e fé na vida futura, concedendo a cada um, não mais os gozos ou as penas eternas, mas oportunidades  infinitas  de aprendizado, pela harmonização com as leis e justiça divinas, exercitando o livre arbítrio e a responsabilidade.
     A alma em sua trajetória evolutiva, mediante as diferentes vivências corporais, adquire conhecimento através das boas e más experiências e traz, na sua imortalidade, a herança conquistada em esforço próprio rumo à perfeição.

Ana Cecília Rosa é Médica Pediátrica, residente  no  Brasil. É membra do Instituto de Divulgação Espírita - Araras/SP.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 3  Março e Abril 2009
The Spiritist Psychological Society 

domingo, 17 de junho de 2012

A Existência de Deus


Adenáuer Novaes

Dois aspectos devem ser considerados a respeito de Deus. O primeiro é sobre o que de fato Deus é, sobre sua existência real e sobre sua natureza. Sobre isso  nada se pode dizer com certeza, pois apenas teoriza-se. Deus é de fato  um mistério para o ser humano. Mesmo que se afirme ser Deus a causa das causas, cuja inteligência se mediria pelos seus efeitos (a obra do universo), nada se conclui sobre sua natureza. A afirmação apenas lhe atribui uma virtude ou adjetivação humana.
   O segundo aspecto é sobre a idéia que se faz a respeito de Deus. Muitos são os conceitos estabelecidos pelo ser humano a respeito de Deus, desde a negação de sua existência, que implica na afirmação de algo que ocupe o lugar, até o fervor de quem afirma ter um contato direto ou de ser o próprio. Tudo que se afirma ou se intui a respeito de Deus, consagrado, ou não, pelas religiões, refere-se ao domínio das representações psicológicas humanas.  Resulta das experiências transcendentes das pessoas, espelhadas ou não em indivíduos que viveram êxtases místicos.
   A construção das idéias à respeito de Deus pode ter origem na necessidade do ser humano em lidar  com seus conteúdos inconscientes, representados por imagens aversivas, caracterizadas, muitas vezes, por monstros aterradores, dos quais se desejava proteção. A idéia de Deus conforta,  protege, alivia e, muitas vezes, resolve a tensão gerada por aqueles conteúdos, bem como por experiências não assimiladas adequadamente pela consciência.
   No segundo aspecto, a idéia de Deus torna-se uma necessidade psíquica. Sem a qual o ser humano não conseguiria a realização de sua tendência inata a encontrar uma causa que justifique sua própria existência. A idéia de Deus é uma âncora psíquica para sustentação do que não é possível ser entendido, ou que não se consegue lidar  diretamente, pela consciência.  Essa idéia, aparentemente construtora de um caminho para o encontro com Deus, norteia sua inconsciente busca pelo Si-Mesmo, isto é, sua máxima individualidade, essência  singular  que difere  uma pessoa de outra. É a busca pelo Si-Mesmo que norteia a idéia que se faz de Deus.
    Enquanto se necessitar da idéia de Deus como âncora psíquica, não se alcançará o que originou a criação humana. Um novo olhar deve surgir para que se mire na busca daquilo que é a própria individualidade, enquanto se pensar lidar com Deus. Isso não quer dizer que se deve deixar de ter fé ou de se buscar a Deus. São formas condizentes com a psiquê de cada pessoa, sem as quais não se consegue equilibrar-se.
     As formas ou os entendimentos a respeito de Deus produzem os rituais e todas as representações religiosas conhecidas. Afora as atitudes pela sobrevivência, a atitude religiosa é a motivação humana norteadora da cultura, das artes e do desenvolvimento das sociedades.
    No Espiritismo, Deus deve ser considerado não apenas a causa primeira de todas as coisas, mas a autoconsciência norteador da vida e dos objetivos do próprio indivíduo. Cada pessoa deve se considerar o próprio canal de Deus para realização da vida, isto é, Deus se realiza em cada ser humano. Essa idéia deve levar a pessoa a consciência de sua importância pessoal e de seu valor como participante da construção do Universo.
    Existência real de Deus transcende à compreensão humana. A palavra existência (ser no mundo) não retrata adequadamente o que se pode dizer a respeito de Deus. A única afirmação possível a esse respeito, que pode partir de quem o concebe como tal, isto é, do humano, é dizer que é ele próprio que vê, concebe e retrata o mundo e o faz de acordo com o que é. Afirmar que Deus pode ser compreendido e concebido pela obra do Universo incompleto, pois é próprio ser humano que idealiza o que está à sua volta.
    Em matéria de Deus, cada um deve conservar sua crença, porém entendendo que o conceito que tem a respeito também deve evoluir, pois, se o humano que concebe Deus evolui, então a idéia que dele faz também tem de se adequar ao novo estágio de evolução.  Quando há transformações na personalidade, em que se desenvolvem outros mecanismos de compreensão da realidade, a idéia de Deus deve passar por mudanças, pois já não se necessita das proteções e salvações protagonizadas pelo conceito que se tinha. Deus é amor quando se precisa exercitar o amor.

