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domingo, 17 de junho de 2012

O Livro dos Espíritos e a Educação


Sonia Theodoro da Silva

    “A educação, baseada numa concepção exata da vida, transformaria a face do mundo. Suponhamos cada família iniciada nas crenças  espiritualistas  sancionadas pelos fatos e incutindo-as  aos filhos (...): uma rápida transformação social operar-se-ia então sob a força dessa dupla  corrente."  (Depois  da Morte, Léon Denis, cap. 54)
O eminente pensador espírita, educador por excelência, fiel seguidor dos ensinos dos Espíritos Superiores e partícipe de uma reforma social profunda, resume, em poucas palavras, o ideal de toda uma geração: a vivência e aplicabilidade dos ensinos de Jesus com a coerência e a lógica de uma doutrina que faria dos homens, não meros fiéis de mais uma seita dissidente religiosa, ou adeptos de mais um sistema filosófico sustentado em bases existencialistas, mas portadoras de um conhecimento vívido e real que lhes trouxesse esclarecimentos e consolo. Em outro espaço (Socialismo e Espiritismo, cap. I), Denis afirma: "Para nós o socialismo é o estudo, a pesquisa e a aplicação das leis  e meios suscetíveis de melhorar a situação material, intelectual e moral da Humanidade."
     Não é outro o propósito da Doutrina Espírita: sua tese, a filosofia que propõe, esclarece, elucida, pois está intrinsecamente unida aos fatos comprovados pelo seu método investigativo em bases científicas; sua antítese, a aparente impossibilidade de conciliar seus conteúdos ético-morais, sem resvalar no pieguismo ou no dogmatismo das religiões; sua síntese, Jesus, pois Ele, Espírito plenificado em bases sequer imagináveis pelos seres humanos, aproxima-se da dimensão evolutiva da Terra, e traz, pessoalmente, aos homens, a Sua mensagem, por meio de metáforas e parábolas, absolutamente compreensíveis por todas as culturas e raças de todos os tempos, se faz o homem, e próximo aos homens sofre com e como eles, legando-nos  o consolo do conhecimento das causas das dores humanas; elucida que a verdadeira religiosidade não se faz às custas de bens materiais ou do sacrifício de vidas humanas, mas da doação de si, num exercício constante de fraternidade e de paz, retrato das Leis Divinas, presença de Deus em nós. E, ao despedir-se, lega à posteridade a sua herança: a vinda de um Consolador, que acompanharia os homens já amadurecidos pelo tempo, na transição de sua escala moral.  
  Há exatos 152 anos, um dos fiéis servidores de Sua Causa retoma a roupagem carnal, e, partícipe da Falange do Espírito da Verdade, vem referendar, nesta fase da evolução,    humana, os ensinos de Jesus, porém desta vez, com o acompanhamento  direto de diversos Espíritos, reencarnados ou não, mas todos condutores  da realização  de um projeto educacional   ele próprio, Rivail ou Allan  Kardec,  educador,  que elucidaria, em bases seguras e inquestionáveis, os aspectos da existência  humana relegados  à  abordagem místico-religiosa de todos os tempos, e absolutamente apartados do desenvolvimento científico realizado pelo homem, em sua eterna busca pelo saber.
    Temas como Deus, natureza, imortalidade da alma, vida após a morte, o porquê da existência humana, dos sofrimentos e das dores, a desigualdade na distribuição dos bens materiais, as penas e o vazio existencial, e, nos dias atuais, o fundamentalismo religioso que estimula guerras em nome de um deus vingador que pensa suprir a necessidade intrínseca de justiça equânime nas relações humanas, levando ao suicídio como alternativa de solução dessas questões, as fugas espetaculares por meio do autocídio lento pelo álcool e drogas que entorpecem a razão e a emoção, sempre foram temas segmentados e departamentalizados pelas religiões e pelas filosofias, na tentativa de responder ou encaminhar o ser  humano às  respostas  cabíveis.  Contudo, as religiões fecharam-se no ensino daquilo que mais sabem fazer: religião.
Não encaminham o ser humano à sua espiritualidade, mas à perpetuidade repetitiva e exaustiva dos ritos e rituais que, vazios, emudecem o raciocínio, criando obstáculos à realização dos anseios humanos. Por outro lado, as filosofias fecharam-se no niilismo existencialista e as ciências no positivismo materialista.
   Mas eis que surgem, no dizer de Arnold Toynbee, as minorias criativas, e, o Espiritismo elucida, dizendo-as preparadas para o advento da Nova Educação  com  bases no conhecimento da real identidade  do Espírito, imortal e interexistente em dimensões aparentemente opostas, porém, que se completam, pois ambas são  parte da Escola do Espírito, essas minorias se espalham pelo planeta, e iluminam a Ciência com a dose necessária de ética e espiritualidade,  a  Filosofia  para  a elucidação das questões referentes ao Ser metafísico interexistente,  a Religião que conduz o Ser ao amor a si mesmo e ao próximo, através do Amor de Deus latente em ambos e na Natureza.
     O Livro dos Espíritos é a Filosofia que traz ressignificação para a existência humana, colocando o Espírito em sua verdadeira estatura, como o Ser que, na linha do tempo, se auto-educa, desenvolve as suas potencialidades latentes, aprende com a Vida e com as dores, que são como instrumentos  de despertamento para a realização  daquele  desiderato.
   O Livro dos Espíritos é a Ciência  que decodifica os fenômenos à luz da razão, do empenho intelectual que busca a origem de todas as coisas, e descobre, o Princípio Inteligente do Universo, presente por trás do véu material que o enclausura na prisão dos sentidos.
    O Livro dos Espíritos é a Religião em espírito e verdade, que desmistifica e desmitifica a Jesus como divindade de um panteão mitológico inatingível porque inexistente, e o traz, a Ele, exemplo maior de Vida e Amor e aos que lhe  seguiram os passos, para a nossa convivência, para a nossa razão e para os nossos sentimentos, concedendo-nos a fé que pensa, que raciocina, que é indestrutível, porque construída com sabedoria.
     O Livro dos Espíritos, portanto, é a  Educação  por  excelência,   porque reconduz o Ser ao autoconhecimento, sem metalinguagens, sem sistemas, remodelando-o à luz do discernimento, conscientizando-o da grande responsabilidade que lhe cabe diante da Vida, da própria existência, e do outro, seu semelhante, seu irmão.


Sonia Theodoro  da  Silva  é tradutora  e  graduanda  em Filosofia,  residente  em  São Paulo,  Brasil,  colabora  na FEESP,  Casas  André  Luiz  e escreve para revistas e jornais espíritas.

Jornal de Estudos Psicológicos
Ano II N° 3  Março e Abril 2009
The Spiritist Psychological Society 

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