Adenáuer Novaes é Psicólogo Clínico, residente no Brasil. É um dos diretores da Fundação Lar Harmonia - Salvador-BA.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 3  Março e Abril 2009
The Spiritist Psychological Society 


O Livro dos Espíritos e a Educação


Sonia Theodoro da Silva

    “A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Suponhamos cada família iniciada nas crenças  espiritualistas  sancionadas pelos fatos e incutindo-as  aos filhos (...): uma rápida transformação social operar-se-ia então sob a força dessa dupla  corrente."  (Depois  da Morte, Léon Denis, cap. 54)
O eminente pensador espírita, educador por excelência, fiel seguidor dos ensinos dos Espíritos Superiores e partícipe de uma reforma social profunda, resume, em poucas palavras, o ideal de toda uma geração: a vivência e aplicabilidade dos ensinos de Jesus com a coerência e a lógica de uma doutrina que faria dos homens, não meros fiéis de mais uma seita dissidente religiosa, ou adeptos de mais um sistema filosófico sustentado em bases existencialistas, mas portadoras de um conhecimento vívido e real que lhes trouxesse esclarecimentos e consolo. Em outro espaço (Socialismo e Espiritismo, cap. I), Denis afirma: "Para nós o socialismo é o estudo, a pesquisa e a aplicação das leis  e meios suscetíveis de melhorar a situação material, intelectual e moral da Humanidade."
     Não é outro o propósito da Doutrina Espírita: sua tese, a filosofia que propõe, esclarece, elucida, pois está intrinsecamente unida aos fatos comprovados pelo seu método investigativo em bases científicas; sua antítese, a aparente impossibilidade de conciliar seus conteúdos ético-morais, sem resvalar no pieguismo ou no dogmatismo das religiões; sua síntese, Jesus, pois Ele, Espírito plenificado em bases sequer imagináveis pelos seres humanos, aproxima-se da dimensão evolutiva da Terra, e traz, pessoalmente, aos homens, a Sua mensagem, por meio de metáforas e parábolas, absolutamente compreensíveis por todas as culturas e raças de todos os tempos, se faz o homem, e próximo aos homens sofre com e como eles, legando-nos  o consolo do conhecimento das causas das dores humanas; elucida que a verdadeira religiosidade não se faz às custas de bens materiais ou do sacrifício de vidas humanas, mas da doação de si, num exercício constante de fraternidade e de paz, retrato das Leis Divinas, presença de Deus em nós. E, ao despedir-se, lega à posteridade a sua herança: a vinda de um Consolador, que acompanharia os homens já amadurecidos pelo tempo, na transição de sua escala moral.  
  Há exatos 152 anos, um dos fiéis servidores de Sua Causa retoma a roupagem carnal, e, partícipe da Falange do Espírito da Verdade, vem referendar, nesta fase da evolução,    humana, os ensinos de Jesus, porém desta vez, com o acompanhamento  direto de diversos Espíritos, reencarnados ou não, mas todos condutores  da realização  de um projeto educacional   ele próprio, Rivail ou Allan  Kardec,  educador,  que elucidaria, em bases seguras e inquestionáveis, os aspectos da existência  humana relegados  à  abordagem místico-religiosa de todos os tempos, e absolutamente apartados do desenvolvimento científico realizado pelo homem, em sua eterna busca pelo saber.
    Temas como Deus, natureza, imortalidade da alma, vida após a morte, o porquê da existência humana, dos sofrimentos e das dores, a desigualdade na distribuição dos bens materiais, as penas e o vazio existencial, e, nos dias atuais, o fundamentalismo religioso que estimula guerras em nome de um deus vingador que pensa suprir a necessidade intrínseca de justiça equânime nas relações humanas, levando ao suicídio como alternativa de solução dessas questões, as fugas espetaculares por meio do autocídio lento pelo álcool e drogas que entorpecem a razão e a emoção, sempre foram temas segmentados e departamentalizados pelas religiões e pelas filosofias, na tentativa de responder ou encaminhar o ser  humano às  respostas  cabíveis.  Contudo, as religiões fecharam-se no ensino daquilo que mais sabem fazer: religião.
Não encaminham o ser humano à sua espiritualidade, mas à perpetuidade repetitiva e exaustiva dos ritos e rituais que, vazios, emudecem o raciocínio, criando obstáculos à realização dos anseios humanos. Por outro lado, as filosofias fecharam-se no niilismo existencialista e as ciências no positivismo materialista.
   Mas eis que surgem, no dizer de Arnold Toynbee, as minorias criativas, e, o Espiritismo elucida, dizendo-as preparadas para o advento da Nova Educação  com  bases no conhecimento da real identidade  do Espírito, imortal e interexistente em dimensões aparentemente opostas, porém, que se completam, pois ambas são  parte da Escola do Espírito, essas minorias se espalham pelo planeta, e iluminam a Ciência com a dose necessária de ética e espiritualidade,  a  Filosofia  para  a elucidação das questões referentes ao Ser metafísico interexistente,  a Religião que conduz o Ser ao amor a si mesmo e ao próximo, através do Amor de Deus latente em ambos e na Natureza.
     O Livro dos Espíritos é a Filosofia que traz ressignificação para a existência humana, colocando o Espírito em sua verdadeira estatura, como o Ser que, na linha do tempo, se auto-educa, desenvolve as suas potencialidades latentes, aprende com a Vida e com as dores, que são como instrumentos  de despertamento para a realização  daquele  desiderato.
   O Livro dos Espíritos é a Ciência  que decodifica os fenômenos à luz da razão, do empenho intelectual que busca a origem de todas as coisas, e descobre, o Princípio Inteligente do Universo, presente por trás do véu material que o enclausura na prisão dos sentidos.
    O Livro dos Espíritos é a Religião em espírito e verdade, que desmistifica e desmitifica a Jesus como divindade de um panteão mitológico inatingível porque inexistente, e o traz, a Ele, exemplo maior de Vida e Amor e aos que lhe  seguiram os passos, para a nossa convivência, para a nossa razão e para os nossos sentimentos, concedendo-nos a fé que pensa, que raciocina, que é indestrutível, porque construída com sabedoria.
     O Livro dos Espíritos, portanto, é a  Educação  por  excelência,   porque reconduz o Ser ao autoconhecimento, sem metalinguagens, sem sistemas, remodelando-o à luz do discernimento, conscientizando-o da grande responsabilidade que lhe cabe diante da Vida, da própria existência, e do outro, seu semelhante, seu irmão.


Sonia Theodoro  da  Silva  é tradutora  e  graduanda  em Filosofia,  residente  em  São Paulo,  Brasil,  colabora  na FEESP,  Casas  André  Luiz  e escreve para revistas e jornais espíritas.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 3  Março e Abril 2009
The Spiritist Psychological Society 

A Mediunidade e o Desenvolvimento do Ser


Adenáuer Novaes

As faculdades psíquicas humanas surgiram do desenvolvimento dos cinco sentidos orgânicos. Elas são resultantes do aprimoramento do automatismo biológico, que alcançou o estado de subjetividade, a partir de necessidades relacionais. Do automatismo orgânico à subjetividade psíquica, tem-se aquilo que C. G. Jung chamou de arquétipo psicóide, isto é, uma estrutura intermediária que permite a passagem de uma dimensão à outra. Da mesma forma, há uma outra estrutura arquetípica que permite o trânsito entre a mente e o mundo espiritual, isto é, entre dimensões vibratórias distintas. A mediunidade é a faculdade que permite essa passagem. Ela é um instrumento para a evolução do Espírito, que deve ser utilizado nas várias experiências humanas. É evidente que sua utilização dependerá do conhecimento a respeito da mediunidade, bem como do grau de desenvolvimento da faculdade. Seu uso consciente, praticamente restrito a ambientes institucionais (centros espíritas, templos, grupos independentes etc.), não inibem o fluxo natural de idéias, pensamentos, emoções e sentimentos entre distintas dimensões que ocorre cotidiana e naturalmente. Graças a mediunidade o ser humano se conecta às forças superiores da vida, acessando espontaneamente conhecimentos que extrapolam sua capacidade de concepção racional. Por conta do desconhecimento a respeito da mediunidade, torna-se difícil a distinção entre o que é, de fato, fruto da faculdade, dos conteúdos do próprio pensar. Esse desconhecimento contribui para que se pense que o mediúnico é apenas aquele que promove efeitos físicos. São valorizados os eventos mediúnicos que promovam fenômenos ostensivos, tais como movimento de objetos, aparições espetaculares, adivinhações, premonições etc., contribuindo para a permanência da ignorância em se utilizar a faculdade. Restringi-se ao uso, necessário, para o atendimento a desencarnados sofredores e para o esclarecimento, a partir de mensagens de cunho moral elevado.
É nos mais variados momentos da vida, para a evolução do Espírito, que se deve utilizar a mediunidade. Seu uso institucional é válido e deve ser incentivado, sem prejuízo de que se cultive o seu desenvolvimento natural. A comunicação mediúnica, no ambiente doméstico, visando a comunhão de encarnados com desencarnados, que se ligam pelos laços da afinidade e do amor, deve ser incentivada para o estreitamento das relações, bem como para a troca de experiências. Ainda se teme tal estreitamento por causa da possibilidade da obsessão. Esse temor, mesmo relevante, dificulta que se viabilize o uso natural da mediunidade. Deve-se lembrar que, o saber vem do exercício, que contém sucessos e insucessos.
A mediunidade de uma pessoa não pertence aos espíritos desencarnados, mesmo considerando que eles é que decidem quando e como se comunicam. Vários tipos de mediunidade ou de faculdades que transcendem os sentidos físicos não dependem dos espíritos desencarnados. Essas faculdades também são conhecidas como paranormais. São elas: clarividência, premonição, pré-cognição, clariaudiência, telepatia, retrocognição, desdobramento etc. Todas podem ser úteis nos mais diversos campos da vida humana.
Visando o desenvolvimento da própria personalidade, a mediunidade pode ser utilizada para o contato com espíritos afins para trocas afetivas, trocas de informações e novos conhecimentos, realização de tarefas conjuntas, desenvolvimentos de habilidades, auxílio em tarefas de desobsessão, auxílio nas desencarnações e nos nascimentos, solução de traumas cármicos, maior compreensão dos distúrbios psíquicos, ampliação da consciência de si mesmo do encarnado, entre outras utilidades. Isso significa dizer que ser médium necessariamente não é ser espírita, tampouco é utilizar a mediunidade apenas para o auxilio espiritual a desencarnados ou para demonstração da imortalidade da alma.
O ser humano encarnado deve entender que sua estadia no corpo físico é uma fase necessária e importante em sua evolução, para o aperfeiçoamento de habilidades, sob contingências físicas nem sempre favoráveis. Nesse período, em que está encerrado num corpo limitado, tem a oportunidade de se conectar, graças à mediunidade, à sua dimensão de origem, onde pode obter conhecimentos mais amplos. O desenvolvimento do ser se deve há múltiplos fatores, todos eles tendo como base a experiência direta com a realidade, na qual vive intensas emoções. A mediunidade é mais um desses fatores, diferenciando-se dos demais pela possibilidade que faculta de conexão com as forças espirituais criativas da natureza. É seu adequado uso, nas ricas experiências da vida, que promoverá a integração, ao Espírito, das leis de Deus.

Adenáuer Novaes é Psicólogo Clínico, residente no Brasil. É um dos diretores da Fundação Lar Harmonia - Salvador-BA.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II  N° 2  Janeiro e Fevereiro 2009
The Spiritist Psychological Society